A procura por produtos que tragam a sensação de bem-estar e aconchego cresceu nos últimos quatro anos. Para quem quer aproveitar a oportunidade e investir em um novo negócio, as velas aromáticas, que servem tanto para perfumar quanto para decorar o ambiente, são uma opção.
Dados do Google Trends mostram que o interesse pelo assunto começou a crescer no início da pandemia, mas não perdeu força e atingiu o número máximo de pesquisas em 2024.
Há dois anos, a empreendedora Fabiana Ikawa, de 50 anos, e sua filha, a publicitária Mariana Chen, de 22, perceberam a onda crescente e fundaram a We Candle, que há quatro meses tem uma loja física na Liberdade (SP). Para se destacar, elas recorreram às origens e apostaram em fragrâncias inspiradas na culinária japonesa.
Velas aromáticas para relaxamento e marketing olfativo
O consultor de negócios do Sebrae-SP Alexandre Giraldi afirma que as velas especiais trazem oportunidades variadas para o empreendedor, que pode trabalhar com itens voltados para relaxamento, decoração, presentes e até fazer parcerias com outras empresas.
“Além de trabalhar direto com o consumidor, o dono do negócio tem a possibilidade de desenvolver fragrâncias exclusivas para algumas marcas. Isso serve tanto para quem quer encontrar uma forma de presentear os clientes quanto para quem quer criar uma experiência única com o marketing olfativo”, explica.
Por outro lado, as inúmeras alternativas exigem que as velas aromáticas atendam a diferentes expectativas e, se o empreendedor não entender o que o consumidor deseja, pode perder dinheiro.
O especialista aponta que é necessário ter cuidado com a parte estética, para garantir que o produto cumpra a função de decorar ambientes, ao mesmo tempo em que perfuma e relaxa.
“Velas especiais não são artesanato. O investimento pode ir por água abaixo se o profissional acreditar que o cliente vai comprar só pelo cheiro”, completa Giraldi.
Ideia de criar a We Candle veio após intercâmbio
A ideia de produzir velas aromáticas surgiu na vida de Fabiana e Mariana após a jovem retornar de um intercâmbio no Canadá, em 2020, onde adquiriu o costume de usar o item para deixar os ambientes perfumados. Ela trouxe a tradição para o Brasil, mas não encontrou as fragrâncias que queria.
“Eu adorava o cheiro de pêssego e queria comprar de novo, mas só encontrei fragrâncias comuns, como verbena, alecrim e lavanda. Comecei a pesquisar sobre o segmento e vi que tinha a oportunidade de trazer uma marca com perfumes diferenciados”, conta Mariana.
O desenvolvimento da We Candle levou um ano, da pesquisa de mercado até a seleção de fornecedores e criação das fragrâncias. A primeira remessa de velas aromáticas, feita na cozinha da casa delas, foi um desastre.
Fabiana diz que elas receberam a recomendação de uma cera, mas na hora de testar, nada funcionou e todo o material foi descartado, o que trouxe prejuízo logo no início do negócio. “A gente passou um ano aprendendo com os erros. Testava, via o que não funcionava e ajustava, até ficar do jeito que imaginamos”, completa.
Ao todo, mãe e filha investiram cerca de R$ 20 mil para dar forma à We Candle. No começo, os principais clientes eram familiares, amigos e colegas de faculdade da Mariana, mas aos poucos, com ajuda de feiras e eventos, a empresa começou a escalar.
Definir o público-alvo é primeiro passo para ter sucesso
Para conseguir ter um negócio sólido, Giraldi aponta que o primeiro passo é definir se as vendas serão B2B (de empresa para empresa) ou B2C (de empresa para consumidor). Depois, é importante traçar um público-alvo e entender quais são as características dessas pessoas e o que elas querem consumir.
“A empresa pode fazer uma pesquisa de mercado para descobrir as respostas, mas é fundamental estar disposto a ouvir. O cliente é o detentor do seu sucesso e do seu fracasso, escutar as necessidades dele ajuda a desenvolver produtos que tenham uma boa performance”, afirma o especialista.
No caso da We Candle, a definição do público-alvo foi simples. Nas primeiras vendas, as fundadoras identificaram que a clientela era composta por mulheres, com idade entre 20 e 40 anos, ligadas à cultura asiática.
Com essas informações na mão, Fabiana teve a ideia de unir as suas tradições com o novo negócio e produzir velas com fragrâncias inspiradas na culinária japonesa. A primeira foi de Matcha Latte, bebida com leite e chá verde - este último é utilizado nas tradicionais cerimônias do chá no Japão.
