Os copinhos de café no escritório e as dezenas de bexigas estouradas nas festas infantis podem estar ficando para trás e dando lugar a alternativas que unem praticidade a opções ambientalmente responsáveis. De pratos feitos com folhas de palmeiras caídas a festas infantis com decorações sustentáveis, empreendedores vão na contramão dos descartáveis e apostam na criatividade e na inovação como diferencial no mercado.
Uma pesquisa realizada pelo Mercado Livre apontou que, entre 2020 e 2021, o consumo de produtos sustentáveis dobrou na América Latina. Seguindo essa tendência, pequenos negócios querem suprir a demanda de uma população cada vez mais consciente e que não para de crescer.
Apesar disso, o mundo ainda vive na era dos descartáveis, sobretudo quando o assunto é festa. Para cada gole de refrigerante ou água durante uma comemoração, por exemplo, usa-se um copo. Além disso, dezenas de guardanapos, pratos de plástico e bolos falsos de isopor costumam ser usados uma única vez e vão direto para o lixo.
Resultado disso é que hoje o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo. Segundo dados da World Wildlife Fund (WWF), são 11,3 milhões de toneladas descartadas por ano, das quais somente 1,28% são recicladas.
Apesar de algumas alternativas para o dia a dia já estarem disponíveis no mercado, como canudos de papel e copos biodegradáveis, os eventos ainda não conseguem fugir da alta geração de lixo.
Foi pensando nesses números – que acabam se traduzindo em oportunidades de negócios – que alguns empreendedores começaram a apostar na mudança de perfil dessas comemorações, como é o caso de Tâmara Garkisch.
Com decorações em tecido, papéis e madeira, as festas infantis criadas por ela são 100% sustentáveis. Bolas de papel substituem as tradicionais bexigas, enquanto apenas descartáveis biodegradáveis e papel semente são usados durante as comemorações.
Desejo antigo
Empreender no ramo de festas sempre foi o sonho de Tâmara. De artesã, se transformou em dona de uma agência de festas infantis especializada em decoração sustentável. A designer de festas explica que o desejo de trazer o olhar ecológico para o seu trabalho veio de um incômodo com as festas de aniversário realizadas para o filho durante sua infância. “Eu passava meses guardando dinheiro, me planejando e criando tudo para, no final, todo meu trabalho ser jogado no lixo.”
Além da diminuição do lixo gerado durante as comemorações, a ideia é dar sobrevida à decoração após a festa, explica a empreendedora. Parte do que é criado pode ser utilizado no quarto da criança, como espetos de bolo que se transformam em fantoches para o dedo. “A sustentabilidade não é só você não usar plástico e separar os lixos, é pensar o antes, o durante e o depois da festa”, afirma Tâmara.
De olho nas métricas ESG, a empreendedora ainda tem um braço da agência focado em eventos corporativos. Para ingressar nesse mercado, Tâmara contrata apenas fornecedores e parceiros que também atuem dentro da sustentabilidade.
“A transparência norteia todo nosso trabalho. O cliente sabe exatamente o quanto é pago para cada fornecedor e assim conseguimos manter um valor justo para a mão de obra de todo mundo”, diz.
Alternativa sustentável
De acordo com dados da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), 720 milhões de copos descartáveis são jogados no lixo diariamente no Brasil.
Com uma média de quatro copos descartáveis por pessoa, tudo é feito em prol da praticidade, mas é possível oferecer a mesma facilidade com baixo impacto ambiental? Esse é o objetivo da Crederes, empresa especializada em produtos sustentáveis para festas e eventos. Em sua loja online, é possível encontrar velas, embalagens, talheres, pratos e bandejas de fibras vegetais.
Fundada em 2019, a marca produz internamente velas produzidas com cera de palma, mas também trabalha em parceria com pequenos produtores. Karen Aragão, criadora do negócio, conta que o objetivo da marca é fomentar o mercado interno e valorizar os produtos nacionais.
“Nossa plataforma existe para ajudar as pequenas empresas a mostrarem o seu trabalho e o potencial que o País tem nesse setor”, ressalta a empreendedora. Além das vendas pelo site, os produtos podem ser encontrados nas gôndolas de festa de grandes supermercados. “Quanto menos a gente precisar de importação melhor para a pegada de carbono, melhor para tudo.”
A loja trabalha apenas com artigos para festa biodegradáveis e compostáveis. São produtos feitos com amido de mandioca, farelo de trigo e até folhas de palmeiras. Entre os parceiros da Crederes está a Ybyrá, negócio especializado na produção de pratos e bandejas feitas de folhas caídas de palmeiras com extrativismo natural.
Palmeira
Em parceria com prefeituras, chácaras, condomínios e indústrias, a Ybyrá recebe as folhas de palmeira e, sem nenhum tipo de aditivo químico, transforma-as em pratos e bioembalagens laváveis que duram de 6 a 12 meses. Com isso, segundo o fundador Rafael Puglisi, esse resíduo vegetal urbano de poda que seria descartado nos aterros é reaproveitado e, por meio de beneficiamento, pode ser valorizado economicamente.
Criado em 2016, o negócio preza também pelo valor acessível. Um kit com cinco unidades tem um preço médio de R$ 28, por exemplo. Segundo o engenheiro, os produtos são vendidos com um preço baixo para aproximá-los da realidade econômica de mais cidadãos. “É muito difícil competir com a indústria dos descartáveis. Então não basta só ser sustentável, precisamos chegar até as pessoas”, afirma.
Puglisi aponta ainda a falta de investimentos como o maior desafio de empreender na economia verde no Brasil. Apesar de esse tipo de produto estar na “moda”, os negócios sustentáveis ainda esbarram em problemas relacionados à falta de incentivo público e ao custo alto de produção.
“Apesar da importância do nosso propósito, ainda estamos ligados ao lado comercial. É difícil se manter e crescer sem a valorização do nosso trabalho. É muita propaganda sobre sustentabilidade e pouco investimento”, desabafa.