Um ano de pandemia: 26 empreendedores contam como vão seus negócios


Às vésperas de se completar um ano da primeira quarentena em São Paulo, donos ou sócios de negócios contam desafios enfrentados e soluções buscadas para enfrentar a crise

Por Anna Barbosa
Atualização:

No dia 24 de março de 2020, teve início a primeira quarentena do Estado de São Paulo em decorrência da pandemia do coronavírus. Desde então, houve uma série de idas e vindas entre as fases de isolamento social, impactando diretamente na realidade dos empreendedores.

Segundo a 10ª edição da pesquisa “O Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios”, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre 25 de fevereiro e 1º de março , o crescimento do faturamento que vinha sendo mantido desde abril do ano passado (mês mais crítico, com queda de em média 70%) foi interrompido no período do estudo.

Esse período coincide com a regressão de cidades paulistas, incluindo a capital, à fase laranja, com a restrição do comércio e de outros endereços considerados não essenciais. O levantamento de Sebrae e FGV ainda aponta que 54% das empresas atuam em locais com restrições de funcionamento e apenas 37% estão em cidades em processo de abertura. 

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A tentativa de sobrevivência ocorreu, em maioria, por meio da digitalização dos negócios. Contudo, são diferentes realidades que atingem os empreendedores. Para retratá-las, a equipe do Estadão PME reuniu uma série de 26 depoimentos de donos de pequenos negócios de diferentes nichos, que contaram suas experiências no último ano por meio de um formulário.

Confira a seguir os relatos dos empreendedores Álvaro Athayde Antunes (Fleetcom), Arturo Isola (Amázzoni), Barbara Andrade (Flapper), Claudia Belintani Abbud (Santa Cabeleira), Diego Fischer (Carupi), Edgard Aires (Oficina da Mesa), Elisabeth Rodrigues (Sítio São Paulo), Fabio Rodrigues (Novidá), Felipe Caezar (HubLocal), Gabriel Fullen (Oguru Sushi), Gislaine Gallette (Gallette Chocolates), Isabela Lepera (Cupcakes by Isa), João Drummond (Crawly), Julia Vidigal (Cru.do), Juliana Aquino (Baianí), Luisa Abram (Luisa Abram), Mauricio Delfino (DaMinhaCor), Nalva Menezes (BNP Solution), Nani Gordon (Cash.in), Pedro Semeoni (Greentable), Paulo Roberto Figueiredo (Copiadora Veneza), Priscila Sabará (Foodpass), Ricardo Mafra (Rick Doces), Sandra Calvi (Cartaz), Thiago Souza (Dootax) e Vera Masagão (Oliq).

Barbara Andrade, da empresa de aviação executiva Flapper, que na pandemia passou a usar os aviões para voos de transporte de carga e aeromédicos. Foto: Pedro Vilela
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'Tomar decisões rápidas e fazer execuções eficientes podem apresentar resultados incríveis'Por Barbara Andrade, CFO (chief financial officer) da Flapper 

O ano de 2020 foi desafiador. Atuamos no ramo de aviação executiva e, depois de assistirmos as fronteiras sendo fechadas para o transporte de passageiros, nos vimos diante de um desafio para não morrer durante a pandemia. 

Migramos a nossa oferta para voos de transporte de carga e aeromédicos. Com isso, apresentamos um cenário bem diverso das demais empresas, pois tivemos um crescimento de receita em 2020 em relação a 2019. 

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Seguimos em crescimento, estando todos adaptados à nova rotina e oferecendo aos nossos clientes toda a segurança necessária em seus voos. A principal dificuldade foi manter o time coeso e a cultura da empresa ainda forte. 

Aprendemos que, com um time unido, tomar decisões rápidas e fazer execuções eficientes podem apresentar resultados incríveis. Continuamos esperançosos de que o cenário irá melhorar com o início da vacinação. Continuamos com resiliência e crescendo mais a cada dia.

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'Reduzimos custos, pois tudo é feito por reuniões a distância'Por Álvaro Athayde Antunes, da Fleetcom

Minha empresa é de software para empresas de logística e atuo desde 2000 em home office. Eu não precisei sair para visitar clientes ou para fazer novas prospecções. Tudo aquilo que eu fazia presencialmente eu passei a fazer online.

Não sentimos nada, pois nosso faturamento é muito pulverizado e o valor da licença é baixo. Reduzimos custos, pois tudo é feito por reuniões a distância via Google Meet ou outros softwares. Meus clientes continuaram sendo meus clientes e eu passei a gastar menos para atendê-los. Meu negócio melhorou. 

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'Não desista, sempre existe uma solução para o problema'Por Nalva Menezes, da BNP Solution

Foi um ano desafiador. A primeira atitude que tomei foi formar parcerias aumentando meu leque de produtos; a segunda foi entregar os pedidos em diversos endereços sem cobrar do cliente e, em terceiro, foi reduzir minha margem de lucro.

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A resiliência e a criatividade nós, empreendedores brasileiros, temos de sobra. Não desista, sempre existe uma solução para o problema. 

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'A principal arma do empreendedor é sua própria vontade de vencer'Por Paulo Roberto Figueiredo, da Copiadora Veneza 

O primeiro mês foi o mais difícil. As pessoas estavam perdidas e acreditava-se que tudo iria passar muito rápido. Nos primeiros 15 dias, pedi para os funcionários irem para casa - não dei férias nem descontei nada, pois não achava justo (uma vez que também não podiam fazer nada).

O tempo foi passando e aderimos à proposta em que o governo pagava o salário e tínhamos que garantir a estabilidade do emprego. Optamos pela funcionária que tinha mais desenvoltura para ficar, enquanto com os outros optamos pelo plano do governo.

Em nenhum momento eu fechei as portas do meu comércio, ia todos os dias e falava para minha esposa: 'Tenho que vir todo dia, porque antes eu jogava minha tarrafa e tinha vários peixes para pegar, hoje coloco minha varinha para tentar pescar os poucos peixes que aparecem', uma metáfora em relação a quantidade de clientes que tinha na minha porta.

Antes, eu também vendia pelo WhatsApp, mas agora virou o nosso principal canal de comunicação. No primeiro mês de pandemia faturei 5% do faturamento da empresa, hoje conseguimos 40% do que faturava e estamos na esperança de tudo melhorar.

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'Dias melhores virão'Por Elisabeth Rodrigues, do Sítio São Paulo

Temos um sítio de locação para festas, retiros de igrejas e excursões escolares, ou seja, nada favorecia a continuidade do nosso negócio durante a pandemia. Mas com a liberação em horário reduzido de parques e lanchonetes, aproveitamos que já tínhamos cinco piscinas e começamos a abrir ao público para uso das mesmas, além de servir lanches e porções.

Foi isso o que salvou nosso negócio durante esse período. Porém, com a regressão das fases, estamos totalmente parados agora. Mas dias melhores virão.

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'Mais do que tudo, temos que continuar acreditando'Por Claudia Belintani Abbud, do Santa Cabeleira

Estar no comando num período como este foi muito difícil. Minha equipe precisava se nortear, continuar acreditando e ao mesmo tempo alterar hábitos adquiridos durante toda uma vida. Na primeira onda, consegui ajudar financeiramente, mas agora não há mais respiro para isto. A saída foi orientar cada um deles para se reinventar profissionalmente. 

De quatro empresas, acredito que somente duas vão sobreviver. Uma história que perdurou durante mais de 20 anos com mais de 250 famílias que tiravam o seu sustento através de muito trabalho, parceria e dedicação acabar desta forma me entristece. Mas acredito na capacidade que as pessoas têm de se levantar, acreditar, persistir... A vida é um eterno recomeço e de uma coisa tenho certeza: a vida quer viver!

Thiago Souza, cofundador da Dootax, que cresceu 100% em 2020, ano de pandemia. Foto: Divulgação

'A dependência que empresas tinham de humanos fazerem trabalho repetitivo foi colocada na berlinda'Por Thiago Souza, cofundador da Dootax

Nosso produto/software trabalha com a automação dos processos e rotinas fiscais das empresas. O home office e a pandemia, de certa forma, foram bons para os negócios, pois a dependência que as empresas tinham de humanos fazerem esse trabalho manual e repetitivo foi colocada na berlinda.

Ou seja, se já existe um robô que consegue fazer esse trabalho 24/7, sem erros e sem riscos, você pode usar o humano para tarefas mais estratégicas. Com isso, tivemos um crescimento de 100% em 2020. 

Sou cofundador da Dootax, uma startup que tem como objetivo descomplicar a rotina fiscal das empresas através da tecnologia. Estamos focados na simplificação das tarefas manuais, burocráticas e repetitivas, trazendo mais eficiência e economia para todas as empresas brasileiras.

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'Foi na adversidade que encontramos a oportunidade'Por Felipe Caezar, da HubLocal

Enquanto para grande parte das empresas 2020 foi um ano ruim, para nós da HubLocal foi sinônimo de vencer desafios e se transformar da água para o vinho. No meio de uma fase de incertezas e em apenas um ano de existência, recebemos investimento de R$ 600 mil da Anjos do Brasil, fomos selecionados para participar do programa de scale up da Endeavor, expandimos para São Paulo, contando com escritório no maior hub de empreendedorismo do Brasil, Cubo Itaú, mudamos de escritório em Fortaleza, onde fica nossa sede, e triplicamos a equipe de tamanho.

Além disso, aumentamos em 10 vezes o valuation que hoje está atingindo mais de R$ 50 milhões diante de um faturamento recorrente mensal em assinaturas de quase 2.000 empresas assinantes.

Falar de crescimento é falar sobre desafios, sobre turbulências e sobre paciência. Mas também é falar sobre avanços, sobre resiliência e, principalmente, sobre superação. Nós podemos dizer com muita convicção: em 2020, nos transformamos da água para o vinho. E foi na adversidade que encontramos a oportunidade. 

As conquistas não pararam por aí. Iniciamos 2020 com apenas 298 empresas base de assinantes. Tínhamos estabelecido como meta chegar a 1.000 até o fim de 2021, mas batemos o marco perto de 2.000 empresas assinantes antes mesmo do ano terminar. 

Mas, assim como em todas as empresas, a chegada da pandemia trouxe medo e muita reflexão sobre como seria o futuro. Estávamos diante do seguinte cenário: uma crise mundial, contratos cancelados, descontos cedidos, inadimplências e uma queda de 28% no faturamento. A conformação e a aceitação eram as opções mais rápidas, seguras e acessíveis para nós naquele momento. Mas não foi a que escolhemos. 

Adaptação e olhar para as oportunidades foram os fatores mais importantes para colherresultados positivos. Nós, como gestores da startup, rastreamos brechas que pudessem beneficiar a empresa dentro do contexto de pandemia e isolamento social. 

Analisamos o momento e percebemos que, com a presença maior das pessoas em casa, uma grande parte dos serviços (se não todos) estavam sendo feitos através da internet. E foi justamente pautados nessa constatação que traçamos estratégias para atender as empresas e nos adequar às demandas e segmentos que estavam sendo acessados.

Para chegar ao produto ideal que queríamos oferecer, foi necessário muito estudo de mercado. Depois de tudo mapeado, montamos um diagnóstico, um report diário do covid-19 e um plano de reação. Com as estratégias projetadas, a empresa teve uma retomada significativa, no qual foi possível recuperar não somente o patamar anterior, como obter um crescimento exponencial desde então.

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'Mesmo com retração, conseguimos passar pela pandemia sem demitir ninguém'Por João Drummond, fundador e CEO da Crawly

Aproveitamos o caixa do ano anterior, que foi relativamente bom, para manter todos os funcionários. Então, mesmo com uma retração grande do nosso mercado, conseguimos passar pela pandemia sem demitir ninguém. Lançamos um produto de prateleira e conseguimos novos clientes no início de 2021, assim, temos a perspectiva de crescimento de 50% em relação ao ano passado.

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'Nos reinventamos como produto e adaptamos funcionalidades'Por Fabio Rodrigues, da startup Novidá 

Para nós foi uma grande montanha russa! Desde o caos do início da pandemia, com diversos clientes cancelando contratos, chegando literalmente perto do fundo do poço em volume de clientes e operações, até a pequena luz de uma tímida retomada econômica, que para nós tem sido de alta aceleração, com crescimento acima de 30% por mês, desde agosto de 2020.

Nos reinventamos como produto e adaptamos funcionalidades para ajudar as empresas a manter a saúde dos funcionários via contact tracing. Além disso, redesenhamos todo o modelo de negócios e nosso posicionamento na sociedade. A pandemia, apesar de cruel, nos fez renascer, e ainda mais fortes e preparados em nossa missão de transformar o trabalho operacional na América latina, através da tecnologia.

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'Nascemos com o DNA do novo normal'Por Diego Fischer, da Carupi

A Carupi nasceu 9 meses antes das primeiras ações de restrição da economia como tentativa de conter o novo coronavírus. Mas como o nosso modelo de negócio é completamente home office, altamente escalável e sem a necessidade de ponto físico, basicamente nascemos com o DNA do novo normal.

Como uma startup de tecnologia com atuação no mercado de seminovos, temos alguns desafios naturais de uma empresa que não tem uma fachada para dar segurança às pessoas, como a mudança da percepção que pessoas mais resistentes tem de empresas tech que prestam serviço a você sem nenhuma interação física; como a administração e gestão de pessoas espalhadas por todo o país através de sistemas integrados; gestão de clientes através de um banco de dados e ferramentas de CRM que permitem essa descentralização do atendimento ao cliente etc. 

Criamos um sistema nervoso de business inteligence sofisticado, um sistema de gestão de pessoas seguro e uma ferramenta fácil, conveniente e segura para os clientes - mudar o paradigma há tantos anos estabelecido de como se compra e vende seminovo de particular para particular.

A empreendedora Priscila Sabará, da plataforma Foodpass, criou o projeto 'Quarentene-se' para ajudar micro e pequenos restaurantes durante a quarentena em São Paulo. Foto: Gabriela Biló/Estadão

'Nosso principal aprendizado foi internalizar uma equipe de TI'Por Priscila Sabará, da plataforma Foodpass

Foi um ano inédito para Foodpass, havíamos fechado a primeira rodada de investimentos no fim de 2019 e traçamos um plano de crescimento, mas já em março começamos os ajustes de equipe e despesas, visto que os eventos presenciais foram todos cancelados. Por visão de mercado ou sorte, em nossa tese de investimento estava a consolidação do núcleo de negócio focado em conteúdo e foi este que 'sustentou' o faturamento da empresa. 

Criamos movimentos, festivais online e trouxemos marcas para apoiá-los, como o Arraial com a Bonduelle, Food Summit com a Nespresso e Dia dos Pais com a Toyota. Adaptamos como pudemos o marketplace para vender vouchers, kit experiência e aulas online. 

No segundo semestre conseguimos um empréstimo com a linha de crédito Desenvolve SP do governo do Estado de SP e em dezembro abrimos uma segunda rodada de investimento para capitalizar mais o negócio, concluímos a rodada em março.

Nosso principal aprendizado foi internalizar uma equipe de TI (tecnologia da informação) para termos agilidade na adaptação do nosso produto digital com novas ferramentas e este é o objetivo de 2021, além de claro buscar aumentar o faturamento com os projetos e movimentos que já fazemos.

Como plataforma digital entendemos que abrem-se novos espaços para a Foodpass, começamos há 8 anos a incentivar o mercado de food service a diversificar seus produtos e serviços para além do salão e delivery, o que se faz essencial neste momento.

Juliana Aquino em sua fazenda de cacau, a Vale Potumujú, no sul da Bahia, que alimenta a sua marca de chocolates Baianí. Foto: Ana Paula Boni/Estadão

'Vamos passar por essa crise'Por Juliana Aquino, da marca de chocolates Baianí 

Foi difícil para todos, principalmente para a manutenção das colaboradoras. Além dos salários que foram mantidos, no início da pandemia todas ficaram em casa por dois meses. Depois, em fases mais complicadas, o Uber virou o transporte diário. Ultimamente, (os funcionários) voltaram para o transporte público, mas com a fase roxa vamos voltar com o Uber, o que é muito caro.

Outra dificuldade é a compra frequente de material descartável e álcool 70% (tanto em gel como líquido). Comida delivery na fábrica para evitar a saída das funcionárias também foi instituída. Como tudo está muito incerto e complicado, deixá-las tranquilas e confortáveis tem que fazer parte do negócio. 

As vendas não despencaram por causa dos veículos digitais, mas não mantiveram o crescimento que vínhamos tendo antes da pandemia. Temos outra fonte de renda, por isso mantivemos a fábrica de chocolate e a fazenda de cacau. Ambos não se pagaram com suas produções. 

Tudo tem seu ciclo. A pandemia está nos seus momentos finais e trabalhar com chocolate é sempre alentador! Vamos passar por essa crise. 

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'Tivemos um crescimento de 309% no volume transacionado na plataforma'Por Nani Gordon, da startup Cash.in

No último ano, apesar de todos os desafios, tivemos um crescimento de 309% no volume transacionado na plataforma. Muito disso se deve ao distanciamento e a maior busca por empresas por pagamentos digitais. A Cash.in consegue chegar em todos os colaboradores instantaneamente, mesmo terceirizados, e oferece diversas formas de resgate do crédito recebido. Estamos crescendo muito e já em 2021 fechamos três novos clientes que triplicam nosso número de usuários na plataforma. 

Somos duas mulheres empreendedoras que decidimos olhar para um novo mercado e aprender a fundo os processos de distribuição de prêmios de marketing e vendas no Brasil, criando uma plataforma disruptiva que conquistou 35 clientes em 1 ano e meio de operação. 

Mas, com filho bebê, marido 100% home office e toda a função da casa, fica desafiador performar bem em todos os 'papéis', é um malabarismo.

Os sócios do azeite Oliq Antônio Augusto Batista e Vera Masagão, na Serra da Mantiqueira, em 2017. Foto: Hélvio Romero/Estadão-3/2/2017

'O nosso negócio poderá aproveitar uma oportunidade: pessoas querendo passar mais tempo fora dos centros urbanos'Por Vera Masagão, do azeite de oliva Oliq

Na verdade, a alternativa correta seria 'Eu já era empreendedor e ampliei meu negócio'. Temos uma fazenda onde produzimos azeitonas e processamos azeite de oliva e outros produtos artesanais complementares (cafée geleias). Passamos a receber turistas que vinham conhecer o processo de produção, degustar os azeites e comprar na loja de fábrica.

Decidimos que faria muito sentido, dado o fluxo de turistas, abrir um restaurante, que explorasse os usos culinários do azeite e atendesse a demanda dos visitantes, já numerosos nos finais de semana. A pandemia nos pegou quando a obra do restaurante estava pela metade. Em março, fechamos o atendimento aos turistas, mas a obra, assim como as atividades agrícolas da fazenda puderam continuar. 

Passamos 4 meses completamente fechados para atendimento aos turistas e venda na loja da fazenda. Nesse período investimos na loja online, que aumentou bastante seu volume de vendas, mas continuou sendo uma parte pequena em relação ao faturamento com venda presencial (em torno de 5%). Em meados de julho voltamos a atender turistas, só nas áreas externas, com grupos reduzidos, mudando o formato da degustação.

No final de outubro inauguramos o restaurante. Conseguimos um bom movimento, funcionando só fins de semana e feriados. Fizemos a contratação de 6 novos funcionários, nos finais de semana e feriados chamamos diaristas, chegando a operar com 20 trabalhadores. No final de dezembro, já com notícias da segunda onda na Europa, tomamos consciência de que daqui a pouco teríamos que fechar outra vez. Então resolvemos aproveitar ao máximo os períodos em que tivéssemos permissão de funcionar. 

Passamos a atender no restaurante 5 dias por semana, de quinta a segunda-feira, ficando as terças e quartas para folgas e trabalhos internos. O faturamento em janeiro e fevereiro triplicou em relação à média do faturamento pré-pandemia e pré-restaurante. O restaurante, além do faturamento próprio, alavancou o faturamento da loja de fábrica. 

Vista das oliveiras para a produção do azeite Oliq, em São Bento do Sapucaí (SP), na Serra da Mantiqueira. Foto: Hélvio Romero/Estadão-3/2/2017

O movimento, mesmo sendo período 'meio de férias', foi surpreendente. Com o home office e crianças sem ir à escola, muitas famílias passaram períodos maiores em casas de campo ou pousadas da região. Lembro de receber um casal para visita guiada e almoço, numa quinta-feira, e eles explicaram: 'Deixamos as crianças assistindo aula na pousada e viemos curtir esse passeio só nós dois'.

Entre o final de janeiro e fevereiro, tivemos que fechar o restaurante (a loja foi autorizada a funcionar) por 15 dias, pois a nossa região de Taubaté entrou na fase vermelha. Mesmo com essa parada, o resultado foi excelente em relação aos meses anteriores. 

Quando veio a fase vermelha para todo o Estado, e depois a emergência, decidimos fechar e, com orientação do sindicato, vamos fazer um banco de horas para compensar os dias parados com feriados e férias. Isso será possível se o fechamento não se prolongar mais do que dois meses.

Se conseguirmos trabalhar, mesmo em períodos intermitentes, creio que conseguiremos sobreviver financeiramente, sem demitir ninguém, como estamos conseguindo até agora.

Imaginamos que a covid vai estar presente em nossas vidas nos próximos anos de uma forma ou de outra. Então, o nosso tipo de negócio poderá, assim esperamos, aproveitar uma oportunidade: o fluxo crescente de pessoas querendo passar mais tempo fora dos centros urbanos, passear e fazer refeições em ambientes bem ventilados, com muita área externa. 

É nisso que estamos apostando. Isso se conseguirmos controlar a pandemia em nosso País. Só não dá pra continuar ladeira abaixo como estamos atualmente.