“Sempre trabalhei com alimentação e gostava de criar doces voltados para o paladar japonês. Levei o Matcha Latte para o nosso fornecedor e trabalhamos para transformar o aroma da bebida em uma fragrância para as velas”, conta a empreendedora.
A vela de Matcha Latte foi um sucesso tão grande que ainda é a mais procurada pelos clientes, mesmo com outros lançamentos.
Mas ela também foi atrás de outros cheiros, como ichigo shortcake (bolo de morango, que faz parte da tradição japonesa de Natal), sakura bloom (referência à flor de cerejeira) e mochi (doce feito com arroz). Os preços variam de R$ 49,90 a R$ 144,90.
A pedido das consumidoras, a We Candle lançou uma linha de body splash com a mesma fragrância das velas. O body splash tem uma quantidade menor de essência na sua composição em comparação com águas de colônia e perfumes. Isso faz com que a fragrância seja mais fraca, mas também reduz os custos de produção.
“Ter uma diferenciação cria uma identidade da marca na memória do cliente. Isso pode ter relação com o fornecedor, matéria-prima, precificação e, no caso das velas aromáticas, a fragrância, a apresentação e a história a ser contada”, analisa Giraldi.
Leia mais em PME
Avaliação de custos para um negócio de velas aromáticas
Na prática, quais custos devem ser considerados para abrir um negócio de velas aromáticas? A resposta certa começa, novamente, com a definição do público-alvo, o que vai interferir na precificação dos produtos e nos gastos para manter a empresa de pé.
O consultor de negócios do Sebrae-SP diz que entender as características do consumidor ideal para a sua marca passa por definir onde ele está localizado e quais são os hábitos de consumo dele.
“Se você descobre que o seu cliente prefere comprar em marketplaces, precisa colocar no papel os custos para vender por meio dessas plataformas, como Shopee e Mercado Livre. Nesse caso, os gastos vão variar de acordo com o volume de vendas”, explica.
A mesma lógica se aplica à matéria-prima: quanto mais a empresa vende, mais precisa investir em itens como parafina ou cera, essência e pavio.
Giraldi afirma que, do outro lado, estão os custos fixos, como aluguel, internet e energia elétrica.
“Mesmo que o empreendedor produza as velas em casa, é preciso considerar os gastos com o espaço. Se ele usa só um cômodo do imóvel para a produção, por exemplo, pode calcular qual é o valor proporcional do aluguel cobrado por esse lugar e inserir isso nas contas da empresa”, diz o especialista.
Ele aponta ainda que existe uma conta simples que ajuda a chegar à precificação ideal: é só somar os gastos fixos com os variáveis e o valor do lucro desejado. Contudo, é preciso ter cuidado para não praticar preços que afastem o público-alvo.
“É importante incluir custos para divulgar a marca e entender que é impossível um negócio atingir o ponto de equilíbrio no primeiro mês. Às vezes, será necessário fazer mais investimentos e dar tempo ao tempo antes de ter um retorno financeiro”, completa.
Ponto físico elevou as vendas da We Candle em 150%
Em agosto deste ano, a We Candle inaugurou uma loja no bairro da Liberdade, em São Paulo. A primeira unidade fica no andar superior da Matcha Minka, casa especializada em matcha, comandada por Fabiana em parceria com a sócia, Debora Taira, de 49 anos.
Mariana afirma que, após a inauguração do ponto físico, as vendas aumentaram em 150%. O faturamento não foi revelado. Ela acredita que por ser um negócio que mexe com o olfato, ter um espaço para testar as fragrâncias faz toda a diferença.
“Nossos produtos são diferentes de uma roupa, que você pode medir e comprar pela internet sem experimentar. É difícil passar para o cliente o que são os cheiros sem que ele esteja presencialmente com a gente”, diz a publicitária.
Antes da loja, elas participavam de feiras e eventos com temáticas asiáticas para apresentar as velas aromáticas para os consumidores.
Giraldi aponta que permitir que o cliente experimente as fragrâncias é um diferencial importante. Ele considera que é melhor ter uma margem de lucro menor para compensar os gastos e investir em um espaço físico, mesmo que seja pequeno.
“Você pode informar que o cheiro é cítrico ou amadeirado e quais são as notas, mas se a pessoa não entende de perfumes, ela não vai comprar por receio de não gostar. Para saber se gosta de um alimento, o ser humano come. Para saber se gosta de um cheiro, ele precisa cheirar”, conclui o especialista.
Avaliação dos consumidores
A We Candle recebeu uma nota 5 de 5 estrelas no Google, com apenas duas avaliações até a publicação desta matéria. Os comentários elogiam as fragrâncias.
Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, avaliações positivas ou negativas podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.
No Reclame Aqui, não há nenhuma queixa contra a We Candle.