Gabriel Fullen, sócio do grupo de restaurantes que detém casas como Oguru Sushi & Bar, em São Paulo. Foto: Nilton Fukuda/Estadão-20/4/2020

'Tentamos pensar todos os dias fora da caixinha'Por Gabriel Fullen, sócio do Grupo Locale (Oguru Sushi & Bar / Locale Caffè/ Locale Trattoria / Poke by Oguru) 

Há 12 meses começamos o ano mais desafiador de nossas vidas. Gostamos de dizer por aqui que, no primeiro mês de pandemia, evoluímos 1 ano em 30 dias. Isso porque tivemos que desenvolver ações e operações que pudessem funcionar com as portas fechadas.

Por isso, tentamos desde então pensar todos os dias fora da caixinha. A primeira ação foi lançar vouchers promocionais no Oguru, nossa marca mais antiga do grupo, onde os clientes puderam comprar dois rodízios de nosso restaurante pelo preço de um. A ação foi um sucesso e nos gerou aproximadamente R$ 1 milhão em 4 dias de venda.

Com isso, tivemos 10 dias para nos estruturar e lançar de fato o delivery Oguru. Em menos de dois meses, estávamos recebendo mais de 4 mil pedidos. Além disso, inauguramos de lá pra cá 3 novas operações: 

  1. Locale Caffè (maio/20): o misto de café e bar italiano abriu sua janelinha apenas para delivery e take away, pois ainda nos encontrávamos na fase vermelha. Felizmente, desde o início atraiu muitos clientes
  2. Locale Trattoria (nov/20): inauguramos o restaurante surfando uma boa onda de seu vizinho-irmão, o Locale Caffè
  3. Poke by Oguru (março/21): a mais nova marca era uma idéia que estudávamos abrir em algum momento futuro, mas teve que ser tirada do papel às pressas para enfrentarmos as novas e mais duras medidas de isolamento

Tudo isso para conseguirmos manter o grupo de pé e com o maior número de colaboradores empregados, hoje cerca de 160 pessoas. A maior dificuldade que estamos encontrando é a falta de previsibilidade. Muitos altos e baixos, muitas mudanças de orientação distintas em espaços muito curtos, que nos pegam sempre de surpresa.

Não sei quantas vezes já tive que rever o planejamento mensal, sendo praticamente impossível tentar planejar um cenário anual até que estejamos imunizando a população de forma veloz e eficaz.

Tudo isso nos trouxe uma resiliência e senso de urgência maior ainda, para que pudéssemos direcionar o grupo todo, que hoje conta com 7 operações.

Sabemos que, infelizmente, muitos de nossos parceiros do mercado não conseguirão sobreviver, mas torcemos para que essa situação se reverta e que possamos em nossa maioria seguir trabalhando e voltar a oferecer bons momentos aos nossos clientes.

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'Optamos por parar por um tempo e remodelamos nosso negócio'Por Edgard Aires, da Oficina da Mesa e da Pop Briocheria

No início da pandemia perdemos praticamente todos os nossos clientes. E com isso optamos por parar por um tempo e remodelamos nosso negócio. Com a nossa experiência criamos um novo negócio para termos uma nova fonte de renda.

Na Oficina da Mesa, desistimos de ter uma operação própria. Aproveitamos que muitas cozinhas entraram em ociosidade e colocamos em nossa rede para oferecer a pequenos empreendedores que nos procuram. Formalizamos estes espaços e damos mentorias para estes empreendedores. 

Na Pop Briocheria, aproveitando a ociosidade de nossos equipamentos, montamos uma cozinha bem menor e agora produzimos brioches congelados para o crescente mercado de consumo em casa. 

Laura Andreotti eJulia Vidigal, da Crudo, especializada em identidade de marca na área da gastronomia. Foto: Felipe Rau/Estadão

'Somos duas mães empreendendo em um país como o Brasil e pretendemos continuar assim'Por Julia Vidigal, da agência de conteúdo Cru.do 

Eu e a Laura (Andreotti), minha sócia, fundamos a nossa empresa há 6 anos. Ao longo desse tempo, nunca tínhamos vivenciado algo parecido como os últimos 365 dias. Na nossa opinião, o denominador comum deste último ano foi a instabilidade e incerteza. Nossa maior dificuldade como empreendedoras foi fazer qualquer tipo de planejamento, tendo em vista que o cenário social, econômico e político do nosso País muda a cada semana - e eventualmente em um intervalo menor.

Nós vínhamos de uma trajetória de crescimento empresarial vertiginoso e tivemos que reduzir equipe, entregar o escritório e ajustar a nossa forma de operar.

Em 2020, focamos em atender as novas demandas dos clientes que permaneceram na empresa (com segurança) e paramos para observar o novo mundo que se criou, refletindo o que queríamos construir e o que seria possível fazer com uma mudança da magnitude da covid-19 - que atravessou o globo.

Depois de muitas conversas, conseguimos ajustar a nossa operação para oferecer ainda mais serviços de forma remota (essa sempre foi uma prática da nossa empresa), como por exemplo dirigir uma diária de fotos de forma remota. Além disso, passamos a direcionar nossa energia para novas áreas de negócio que, na nossa opinião, começaram a fazer ainda mais sentido.

Foi, sem dúvida, um ano duro, de muito aprendizado e reflexão. Se recolher em 2020 e fazer a escolha de operar uma empresa com segurança trouxe consequências dolorosas para nós. Mas não tirou nosso ânimo! Somos duas mães empreendendo em um país como o Brasil e pretendemos continuar assim.

Mauricio Delfino, criador da Da Minha Cor, que vende toucas de natação para cabelos afro. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

'O aprendizado é que temos que manter perseverança, criatividade e OBZ (orçamento base zero)'Por Maurício Delfino, da marca de acessórios esportivos e maquiagem DaMinhaCor 

Em dezembro de 2019 fizemos uma grande importação de toucas de natação esperando que teríamos um ano de 2020 bom. Quando esta importação chegou para nós, no início de março de 2020, absolutamente todas as lojas cancelaram os pedidos conosco, alegando que as academias e escolas de natação estavam fechadas e ninguém compraria toucas.

As idas e vindas de restrições e lockdown por todo o País duraram até outubro de 2020 e, como consequência disso, tivemos que cancelar nosso contrato com a empresa de armazém (estoque) e trazer para casa. As vendas de março a outubro caíram para ZERO de faturamento, sendo que esses produtos representavam 90% do nosso faturamento.

Ainda em março, começamos a fazer lives nas redes sociais para tentar vender nossa linha de maquiagens (que representava 10% das nossas vendas), pois as videoconferências aumentaram absurdamente nesse período e as pessoas se arrumavam da cintura para cima para aparecer legal no vídeo.

Então, aproveitamos esse discurso para reforçar nosso argumento de vendas e conseguimos nos manter. Fechamos o ano de 2020 com maquiagem representando 40% do nosso faturamento e a entrada de pelo menos 20 novas revendedoras. Em resumo, fechamos o ano uns 10% acima do faturamento de 2019.

Neste período também aceleramos o lançamento de uma touca descartável tamanho especial para cabelos afro volumosos para uso em ambientes hospitalares e também em fábricas de alimentos, para funções que precisam proteger da queda de cabelos.

Agora em janeiro de 2021, aceleramos o desenvolvimento de uma linha de tratamento capilar profissional para uso doméstico, pois com essas idas e vindas de lockdown as pessoas estão com dificuldade para frequentar salões de beleza. O lançamento será em abril de 2021.

O aprendizado que tivemos nesse período é que temos que manter a perseverança, a criatividade, o OBZ (orçamento base zero) e acelerar ao máximo as decisões, para tentar nos manter vivos e também nossa empresa. Sempre com a cabeça preparada que as soluções virão de dentro da nossa empresa, pois as ajudas dos governos para as pequenas empresas infelizmente são tardias e inalcançáveis. 

A empreendedora Luisa Abram, que fundou em São Paulo a marca de chocolates que leva seu nome. Foto: JF Diorio/Estadão-9/10/2019

'Antes procurávamos funcionários jovens, e agora passamos a contratar pessoas com família'Por Luisa Abram, da marca de chocolate Luisa Abram Chocolates

Esse ano de 2020 foi cheio de mudanças aqui na fábrica. Tivemos que investir mais em marketing digital para ficar no radar do consumidor. Alguns projetos tiveram de ser cancelados ou freados. 

Porém, nem tudo foi ruim. Conseguimos gerar 4 vagas de empregos e demos preferência àqueles com família em casa. Ou seja, o perfil do trabalhador mudou, porque antes procurávamos por jovens e agora passamos a contratar pessoas com família. 

Conseguimos crescer, nos organizar melhor financeiramente para conseguir honrar com nossos compromissos, negociando melhores condições de pagamentos e prazos. 

Como eu costumava viajar muito, e agora não é mais possível, consegui melhorar as condições de trabalho na fábrica, que antes não percebia serem tão prejudiciais ao desempenho da produção. 

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'Apesar de todas as dificuldades, estou conseguindo superar os desafios'Por Sandra Calvi, da agência Cartaz 

Tive praticamente que me reinventar, mas o mais dolorido foram as demissões. Inicialmente foram momentos muito difíceis. Depois de alguns meses me surpreendi comigo mesmo! Pois aceitei o desafio e passei a lutar como nunca! 

Contudo, seria muito importante que o governo nos ajudasse mais! Mas fazendo um balanço, apesar de todas as dificuldades, estou conseguindo superar os desafios. 

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'Esse processo de inclusão no meio digital salvou a nossa empresa e os empregos'Por Ricardo Mafra, da Rick Doces

No momento em que foi decretado lockdown em São Paulo, em 2020, ficamos por uma semana fechados e foi quando pensei que isso não iria passar tão rápido. Eu precisava fazer algo para salvar a empresa.

Éramos totalmente offline, não tínhamos redes sociais! Então, começamos inicialmente nos cadastrando em um marketplace de uma empresa já conhecida no mercado, além de montarmos um Instagram e realizarmos atendimento via WhatsApp.

Montamos um catálogo de produtos e começamos a divulgar para amigos, pedindo para repassar e, aos poucos, fomos aumentando os pedidos tanto via WhatsApp quanto via venda pelo marketplace. Surgiu aí a necessidade de automatizar a forma de pedido e assim nasceu nossa loja virtual.

Hoje, atendemos todo o Brasil. No Instagram, também criamos o personagem Rickynho, que atraiu clientes para as duas lojas físicas. Com tudo isso, mantivemos todos os colaboradores e fizemos novas contratações para atender a demanda! Atualmente, um ano após o começo de tudo isso, podemos dizer que fomos salvos pela nossa mudança e adaptação à nova realidade!

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'Deixar um legado de empresa mais estruturada e mais presente'Por Arturo Isola, da marca de gim nacional Amázzoni

O ano foi muito produtivo e muito estimulante pelos desafios que impôs. Nos obrigou a reinventar as diretrizes do negócio e desenvolver novos canais, deixando um legado de empresa mais estruturada e mais presente no Brasil. 

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'Houve oportunidades para quem soube aproveitar'Por Pedro Semeoni, sócio fundador da Greentable

Foi um ano muito complicado, cheio de adaptações para garantir segurança para o consumidor final, que ficou muito receoso com a entrega de comida. Por outro lado, houve oportunidades para quem soube aproveitar.

A Greentable abriu duas novas unidades neste ano e soube se reinventar para sobreviver no novo normal.

A chocolateira Gislaine Gallette, da marca Gallette, que começou usando chocolate belga para seus bombons e depois passou a produzir o próprio produto com cacau nacional. Foto: Hélvio Romero/Estadão

'Batalhamos para dar solidez ao nosso negócio perante a situação'Por Gislaine Gallette, da Gallette Chocolates

Foi um ano muito diferente dos demais. Um ano em que aprendemos muito sobre como trabalhar no mundo digital, como ter uma logística eficaz, como ativar clientes potenciais fora da região da loja na zona norte e uma produção eficiente com custos mais baixos sem comprometer qualidade. 

Investimos em mais equipamentos, intensificamos a gestão do negócio, fortalecemos a parceria com marcas importantes do varejo na produção de “marca própria” e alcançamos parceiros fora de São Paulo para revenda e distribuição dos nossos chocolates.

Enfim, batalhamos para dar solidez ao nosso negócio perante a situação. Hoje estamos mais fortes e mais estruturados. Neste último ano, crescemos 35% e recebemos alguns prêmiosimportantes, o que nos dá ainda mais força para seguir em frente. 

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'A inflação atingiu a produção, a média de aumento dos insumos foi de 65%'Por Isabela Lepera, fundadora da Cupcakes by Isa

Tenho uma confeitaria artesanal especializada em doces americanos em São Carlos (SP) e trabalho sozinha em casa. A Cupcakes by Isa é um case de sucesso em vendas pela internet e somos 'garotas propaganda' do WhatsApp.

A rotina de trabalho em si não mudou muito, já que eu já trabalhava de casa, com vendas pela internet e delivery, mas tenho tido problemas objetivos e subjetivos.

Durante esse período de pandemia, tenho tido muita dificuldade na parte de inovação e criatividade, já que estou bastante desmotivada, mas sei o quão fundamental é criar produtos exclusivos, ter embalagens e apresentação diferenciadas, melhorar o atendimento etc.

Tenho tido bastante dificuldade, principalmente agora nos últimos cinco meses, em manter o lucro. A inflação atingiu integralmente a produção, já que a média de aumento de custo dos insumos foi de 65%. Além disso, o poder de compra dos clientes diminuiu diante do cenário, e as vendas, por consequência, diminuíram também.

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No dia 24 de março de 2020, teve início a primeira quarentena do Estado de São Paulo em decorrência da pandemia do coronavírus. Desde então, houve uma série de idas e vindas entre as fases de isolamento social, impactando diretamente na realidade dos empreendedores.

Segundo a 10ª edição da pesquisa “O Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios”, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre 25 de fevereiro e 1º de março , o crescimento do faturamento que vinha sendo mantido desde abril do ano passado (mês mais crítico, com queda de em média 70%) foi interrompido no período do estudo.

Esse período coincide com a regressão de cidades paulistas, incluindo a capital, à fase laranja, com a restrição do comércio e de outros endereços considerados não essenciais. O levantamento de Sebrae e FGV ainda aponta que 54% das empresas atuam em locais com restrições de funcionamento e apenas 37% estão em cidades em processo de abertura. 

A tentativa de sobrevivência ocorreu, em maioria, por meio da digitalização dos negócios. Contudo, são diferentes realidades que atingem os empreendedores. Para retratá-las, a equipe do Estadão PME reuniu uma série de 26 depoimentos de donos de pequenos negócios de diferentes nichos, que contaram suas experiências no último ano por meio de um formulário.

Confira a seguir os relatos dos empreendedores Álvaro Athayde Antunes (Fleetcom), Arturo Isola (Amázzoni), Barbara Andrade (Flapper), Claudia Belintani Abbud (Santa Cabeleira), Diego Fischer (Carupi), Edgard Aires (Oficina da Mesa), Elisabeth Rodrigues (Sítio São Paulo), Fabio Rodrigues (Novidá), Felipe Caezar (HubLocal), Gabriel Fullen (Oguru Sushi), Gislaine Gallette (Gallette Chocolates), Isabela Lepera (Cupcakes by Isa), João Drummond (Crawly), Julia Vidigal (Cru.do), Juliana Aquino (Baianí), Luisa Abram (Luisa Abram), Mauricio Delfino (DaMinhaCor), Nalva Menezes (BNP Solution), Nani Gordon (Cash.in), Pedro Semeoni (Greentable), Paulo Roberto Figueiredo (Copiadora Veneza), Priscila Sabará (Foodpass), Ricardo Mafra (Rick Doces), Sandra Calvi (Cartaz), Thiago Souza (Dootax) e Vera Masagão (Oliq).

Barbara Andrade, da empresa de aviação executiva Flapper, que na pandemia passou a usar os aviões para voos de transporte de carga e aeromédicos. Foto: Pedro Vilela

'Tomar decisões rápidas e fazer execuções eficientes podem apresentar resultados incríveis'Por Barbara Andrade, CFO (chief financial officer) da Flapper 

O ano de 2020 foi desafiador. Atuamos no ramo de aviação executiva e, depois de assistirmos as fronteiras sendo fechadas para o transporte de passageiros, nos vimos diante de um desafio para não morrer durante a pandemia. 

Migramos a nossa oferta para voos de transporte de carga e aeromédicos. Com isso, apresentamos um cenário bem diverso das demais empresas, pois tivemos um crescimento de receita em 2020 em relação a 2019. 

Seguimos em crescimento, estando todos adaptados à nova rotina e oferecendo aos nossos clientes toda a segurança necessária em seus voos. A principal dificuldade foi manter o time coeso e a cultura da empresa ainda forte. 

Aprendemos que, com um time unido, tomar decisões rápidas e fazer execuções eficientes podem apresentar resultados incríveis. Continuamos esperançosos de que o cenário irá melhorar com o início da vacinação. Continuamos com resiliência e crescendo mais a cada dia.

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'Reduzimos custos, pois tudo é feito por reuniões a distância'Por Álvaro Athayde Antunes, da Fleetcom

Minha empresa é de software para empresas de logística e atuo desde 2000 em home office. Eu não precisei sair para visitar clientes ou para fazer novas prospecções. Tudo aquilo que eu fazia presencialmente eu passei a fazer online.

Não sentimos nada, pois nosso faturamento é muito pulverizado e o valor da licença é baixo. Reduzimos custos, pois tudo é feito por reuniões a distância via Google Meet ou outros softwares. Meus clientes continuaram sendo meus clientes e eu passei a gastar menos para atendê-los. Meu negócio melhorou. 

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'Não desista, sempre existe uma solução para o problema'Por Nalva Menezes, da BNP Solution

Foi um ano desafiador. A primeira atitude que tomei foi formar parcerias aumentando meu leque de produtos; a segunda foi entregar os pedidos em diversos endereços sem cobrar do cliente e, em terceiro, foi reduzir minha margem de lucro.

A resiliência e a criatividade nós, empreendedores brasileiros, temos de sobra. Não desista, sempre existe uma solução para o problema. 

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'A principal arma do empreendedor é sua própria vontade de vencer'Por Paulo Roberto Figueiredo, da Copiadora Veneza 

O primeiro mês foi o mais difícil. As pessoas estavam perdidas e acreditava-se que tudo iria passar muito rápido. Nos primeiros 15 dias, pedi para os funcionários irem para casa - não dei férias nem descontei nada, pois não achava justo (uma vez que também não podiam fazer nada).

O tempo foi passando e aderimos à proposta em que o governo pagava o salário e tínhamos que garantir a estabilidade do emprego. Optamos pela funcionária que tinha mais desenvoltura para ficar, enquanto com os outros optamos pelo plano do governo.

Em nenhum momento eu fechei as portas do meu comércio, ia todos os dias e falava para minha esposa: 'Tenho que vir todo dia, porque antes eu jogava minha tarrafa e tinha vários peixes para pegar, hoje coloco minha varinha para tentar pescar os poucos peixes que aparecem', uma metáfora em relação a quantidade de clientes que tinha na minha porta.

Antes, eu também vendia pelo WhatsApp, mas agora virou o nosso principal canal de comunicação. No primeiro mês de pandemia faturei 5% do faturamento da empresa, hoje conseguimos 40% do que faturava e estamos na esperança de tudo melhorar.

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'Dias melhores virão'Por Elisabeth Rodrigues, do Sítio São Paulo

Temos um sítio de locação para festas, retiros de igrejas e excursões escolares, ou seja, nada favorecia a continuidade do nosso negócio durante a pandemia. Mas com a liberação em horário reduzido de parques e lanchonetes, aproveitamos que já tínhamos cinco piscinas e começamos a abrir ao público para uso das mesmas, além de servir lanches e porções.

Foi isso o que salvou nosso negócio durante esse período. Porém, com a regressão das fases, estamos totalmente parados agora. Mas dias melhores virão.

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'Mais do que tudo, temos que continuar acreditando'Por Claudia Belintani Abbud, do Santa Cabeleira

Estar no comando num período como este foi muito difícil. Minha equipe precisava se nortear, continuar acreditando e ao mesmo tempo alterar hábitos adquiridos durante toda uma vida. Na primeira onda, consegui ajudar financeiramente, mas agora não há mais respiro para isto. A saída foi orientar cada um deles para se reinventar profissionalmente. 

De quatro empresas, acredito que somente duas vão sobreviver. Uma história que perdurou durante mais de 20 anos com mais de 250 famílias que tiravam o seu sustento através de muito trabalho, parceria e dedicação acabar desta forma me entristece. Mas acredito na capacidade que as pessoas têm de se levantar, acreditar, persistir... A vida é um eterno recomeço e de uma coisa tenho certeza: a vida quer viver!

Thiago Souza, cofundador da Dootax, que cresceu 100% em 2020, ano de pandemia. Foto: Divulgação

'A dependência que empresas tinham de humanos fazerem trabalho repetitivo foi colocada na berlinda'Por Thiago Souza, cofundador da Dootax

Nosso produto/software trabalha com a automação dos processos e rotinas fiscais das empresas. O home office e a pandemia, de certa forma, foram bons para os negócios, pois a dependência que as empresas tinham de humanos fazerem esse trabalho manual e repetitivo foi colocada na berlinda.

Ou seja, se já existe um robô que consegue fazer esse trabalho 24/7, sem erros e sem riscos, você pode usar o humano para tarefas mais estratégicas. Com isso, tivemos um crescimento de 100% em 2020. 

Sou cofundador da Dootax, uma startup que tem como objetivo descomplicar a rotina fiscal das empresas através da tecnologia. Estamos focados na simplificação das tarefas manuais, burocráticas e repetitivas, trazendo mais eficiência e economia para todas as empresas brasileiras.

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'Foi na adversidade que encontramos a oportunidade'Por Felipe Caezar, da HubLocal

Enquanto para grande parte das empresas 2020 foi um ano ruim, para nós da HubLocal foi sinônimo de vencer desafios e se transformar da água para o vinho. No meio de uma fase de incertezas e em apenas um ano de existência, recebemos investimento de R$ 600 mil da Anjos do Brasil, fomos selecionados para participar do programa de scale up da Endeavor, expandimos para São Paulo, contando com escritório no maior hub de empreendedorismo do Brasil, Cubo Itaú, mudamos de escritório em Fortaleza, onde fica nossa sede, e triplicamos a equipe de tamanho.

Além disso, aumentamos em 10 vezes o valuation que hoje está atingindo mais de R$ 50 milhões diante de um faturamento recorrente mensal em assinaturas de quase 2.000 empresas assinantes.

Falar de crescimento é falar sobre desafios, sobre turbulências e sobre paciência. Mas também é falar sobre avanços, sobre resiliência e, principalmente, sobre superação. Nós podemos dizer com muita convicção: em 2020, nos transformamos da água para o vinho. E foi na adversidade que encontramos a oportunidade. 

As conquistas não pararam por aí. Iniciamos 2020 com apenas 298 empresas base de assinantes. Tínhamos estabelecido como meta chegar a 1.000 até o fim de 2021, mas batemos o marco perto de 2.000 empresas assinantes antes mesmo do ano terminar. 

Mas, assim como em todas as empresas, a chegada da pandemia trouxe medo e muita reflexão sobre como seria o futuro. Estávamos diante do seguinte cenário: uma crise mundial, contratos cancelados, descontos cedidos, inadimplências e uma queda de 28% no faturamento. A conformação e a aceitação eram as opções mais rápidas, seguras e acessíveis para nós naquele momento. Mas não foi a que escolhemos. 

Adaptação e olhar para as oportunidades foram os fatores mais importantes para colherresultados positivos. Nós, como gestores da startup, rastreamos brechas que pudessem beneficiar a empresa dentro do contexto de pandemia e isolamento social. 

Analisamos o momento e percebemos que, com a presença maior das pessoas em casa, uma grande parte dos serviços (se não todos) estavam sendo feitos através da internet. E foi justamente pautados nessa constatação que traçamos estratégias para atender as empresas e nos adequar às demandas e segmentos que estavam sendo acessados.

Para chegar ao produto ideal que queríamos oferecer, foi necessário muito estudo de mercado. Depois de tudo mapeado, montamos um diagnóstico, um report diário do covid-19 e um plano de reação. Com as estratégias projetadas, a empresa teve uma retomada significativa, no qual foi possível recuperar não somente o patamar anterior, como obter um crescimento exponencial desde então.

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'Mesmo com retração, conseguimos passar pela pandemia sem demitir ninguém'Por João Drummond, fundador e CEO da Crawly

Aproveitamos o caixa do ano anterior, que foi relativamente bom, para manter todos os funcionários. Então, mesmo com uma retração grande do nosso mercado, conseguimos passar pela pandemia sem demitir ninguém. Lançamos um produto de prateleira e conseguimos novos clientes no início de 2021, assim, temos a perspectiva de crescimento de 50% em relação ao ano passado.

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'Nos reinventamos como produto e adaptamos funcionalidades'Por Fabio Rodrigues, da startup Novidá 

Para nós foi uma grande montanha russa! Desde o caos do início da pandemia, com diversos clientes cancelando contratos, chegando literalmente perto do fundo do poço em volume de clientes e operações, até a pequena luz de uma tímida retomada econômica, que para nós tem sido de alta aceleração, com crescimento acima de 30% por mês, desde agosto de 2020.

Nos reinventamos como produto e adaptamos funcionalidades para ajudar as empresas a manter a saúde dos funcionários via contact tracing. Além disso, redesenhamos todo o modelo de negócios e nosso posicionamento na sociedade. A pandemia, apesar de cruel, nos fez renascer, e ainda mais fortes e preparados em nossa missão de transformar o trabalho operacional na América latina, através da tecnologia.

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'Nascemos com o DNA do novo normal'Por Diego Fischer, da Carupi

A Carupi nasceu 9 meses antes das primeiras ações de restrição da economia como tentativa de conter o novo coronavírus. Mas como o nosso modelo de negócio é completamente home office, altamente escalável e sem a necessidade de ponto físico, basicamente nascemos com o DNA do novo normal.

Como uma startup de tecnologia com atuação no mercado de seminovos, temos alguns desafios naturais de uma empresa que não tem uma fachada para dar segurança às pessoas, como a mudança da percepção que pessoas mais resistentes tem de empresas tech que prestam serviço a você sem nenhuma interação física; como a administração e gestão de pessoas espalhadas por todo o país através de sistemas integrados; gestão de clientes através de um banco de dados e ferramentas de CRM que permitem essa descentralização do atendimento ao cliente etc. 

Criamos um sistema nervoso de business inteligence sofisticado, um sistema de gestão de pessoas seguro e uma ferramenta fácil, conveniente e segura para os clientes - mudar o paradigma há tantos anos estabelecido de como se compra e vende seminovo de particular para particular.

A empreendedora Priscila Sabará, da plataforma Foodpass, criou o projeto 'Quarentene-se' para ajudar micro e pequenos restaurantes durante a quarentena em São Paulo. Foto: Gabriela Biló/Estadão

'Nosso principal aprendizado foi internalizar uma equipe de TI'Por Priscila Sabará, da plataforma Foodpass

Foi um ano inédito para Foodpass, havíamos fechado a primeira rodada de investimentos no fim de 2019 e traçamos um plano de crescimento, mas já em março começamos os ajustes de equipe e despesas, visto que os eventos presenciais foram todos cancelados. Por visão de mercado ou sorte, em nossa tese de investimento estava a consolidação do núcleo de negócio focado em conteúdo e foi este que 'sustentou' o faturamento da empresa. 

Criamos movimentos, festivais online e trouxemos marcas para apoiá-los, como o Arraial com a Bonduelle, Food Summit com a Nespresso e Dia dos Pais com a Toyota. Adaptamos como pudemos o marketplace para vender vouchers, kit experiência e aulas online. 

No segundo semestre conseguimos um empréstimo com a linha de crédito Desenvolve SP do governo do Estado de SP e em dezembro abrimos uma segunda rodada de investimento para capitalizar mais o negócio, concluímos a rodada em março.

Nosso principal aprendizado foi internalizar uma equipe de TI (tecnologia da informação) para termos agilidade na adaptação do nosso produto digital com novas ferramentas e este é o objetivo de 2021, além de claro buscar aumentar o faturamento com os projetos e movimentos que já fazemos.

Como plataforma digital entendemos que abrem-se novos espaços para a Foodpass, começamos há 8 anos a incentivar o mercado de food service a diversificar seus produtos e serviços para além do salão e delivery, o que se faz essencial neste momento.

Juliana Aquino em sua fazenda de cacau, a Vale Potumujú, no sul da Bahia, que alimenta a sua marca de chocolates Baianí. Foto: Ana Paula Boni/Estadão

'Vamos passar por essa crise'Por Juliana Aquino, da marca de chocolates Baianí 

Foi difícil para todos, principalmente para a manutenção das colaboradoras. Além dos salários que foram mantidos, no início da pandemia todas ficaram em casa por dois meses. Depois, em fases mais complicadas, o Uber virou o transporte diário. Ultimamente, (os funcionários) voltaram para o transporte público, mas com a fase roxa vamos voltar com o Uber, o que é muito caro.

Outra dificuldade é a compra frequente de material descartável e álcool 70% (tanto em gel como líquido). Comida delivery na fábrica para evitar a saída das funcionárias também foi instituída. Como tudo está muito incerto e complicado, deixá-las tranquilas e confortáveis tem que fazer parte do negócio. 

As vendas não despencaram por causa dos veículos digitais, mas não mantiveram o crescimento que vínhamos tendo antes da pandemia. Temos outra fonte de renda, por isso mantivemos a fábrica de chocolate e a fazenda de cacau. Ambos não se pagaram com suas produções. 

Tudo tem seu ciclo. A pandemia está nos seus momentos finais e trabalhar com chocolate é sempre alentador! Vamos passar por essa crise. 

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'Tivemos um crescimento de 309% no volume transacionado na plataforma'Por Nani Gordon, da startup Cash.in

No último ano, apesar de todos os desafios, tivemos um crescimento de 309% no volume transacionado na plataforma. Muito disso se deve ao distanciamento e a maior busca por empresas por pagamentos digitais. A Cash.in consegue chegar em todos os colaboradores instantaneamente, mesmo terceirizados, e oferece diversas formas de resgate do crédito recebido. Estamos crescendo muito e já em 2021 fechamos três novos clientes que triplicam nosso número de usuários na plataforma. 

Somos duas mulheres empreendedoras que decidimos olhar para um novo mercado e aprender a fundo os processos de distribuição de prêmios de marketing e vendas no Brasil, criando uma plataforma disruptiva que conquistou 35 clientes em 1 ano e meio de operação. 

Mas, com filho bebê, marido 100% home office e toda a função da casa, fica desafiador performar bem em todos os 'papéis', é um malabarismo.

Os sócios do azeite Oliq Antônio Augusto Batista e Vera Masagão, na Serra da Mantiqueira, em 2017. Foto: Hélvio Romero/Estadão-3/2/2017

'O nosso negócio poderá aproveitar uma oportunidade: pessoas querendo passar mais tempo fora dos centros urbanos'Por Vera Masagão, do azeite de oliva Oliq

Na verdade, a alternativa correta seria 'Eu já era empreendedor e ampliei meu negócio'. Temos uma fazenda onde produzimos azeitonas e processamos azeite de oliva e outros produtos artesanais complementares (cafée geleias). Passamos a receber turistas que vinham conhecer o processo de produção, degustar os azeites e comprar na loja de fábrica.

Decidimos que faria muito sentido, dado o fluxo de turistas, abrir um restaurante, que explorasse os usos culinários do azeite e atendesse a demanda dos visitantes, já numerosos nos finais de semana. A pandemia nos pegou quando a obra do restaurante estava pela metade. Em março, fechamos o atendimento aos turistas, mas a obra, assim como as atividades agrícolas da fazenda puderam continuar. 

Passamos 4 meses completamente fechados para atendimento aos turistas e venda na loja da fazenda. Nesse período investimos na loja online, que aumentou bastante seu volume de vendas, mas continuou sendo uma parte pequena em relação ao faturamento com venda presencial (em torno de 5%). Em meados de julho voltamos a atender turistas, só nas áreas externas, com grupos reduzidos, mudando o formato da degustação.

No final de outubro inauguramos o restaurante. Conseguimos um bom movimento, funcionando só fins de semana e feriados. Fizemos a contratação de 6 novos funcionários, nos finais de semana e feriados chamamos diaristas, chegando a operar com 20 trabalhadores. No final de dezembro, já com notícias da segunda onda na Europa, tomamos consciência de que daqui a pouco teríamos que fechar outra vez. Então resolvemos aproveitar ao máximo os períodos em que tivéssemos permissão de funcionar. 

Passamos a atender no restaurante 5 dias por semana, de quinta a segunda-feira, ficando as terças e quartas para folgas e trabalhos internos. O faturamento em janeiro e fevereiro triplicou em relação à média do faturamento pré-pandemia e pré-restaurante. O restaurante, além do faturamento próprio, alavancou o faturamento da loja de fábrica. 

Vista das oliveiras para a produção do azeite Oliq, em São Bento do Sapucaí (SP), na Serra da Mantiqueira. Foto: Hélvio Romero/Estadão-3/2/2017

O movimento, mesmo sendo período 'meio de férias', foi surpreendente. Com o home office e crianças sem ir à escola, muitas famílias passaram períodos maiores em casas de campo ou pousadas da região. Lembro de receber um casal para visita guiada e almoço, numa quinta-feira, e eles explicaram: 'Deixamos as crianças assistindo aula na pousada e viemos curtir esse passeio só nós dois'.

Entre o final de janeiro e fevereiro, tivemos que fechar o restaurante (a loja foi autorizada a funcionar) por 15 dias, pois a nossa região de Taubaté entrou na fase vermelha. Mesmo com essa parada, o resultado foi excelente em relação aos meses anteriores. 

Quando veio a fase vermelha para todo o Estado, e depois a emergência, decidimos fechar e, com orientação do sindicato, vamos fazer um banco de horas para compensar os dias parados com feriados e férias. Isso será possível se o fechamento não se prolongar mais do que dois meses.

Se conseguirmos trabalhar, mesmo em períodos intermitentes, creio que conseguiremos sobreviver financeiramente, sem demitir ninguém, como estamos conseguindo até agora.

Imaginamos que a covid vai estar presente em nossas vidas nos próximos anos de uma forma ou de outra. Então, o nosso tipo de negócio poderá, assim esperamos, aproveitar uma oportunidade: o fluxo crescente de pessoas querendo passar mais tempo fora dos centros urbanos, passear e fazer refeições em ambientes bem ventilados, com muita área externa. 

É nisso que estamos apostando. Isso se conseguirmos controlar a pandemia em nosso País. Só não dá pra continuar ladeira abaixo como estamos atualmente.

Gabriel Fullen, sócio do grupo de restaurantes que detém casas como Oguru Sushi & Bar, em São Paulo. Foto: Nilton Fukuda/Estadão-20/4/2020

'Tentamos pensar todos os dias fora da caixinha'Por Gabriel Fullen, sócio do Grupo Locale (Oguru Sushi & Bar / Locale Caffè/ Locale Trattoria / Poke by Oguru) 

Há 12 meses começamos o ano mais desafiador de nossas vidas. Gostamos de dizer por aqui que, no primeiro mês de pandemia, evoluímos 1 ano em 30 dias. Isso porque tivemos que desenvolver ações e operações que pudessem funcionar com as portas fechadas.

Por isso, tentamos desde então pensar todos os dias fora da caixinha. A primeira ação foi lançar vouchers promocionais no Oguru, nossa marca mais antiga do grupo, onde os clientes puderam comprar dois rodízios de nosso restaurante pelo preço de um. A ação foi um sucesso e nos gerou aproximadamente R$ 1 milhão em 4 dias de venda.

Com isso, tivemos 10 dias para nos estruturar e lançar de fato o delivery Oguru. Em menos de dois meses, estávamos recebendo mais de 4 mil pedidos. Além disso, inauguramos de lá pra cá 3 novas operações: 

  1. Locale Caffè (maio/20): o misto de café e bar italiano abriu sua janelinha apenas para delivery e take away, pois ainda nos encontrávamos na fase vermelha. Felizmente, desde o início atraiu muitos clientes
  2. Locale Trattoria (nov/20): inauguramos o restaurante surfando uma boa onda de seu vizinho-irmão, o Locale Caffè
  3. Poke by Oguru (março/21): a mais nova marca era uma idéia que estudávamos abrir em algum momento futuro, mas teve que ser tirada do papel às pressas para enfrentarmos as novas e mais duras medidas de isolamento

Tudo isso para conseguirmos manter o grupo de pé e com o maior número de colaboradores empregados, hoje cerca de 160 pessoas. A maior dificuldade que estamos encontrando é a falta de previsibilidade. Muitos altos e baixos, muitas mudanças de orientação distintas em espaços muito curtos, que nos pegam sempre de surpresa.

Não sei quantas vezes já tive que rever o planejamento mensal, sendo praticamente impossível tentar planejar um cenário anual até que estejamos imunizando a população de forma veloz e eficaz.

Tudo isso nos trouxe uma resiliência e senso de urgência maior ainda, para que pudéssemos direcionar o grupo todo, que hoje conta com 7 operações.

Sabemos que, infelizmente, muitos de nossos parceiros do mercado não conseguirão sobreviver, mas torcemos para que essa situação se reverta e que possamos em nossa maioria seguir trabalhando e voltar a oferecer bons momentos aos nossos clientes.

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'Optamos por parar por um tempo e remodelamos nosso negócio'Por Edgard Aires, da Oficina da Mesa e da Pop Briocheria

No início da pandemia perdemos praticamente todos os nossos clientes. E com isso optamos por parar por um tempo e remodelamos nosso negócio. Com a nossa experiência criamos um novo negócio para termos uma nova fonte de renda.

Na Oficina da Mesa, desistimos de ter uma operação própria. Aproveitamos que muitas cozinhas entraram em ociosidade e colocamos em nossa rede para oferecer a pequenos empreendedores que nos procuram. Formalizamos estes espaços e damos mentorias para estes empreendedores. 

Na Pop Briocheria, aproveitando a ociosidade de nossos equipamentos, montamos uma cozinha bem menor e agora produzimos brioches congelados para o crescente mercado de consumo em casa. 

Laura Andreotti eJulia Vidigal, da Crudo, especializada em identidade de marca na área da gastronomia. Foto: Felipe Rau/Estadão

'Somos duas mães empreendendo em um país como o Brasil e pretendemos continuar assim'Por Julia Vidigal, da agência de conteúdo Cru.do 

Eu e a Laura (Andreotti), minha sócia, fundamos a nossa empresa há 6 anos. Ao longo desse tempo, nunca tínhamos vivenciado algo parecido como os últimos 365 dias. Na nossa opinião, o denominador comum deste último ano foi a instabilidade e incerteza. Nossa maior dificuldade como empreendedoras foi fazer qualquer tipo de planejamento, tendo em vista que o cenário social, econômico e político do nosso País muda a cada semana - e eventualmente em um intervalo menor.

Nós vínhamos de uma trajetória de crescimento empresarial vertiginoso e tivemos que reduzir equipe, entregar o escritório e ajustar a nossa forma de operar.

Em 2020, focamos em atender as novas demandas dos clientes que permaneceram na empresa (com segurança) e paramos para observar o novo mundo que se criou, refletindo o que queríamos construir e o que seria possível fazer com uma mudança da magnitude da covid-19 - que atravessou o globo.

Depois de muitas conversas, conseguimos ajustar a nossa operação para oferecer ainda mais serviços de forma remota (essa sempre foi uma prática da nossa empresa), como por exemplo dirigir uma diária de fotos de forma remota. Além disso, passamos a direcionar nossa energia para novas áreas de negócio que, na nossa opinião, começaram a fazer ainda mais sentido.

Foi, sem dúvida, um ano duro, de muito aprendizado e reflexão. Se recolher em 2020 e fazer a escolha de operar uma empresa com segurança trouxe consequências dolorosas para nós. Mas não tirou nosso ânimo! Somos duas mães empreendendo em um país como o Brasil e pretendemos continuar assim.

Mauricio Delfino, criador da Da Minha Cor, que vende toucas de natação para cabelos afro. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

'O aprendizado é que temos que manter perseverança, criatividade e OBZ (orçamento base zero)'Por Maurício Delfino, da marca de acessórios esportivos e maquiagem DaMinhaCor 

Em dezembro de 2019 fizemos uma grande importação de toucas de natação esperando que teríamos um ano de 2020 bom. Quando esta importação chegou para nós, no início de março de 2020, absolutamente todas as lojas cancelaram os pedidos conosco, alegando que as academias e escolas de natação estavam fechadas e ninguém compraria toucas.

As idas e vindas de restrições e lockdown por todo o País duraram até outubro de 2020 e, como consequência disso, tivemos que cancelar nosso contrato com a empresa de armazém (estoque) e trazer para casa. As vendas de março a outubro caíram para ZERO de faturamento, sendo que esses produtos representavam 90% do nosso faturamento.

Ainda em março, começamos a fazer lives nas redes sociais para tentar vender nossa linha de maquiagens (que representava 10% das nossas vendas), pois as videoconferências aumentaram absurdamente nesse período e as pessoas se arrumavam da cintura para cima para aparecer legal no vídeo.

Então, aproveitamos esse discurso para reforçar nosso argumento de vendas e conseguimos nos manter. Fechamos o ano de 2020 com maquiagem representando 40% do nosso faturamento e a entrada de pelo menos 20 novas revendedoras. Em resumo, fechamos o ano uns 10% acima do faturamento de 2019.

Neste período também aceleramos o lançamento de uma touca descartável tamanho especial para cabelos afro volumosos para uso em ambientes hospitalares e também em fábricas de alimentos, para funções que precisam proteger da queda de cabelos.

Agora em janeiro de 2021, aceleramos o desenvolvimento de uma linha de tratamento capilar profissional para uso doméstico, pois com essas idas e vindas de lockdown as pessoas estão com dificuldade para frequentar salões de beleza. O lançamento será em abril de 2021.

O aprendizado que tivemos nesse período é que temos que manter a perseverança, a criatividade, o OBZ (orçamento base zero) e acelerar ao máximo as decisões, para tentar nos manter vivos e também nossa empresa. Sempre com a cabeça preparada que as soluções virão de dentro da nossa empresa, pois as ajudas dos governos para as pequenas empresas infelizmente são tardias e inalcançáveis. 

A empreendedora Luisa Abram, que fundou em São Paulo a marca de chocolates que leva seu nome. Foto: JF Diorio/Estadão-9/10/2019

'Antes procurávamos funcionários jovens, e agora passamos a contratar pessoas com família'Por Luisa Abram, da marca de chocolate Luisa Abram Chocolates

Esse ano de 2020 foi cheio de mudanças aqui na fábrica. Tivemos que investir mais em marketing digital para ficar no radar do consumidor. Alguns projetos tiveram de ser cancelados ou freados. 

Porém, nem tudo foi ruim. Conseguimos gerar 4 vagas de empregos e demos preferência àqueles com família em casa. Ou seja, o perfil do trabalhador mudou, porque antes procurávamos por jovens e agora passamos a contratar pessoas com família. 

Conseguimos crescer, nos organizar melhor financeiramente para conseguir honrar com nossos compromissos, negociando melhores condições de pagamentos e prazos. 

Como eu costumava viajar muito, e agora não é mais possível, consegui melhorar as condições de trabalho na fábrica, que antes não percebia serem tão prejudiciais ao desempenho da produção. 

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'Apesar de todas as dificuldades, estou conseguindo superar os desafios'Por Sandra Calvi, da agência Cartaz 

Tive praticamente que me reinventar, mas o mais dolorido foram as demissões. Inicialmente foram momentos muito difíceis. Depois de alguns meses me surpreendi comigo mesmo! Pois aceitei o desafio e passei a lutar como nunca! 

Contudo, seria muito importante que o governo nos ajudasse mais! Mas fazendo um balanço, apesar de todas as dificuldades, estou conseguindo superar os desafios. 

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'Esse processo de inclusão no meio digital salvou a nossa empresa e os empregos'Por Ricardo Mafra, da Rick Doces

No momento em que foi decretado lockdown em São Paulo, em 2020, ficamos por uma semana fechados e foi quando pensei que isso não iria passar tão rápido. Eu precisava fazer algo para salvar a empresa.

Éramos totalmente offline, não tínhamos redes sociais! Então, começamos inicialmente nos cadastrando em um marketplace de uma empresa já conhecida no mercado, além de montarmos um Instagram e realizarmos atendimento via WhatsApp.

Montamos um catálogo de produtos e começamos a divulgar para amigos, pedindo para repassar e, aos poucos, fomos aumentando os pedidos tanto via WhatsApp quanto via venda pelo marketplace. Surgiu aí a necessidade de automatizar a forma de pedido e assim nasceu nossa loja virtual.

Hoje, atendemos todo o Brasil. No Instagram, também criamos o personagem Rickynho, que atraiu clientes para as duas lojas físicas. Com tudo isso, mantivemos todos os colaboradores e fizemos novas contratações para atender a demanda! Atualmente, um ano após o começo de tudo isso, podemos dizer que fomos salvos pela nossa mudança e adaptação à nova realidade!

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'Deixar um legado de empresa mais estruturada e mais presente'Por Arturo Isola, da marca de gim nacional Amázzoni

O ano foi muito produtivo e muito estimulante pelos desafios que impôs. Nos obrigou a reinventar as diretrizes do negócio e desenvolver novos canais, deixando um legado de empresa mais estruturada e mais presente no Brasil. 

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'Houve oportunidades para quem soube aproveitar'Por Pedro Semeoni, sócio fundador da Greentable

Foi um ano muito complicado, cheio de adaptações para garantir segurança para o consumidor final, que ficou muito receoso com a entrega de comida. Por outro lado, houve oportunidades para quem soube aproveitar.

A Greentable abriu duas novas unidades neste ano e soube se reinventar para sobreviver no novo normal.

A chocolateira Gislaine Gallette, da marca Gallette, que começou usando chocolate belga para seus bombons e depois passou a produzir o próprio produto com cacau nacional. Foto: Hélvio Romero/Estadão

'Batalhamos para dar solidez ao nosso negócio perante a situação'Por Gislaine Gallette, da Gallette Chocolates

Foi um ano muito diferente dos demais. Um ano em que aprendemos muito sobre como trabalhar no mundo digital, como ter uma logística eficaz, como ativar clientes potenciais fora da região da loja na zona norte e uma produção eficiente com custos mais baixos sem comprometer qualidade. 

Investimos em mais equipamentos, intensificamos a gestão do negócio, fortalecemos a parceria com marcas importantes do varejo na produção de “marca própria” e alcançamos parceiros fora de São Paulo para revenda e distribuição dos nossos chocolates.

Enfim, batalhamos para dar solidez ao nosso negócio perante a situação. Hoje estamos mais fortes e mais estruturados. Neste último ano, crescemos 35% e recebemos alguns prêmiosimportantes, o que nos dá ainda mais força para seguir em frente. 

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'A inflação atingiu a produção, a média de aumento dos insumos foi de 65%'Por Isabela Lepera, fundadora da Cupcakes by Isa

Tenho uma confeitaria artesanal especializada em doces americanos em São Carlos (SP) e trabalho sozinha em casa. A Cupcakes by Isa é um case de sucesso em vendas pela internet e somos 'garotas propaganda' do WhatsApp.

A rotina de trabalho em si não mudou muito, já que eu já trabalhava de casa, com vendas pela internet e delivery, mas tenho tido problemas objetivos e subjetivos.

Durante esse período de pandemia, tenho tido muita dificuldade na parte de inovação e criatividade, já que estou bastante desmotivada, mas sei o quão fundamental é criar produtos exclusivos, ter embalagens e apresentação diferenciadas, melhorar o atendimento etc.

Tenho tido bastante dificuldade, principalmente agora nos últimos cinco meses, em manter o lucro. A inflação atingiu integralmente a produção, já que a média de aumento de custo dos insumos foi de 65%. Além disso, o poder de compra dos clientes diminuiu diante do cenário, e as vendas, por consequência, diminuíram também.

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No dia 24 de março de 2020, teve início a primeira quarentena do Estado de São Paulo em decorrência da pandemia do coronavírus. Desde então, houve uma série de idas e vindas entre as fases de isolamento social, impactando diretamente na realidade dos empreendedores.

Segundo a 10ª edição da pesquisa “O Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios”, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre 25 de fevereiro e 1º de março , o crescimento do faturamento que vinha sendo mantido desde abril do ano passado (mês mais crítico, com queda de em média 70%) foi interrompido no período do estudo.

Esse período coincide com a regressão de cidades paulistas, incluindo a capital, à fase laranja, com a restrição do comércio e de outros endereços considerados não essenciais. O levantamento de Sebrae e FGV ainda aponta que 54% das empresas atuam em locais com restrições de funcionamento e apenas 37% estão em cidades em processo de abertura. 

A tentativa de sobrevivência ocorreu, em maioria, por meio da digitalização dos negócios. Contudo, são diferentes realidades que atingem os empreendedores. Para retratá-las, a equipe do Estadão PME reuniu uma série de 26 depoimentos de donos de pequenos negócios de diferentes nichos, que contaram suas experiências no último ano por meio de um formulário.

Confira a seguir os relatos dos empreendedores Álvaro Athayde Antunes (Fleetcom), Arturo Isola (Amázzoni), Barbara Andrade (Flapper), Claudia Belintani Abbud (Santa Cabeleira), Diego Fischer (Carupi), Edgard Aires (Oficina da Mesa), Elisabeth Rodrigues (Sítio São Paulo), Fabio Rodrigues (Novidá), Felipe Caezar (HubLocal), Gabriel Fullen (Oguru Sushi), Gislaine Gallette (Gallette Chocolates), Isabela Lepera (Cupcakes by Isa), João Drummond (Crawly), Julia Vidigal (Cru.do), Juliana Aquino (Baianí), Luisa Abram (Luisa Abram), Mauricio Delfino (DaMinhaCor), Nalva Menezes (BNP Solution), Nani Gordon (Cash.in), Pedro Semeoni (Greentable), Paulo Roberto Figueiredo (Copiadora Veneza), Priscila Sabará (Foodpass), Ricardo Mafra (Rick Doces), Sandra Calvi (Cartaz), Thiago Souza (Dootax) e Vera Masagão (Oliq).

Barbara Andrade, da empresa de aviação executiva Flapper, que na pandemia passou a usar os aviões para voos de transporte de carga e aeromédicos. Foto: Pedro Vilela

'Tomar decisões rápidas e fazer execuções eficientes podem apresentar resultados incríveis'Por Barbara Andrade, CFO (chief financial officer) da Flapper 

O ano de 2020 foi desafiador. Atuamos no ramo de aviação executiva e, depois de assistirmos as fronteiras sendo fechadas para o transporte de passageiros, nos vimos diante de um desafio para não morrer durante a pandemia. 

Migramos a nossa oferta para voos de transporte de carga e aeromédicos. Com isso, apresentamos um cenário bem diverso das demais empresas, pois tivemos um crescimento de receita em 2020 em relação a 2019. 

Seguimos em crescimento, estando todos adaptados à nova rotina e oferecendo aos nossos clientes toda a segurança necessária em seus voos. A principal dificuldade foi manter o time coeso e a cultura da empresa ainda forte. 

Aprendemos que, com um time unido, tomar decisões rápidas e fazer execuções eficientes podem apresentar resultados incríveis. Continuamos esperançosos de que o cenário irá melhorar com o início da vacinação. Continuamos com resiliência e crescendo mais a cada dia.

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'Reduzimos custos, pois tudo é feito por reuniões a distância'Por Álvaro Athayde Antunes, da Fleetcom

Minha empresa é de software para empresas de logística e atuo desde 2000 em home office. Eu não precisei sair para visitar clientes ou para fazer novas prospecções. Tudo aquilo que eu fazia presencialmente eu passei a fazer online.

Não sentimos nada, pois nosso faturamento é muito pulverizado e o valor da licença é baixo. Reduzimos custos, pois tudo é feito por reuniões a distância via Google Meet ou outros softwares. Meus clientes continuaram sendo meus clientes e eu passei a gastar menos para atendê-los. Meu negócio melhorou. 

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'Não desista, sempre existe uma solução para o problema'Por Nalva Menezes, da BNP Solution

Foi um ano desafiador. A primeira atitude que tomei foi formar parcerias aumentando meu leque de produtos; a segunda foi entregar os pedidos em diversos endereços sem cobrar do cliente e, em terceiro, foi reduzir minha margem de lucro.

A resiliência e a criatividade nós, empreendedores brasileiros, temos de sobra. Não desista, sempre existe uma solução para o problema. 

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'A principal arma do empreendedor é sua própria vontade de vencer'Por Paulo Roberto Figueiredo, da Copiadora Veneza 

O primeiro mês foi o mais difícil. As pessoas estavam perdidas e acreditava-se que tudo iria passar muito rápido. Nos primeiros 15 dias, pedi para os funcionários irem para casa - não dei férias nem descontei nada, pois não achava justo (uma vez que também não podiam fazer nada).

O tempo foi passando e aderimos à proposta em que o governo pagava o salário e tínhamos que garantir a estabilidade do emprego. Optamos pela funcionária que tinha mais desenvoltura para ficar, enquanto com os outros optamos pelo plano do governo.

Em nenhum momento eu fechei as portas do meu comércio, ia todos os dias e falava para minha esposa: 'Tenho que vir todo dia, porque antes eu jogava minha tarrafa e tinha vários peixes para pegar, hoje coloco minha varinha para tentar pescar os poucos peixes que aparecem', uma metáfora em relação a quantidade de clientes que tinha na minha porta.

Antes, eu também vendia pelo WhatsApp, mas agora virou o nosso principal canal de comunicação. No primeiro mês de pandemia faturei 5% do faturamento da empresa, hoje conseguimos 40% do que faturava e estamos na esperança de tudo melhorar.

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'Dias melhores virão'Por Elisabeth Rodrigues, do Sítio São Paulo

Temos um sítio de locação para festas, retiros de igrejas e excursões escolares, ou seja, nada favorecia a continuidade do nosso negócio durante a pandemia. Mas com a liberação em horário reduzido de parques e lanchonetes, aproveitamos que já tínhamos cinco piscinas e começamos a abrir ao público para uso das mesmas, além de servir lanches e porções.

Foi isso o que salvou nosso negócio durante esse período. Porém, com a regressão das fases, estamos totalmente parados agora. Mas dias melhores virão.

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'Mais do que tudo, temos que continuar acreditando'Por Claudia Belintani Abbud, do Santa Cabeleira

Estar no comando num período como este foi muito difícil. Minha equipe precisava se nortear, continuar acreditando e ao mesmo tempo alterar hábitos adquiridos durante toda uma vida. Na primeira onda, consegui ajudar financeiramente, mas agora não há mais respiro para isto. A saída foi orientar cada um deles para se reinventar profissionalmente. 

De quatro empresas, acredito que somente duas vão sobreviver. Uma história que perdurou durante mais de 20 anos com mais de 250 famílias que tiravam o seu sustento através de muito trabalho, parceria e dedicação acabar desta forma me entristece. Mas acredito na capacidade que as pessoas têm de se levantar, acreditar, persistir... A vida é um eterno recomeço e de uma coisa tenho certeza: a vida quer viver!

Thiago Souza, cofundador da Dootax, que cresceu 100% em 2020, ano de pandemia. Foto: Divulgação

'A dependência que empresas tinham de humanos fazerem trabalho repetitivo foi colocada na berlinda'Por Thiago Souza, cofundador da Dootax

Nosso produto/software trabalha com a automação dos processos e rotinas fiscais das empresas. O home office e a pandemia, de certa forma, foram bons para os negócios, pois a dependência que as empresas tinham de humanos fazerem esse trabalho manual e repetitivo foi colocada na berlinda.

Ou seja, se já existe um robô que consegue fazer esse trabalho 24/7, sem erros e sem riscos, você pode usar o humano para tarefas mais estratégicas. Com isso, tivemos um crescimento de 100% em 2020. 

Sou cofundador da Dootax, uma startup que tem como objetivo descomplicar a rotina fiscal das empresas através da tecnologia. Estamos focados na simplificação das tarefas manuais, burocráticas e repetitivas, trazendo mais eficiência e economia para todas as empresas brasileiras.

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'Foi na adversidade que encontramos a oportunidade'Por Felipe Caezar, da HubLocal

Enquanto para grande parte das empresas 2020 foi um ano ruim, para nós da HubLocal foi sinônimo de vencer desafios e se transformar da água para o vinho. No meio de uma fase de incertezas e em apenas um ano de existência, recebemos investimento de R$ 600 mil da Anjos do Brasil, fomos selecionados para participar do programa de scale up da Endeavor, expandimos para São Paulo, contando com escritório no maior hub de empreendedorismo do Brasil, Cubo Itaú, mudamos de escritório em Fortaleza, onde fica nossa sede, e triplicamos a equipe de tamanho.

Além disso, aumentamos em 10 vezes o valuation que hoje está atingindo mais de R$ 50 milhões diante de um faturamento recorrente mensal em assinaturas de quase 2.000 empresas assinantes.

Falar de crescimento é falar sobre desafios, sobre turbulências e sobre paciência. Mas também é falar sobre avanços, sobre resiliência e, principalmente, sobre superação. Nós podemos dizer com muita convicção: em 2020, nos transformamos da água para o vinho. E foi na adversidade que encontramos a oportunidade. 

As conquistas não pararam por aí. Iniciamos 2020 com apenas 298 empresas base de assinantes. Tínhamos estabelecido como meta chegar a 1.000 até o fim de 2021, mas batemos o marco perto de 2.000 empresas assinantes antes mesmo do ano terminar. 

Mas, assim como em todas as empresas, a chegada da pandemia trouxe medo e muita reflexão sobre como seria o futuro. Estávamos diante do seguinte cenário: uma crise mundial, contratos cancelados, descontos cedidos, inadimplências e uma queda de 28% no faturamento. A conformação e a aceitação eram as opções mais rápidas, seguras e acessíveis para nós naquele momento. Mas não foi a que escolhemos. 

Adaptação e olhar para as oportunidades foram os fatores mais importantes para colherresultados positivos. Nós, como gestores da startup, rastreamos brechas que pudessem beneficiar a empresa dentro do contexto de pandemia e isolamento social. 

Analisamos o momento e percebemos que, com a presença maior das pessoas em casa, uma grande parte dos serviços (se não todos) estavam sendo feitos através da internet. E foi justamente pautados nessa constatação que traçamos estratégias para atender as empresas e nos adequar às demandas e segmentos que estavam sendo acessados.

Para chegar ao produto ideal que queríamos oferecer, foi necessário muito estudo de mercado. Depois de tudo mapeado, montamos um diagnóstico, um report diário do covid-19 e um plano de reação. Com as estratégias projetadas, a empresa teve uma retomada significativa, no qual foi possível recuperar não somente o patamar anterior, como obter um crescimento exponencial desde então.

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'Mesmo com retração, conseguimos passar pela pandemia sem demitir ninguém'Por João Drummond, fundador e CEO da Crawly

Aproveitamos o caixa do ano anterior, que foi relativamente bom, para manter todos os funcionários. Então, mesmo com uma retração grande do nosso mercado, conseguimos passar pela pandemia sem demitir ninguém. Lançamos um produto de prateleira e conseguimos novos clientes no início de 2021, assim, temos a perspectiva de crescimento de 50% em relação ao ano passado.

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'Nos reinventamos como produto e adaptamos funcionalidades'Por Fabio Rodrigues, da startup Novidá 

Para nós foi uma grande montanha russa! Desde o caos do início da pandemia, com diversos clientes cancelando contratos, chegando literalmente perto do fundo do poço em volume de clientes e operações, até a pequena luz de uma tímida retomada econômica, que para nós tem sido de alta aceleração, com crescimento acima de 30% por mês, desde agosto de 2020.

Nos reinventamos como produto e adaptamos funcionalidades para ajudar as empresas a manter a saúde dos funcionários via contact tracing. Além disso, redesenhamos todo o modelo de negócios e nosso posicionamento na sociedade. A pandemia, apesar de cruel, nos fez renascer, e ainda mais fortes e preparados em nossa missão de transformar o trabalho operacional na América latina, através da tecnologia.

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'Nascemos com o DNA do novo normal'Por Diego Fischer, da Carupi

A Carupi nasceu 9 meses antes das primeiras ações de restrição da economia como tentativa de conter o novo coronavírus. Mas como o nosso modelo de negócio é completamente home office, altamente escalável e sem a necessidade de ponto físico, basicamente nascemos com o DNA do novo normal.

Como uma startup de tecnologia com atuação no mercado de seminovos, temos alguns desafios naturais de uma empresa que não tem uma fachada para dar segurança às pessoas, como a mudança da percepção que pessoas mais resistentes tem de empresas tech que prestam serviço a você sem nenhuma interação física; como a administração e gestão de pessoas espalhadas por todo o país através de sistemas integrados; gestão de clientes através de um banco de dados e ferramentas de CRM que permitem essa descentralização do atendimento ao cliente etc. 

Criamos um sistema nervoso de business inteligence sofisticado, um sistema de gestão de pessoas seguro e uma ferramenta fácil, conveniente e segura para os clientes - mudar o paradigma há tantos anos estabelecido de como se compra e vende seminovo de particular para particular.

A empreendedora Priscila Sabará, da plataforma Foodpass, criou o projeto 'Quarentene-se' para ajudar micro e pequenos restaurantes durante a quarentena em São Paulo. Foto: Gabriela Biló/Estadão

'Nosso principal aprendizado foi internalizar uma equipe de TI'Por Priscila Sabará, da plataforma Foodpass

Foi um ano inédito para Foodpass, havíamos fechado a primeira rodada de investimentos no fim de 2019 e traçamos um plano de crescimento, mas já em março começamos os ajustes de equipe e despesas, visto que os eventos presenciais foram todos cancelados. Por visão de mercado ou sorte, em nossa tese de investimento estava a consolidação do núcleo de negócio focado em conteúdo e foi este que 'sustentou' o faturamento da empresa. 

Criamos movimentos, festivais online e trouxemos marcas para apoiá-los, como o Arraial com a Bonduelle, Food Summit com a Nespresso e Dia dos Pais com a Toyota. Adaptamos como pudemos o marketplace para vender vouchers, kit experiência e aulas online. 

No segundo semestre conseguimos um empréstimo com a linha de crédito Desenvolve SP do governo do Estado de SP e em dezembro abrimos uma segunda rodada de investimento para capitalizar mais o negócio, concluímos a rodada em março.

Nosso principal aprendizado foi internalizar uma equipe de TI (tecnologia da informação) para termos agilidade na adaptação do nosso produto digital com novas ferramentas e este é o objetivo de 2021, além de claro buscar aumentar o faturamento com os projetos e movimentos que já fazemos.

Como plataforma digital entendemos que abrem-se novos espaços para a Foodpass, começamos há 8 anos a incentivar o mercado de food service a diversificar seus produtos e serviços para além do salão e delivery, o que se faz essencial neste momento.

Juliana Aquino em sua fazenda de cacau, a Vale Potumujú, no sul da Bahia, que alimenta a sua marca de chocolates Baianí. Foto: Ana Paula Boni/Estadão

'Vamos passar por essa crise'Por Juliana Aquino, da marca de chocolates Baianí 

Foi difícil para todos, principalmente para a manutenção das colaboradoras. Além dos salários que foram mantidos, no início da pandemia todas ficaram em casa por dois meses. Depois, em fases mais complicadas, o Uber virou o transporte diário. Ultimamente, (os funcionários) voltaram para o transporte público, mas com a fase roxa vamos voltar com o Uber, o que é muito caro.

Outra dificuldade é a compra frequente de material descartável e álcool 70% (tanto em gel como líquido). Comida delivery na fábrica para evitar a saída das funcionárias também foi instituída. Como tudo está muito incerto e complicado, deixá-las tranquilas e confortáveis tem que fazer parte do negócio. 

As vendas não despencaram por causa dos veículos digitais, mas não mantiveram o crescimento que vínhamos tendo antes da pandemia. Temos outra fonte de renda, por isso mantivemos a fábrica de chocolate e a fazenda de cacau. Ambos não se pagaram com suas produções. 

Tudo tem seu ciclo. A pandemia está nos seus momentos finais e trabalhar com chocolate é sempre alentador! Vamos passar por essa crise. 

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'Tivemos um crescimento de 309% no volume transacionado na plataforma'Por Nani Gordon, da startup Cash.in

No último ano, apesar de todos os desafios, tivemos um crescimento de 309% no volume transacionado na plataforma. Muito disso se deve ao distanciamento e a maior busca por empresas por pagamentos digitais. A Cash.in consegue chegar em todos os colaboradores instantaneamente, mesmo terceirizados, e oferece diversas formas de resgate do crédito recebido. Estamos crescendo muito e já em 2021 fechamos três novos clientes que triplicam nosso número de usuários na plataforma. 

Somos duas mulheres empreendedoras que decidimos olhar para um novo mercado e aprender a fundo os processos de distribuição de prêmios de marketing e vendas no Brasil, criando uma plataforma disruptiva que conquistou 35 clientes em 1 ano e meio de operação. 

Mas, com filho bebê, marido 100% home office e toda a função da casa, fica desafiador performar bem em todos os 'papéis', é um malabarismo.

Os sócios do azeite Oliq Antônio Augusto Batista e Vera Masagão, na Serra da Mantiqueira, em 2017. Foto: Hélvio Romero/Estadão-3/2/2017

'O nosso negócio poderá aproveitar uma oportunidade: pessoas querendo passar mais tempo fora dos centros urbanos'Por Vera Masagão, do azeite de oliva Oliq

Na verdade, a alternativa correta seria 'Eu já era empreendedor e ampliei meu negócio'. Temos uma fazenda onde produzimos azeitonas e processamos azeite de oliva e outros produtos artesanais complementares (cafée geleias). Passamos a receber turistas que vinham conhecer o processo de produção, degustar os azeites e comprar na loja de fábrica.

Decidimos que faria muito sentido, dado o fluxo de turistas, abrir um restaurante, que explorasse os usos culinários do azeite e atendesse a demanda dos visitantes, já numerosos nos finais de semana. A pandemia nos pegou quando a obra do restaurante estava pela metade. Em março, fechamos o atendimento aos turistas, mas a obra, assim como as atividades agrícolas da fazenda puderam continuar. 

Passamos 4 meses completamente fechados para atendimento aos turistas e venda na loja da fazenda. Nesse período investimos na loja online, que aumentou bastante seu volume de vendas, mas continuou sendo uma parte pequena em relação ao faturamento com venda presencial (em torno de 5%). Em meados de julho voltamos a atender turistas, só nas áreas externas, com grupos reduzidos, mudando o formato da degustação.

No final de outubro inauguramos o restaurante. Conseguimos um bom movimento, funcionando só fins de semana e feriados. Fizemos a contratação de 6 novos funcionários, nos finais de semana e feriados chamamos diaristas, chegando a operar com 20 trabalhadores. No final de dezembro, já com notícias da segunda onda na Europa, tomamos consciência de que daqui a pouco teríamos que fechar outra vez. Então resolvemos aproveitar ao máximo os períodos em que tivéssemos permissão de funcionar. 

Passamos a atender no restaurante 5 dias por semana, de quinta a segunda-feira, ficando as terças e quartas para folgas e trabalhos internos. O faturamento em janeiro e fevereiro triplicou em relação à média do faturamento pré-pandemia e pré-restaurante. O restaurante, além do faturamento próprio, alavancou o faturamento da loja de fábrica. 

Vista das oliveiras para a produção do azeite Oliq, em São Bento do Sapucaí (SP), na Serra da Mantiqueira. Foto: Hélvio Romero/Estadão-3/2/2017

O movimento, mesmo sendo período 'meio de férias', foi surpreendente. Com o home office e crianças sem ir à escola, muitas famílias passaram períodos maiores em casas de campo ou pousadas da região. Lembro de receber um casal para visita guiada e almoço, numa quinta-feira, e eles explicaram: 'Deixamos as crianças assistindo aula na pousada e viemos curtir esse passeio só nós dois'.

Entre o final de janeiro e fevereiro, tivemos que fechar o restaurante (a loja foi autorizada a funcionar) por 15 dias, pois a nossa região de Taubaté entrou na fase vermelha. Mesmo com essa parada, o resultado foi excelente em relação aos meses anteriores. 

Quando veio a fase vermelha para todo o Estado, e depois a emergência, decidimos fechar e, com orientação do sindicato, vamos fazer um banco de horas para compensar os dias parados com feriados e férias. Isso será possível se o fechamento não se prolongar mais do que dois meses.

Se conseguirmos trabalhar, mesmo em períodos intermitentes, creio que conseguiremos sobreviver financeiramente, sem demitir ninguém, como estamos conseguindo até agora.

Imaginamos que a covid vai estar presente em nossas vidas nos próximos anos de uma forma ou de outra. Então, o nosso tipo de negócio poderá, assim esperamos, aproveitar uma oportunidade: o fluxo crescente de pessoas querendo passar mais tempo fora dos centros urbanos, passear e fazer refeições em ambientes bem ventilados, com muita área externa. 

É nisso que estamos apostando. Isso se conseguirmos controlar a pandemia em nosso País. Só não dá pra continuar ladeira abaixo como estamos atualmente.

Gabriel Fullen, sócio do grupo de restaurantes que detém casas como Oguru Sushi & Bar, em São Paulo. Foto: Nilton Fukuda/Estadão-20/4/2020

'Tentamos pensar todos os dias fora da caixinha'Por Gabriel Fullen, sócio do Grupo Locale (Oguru Sushi & Bar / Locale Caffè/ Locale Trattoria / Poke by Oguru) 

Há 12 meses começamos o ano mais desafiador de nossas vidas. Gostamos de dizer por aqui que, no primeiro mês de pandemia, evoluímos 1 ano em 30 dias. Isso porque tivemos que desenvolver ações e operações que pudessem funcionar com as portas fechadas.

Por isso, tentamos desde então pensar todos os dias fora da caixinha. A primeira ação foi lançar vouchers promocionais no Oguru, nossa marca mais antiga do grupo, onde os clientes puderam comprar dois rodízios de nosso restaurante pelo preço de um. A ação foi um sucesso e nos gerou aproximadamente R$ 1 milhão em 4 dias de venda.

Com isso, tivemos 10 dias para nos estruturar e lançar de fato o delivery Oguru. Em menos de dois meses, estávamos recebendo mais de 4 mil pedidos. Além disso, inauguramos de lá pra cá 3 novas operações: 

  1. Locale Caffè (maio/20): o misto de café e bar italiano abriu sua janelinha apenas para delivery e take away, pois ainda nos encontrávamos na fase vermelha. Felizmente, desde o início atraiu muitos clientes
  2. Locale Trattoria (nov/20): inauguramos o restaurante surfando uma boa onda de seu vizinho-irmão, o Locale Caffè
  3. Poke by Oguru (março/21): a mais nova marca era uma idéia que estudávamos abrir em algum momento futuro, mas teve que ser tirada do papel às pressas para enfrentarmos as novas e mais duras medidas de isolamento

Tudo isso para conseguirmos manter o grupo de pé e com o maior número de colaboradores empregados, hoje cerca de 160 pessoas. A maior dificuldade que estamos encontrando é a falta de previsibilidade. Muitos altos e baixos, muitas mudanças de orientação distintas em espaços muito curtos, que nos pegam sempre de surpresa.

Não sei quantas vezes já tive que rever o planejamento mensal, sendo praticamente impossível tentar planejar um cenário anual até que estejamos imunizando a população de forma veloz e eficaz.

Tudo isso nos trouxe uma resiliência e senso de urgência maior ainda, para que pudéssemos direcionar o grupo todo, que hoje conta com 7 operações.

Sabemos que, infelizmente, muitos de nossos parceiros do mercado não conseguirão sobreviver, mas torcemos para que essa situação se reverta e que possamos em nossa maioria seguir trabalhando e voltar a oferecer bons momentos aos nossos clientes.

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'Optamos por parar por um tempo e remodelamos nosso negócio'Por Edgard Aires, da Oficina da Mesa e da Pop Briocheria

No início da pandemia perdemos praticamente todos os nossos clientes. E com isso optamos por parar por um tempo e remodelamos nosso negócio. Com a nossa experiência criamos um novo negócio para termos uma nova fonte de renda.

Na Oficina da Mesa, desistimos de ter uma operação própria. Aproveitamos que muitas cozinhas entraram em ociosidade e colocamos em nossa rede para oferecer a pequenos empreendedores que nos procuram. Formalizamos estes espaços e damos mentorias para estes empreendedores. 

Na Pop Briocheria, aproveitando a ociosidade de nossos equipamentos, montamos uma cozinha bem menor e agora produzimos brioches congelados para o crescente mercado de consumo em casa. 

Laura Andreotti eJulia Vidigal, da Crudo, especializada em identidade de marca na área da gastronomia. Foto: Felipe Rau/Estadão

'Somos duas mães empreendendo em um país como o Brasil e pretendemos continuar assim'Por Julia Vidigal, da agência de conteúdo Cru.do 

Eu e a Laura (Andreotti), minha sócia, fundamos a nossa empresa há 6 anos. Ao longo desse tempo, nunca tínhamos vivenciado algo parecido como os últimos 365 dias. Na nossa opinião, o denominador comum deste último ano foi a instabilidade e incerteza. Nossa maior dificuldade como empreendedoras foi fazer qualquer tipo de planejamento, tendo em vista que o cenário social, econômico e político do nosso País muda a cada semana - e eventualmente em um intervalo menor.

Nós vínhamos de uma trajetória de crescimento empresarial vertiginoso e tivemos que reduzir equipe, entregar o escritório e ajustar a nossa forma de operar.

Em 2020, focamos em atender as novas demandas dos clientes que permaneceram na empresa (com segurança) e paramos para observar o novo mundo que se criou, refletindo o que queríamos construir e o que seria possível fazer com uma mudança da magnitude da covid-19 - que atravessou o globo.

Depois de muitas conversas, conseguimos ajustar a nossa operação para oferecer ainda mais serviços de forma remota (essa sempre foi uma prática da nossa empresa), como por exemplo dirigir uma diária de fotos de forma remota. Além disso, passamos a direcionar nossa energia para novas áreas de negócio que, na nossa opinião, começaram a fazer ainda mais sentido.

Foi, sem dúvida, um ano duro, de muito aprendizado e reflexão. Se recolher em 2020 e fazer a escolha de operar uma empresa com segurança trouxe consequências dolorosas para nós. Mas não tirou nosso ânimo! Somos duas mães empreendendo em um país como o Brasil e pretendemos continuar assim.

Mauricio Delfino, criador da Da Minha Cor, que vende toucas de natação para cabelos afro. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

'O aprendizado é que temos que manter perseverança, criatividade e OBZ (orçamento base zero)'Por Maurício Delfino, da marca de acessórios esportivos e maquiagem DaMinhaCor 

Em dezembro de 2019 fizemos uma grande importação de toucas de natação esperando que teríamos um ano de 2020 bom. Quando esta importação chegou para nós, no início de março de 2020, absolutamente todas as lojas cancelaram os pedidos conosco, alegando que as academias e escolas de natação estavam fechadas e ninguém compraria toucas.

As idas e vindas de restrições e lockdown por todo o País duraram até outubro de 2020 e, como consequência disso, tivemos que cancelar nosso contrato com a empresa de armazém (estoque) e trazer para casa. As vendas de março a outubro caíram para ZERO de faturamento, sendo que esses produtos representavam 90% do nosso faturamento.

Ainda em março, começamos a fazer lives nas redes sociais para tentar vender nossa linha de maquiagens (que representava 10% das nossas vendas), pois as videoconferências aumentaram absurdamente nesse período e as pessoas se arrumavam da cintura para cima para aparecer legal no vídeo.

Então, aproveitamos esse discurso para reforçar nosso argumento de vendas e conseguimos nos manter. Fechamos o ano de 2020 com maquiagem representando 40% do nosso faturamento e a entrada de pelo menos 20 novas revendedoras. Em resumo, fechamos o ano uns 10% acima do faturamento de 2019.

Neste período também aceleramos o lançamento de uma touca descartável tamanho especial para cabelos afro volumosos para uso em ambientes hospitalares e também em fábricas de alimentos, para funções que precisam proteger da queda de cabelos.

Agora em janeiro de 2021, aceleramos o desenvolvimento de uma linha de tratamento capilar profissional para uso doméstico, pois com essas idas e vindas de lockdown as pessoas estão com dificuldade para frequentar salões de beleza. O lançamento será em abril de 2021.

O aprendizado que tivemos nesse período é que temos que manter a perseverança, a criatividade, o OBZ (orçamento base zero) e acelerar ao máximo as decisões, para tentar nos manter vivos e também nossa empresa. Sempre com a cabeça preparada que as soluções virão de dentro da nossa empresa, pois as ajudas dos governos para as pequenas empresas infelizmente são tardias e inalcançáveis. 

A empreendedora Luisa Abram, que fundou em São Paulo a marca de chocolates que leva seu nome. Foto: JF Diorio/Estadão-9/10/2019

'Antes procurávamos funcionários jovens, e agora passamos a contratar pessoas com família'Por Luisa Abram, da marca de chocolate Luisa Abram Chocolates

Esse ano de 2020 foi cheio de mudanças aqui na fábrica. Tivemos que investir mais em marketing digital para ficar no radar do consumidor. Alguns projetos tiveram de ser cancelados ou freados. 

Porém, nem tudo foi ruim. Conseguimos gerar 4 vagas de empregos e demos preferência àqueles com família em casa. Ou seja, o perfil do trabalhador mudou, porque antes procurávamos por jovens e agora passamos a contratar pessoas com família. 

Conseguimos crescer, nos organizar melhor financeiramente para conseguir honrar com nossos compromissos, negociando melhores condições de pagamentos e prazos. 

Como eu costumava viajar muito, e agora não é mais possível, consegui melhorar as condições de trabalho na fábrica, que antes não percebia serem tão prejudiciais ao desempenho da produção. 

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'Apesar de todas as dificuldades, estou conseguindo superar os desafios'Por Sandra Calvi, da agência Cartaz 

Tive praticamente que me reinventar, mas o mais dolorido foram as demissões. Inicialmente foram momentos muito difíceis. Depois de alguns meses me surpreendi comigo mesmo! Pois aceitei o desafio e passei a lutar como nunca! 

Contudo, seria muito importante que o governo nos ajudasse mais! Mas fazendo um balanço, apesar de todas as dificuldades, estou conseguindo superar os desafios. 

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'Esse processo de inclusão no meio digital salvou a nossa empresa e os empregos'Por Ricardo Mafra, da Rick Doces

No momento em que foi decretado lockdown em São Paulo, em 2020, ficamos por uma semana fechados e foi quando pensei que isso não iria passar tão rápido. Eu precisava fazer algo para salvar a empresa.

Éramos totalmente offline, não tínhamos redes sociais! Então, começamos inicialmente nos cadastrando em um marketplace de uma empresa já conhecida no mercado, além de montarmos um Instagram e realizarmos atendimento via WhatsApp.

Montamos um catálogo de produtos e começamos a divulgar para amigos, pedindo para repassar e, aos poucos, fomos aumentando os pedidos tanto via WhatsApp quanto via venda pelo marketplace. Surgiu aí a necessidade de automatizar a forma de pedido e assim nasceu nossa loja virtual.

Hoje, atendemos todo o Brasil. No Instagram, também criamos o personagem Rickynho, que atraiu clientes para as duas lojas físicas. Com tudo isso, mantivemos todos os colaboradores e fizemos novas contratações para atender a demanda! Atualmente, um ano após o começo de tudo isso, podemos dizer que fomos salvos pela nossa mudança e adaptação à nova realidade!

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'Deixar um legado de empresa mais estruturada e mais presente'Por Arturo Isola, da marca de gim nacional Amázzoni

O ano foi muito produtivo e muito estimulante pelos desafios que impôs. Nos obrigou a reinventar as diretrizes do negócio e desenvolver novos canais, deixando um legado de empresa mais estruturada e mais presente no Brasil. 

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'Houve oportunidades para quem soube aproveitar'Por Pedro Semeoni, sócio fundador da Greentable

Foi um ano muito complicado, cheio de adaptações para garantir segurança para o consumidor final, que ficou muito receoso com a entrega de comida. Por outro lado, houve oportunidades para quem soube aproveitar.

A Greentable abriu duas novas unidades neste ano e soube se reinventar para sobreviver no novo normal.

A chocolateira Gislaine Gallette, da marca Gallette, que começou usando chocolate belga para seus bombons e depois passou a produzir o próprio produto com cacau nacional. Foto: Hélvio Romero/Estadão

'Batalhamos para dar solidez ao nosso negócio perante a situação'Por Gislaine Gallette, da Gallette Chocolates

Foi um ano muito diferente dos demais. Um ano em que aprendemos muito sobre como trabalhar no mundo digital, como ter uma logística eficaz, como ativar clientes potenciais fora da região da loja na zona norte e uma produção eficiente com custos mais baixos sem comprometer qualidade. 

Investimos em mais equipamentos, intensificamos a gestão do negócio, fortalecemos a parceria com marcas importantes do varejo na produção de “marca própria” e alcançamos parceiros fora de São Paulo para revenda e distribuição dos nossos chocolates.

Enfim, batalhamos para dar solidez ao nosso negócio perante a situação. Hoje estamos mais fortes e mais estruturados. Neste último ano, crescemos 35% e recebemos alguns prêmiosimportantes, o que nos dá ainda mais força para seguir em frente. 

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'A inflação atingiu a produção, a média de aumento dos insumos foi de 65%'Por Isabela Lepera, fundadora da Cupcakes by Isa

Tenho uma confeitaria artesanal especializada em doces americanos em São Carlos (SP) e trabalho sozinha em casa. A Cupcakes by Isa é um case de sucesso em vendas pela internet e somos 'garotas propaganda' do WhatsApp.

A rotina de trabalho em si não mudou muito, já que eu já trabalhava de casa, com vendas pela internet e delivery, mas tenho tido problemas objetivos e subjetivos.

Durante esse período de pandemia, tenho tido muita dificuldade na parte de inovação e criatividade, já que estou bastante desmotivada, mas sei o quão fundamental é criar produtos exclusivos, ter embalagens e apresentação diferenciadas, melhorar o atendimento etc.

Tenho tido bastante dificuldade, principalmente agora nos últimos cinco meses, em manter o lucro. A inflação atingiu integralmente a produção, já que a média de aumento de custo dos insumos foi de 65%. Além disso, o poder de compra dos clientes diminuiu diante do cenário, e as vendas, por consequência, diminuíram também.

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No dia 24 de março de 2020, teve início a primeira quarentena do Estado de São Paulo em decorrência da pandemia do coronavírus. Desde então, houve uma série de idas e vindas entre as fases de isolamento social, impactando diretamente na realidade dos empreendedores.

Segundo a 10ª edição da pesquisa “O Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios”, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre 25 de fevereiro e 1º de março , o crescimento do faturamento que vinha sendo mantido desde abril do ano passado (mês mais crítico, com queda de em média 70%) foi interrompido no período do estudo.

Esse período coincide com a regressão de cidades paulistas, incluindo a capital, à fase laranja, com a restrição do comércio e de outros endereços considerados não essenciais. O levantamento de Sebrae e FGV ainda aponta que 54% das empresas atuam em locais com restrições de funcionamento e apenas 37% estão em cidades em processo de abertura. 

A tentativa de sobrevivência ocorreu, em maioria, por meio da digitalização dos negócios. Contudo, são diferentes realidades que atingem os empreendedores. Para retratá-las, a equipe do Estadão PME reuniu uma série de 26 depoimentos de donos de pequenos negócios de diferentes nichos, que contaram suas experiências no último ano por meio de um formulário.

Confira a seguir os relatos dos empreendedores Álvaro Athayde Antunes (Fleetcom), Arturo Isola (Amázzoni), Barbara Andrade (Flapper), Claudia Belintani Abbud (Santa Cabeleira), Diego Fischer (Carupi), Edgard Aires (Oficina da Mesa), Elisabeth Rodrigues (Sítio São Paulo), Fabio Rodrigues (Novidá), Felipe Caezar (HubLocal), Gabriel Fullen (Oguru Sushi), Gislaine Gallette (Gallette Chocolates), Isabela Lepera (Cupcakes by Isa), João Drummond (Crawly), Julia Vidigal (Cru.do), Juliana Aquino (Baianí), Luisa Abram (Luisa Abram), Mauricio Delfino (DaMinhaCor), Nalva Menezes (BNP Solution), Nani Gordon (Cash.in), Pedro Semeoni (Greentable), Paulo Roberto Figueiredo (Copiadora Veneza), Priscila Sabará (Foodpass), Ricardo Mafra (Rick Doces), Sandra Calvi (Cartaz), Thiago Souza (Dootax) e Vera Masagão (Oliq).

Barbara Andrade, da empresa de aviação executiva Flapper, que na pandemia passou a usar os aviões para voos de transporte de carga e aeromédicos. Foto: Pedro Vilela

'Tomar decisões rápidas e fazer execuções eficientes podem apresentar resultados incríveis'Por Barbara Andrade, CFO (chief financial officer) da Flapper 

O ano de 2020 foi desafiador. Atuamos no ramo de aviação executiva e, depois de assistirmos as fronteiras sendo fechadas para o transporte de passageiros, nos vimos diante de um desafio para não morrer durante a pandemia. 

Migramos a nossa oferta para voos de transporte de carga e aeromédicos. Com isso, apresentamos um cenário bem diverso das demais empresas, pois tivemos um crescimento de receita em 2020 em relação a 2019. 

Seguimos em crescimento, estando todos adaptados à nova rotina e oferecendo aos nossos clientes toda a segurança necessária em seus voos. A principal dificuldade foi manter o time coeso e a cultura da empresa ainda forte. 

Aprendemos que, com um time unido, tomar decisões rápidas e fazer execuções eficientes podem apresentar resultados incríveis. Continuamos esperançosos de que o cenário irá melhorar com o início da vacinação. Continuamos com resiliência e crescendo mais a cada dia.

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'Reduzimos custos, pois tudo é feito por reuniões a distância'Por Álvaro Athayde Antunes, da Fleetcom

Minha empresa é de software para empresas de logística e atuo desde 2000 em home office. Eu não precisei sair para visitar clientes ou para fazer novas prospecções. Tudo aquilo que eu fazia presencialmente eu passei a fazer online.

Não sentimos nada, pois nosso faturamento é muito pulverizado e o valor da licença é baixo. Reduzimos custos, pois tudo é feito por reuniões a distância via Google Meet ou outros softwares. Meus clientes continuaram sendo meus clientes e eu passei a gastar menos para atendê-los. Meu negócio melhorou. 

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'Não desista, sempre existe uma solução para o problema'Por Nalva Menezes, da BNP Solution

Foi um ano desafiador. A primeira atitude que tomei foi formar parcerias aumentando meu leque de produtos; a segunda foi entregar os pedidos em diversos endereços sem cobrar do cliente e, em terceiro, foi reduzir minha margem de lucro.

A resiliência e a criatividade nós, empreendedores brasileiros, temos de sobra. Não desista, sempre existe uma solução para o problema. 

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'A principal arma do empreendedor é sua própria vontade de vencer'Por Paulo Roberto Figueiredo, da Copiadora Veneza 

O primeiro mês foi o mais difícil. As pessoas estavam perdidas e acreditava-se que tudo iria passar muito rápido. Nos primeiros 15 dias, pedi para os funcionários irem para casa - não dei férias nem descontei nada, pois não achava justo (uma vez que também não podiam fazer nada).

O tempo foi passando e aderimos à proposta em que o governo pagava o salário e tínhamos que garantir a estabilidade do emprego. Optamos pela funcionária que tinha mais desenvoltura para ficar, enquanto com os outros optamos pelo plano do governo.

Em nenhum momento eu fechei as portas do meu comércio, ia todos os dias e falava para minha esposa: 'Tenho que vir todo dia, porque antes eu jogava minha tarrafa e tinha vários peixes para pegar, hoje coloco minha varinha para tentar pescar os poucos peixes que aparecem', uma metáfora em relação a quantidade de clientes que tinha na minha porta.

Antes, eu também vendia pelo WhatsApp, mas agora virou o nosso principal canal de comunicação. No primeiro mês de pandemia faturei 5% do faturamento da empresa, hoje conseguimos 40% do que faturava e estamos na esperança de tudo melhorar.

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'Dias melhores virão'Por Elisabeth Rodrigues, do Sítio São Paulo

Temos um sítio de locação para festas, retiros de igrejas e excursões escolares, ou seja, nada favorecia a continuidade do nosso negócio durante a pandemia. Mas com a liberação em horário reduzido de parques e lanchonetes, aproveitamos que já tínhamos cinco piscinas e começamos a abrir ao público para uso das mesmas, além de servir lanches e porções.

Foi isso o que salvou nosso negócio durante esse período. Porém, com a regressão das fases, estamos totalmente parados agora. Mas dias melhores virão.

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'Mais do que tudo, temos que continuar acreditando'Por Claudia Belintani Abbud, do Santa Cabeleira

Estar no comando num período como este foi muito difícil. Minha equipe precisava se nortear, continuar acreditando e ao mesmo tempo alterar hábitos adquiridos durante toda uma vida. Na primeira onda, consegui ajudar financeiramente, mas agora não há mais respiro para isto. A saída foi orientar cada um deles para se reinventar profissionalmente. 

De quatro empresas, acredito que somente duas vão sobreviver. Uma história que perdurou durante mais de 20 anos com mais de 250 famílias que tiravam o seu sustento através de muito trabalho, parceria e dedicação acabar desta forma me entristece. Mas acredito na capacidade que as pessoas têm de se levantar, acreditar, persistir... A vida é um eterno recomeço e de uma coisa tenho certeza: a vida quer viver!

Thiago Souza, cofundador da Dootax, que cresceu 100% em 2020, ano de pandemia. Foto: Divulgação

'A dependência que empresas tinham de humanos fazerem trabalho repetitivo foi colocada na berlinda'Por Thiago Souza, cofundador da Dootax

Nosso produto/software trabalha com a automação dos processos e rotinas fiscais das empresas. O home office e a pandemia, de certa forma, foram bons para os negócios, pois a dependência que as empresas tinham de humanos fazerem esse trabalho manual e repetitivo foi colocada na berlinda.

Ou seja, se já existe um robô que consegue fazer esse trabalho 24/7, sem erros e sem riscos, você pode usar o humano para tarefas mais estratégicas. Com isso, tivemos um crescimento de 100% em 2020. 

Sou cofundador da Dootax, uma startup que tem como objetivo descomplicar a rotina fiscal das empresas através da tecnologia. Estamos focados na simplificação das tarefas manuais, burocráticas e repetitivas, trazendo mais eficiência e economia para todas as empresas brasileiras.

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'Foi na adversidade que encontramos a oportunidade'Por Felipe Caezar, da HubLocal

Enquanto para grande parte das empresas 2020 foi um ano ruim, para nós da HubLocal foi sinônimo de vencer desafios e se transformar da água para o vinho. No meio de uma fase de incertezas e em apenas um ano de existência, recebemos investimento de R$ 600 mil da Anjos do Brasil, fomos selecionados para participar do programa de scale up da Endeavor, expandimos para São Paulo, contando com escritório no maior hub de empreendedorismo do Brasil, Cubo Itaú, mudamos de escritório em Fortaleza, onde fica nossa sede, e triplicamos a equipe de tamanho.

Além disso, aumentamos em 10 vezes o valuation que hoje está atingindo mais de R$ 50 milhões diante de um faturamento recorrente mensal em assinaturas de quase 2.000 empresas assinantes.

Falar de crescimento é falar sobre desafios, sobre turbulências e sobre paciência. Mas também é falar sobre avanços, sobre resiliência e, principalmente, sobre superação. Nós podemos dizer com muita convicção: em 2020, nos transformamos da água para o vinho. E foi na adversidade que encontramos a oportunidade. 

As conquistas não pararam por aí. Iniciamos 2020 com apenas 298 empresas base de assinantes. Tínhamos estabelecido como meta chegar a 1.000 até o fim de 2021, mas batemos o marco perto de 2.000 empresas assinantes antes mesmo do ano terminar. 

Mas, assim como em todas as empresas, a chegada da pandemia trouxe medo e muita reflexão sobre como seria o futuro. Estávamos diante do seguinte cenário: uma crise mundial, contratos cancelados, descontos cedidos, inadimplências e uma queda de 28% no faturamento. A conformação e a aceitação eram as opções mais rápidas, seguras e acessíveis para nós naquele momento. Mas não foi a que escolhemos. 

Adaptação e olhar para as oportunidades foram os fatores mais importantes para colherresultados positivos. Nós, como gestores da startup, rastreamos brechas que pudessem beneficiar a empresa dentro do contexto de pandemia e isolamento social. 

Analisamos o momento e percebemos que, com a presença maior das pessoas em casa, uma grande parte dos serviços (se não todos) estavam sendo feitos através da internet. E foi justamente pautados nessa constatação que traçamos estratégias para atender as empresas e nos adequar às demandas e segmentos que estavam sendo acessados.

Para chegar ao produto ideal que queríamos oferecer, foi necessário muito estudo de mercado. Depois de tudo mapeado, montamos um diagnóstico, um report diário do covid-19 e um plano de reação. Com as estratégias projetadas, a empresa teve uma retomada significativa, no qual foi possível recuperar não somente o patamar anterior, como obter um crescimento exponencial desde então.

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'Mesmo com retração, conseguimos passar pela pandemia sem demitir ninguém'Por João Drummond, fundador e CEO da Crawly

Aproveitamos o caixa do ano anterior, que foi relativamente bom, para manter todos os funcionários. Então, mesmo com uma retração grande do nosso mercado, conseguimos passar pela pandemia sem demitir ninguém. Lançamos um produto de prateleira e conseguimos novos clientes no início de 2021, assim, temos a perspectiva de crescimento de 50% em relação ao ano passado.

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'Nos reinventamos como produto e adaptamos funcionalidades'Por Fabio Rodrigues, da startup Novidá 

Para nós foi uma grande montanha russa! Desde o caos do início da pandemia, com diversos clientes cancelando contratos, chegando literalmente perto do fundo do poço em volume de clientes e operações, até a pequena luz de uma tímida retomada econômica, que para nós tem sido de alta aceleração, com crescimento acima de 30% por mês, desde agosto de 2020.

Nos reinventamos como produto e adaptamos funcionalidades para ajudar as empresas a manter a saúde dos funcionários via contact tracing. Além disso, redesenhamos todo o modelo de negócios e nosso posicionamento na sociedade. A pandemia, apesar de cruel, nos fez renascer, e ainda mais fortes e preparados em nossa missão de transformar o trabalho operacional na América latina, através da tecnologia.

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'Nascemos com o DNA do novo normal'Por Diego Fischer, da Carupi

A Carupi nasceu 9 meses antes das primeiras ações de restrição da economia como tentativa de conter o novo coronavírus. Mas como o nosso modelo de negócio é completamente home office, altamente escalável e sem a necessidade de ponto físico, basicamente nascemos com o DNA do novo normal.

Como uma startup de tecnologia com atuação no mercado de seminovos, temos alguns desafios naturais de uma empresa que não tem uma fachada para dar segurança às pessoas, como a mudança da percepção que pessoas mais resistentes tem de empresas tech que prestam serviço a você sem nenhuma interação física; como a administração e gestão de pessoas espalhadas por todo o país através de sistemas integrados; gestão de clientes através de um banco de dados e ferramentas de CRM que permitem essa descentralização do atendimento ao cliente etc. 

Criamos um sistema nervoso de business inteligence sofisticado, um sistema de gestão de pessoas seguro e uma ferramenta fácil, conveniente e segura para os clientes - mudar o paradigma há tantos anos estabelecido de como se compra e vende seminovo de particular para particular.

A empreendedora Priscila Sabará, da plataforma Foodpass, criou o projeto 'Quarentene-se' para ajudar micro e pequenos restaurantes durante a quarentena em São Paulo. Foto: Gabriela Biló/Estadão

'Nosso principal aprendizado foi internalizar uma equipe de TI'Por Priscila Sabará, da plataforma Foodpass

Foi um ano inédito para Foodpass, havíamos fechado a primeira rodada de investimentos no fim de 2019 e traçamos um plano de crescimento, mas já em março começamos os ajustes de equipe e despesas, visto que os eventos presenciais foram todos cancelados. Por visão de mercado ou sorte, em nossa tese de investimento estava a consolidação do núcleo de negócio focado em conteúdo e foi este que 'sustentou' o faturamento da empresa. 

Criamos movimentos, festivais online e trouxemos marcas para apoiá-los, como o Arraial com a Bonduelle, Food Summit com a Nespresso e Dia dos Pais com a Toyota. Adaptamos como pudemos o marketplace para vender vouchers, kit experiência e aulas online. 

No segundo semestre conseguimos um empréstimo com a linha de crédito Desenvolve SP do governo do Estado de SP e em dezembro abrimos uma segunda rodada de investimento para capitalizar mais o negócio, concluímos a rodada em março.

Nosso principal aprendizado foi internalizar uma equipe de TI (tecnologia da informação) para termos agilidade na adaptação do nosso produto digital com novas ferramentas e este é o objetivo de 2021, além de claro buscar aumentar o faturamento com os projetos e movimentos que já fazemos.

Como plataforma digital entendemos que abrem-se novos espaços para a Foodpass, começamos há 8 anos a incentivar o mercado de food service a diversificar seus produtos e serviços para além do salão e delivery, o que se faz essencial neste momento.

Juliana Aquino em sua fazenda de cacau, a Vale Potumujú, no sul da Bahia, que alimenta a sua marca de chocolates Baianí. Foto: Ana Paula Boni/Estadão

'Vamos passar por essa crise'Por Juliana Aquino, da marca de chocolates Baianí 

Foi difícil para todos, principalmente para a manutenção das colaboradoras. Além dos salários que foram mantidos, no início da pandemia todas ficaram em casa por dois meses. Depois, em fases mais complicadas, o Uber virou o transporte diário. Ultimamente, (os funcionários) voltaram para o transporte público, mas com a fase roxa vamos voltar com o Uber, o que é muito caro.

Outra dificuldade é a compra frequente de material descartável e álcool 70% (tanto em gel como líquido). Comida delivery na fábrica para evitar a saída das funcionárias também foi instituída. Como tudo está muito incerto e complicado, deixá-las tranquilas e confortáveis tem que fazer parte do negócio. 

As vendas não despencaram por causa dos veículos digitais, mas não mantiveram o crescimento que vínhamos tendo antes da pandemia. Temos outra fonte de renda, por isso mantivemos a fábrica de chocolate e a fazenda de cacau. Ambos não se pagaram com suas produções. 

Tudo tem seu ciclo. A pandemia está nos seus momentos finais e trabalhar com chocolate é sempre alentador! Vamos passar por essa crise. 

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'Tivemos um crescimento de 309% no volume transacionado na plataforma'Por Nani Gordon, da startup Cash.in

No último ano, apesar de todos os desafios, tivemos um crescimento de 309% no volume transacionado na plataforma. Muito disso se deve ao distanciamento e a maior busca por empresas por pagamentos digitais. A Cash.in consegue chegar em todos os colaboradores instantaneamente, mesmo terceirizados, e oferece diversas formas de resgate do crédito recebido. Estamos crescendo muito e já em 2021 fechamos três novos clientes que triplicam nosso número de usuários na plataforma. 

Somos duas mulheres empreendedoras que decidimos olhar para um novo mercado e aprender a fundo os processos de distribuição de prêmios de marketing e vendas no Brasil, criando uma plataforma disruptiva que conquistou 35 clientes em 1 ano e meio de operação. 

Mas, com filho bebê, marido 100% home office e toda a função da casa, fica desafiador performar bem em todos os 'papéis', é um malabarismo.

Os sócios do azeite Oliq Antônio Augusto Batista e Vera Masagão, na Serra da Mantiqueira, em 2017. Foto: Hélvio Romero/Estadão-3/2/2017

'O nosso negócio poderá aproveitar uma oportunidade: pessoas querendo passar mais tempo fora dos centros urbanos'Por Vera Masagão, do azeite de oliva Oliq

Na verdade, a alternativa correta seria 'Eu já era empreendedor e ampliei meu negócio'. Temos uma fazenda onde produzimos azeitonas e processamos azeite de oliva e outros produtos artesanais complementares (cafée geleias). Passamos a receber turistas que vinham conhecer o processo de produção, degustar os azeites e comprar na loja de fábrica.

Decidimos que faria muito sentido, dado o fluxo de turistas, abrir um restaurante, que explorasse os usos culinários do azeite e atendesse a demanda dos visitantes, já numerosos nos finais de semana. A pandemia nos pegou quando a obra do restaurante estava pela metade. Em março, fechamos o atendimento aos turistas, mas a obra, assim como as atividades agrícolas da fazenda puderam continuar. 

Passamos 4 meses completamente fechados para atendimento aos turistas e venda na loja da fazenda. Nesse período investimos na loja online, que aumentou bastante seu volume de vendas, mas continuou sendo uma parte pequena em relação ao faturamento com venda presencial (em torno de 5%). Em meados de julho voltamos a atender turistas, só nas áreas externas, com grupos reduzidos, mudando o formato da degustação.

No final de outubro inauguramos o restaurante. Conseguimos um bom movimento, funcionando só fins de semana e feriados. Fizemos a contratação de 6 novos funcionários, nos finais de semana e feriados chamamos diaristas, chegando a operar com 20 trabalhadores. No final de dezembro, já com notícias da segunda onda na Europa, tomamos consciência de que daqui a pouco teríamos que fechar outra vez. Então resolvemos aproveitar ao máximo os períodos em que tivéssemos permissão de funcionar. 

Passamos a atender no restaurante 5 dias por semana, de quinta a segunda-feira, ficando as terças e quartas para folgas e trabalhos internos. O faturamento em janeiro e fevereiro triplicou em relação à média do faturamento pré-pandemia e pré-restaurante. O restaurante, além do faturamento próprio, alavancou o faturamento da loja de fábrica. 

Vista das oliveiras para a produção do azeite Oliq, em São Bento do Sapucaí (SP), na Serra da Mantiqueira. Foto: Hélvio Romero/Estadão-3/2/2017

O movimento, mesmo sendo período 'meio de férias', foi surpreendente. Com o home office e crianças sem ir à escola, muitas famílias passaram períodos maiores em casas de campo ou pousadas da região. Lembro de receber um casal para visita guiada e almoço, numa quinta-feira, e eles explicaram: 'Deixamos as crianças assistindo aula na pousada e viemos curtir esse passeio só nós dois'.

Entre o final de janeiro e fevereiro, tivemos que fechar o restaurante (a loja foi autorizada a funcionar) por 15 dias, pois a nossa região de Taubaté entrou na fase vermelha. Mesmo com essa parada, o resultado foi excelente em relação aos meses anteriores. 

Quando veio a fase vermelha para todo o Estado, e depois a emergência, decidimos fechar e, com orientação do sindicato, vamos fazer um banco de horas para compensar os dias parados com feriados e férias. Isso será possível se o fechamento não se prolongar mais do que dois meses.

Se conseguirmos trabalhar, mesmo em períodos intermitentes, creio que conseguiremos sobreviver financeiramente, sem demitir ninguém, como estamos conseguindo até agora.

Imaginamos que a covid vai estar presente em nossas vidas nos próximos anos de uma forma ou de outra. Então, o nosso tipo de negócio poderá, assim esperamos, aproveitar uma oportunidade: o fluxo crescente de pessoas querendo passar mais tempo fora dos centros urbanos, passear e fazer refeições em ambientes bem ventilados, com muita área externa. 

É nisso que estamos apostando. Isso se conseguirmos controlar a pandemia em nosso País. Só não dá pra continuar ladeira abaixo como estamos atualmente.

Gabriel Fullen, sócio do grupo de restaurantes que detém casas como Oguru Sushi & Bar, em São Paulo. Foto: Nilton Fukuda/Estadão-20/4/2020

'Tentamos pensar todos os dias fora da caixinha'Por Gabriel Fullen, sócio do Grupo Locale (Oguru Sushi & Bar / Locale Caffè/ Locale Trattoria / Poke by Oguru) 

Há 12 meses começamos o ano mais desafiador de nossas vidas. Gostamos de dizer por aqui que, no primeiro mês de pandemia, evoluímos 1 ano em 30 dias. Isso porque tivemos que desenvolver ações e operações que pudessem funcionar com as portas fechadas.

Por isso, tentamos desde então pensar todos os dias fora da caixinha. A primeira ação foi lançar vouchers promocionais no Oguru, nossa marca mais antiga do grupo, onde os clientes puderam comprar dois rodízios de nosso restaurante pelo preço de um. A ação foi um sucesso e nos gerou aproximadamente R$ 1 milhão em 4 dias de venda.

Com isso, tivemos 10 dias para nos estruturar e lançar de fato o delivery Oguru. Em menos de dois meses, estávamos recebendo mais de 4 mil pedidos. Além disso, inauguramos de lá pra cá 3 novas operações: 

  1. Locale Caffè (maio/20): o misto de café e bar italiano abriu sua janelinha apenas para delivery e take away, pois ainda nos encontrávamos na fase vermelha. Felizmente, desde o início atraiu muitos clientes
  2. Locale Trattoria (nov/20): inauguramos o restaurante surfando uma boa onda de seu vizinho-irmão, o Locale Caffè
  3. Poke by Oguru (março/21): a mais nova marca era uma idéia que estudávamos abrir em algum momento futuro, mas teve que ser tirada do papel às pressas para enfrentarmos as novas e mais duras medidas de isolamento

Tudo isso para conseguirmos manter o grupo de pé e com o maior número de colaboradores empregados, hoje cerca de 160 pessoas. A maior dificuldade que estamos encontrando é a falta de previsibilidade. Muitos altos e baixos, muitas mudanças de orientação distintas em espaços muito curtos, que nos pegam sempre de surpresa.

Não sei quantas vezes já tive que rever o planejamento mensal, sendo praticamente impossível tentar planejar um cenário anual até que estejamos imunizando a população de forma veloz e eficaz.

Tudo isso nos trouxe uma resiliência e senso de urgência maior ainda, para que pudéssemos direcionar o grupo todo, que hoje conta com 7 operações.

Sabemos que, infelizmente, muitos de nossos parceiros do mercado não conseguirão sobreviver, mas torcemos para que essa situação se reverta e que possamos em nossa maioria seguir trabalhando e voltar a oferecer bons momentos aos nossos clientes.

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'Optamos por parar por um tempo e remodelamos nosso negócio'Por Edgard Aires, da Oficina da Mesa e da Pop Briocheria

No início da pandemia perdemos praticamente todos os nossos clientes. E com isso optamos por parar por um tempo e remodelamos nosso negócio. Com a nossa experiência criamos um novo negócio para termos uma nova fonte de renda.

Na Oficina da Mesa, desistimos de ter uma operação própria. Aproveitamos que muitas cozinhas entraram em ociosidade e colocamos em nossa rede para oferecer a pequenos empreendedores que nos procuram. Formalizamos estes espaços e damos mentorias para estes empreendedores. 

Na Pop Briocheria, aproveitando a ociosidade de nossos equipamentos, montamos uma cozinha bem menor e agora produzimos brioches congelados para o crescente mercado de consumo em casa. 

Laura Andreotti eJulia Vidigal, da Crudo, especializada em identidade de marca na área da gastronomia. Foto: Felipe Rau/Estadão

'Somos duas mães empreendendo em um país como o Brasil e pretendemos continuar assim'Por Julia Vidigal, da agência de conteúdo Cru.do 

Eu e a Laura (Andreotti), minha sócia, fundamos a nossa empresa há 6 anos. Ao longo desse tempo, nunca tínhamos vivenciado algo parecido como os últimos 365 dias. Na nossa opinião, o denominador comum deste último ano foi a instabilidade e incerteza. Nossa maior dificuldade como empreendedoras foi fazer qualquer tipo de planejamento, tendo em vista que o cenário social, econômico e político do nosso País muda a cada semana - e eventualmente em um intervalo menor.

Nós vínhamos de uma trajetória de crescimento empresarial vertiginoso e tivemos que reduzir equipe, entregar o escritório e ajustar a nossa forma de operar.

Em 2020, focamos em atender as novas demandas dos clientes que permaneceram na empresa (com segurança) e paramos para observar o novo mundo que se criou, refletindo o que queríamos construir e o que seria possível fazer com uma mudança da magnitude da covid-19 - que atravessou o globo.

Depois de muitas conversas, conseguimos ajustar a nossa operação para oferecer ainda mais serviços de forma remota (essa sempre foi uma prática da nossa empresa), como por exemplo dirigir uma diária de fotos de forma remota. Além disso, passamos a direcionar nossa energia para novas áreas de negócio que, na nossa opinião, começaram a fazer ainda mais sentido.

Foi, sem dúvida, um ano duro, de muito aprendizado e reflexão. Se recolher em 2020 e fazer a escolha de operar uma empresa com segurança trouxe consequências dolorosas para nós. Mas não tirou nosso ânimo! Somos duas mães empreendendo em um país como o Brasil e pretendemos continuar assim.

Mauricio Delfino, criador da Da Minha Cor, que vende toucas de natação para cabelos afro. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

'O aprendizado é que temos que manter perseverança, criatividade e OBZ (orçamento base zero)'Por Maurício Delfino, da marca de acessórios esportivos e maquiagem DaMinhaCor 

Em dezembro de 2019 fizemos uma grande importação de toucas de natação esperando que teríamos um ano de 2020 bom. Quando esta importação chegou para nós, no início de março de 2020, absolutamente todas as lojas cancelaram os pedidos conosco, alegando que as academias e escolas de natação estavam fechadas e ninguém compraria toucas.

As idas e vindas de restrições e lockdown por todo o País duraram até outubro de 2020 e, como consequência disso, tivemos que cancelar nosso contrato com a empresa de armazém (estoque) e trazer para casa. As vendas de março a outubro caíram para ZERO de faturamento, sendo que esses produtos representavam 90% do nosso faturamento.

Ainda em março, começamos a fazer lives nas redes sociais para tentar vender nossa linha de maquiagens (que representava 10% das nossas vendas), pois as videoconferências aumentaram absurdamente nesse período e as pessoas se arrumavam da cintura para cima para aparecer legal no vídeo.

Então, aproveitamos esse discurso para reforçar nosso argumento de vendas e conseguimos nos manter. Fechamos o ano de 2020 com maquiagem representando 40% do nosso faturamento e a entrada de pelo menos 20 novas revendedoras. Em resumo, fechamos o ano uns 10% acima do faturamento de 2019.

Neste período também aceleramos o lançamento de uma touca descartável tamanho especial para cabelos afro volumosos para uso em ambientes hospitalares e também em fábricas de alimentos, para funções que precisam proteger da queda de cabelos.

Agora em janeiro de 2021, aceleramos o desenvolvimento de uma linha de tratamento capilar profissional para uso doméstico, pois com essas idas e vindas de lockdown as pessoas estão com dificuldade para frequentar salões de beleza. O lançamento será em abril de 2021.

O aprendizado que tivemos nesse período é que temos que manter a perseverança, a criatividade, o OBZ (orçamento base zero) e acelerar ao máximo as decisões, para tentar nos manter vivos e também nossa empresa. Sempre com a cabeça preparada que as soluções virão de dentro da nossa empresa, pois as ajudas dos governos para as pequenas empresas infelizmente são tardias e inalcançáveis. 

A empreendedora Luisa Abram, que fundou em São Paulo a marca de chocolates que leva seu nome. Foto: JF Diorio/Estadão-9/10/2019

'Antes procurávamos funcionários jovens, e agora passamos a contratar pessoas com família'Por Luisa Abram, da marca de chocolate Luisa Abram Chocolates

Esse ano de 2020 foi cheio de mudanças aqui na fábrica. Tivemos que investir mais em marketing digital para ficar no radar do consumidor. Alguns projetos tiveram de ser cancelados ou freados. 

Porém, nem tudo foi ruim. Conseguimos gerar 4 vagas de empregos e demos preferência àqueles com família em casa. Ou seja, o perfil do trabalhador mudou, porque antes procurávamos por jovens e agora passamos a contratar pessoas com família. 

Conseguimos crescer, nos organizar melhor financeiramente para conseguir honrar com nossos compromissos, negociando melhores condições de pagamentos e prazos. 

Como eu costumava viajar muito, e agora não é mais possível, consegui melhorar as condições de trabalho na fábrica, que antes não percebia serem tão prejudiciais ao desempenho da produção. 

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'Apesar de todas as dificuldades, estou conseguindo superar os desafios'Por Sandra Calvi, da agência Cartaz 

Tive praticamente que me reinventar, mas o mais dolorido foram as demissões. Inicialmente foram momentos muito difíceis. Depois de alguns meses me surpreendi comigo mesmo! Pois aceitei o desafio e passei a lutar como nunca! 

Contudo, seria muito importante que o governo nos ajudasse mais! Mas fazendo um balanço, apesar de todas as dificuldades, estou conseguindo superar os desafios. 

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'Esse processo de inclusão no meio digital salvou a nossa empresa e os empregos'Por Ricardo Mafra, da Rick Doces

No momento em que foi decretado lockdown em São Paulo, em 2020, ficamos por uma semana fechados e foi quando pensei que isso não iria passar tão rápido. Eu precisava fazer algo para salvar a empresa.

Éramos totalmente offline, não tínhamos redes sociais! Então, começamos inicialmente nos cadastrando em um marketplace de uma empresa já conhecida no mercado, além de montarmos um Instagram e realizarmos atendimento via WhatsApp.

Montamos um catálogo de produtos e começamos a divulgar para amigos, pedindo para repassar e, aos poucos, fomos aumentando os pedidos tanto via WhatsApp quanto via venda pelo marketplace. Surgiu aí a necessidade de automatizar a forma de pedido e assim nasceu nossa loja virtual.

Hoje, atendemos todo o Brasil. No Instagram, também criamos o personagem Rickynho, que atraiu clientes para as duas lojas físicas. Com tudo isso, mantivemos todos os colaboradores e fizemos novas contratações para atender a demanda! Atualmente, um ano após o começo de tudo isso, podemos dizer que fomos salvos pela nossa mudança e adaptação à nova realidade!

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'Deixar um legado de empresa mais estruturada e mais presente'Por Arturo Isola, da marca de gim nacional Amázzoni

O ano foi muito produtivo e muito estimulante pelos desafios que impôs. Nos obrigou a reinventar as diretrizes do negócio e desenvolver novos canais, deixando um legado de empresa mais estruturada e mais presente no Brasil. 

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'Houve oportunidades para quem soube aproveitar'Por Pedro Semeoni, sócio fundador da Greentable

Foi um ano muito complicado, cheio de adaptações para garantir segurança para o consumidor final, que ficou muito receoso com a entrega de comida. Por outro lado, houve oportunidades para quem soube aproveitar.

A Greentable abriu duas novas unidades neste ano e soube se reinventar para sobreviver no novo normal.

A chocolateira Gislaine Gallette, da marca Gallette, que começou usando chocolate belga para seus bombons e depois passou a produzir o próprio produto com cacau nacional. Foto: Hélvio Romero/Estadão

'Batalhamos para dar solidez ao nosso negócio perante a situação'Por Gislaine Gallette, da Gallette Chocolates

Foi um ano muito diferente dos demais. Um ano em que aprendemos muito sobre como trabalhar no mundo digital, como ter uma logística eficaz, como ativar clientes potenciais fora da região da loja na zona norte e uma produção eficiente com custos mais baixos sem comprometer qualidade. 

Investimos em mais equipamentos, intensificamos a gestão do negócio, fortalecemos a parceria com marcas importantes do varejo na produção de “marca própria” e alcançamos parceiros fora de São Paulo para revenda e distribuição dos nossos chocolates.

Enfim, batalhamos para dar solidez ao nosso negócio perante a situação. Hoje estamos mais fortes e mais estruturados. Neste último ano, crescemos 35% e recebemos alguns prêmiosimportantes, o que nos dá ainda mais força para seguir em frente. 

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'A inflação atingiu a produção, a média de aumento dos insumos foi de 65%'Por Isabela Lepera, fundadora da Cupcakes by Isa

Tenho uma confeitaria artesanal especializada em doces americanos em São Carlos (SP) e trabalho sozinha em casa. A Cupcakes by Isa é um case de sucesso em vendas pela internet e somos 'garotas propaganda' do WhatsApp.

A rotina de trabalho em si não mudou muito, já que eu já trabalhava de casa, com vendas pela internet e delivery, mas tenho tido problemas objetivos e subjetivos.

Durante esse período de pandemia, tenho tido muita dificuldade na parte de inovação e criatividade, já que estou bastante desmotivada, mas sei o quão fundamental é criar produtos exclusivos, ter embalagens e apresentação diferenciadas, melhorar o atendimento etc.

Tenho tido bastante dificuldade, principalmente agora nos últimos cinco meses, em manter o lucro. A inflação atingiu integralmente a produção, já que a média de aumento de custo dos insumos foi de 65%. Além disso, o poder de compra dos clientes diminuiu diante do cenário, e as vendas, por consequência, diminuíram também.

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No dia 24 de março de 2020, teve início a primeira quarentena do Estado de São Paulo em decorrência da pandemia do coronavírus. Desde então, houve uma série de idas e vindas entre as fases de isolamento social, impactando diretamente na realidade dos empreendedores.

Segundo a 10ª edição da pesquisa “O Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios”, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre 25 de fevereiro e 1º de março , o crescimento do faturamento que vinha sendo mantido desde abril do ano passado (mês mais crítico, com queda de em média 70%) foi interrompido no período do estudo.

Esse período coincide com a regressão de cidades paulistas, incluindo a capital, à fase laranja, com a restrição do comércio e de outros endereços considerados não essenciais. O levantamento de Sebrae e FGV ainda aponta que 54% das empresas atuam em locais com restrições de funcionamento e apenas 37% estão em cidades em processo de abertura. 

A tentativa de sobrevivência ocorreu, em maioria, por meio da digitalização dos negócios. Contudo, são diferentes realidades que atingem os empreendedores. Para retratá-las, a equipe do Estadão PME reuniu uma série de 26 depoimentos de donos de pequenos negócios de diferentes nichos, que contaram suas experiências no último ano por meio de um formulário.

Confira a seguir os relatos dos empreendedores Álvaro Athayde Antunes (Fleetcom), Arturo Isola (Amázzoni), Barbara Andrade (Flapper), Claudia Belintani Abbud (Santa Cabeleira), Diego Fischer (Carupi), Edgard Aires (Oficina da Mesa), Elisabeth Rodrigues (Sítio São Paulo), Fabio Rodrigues (Novidá), Felipe Caezar (HubLocal), Gabriel Fullen (Oguru Sushi), Gislaine Gallette (Gallette Chocolates), Isabela Lepera (Cupcakes by Isa), João Drummond (Crawly), Julia Vidigal (Cru.do), Juliana Aquino (Baianí), Luisa Abram (Luisa Abram), Mauricio Delfino (DaMinhaCor), Nalva Menezes (BNP Solution), Nani Gordon (Cash.in), Pedro Semeoni (Greentable), Paulo Roberto Figueiredo (Copiadora Veneza), Priscila Sabará (Foodpass), Ricardo Mafra (Rick Doces), Sandra Calvi (Cartaz), Thiago Souza (Dootax) e Vera Masagão (Oliq).

Barbara Andrade, da empresa de aviação executiva Flapper, que na pandemia passou a usar os aviões para voos de transporte de carga e aeromédicos. Foto: Pedro Vilela

'Tomar decisões rápidas e fazer execuções eficientes podem apresentar resultados incríveis'Por Barbara Andrade, CFO (chief financial officer) da Flapper 

O ano de 2020 foi desafiador. Atuamos no ramo de aviação executiva e, depois de assistirmos as fronteiras sendo fechadas para o transporte de passageiros, nos vimos diante de um desafio para não morrer durante a pandemia. 

Migramos a nossa oferta para voos de transporte de carga e aeromédicos. Com isso, apresentamos um cenário bem diverso das demais empresas, pois tivemos um crescimento de receita em 2020 em relação a 2019. 

Seguimos em crescimento, estando todos adaptados à nova rotina e oferecendo aos nossos clientes toda a segurança necessária em seus voos. A principal dificuldade foi manter o time coeso e a cultura da empresa ainda forte. 

Aprendemos que, com um time unido, tomar decisões rápidas e fazer execuções eficientes podem apresentar resultados incríveis. Continuamos esperançosos de que o cenário irá melhorar com o início da vacinação. Continuamos com resiliência e crescendo mais a cada dia.

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'Reduzimos custos, pois tudo é feito por reuniões a distância'Por Álvaro Athayde Antunes, da Fleetcom

Minha empresa é de software para empresas de logística e atuo desde 2000 em home office. Eu não precisei sair para visitar clientes ou para fazer novas prospecções. Tudo aquilo que eu fazia presencialmente eu passei a fazer online.

Não sentimos nada, pois nosso faturamento é muito pulverizado e o valor da licença é baixo. Reduzimos custos, pois tudo é feito por reuniões a distância via Google Meet ou outros softwares. Meus clientes continuaram sendo meus clientes e eu passei a gastar menos para atendê-los. Meu negócio melhorou. 

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'Não desista, sempre existe uma solução para o problema'Por Nalva Menezes, da BNP Solution

Foi um ano desafiador. A primeira atitude que tomei foi formar parcerias aumentando meu leque de produtos; a segunda foi entregar os pedidos em diversos endereços sem cobrar do cliente e, em terceiro, foi reduzir minha margem de lucro.

A resiliência e a criatividade nós, empreendedores brasileiros, temos de sobra. Não desista, sempre existe uma solução para o problema. 

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'A principal arma do empreendedor é sua própria vontade de vencer'Por Paulo Roberto Figueiredo, da Copiadora Veneza 

O primeiro mês foi o mais difícil. As pessoas estavam perdidas e acreditava-se que tudo iria passar muito rápido. Nos primeiros 15 dias, pedi para os funcionários irem para casa - não dei férias nem descontei nada, pois não achava justo (uma vez que também não podiam fazer nada).

O tempo foi passando e aderimos à proposta em que o governo pagava o salário e tínhamos que garantir a estabilidade do emprego. Optamos pela funcionária que tinha mais desenvoltura para ficar, enquanto com os outros optamos pelo plano do governo.

Em nenhum momento eu fechei as portas do meu comércio, ia todos os dias e falava para minha esposa: 'Tenho que vir todo dia, porque antes eu jogava minha tarrafa e tinha vários peixes para pegar, hoje coloco minha varinha para tentar pescar os poucos peixes que aparecem', uma metáfora em relação a quantidade de clientes que tinha na minha porta.

Antes, eu também vendia pelo WhatsApp, mas agora virou o nosso principal canal de comunicação. No primeiro mês de pandemia faturei 5% do faturamento da empresa, hoje conseguimos 40% do que faturava e estamos na esperança de tudo melhorar.

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'Dias melhores virão'Por Elisabeth Rodrigues, do Sítio São Paulo

Temos um sítio de locação para festas, retiros de igrejas e excursões escolares, ou seja, nada favorecia a continuidade do nosso negócio durante a pandemia. Mas com a liberação em horário reduzido de parques e lanchonetes, aproveitamos que já tínhamos cinco piscinas e começamos a abrir ao público para uso das mesmas, além de servir lanches e porções.

Foi isso o que salvou nosso negócio durante esse período. Porém, com a regressão das fases, estamos totalmente parados agora. Mas dias melhores virão.

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'Mais do que tudo, temos que continuar acreditando'Por Claudia Belintani Abbud, do Santa Cabeleira

Estar no comando num período como este foi muito difícil. Minha equipe precisava se nortear, continuar acreditando e ao mesmo tempo alterar hábitos adquiridos durante toda uma vida. Na primeira onda, consegui ajudar financeiramente, mas agora não há mais respiro para isto. A saída foi orientar cada um deles para se reinventar profissionalmente. 

De quatro empresas, acredito que somente duas vão sobreviver. Uma história que perdurou durante mais de 20 anos com mais de 250 famílias que tiravam o seu sustento através de muito trabalho, parceria e dedicação acabar desta forma me entristece. Mas acredito na capacidade que as pessoas têm de se levantar, acreditar, persistir... A vida é um eterno recomeço e de uma coisa tenho certeza: a vida quer viver!

Thiago Souza, cofundador da Dootax, que cresceu 100% em 2020, ano de pandemia. Foto: Divulgação

'A dependência que empresas tinham de humanos fazerem trabalho repetitivo foi colocada na berlinda'Por Thiago Souza, cofundador da Dootax

Nosso produto/software trabalha com a automação dos processos e rotinas fiscais das empresas. O home office e a pandemia, de certa forma, foram bons para os negócios, pois a dependência que as empresas tinham de humanos fazerem esse trabalho manual e repetitivo foi colocada na berlinda.

Ou seja, se já existe um robô que consegue fazer esse trabalho 24/7, sem erros e sem riscos, você pode usar o humano para tarefas mais estratégicas. Com isso, tivemos um crescimento de 100% em 2020. 

Sou cofundador da Dootax, uma startup que tem como objetivo descomplicar a rotina fiscal das empresas através da tecnologia. Estamos focados na simplificação das tarefas manuais, burocráticas e repetitivas, trazendo mais eficiência e economia para todas as empresas brasileiras.

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'Foi na adversidade que encontramos a oportunidade'Por Felipe Caezar, da HubLocal

Enquanto para grande parte das empresas 2020 foi um ano ruim, para nós da HubLocal foi sinônimo de vencer desafios e se transformar da água para o vinho. No meio de uma fase de incertezas e em apenas um ano de existência, recebemos investimento de R$ 600 mil da Anjos do Brasil, fomos selecionados para participar do programa de scale up da Endeavor, expandimos para São Paulo, contando com escritório no maior hub de empreendedorismo do Brasil, Cubo Itaú, mudamos de escritório em Fortaleza, onde fica nossa sede, e triplicamos a equipe de tamanho.

Além disso, aumentamos em 10 vezes o valuation que hoje está atingindo mais de R$ 50 milhões diante de um faturamento recorrente mensal em assinaturas de quase 2.000 empresas assinantes.

Falar de crescimento é falar sobre desafios, sobre turbulências e sobre paciência. Mas também é falar sobre avanços, sobre resiliência e, principalmente, sobre superação. Nós podemos dizer com muita convicção: em 2020, nos transformamos da água para o vinho. E foi na adversidade que encontramos a oportunidade. 

As conquistas não pararam por aí. Iniciamos 2020 com apenas 298 empresas base de assinantes. Tínhamos estabelecido como meta chegar a 1.000 até o fim de 2021, mas batemos o marco perto de 2.000 empresas assinantes antes mesmo do ano terminar. 

Mas, assim como em todas as empresas, a chegada da pandemia trouxe medo e muita reflexão sobre como seria o futuro. Estávamos diante do seguinte cenário: uma crise mundial, contratos cancelados, descontos cedidos, inadimplências e uma queda de 28% no faturamento. A conformação e a aceitação eram as opções mais rápidas, seguras e acessíveis para nós naquele momento. Mas não foi a que escolhemos. 

Adaptação e olhar para as oportunidades foram os fatores mais importantes para colherresultados positivos. Nós, como gestores da startup, rastreamos brechas que pudessem beneficiar a empresa dentro do contexto de pandemia e isolamento social. 

Analisamos o momento e percebemos que, com a presença maior das pessoas em casa, uma grande parte dos serviços (se não todos) estavam sendo feitos através da internet. E foi justamente pautados nessa constatação que traçamos estratégias para atender as empresas e nos adequar às demandas e segmentos que estavam sendo acessados.

Para chegar ao produto ideal que queríamos oferecer, foi necessário muito estudo de mercado. Depois de tudo mapeado, montamos um diagnóstico, um report diário do covid-19 e um plano de reação. Com as estratégias projetadas, a empresa teve uma retomada significativa, no qual foi possível recuperar não somente o patamar anterior, como obter um crescimento exponencial desde então.

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'Mesmo com retração, conseguimos passar pela pandemia sem demitir ninguém'Por João Drummond, fundador e CEO da Crawly

Aproveitamos o caixa do ano anterior, que foi relativamente bom, para manter todos os funcionários. Então, mesmo com uma retração grande do nosso mercado, conseguimos passar pela pandemia sem demitir ninguém. Lançamos um produto de prateleira e conseguimos novos clientes no início de 2021, assim, temos a perspectiva de crescimento de 50% em relação ao ano passado.

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'Nos reinventamos como produto e adaptamos funcionalidades'Por Fabio Rodrigues, da startup Novidá 

Para nós foi uma grande montanha russa! Desde o caos do início da pandemia, com diversos clientes cancelando contratos, chegando literalmente perto do fundo do poço em volume de clientes e operações, até a pequena luz de uma tímida retomada econômica, que para nós tem sido de alta aceleração, com crescimento acima de 30% por mês, desde agosto de 2020.

Nos reinventamos como produto e adaptamos funcionalidades para ajudar as empresas a manter a saúde dos funcionários via contact tracing. Além disso, redesenhamos todo o modelo de negócios e nosso posicionamento na sociedade. A pandemia, apesar de cruel, nos fez renascer, e ainda mais fortes e preparados em nossa missão de transformar o trabalho operacional na América latina, através da tecnologia.

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'Nascemos com o DNA do novo normal'Por Diego Fischer, da Carupi

A Carupi nasceu 9 meses antes das primeiras ações de restrição da economia como tentativa de conter o novo coronavírus. Mas como o nosso modelo de negócio é completamente home office, altamente escalável e sem a necessidade de ponto físico, basicamente nascemos com o DNA do novo normal.

Como uma startup de tecnologia com atuação no mercado de seminovos, temos alguns desafios naturais de uma empresa que não tem uma fachada para dar segurança às pessoas, como a mudança da percepção que pessoas mais resistentes tem de empresas tech que prestam serviço a você sem nenhuma interação física; como a administração e gestão de pessoas espalhadas por todo o país através de sistemas integrados; gestão de clientes através de um banco de dados e ferramentas de CRM que permitem essa descentralização do atendimento ao cliente etc. 

Criamos um sistema nervoso de business inteligence sofisticado, um sistema de gestão de pessoas seguro e uma ferramenta fácil, conveniente e segura para os clientes - mudar o paradigma há tantos anos estabelecido de como se compra e vende seminovo de particular para particular.

A empreendedora Priscila Sabará, da plataforma Foodpass, criou o projeto 'Quarentene-se' para ajudar micro e pequenos restaurantes durante a quarentena em São Paulo. Foto: Gabriela Biló/Estadão

'Nosso principal aprendizado foi internalizar uma equipe de TI'Por Priscila Sabará, da plataforma Foodpass

Foi um ano inédito para Foodpass, havíamos fechado a primeira rodada de investimentos no fim de 2019 e traçamos um plano de crescimento, mas já em março começamos os ajustes de equipe e despesas, visto que os eventos presenciais foram todos cancelados. Por visão de mercado ou sorte, em nossa tese de investimento estava a consolidação do núcleo de negócio focado em conteúdo e foi este que 'sustentou' o faturamento da empresa. 

Criamos movimentos, festivais online e trouxemos marcas para apoiá-los, como o Arraial com a Bonduelle, Food Summit com a Nespresso e Dia dos Pais com a Toyota. Adaptamos como pudemos o marketplace para vender vouchers, kit experiência e aulas online. 

No segundo semestre conseguimos um empréstimo com a linha de crédito Desenvolve SP do governo do Estado de SP e em dezembro abrimos uma segunda rodada de investimento para capitalizar mais o negócio, concluímos a rodada em março.

Nosso principal aprendizado foi internalizar uma equipe de TI (tecnologia da informação) para termos agilidade na adaptação do nosso produto digital com novas ferramentas e este é o objetivo de 2021, além de claro buscar aumentar o faturamento com os projetos e movimentos que já fazemos.

Como plataforma digital entendemos que abrem-se novos espaços para a Foodpass, começamos há 8 anos a incentivar o mercado de food service a diversificar seus produtos e serviços para além do salão e delivery, o que se faz essencial neste momento.

Juliana Aquino em sua fazenda de cacau, a Vale Potumujú, no sul da Bahia, que alimenta a sua marca de chocolates Baianí. Foto: Ana Paula Boni/Estadão

'Vamos passar por essa crise'Por Juliana Aquino, da marca de chocolates Baianí 

Foi difícil para todos, principalmente para a manutenção das colaboradoras. Além dos salários que foram mantidos, no início da pandemia todas ficaram em casa por dois meses. Depois, em fases mais complicadas, o Uber virou o transporte diário. Ultimamente, (os funcionários) voltaram para o transporte público, mas com a fase roxa vamos voltar com o Uber, o que é muito caro.

Outra dificuldade é a compra frequente de material descartável e álcool 70% (tanto em gel como líquido). Comida delivery na fábrica para evitar a saída das funcionárias também foi instituída. Como tudo está muito incerto e complicado, deixá-las tranquilas e confortáveis tem que fazer parte do negócio. 

As vendas não despencaram por causa dos veículos digitais, mas não mantiveram o crescimento que vínhamos tendo antes da pandemia. Temos outra fonte de renda, por isso mantivemos a fábrica de chocolate e a fazenda de cacau. Ambos não se pagaram com suas produções. 

Tudo tem seu ciclo. A pandemia está nos seus momentos finais e trabalhar com chocolate é sempre alentador! Vamos passar por essa crise. 

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'Tivemos um crescimento de 309% no volume transacionado na plataforma'Por Nani Gordon, da startup Cash.in

No último ano, apesar de todos os desafios, tivemos um crescimento de 309% no volume transacionado na plataforma. Muito disso se deve ao distanciamento e a maior busca por empresas por pagamentos digitais. A Cash.in consegue chegar em todos os colaboradores instantaneamente, mesmo terceirizados, e oferece diversas formas de resgate do crédito recebido. Estamos crescendo muito e já em 2021 fechamos três novos clientes que triplicam nosso número de usuários na plataforma. 

Somos duas mulheres empreendedoras que decidimos olhar para um novo mercado e aprender a fundo os processos de distribuição de prêmios de marketing e vendas no Brasil, criando uma plataforma disruptiva que conquistou 35 clientes em 1 ano e meio de operação. 

Mas, com filho bebê, marido 100% home office e toda a função da casa, fica desafiador performar bem em todos os 'papéis', é um malabarismo.

Os sócios do azeite Oliq Antônio Augusto Batista e Vera Masagão, na Serra da Mantiqueira, em 2017. Foto: Hélvio Romero/Estadão-3/2/2017

'O nosso negócio poderá aproveitar uma oportunidade: pessoas querendo passar mais tempo fora dos centros urbanos'Por Vera Masagão, do azeite de oliva Oliq

Na verdade, a alternativa correta seria 'Eu já era empreendedor e ampliei meu negócio'. Temos uma fazenda onde produzimos azeitonas e processamos azeite de oliva e outros produtos artesanais complementares (cafée geleias). Passamos a receber turistas que vinham conhecer o processo de produção, degustar os azeites e comprar na loja de fábrica.

Decidimos que faria muito sentido, dado o fluxo de turistas, abrir um restaurante, que explorasse os usos culinários do azeite e atendesse a demanda dos visitantes, já numerosos nos finais de semana. A pandemia nos pegou quando a obra do restaurante estava pela metade. Em março, fechamos o atendimento aos turistas, mas a obra, assim como as atividades agrícolas da fazenda puderam continuar. 

Passamos 4 meses completamente fechados para atendimento aos turistas e venda na loja da fazenda. Nesse período investimos na loja online, que aumentou bastante seu volume de vendas, mas continuou sendo uma parte pequena em relação ao faturamento com venda presencial (em torno de 5%). Em meados de julho voltamos a atender turistas, só nas áreas externas, com grupos reduzidos, mudando o formato da degustação.

No final de outubro inauguramos o restaurante. Conseguimos um bom movimento, funcionando só fins de semana e feriados. Fizemos a contratação de 6 novos funcionários, nos finais de semana e feriados chamamos diaristas, chegando a operar com 20 trabalhadores. No final de dezembro, já com notícias da segunda onda na Europa, tomamos consciência de que daqui a pouco teríamos que fechar outra vez. Então resolvemos aproveitar ao máximo os períodos em que tivéssemos permissão de funcionar. 

Passamos a atender no restaurante 5 dias por semana, de quinta a segunda-feira, ficando as terças e quartas para folgas e trabalhos internos. O faturamento em janeiro e fevereiro triplicou em relação à média do faturamento pré-pandemia e pré-restaurante. O restaurante, além do faturamento próprio, alavancou o faturamento da loja de fábrica. 

Vista das oliveiras para a produção do azeite Oliq, em São Bento do Sapucaí (SP), na Serra da Mantiqueira. Foto: Hélvio Romero/Estadão-3/2/2017

O movimento, mesmo sendo período 'meio de férias', foi surpreendente. Com o home office e crianças sem ir à escola, muitas famílias passaram períodos maiores em casas de campo ou pousadas da região. Lembro de receber um casal para visita guiada e almoço, numa quinta-feira, e eles explicaram: 'Deixamos as crianças assistindo aula na pousada e viemos curtir esse passeio só nós dois'.

Entre o final de janeiro e fevereiro, tivemos que fechar o restaurante (a loja foi autorizada a funcionar) por 15 dias, pois a nossa região de Taubaté entrou na fase vermelha. Mesmo com essa parada, o resultado foi excelente em relação aos meses anteriores. 

Quando veio a fase vermelha para todo o Estado, e depois a emergência, decidimos fechar e, com orientação do sindicato, vamos fazer um banco de horas para compensar os dias parados com feriados e férias. Isso será possível se o fechamento não se prolongar mais do que dois meses.

Se conseguirmos trabalhar, mesmo em períodos intermitentes, creio que conseguiremos sobreviver financeiramente, sem demitir ninguém, como estamos conseguindo até agora.

Imaginamos que a covid vai estar presente em nossas vidas nos próximos anos de uma forma ou de outra. Então, o nosso tipo de negócio poderá, assim esperamos, aproveitar uma oportunidade: o fluxo crescente de pessoas querendo passar mais tempo fora dos centros urbanos, passear e fazer refeições em ambientes bem ventilados, com muita área externa. 

É nisso que estamos apostando. Isso se conseguirmos controlar a pandemia em nosso País. Só não dá pra continuar ladeira abaixo como estamos atualmente.

Gabriel Fullen, sócio do grupo de restaurantes que detém casas como Oguru Sushi & Bar, em São Paulo. Foto: Nilton Fukuda/Estadão-20/4/2020

'Tentamos pensar todos os dias fora da caixinha'Por Gabriel Fullen, sócio do Grupo Locale (Oguru Sushi & Bar / Locale Caffè/ Locale Trattoria / Poke by Oguru) 

Há 12 meses começamos o ano mais desafiador de nossas vidas. Gostamos de dizer por aqui que, no primeiro mês de pandemia, evoluímos 1 ano em 30 dias. Isso porque tivemos que desenvolver ações e operações que pudessem funcionar com as portas fechadas.

Por isso, tentamos desde então pensar todos os dias fora da caixinha. A primeira ação foi lançar vouchers promocionais no Oguru, nossa marca mais antiga do grupo, onde os clientes puderam comprar dois rodízios de nosso restaurante pelo preço de um. A ação foi um sucesso e nos gerou aproximadamente R$ 1 milhão em 4 dias de venda.

Com isso, tivemos 10 dias para nos estruturar e lançar de fato o delivery Oguru. Em menos de dois meses, estávamos recebendo mais de 4 mil pedidos. Além disso, inauguramos de lá pra cá 3 novas operações: 

  1. Locale Caffè (maio/20): o misto de café e bar italiano abriu sua janelinha apenas para delivery e take away, pois ainda nos encontrávamos na fase vermelha. Felizmente, desde o início atraiu muitos clientes
  2. Locale Trattoria (nov/20): inauguramos o restaurante surfando uma boa onda de seu vizinho-irmão, o Locale Caffè
  3. Poke by Oguru (março/21): a mais nova marca era uma idéia que estudávamos abrir em algum momento futuro, mas teve que ser tirada do papel às pressas para enfrentarmos as novas e mais duras medidas de isolamento

Tudo isso para conseguirmos manter o grupo de pé e com o maior número de colaboradores empregados, hoje cerca de 160 pessoas. A maior dificuldade que estamos encontrando é a falta de previsibilidade. Muitos altos e baixos, muitas mudanças de orientação distintas em espaços muito curtos, que nos pegam sempre de surpresa.

Não sei quantas vezes já tive que rever o planejamento mensal, sendo praticamente impossível tentar planejar um cenário anual até que estejamos imunizando a população de forma veloz e eficaz.

Tudo isso nos trouxe uma resiliência e senso de urgência maior ainda, para que pudéssemos direcionar o grupo todo, que hoje conta com 7 operações.

Sabemos que, infelizmente, muitos de nossos parceiros do mercado não conseguirão sobreviver, mas torcemos para que essa situação se reverta e que possamos em nossa maioria seguir trabalhando e voltar a oferecer bons momentos aos nossos clientes.

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'Optamos por parar por um tempo e remodelamos nosso negócio'Por Edgard Aires, da Oficina da Mesa e da Pop Briocheria

No início da pandemia perdemos praticamente todos os nossos clientes. E com isso optamos por parar por um tempo e remodelamos nosso negócio. Com a nossa experiência criamos um novo negócio para termos uma nova fonte de renda.

Na Oficina da Mesa, desistimos de ter uma operação própria. Aproveitamos que muitas cozinhas entraram em ociosidade e colocamos em nossa rede para oferecer a pequenos empreendedores que nos procuram. Formalizamos estes espaços e damos mentorias para estes empreendedores. 

Na Pop Briocheria, aproveitando a ociosidade de nossos equipamentos, montamos uma cozinha bem menor e agora produzimos brioches congelados para o crescente mercado de consumo em casa. 

Laura Andreotti eJulia Vidigal, da Crudo, especializada em identidade de marca na área da gastronomia. Foto: Felipe Rau/Estadão

'Somos duas mães empreendendo em um país como o Brasil e pretendemos continuar assim'Por Julia Vidigal, da agência de conteúdo Cru.do 

Eu e a Laura (Andreotti), minha sócia, fundamos a nossa empresa há 6 anos. Ao longo desse tempo, nunca tínhamos vivenciado algo parecido como os últimos 365 dias. Na nossa opinião, o denominador comum deste último ano foi a instabilidade e incerteza. Nossa maior dificuldade como empreendedoras foi fazer qualquer tipo de planejamento, tendo em vista que o cenário social, econômico e político do nosso País muda a cada semana - e eventualmente em um intervalo menor.

Nós vínhamos de uma trajetória de crescimento empresarial vertiginoso e tivemos que reduzir equipe, entregar o escritório e ajustar a nossa forma de operar.

Em 2020, focamos em atender as novas demandas dos clientes que permaneceram na empresa (com segurança) e paramos para observar o novo mundo que se criou, refletindo o que queríamos construir e o que seria possível fazer com uma mudança da magnitude da covid-19 - que atravessou o globo.

Depois de muitas conversas, conseguimos ajustar a nossa operação para oferecer ainda mais serviços de forma remota (essa sempre foi uma prática da nossa empresa), como por exemplo dirigir uma diária de fotos de forma remota. Além disso, passamos a direcionar nossa energia para novas áreas de negócio que, na nossa opinião, começaram a fazer ainda mais sentido.

Foi, sem dúvida, um ano duro, de muito aprendizado e reflexão. Se recolher em 2020 e fazer a escolha de operar uma empresa com segurança trouxe consequências dolorosas para nós. Mas não tirou nosso ânimo! Somos duas mães empreendendo em um país como o Brasil e pretendemos continuar assim.

Mauricio Delfino, criador da Da Minha Cor, que vende toucas de natação para cabelos afro. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

'O aprendizado é que temos que manter perseverança, criatividade e OBZ (orçamento base zero)'Por Maurício Delfino, da marca de acessórios esportivos e maquiagem DaMinhaCor 

Em dezembro de 2019 fizemos uma grande importação de toucas de natação esperando que teríamos um ano de 2020 bom. Quando esta importação chegou para nós, no início de março de 2020, absolutamente todas as lojas cancelaram os pedidos conosco, alegando que as academias e escolas de natação estavam fechadas e ninguém compraria toucas.

As idas e vindas de restrições e lockdown por todo o País duraram até outubro de 2020 e, como consequência disso, tivemos que cancelar nosso contrato com a empresa de armazém (estoque) e trazer para casa. As vendas de março a outubro caíram para ZERO de faturamento, sendo que esses produtos representavam 90% do nosso faturamento.

Ainda em março, começamos a fazer lives nas redes sociais para tentar vender nossa linha de maquiagens (que representava 10% das nossas vendas), pois as videoconferências aumentaram absurdamente nesse período e as pessoas se arrumavam da cintura para cima para aparecer legal no vídeo.

Então, aproveitamos esse discurso para reforçar nosso argumento de vendas e conseguimos nos manter. Fechamos o ano de 2020 com maquiagem representando 40% do nosso faturamento e a entrada de pelo menos 20 novas revendedoras. Em resumo, fechamos o ano uns 10% acima do faturamento de 2019.

Neste período também aceleramos o lançamento de uma touca descartável tamanho especial para cabelos afro volumosos para uso em ambientes hospitalares e também em fábricas de alimentos, para funções que precisam proteger da queda de cabelos.

Agora em janeiro de 2021, aceleramos o desenvolvimento de uma linha de tratamento capilar profissional para uso doméstico, pois com essas idas e vindas de lockdown as pessoas estão com dificuldade para frequentar salões de beleza. O lançamento será em abril de 2021.

O aprendizado que tivemos nesse período é que temos que manter a perseverança, a criatividade, o OBZ (orçamento base zero) e acelerar ao máximo as decisões, para tentar nos manter vivos e também nossa empresa. Sempre com a cabeça preparada que as soluções virão de dentro da nossa empresa, pois as ajudas dos governos para as pequenas empresas infelizmente são tardias e inalcançáveis. 

A empreendedora Luisa Abram, que fundou em São Paulo a marca de chocolates que leva seu nome. Foto: JF Diorio/Estadão-9/10/2019

'Antes procurávamos funcionários jovens, e agora passamos a contratar pessoas com família'Por Luisa Abram, da marca de chocolate Luisa Abram Chocolates

Esse ano de 2020 foi cheio de mudanças aqui na fábrica. Tivemos que investir mais em marketing digital para ficar no radar do consumidor. Alguns projetos tiveram de ser cancelados ou freados. 

Porém, nem tudo foi ruim. Conseguimos gerar 4 vagas de empregos e demos preferência àqueles com família em casa. Ou seja, o perfil do trabalhador mudou, porque antes procurávamos por jovens e agora passamos a contratar pessoas com família. 

Conseguimos crescer, nos organizar melhor financeiramente para conseguir honrar com nossos compromissos, negociando melhores condições de pagamentos e prazos. 

Como eu costumava viajar muito, e agora não é mais possível, consegui melhorar as condições de trabalho na fábrica, que antes não percebia serem tão prejudiciais ao desempenho da produção. 

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'Apesar de todas as dificuldades, estou conseguindo superar os desafios'Por Sandra Calvi, da agência Cartaz 

Tive praticamente que me reinventar, mas o mais dolorido foram as demissões. Inicialmente foram momentos muito difíceis. Depois de alguns meses me surpreendi comigo mesmo! Pois aceitei o desafio e passei a lutar como nunca! 

Contudo, seria muito importante que o governo nos ajudasse mais! Mas fazendo um balanço, apesar de todas as dificuldades, estou conseguindo superar os desafios. 

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'Esse processo de inclusão no meio digital salvou a nossa empresa e os empregos'Por Ricardo Mafra, da Rick Doces

No momento em que foi decretado lockdown em São Paulo, em 2020, ficamos por uma semana fechados e foi quando pensei que isso não iria passar tão rápido. Eu precisava fazer algo para salvar a empresa.

Éramos totalmente offline, não tínhamos redes sociais! Então, começamos inicialmente nos cadastrando em um marketplace de uma empresa já conhecida no mercado, além de montarmos um Instagram e realizarmos atendimento via WhatsApp.

Montamos um catálogo de produtos e começamos a divulgar para amigos, pedindo para repassar e, aos poucos, fomos aumentando os pedidos tanto via WhatsApp quanto via venda pelo marketplace. Surgiu aí a necessidade de automatizar a forma de pedido e assim nasceu nossa loja virtual.

Hoje, atendemos todo o Brasil. No Instagram, também criamos o personagem Rickynho, que atraiu clientes para as duas lojas físicas. Com tudo isso, mantivemos todos os colaboradores e fizemos novas contratações para atender a demanda! Atualmente, um ano após o começo de tudo isso, podemos dizer que fomos salvos pela nossa mudança e adaptação à nova realidade!

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'Deixar um legado de empresa mais estruturada e mais presente'Por Arturo Isola, da marca de gim nacional Amázzoni

O ano foi muito produtivo e muito estimulante pelos desafios que impôs. Nos obrigou a reinventar as diretrizes do negócio e desenvolver novos canais, deixando um legado de empresa mais estruturada e mais presente no Brasil. 

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'Houve oportunidades para quem soube aproveitar'Por Pedro Semeoni, sócio fundador da Greentable

Foi um ano muito complicado, cheio de adaptações para garantir segurança para o consumidor final, que ficou muito receoso com a entrega de comida. Por outro lado, houve oportunidades para quem soube aproveitar.

A Greentable abriu duas novas unidades neste ano e soube se reinventar para sobreviver no novo normal.

A chocolateira Gislaine Gallette, da marca Gallette, que começou usando chocolate belga para seus bombons e depois passou a produzir o próprio produto com cacau nacional. Foto: Hélvio Romero/Estadão

'Batalhamos para dar solidez ao nosso negócio perante a situação'Por Gislaine Gallette, da Gallette Chocolates

Foi um ano muito diferente dos demais. Um ano em que aprendemos muito sobre como trabalhar no mundo digital, como ter uma logística eficaz, como ativar clientes potenciais fora da região da loja na zona norte e uma produção eficiente com custos mais baixos sem comprometer qualidade. 

Investimos em mais equipamentos, intensificamos a gestão do negócio, fortalecemos a parceria com marcas importantes do varejo na produção de “marca própria” e alcançamos parceiros fora de São Paulo para revenda e distribuição dos nossos chocolates.

Enfim, batalhamos para dar solidez ao nosso negócio perante a situação. Hoje estamos mais fortes e mais estruturados. Neste último ano, crescemos 35% e recebemos alguns prêmiosimportantes, o que nos dá ainda mais força para seguir em frente. 

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'A inflação atingiu a produção, a média de aumento dos insumos foi de 65%'Por Isabela Lepera, fundadora da Cupcakes by Isa

Tenho uma confeitaria artesanal especializada em doces americanos em São Carlos (SP) e trabalho sozinha em casa. A Cupcakes by Isa é um case de sucesso em vendas pela internet e somos 'garotas propaganda' do WhatsApp.

A rotina de trabalho em si não mudou muito, já que eu já trabalhava de casa, com vendas pela internet e delivery, mas tenho tido problemas objetivos e subjetivos.

Durante esse período de pandemia, tenho tido muita dificuldade na parte de inovação e criatividade, já que estou bastante desmotivada, mas sei o quão fundamental é criar produtos exclusivos, ter embalagens e apresentação diferenciadas, melhorar o atendimento etc.

Tenho tido bastante dificuldade, principalmente agora nos últimos cinco meses, em manter o lucro. A inflação atingiu integralmente a produção, já que a média de aumento de custo dos insumos foi de 65%. Além disso, o poder de compra dos clientes diminuiu diante do cenário, e as vendas, por consequência, diminuíram também.

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