Voucher ajuda, mas não deve ser visto como única salvação de negócios


Como 'antecipação de recebíveis', voucher pré-pago leva empresa a comprometer hoje dinheiro para prestar serviço amanhã; empreendedores dão dicas sobre como têm sobrevivido a isolamento social

Por Marina Dayrell
Atualização:

Já nos primeiros dias da quarentena provocada pelo novo coronavírus, pequenos e médios negócios viram nos vouchers pré-pagos a oportunidade para convidar clientes fiéis a ajudarem em sua sobrevivência econômica. O movimento começou com os restaurantes e logo foi adotado por empresas de outros setores, como a beleza. No caminho, principalmente na área da gastronomia, os vouchers ganharam dimensão com o apoio de grandes marcas a pequenos negócios.

A Apoie um Restaurante, iniciativa da Stella Artois em parceria com a Nestlé e o ChefsClub, por exemplo, já arrecadou mais de R$ 8 milhões em vendas em todo o Brasil. Com atuação restrita a São Paulo, o movimento Gentileza Gera Gentileza, com o apoio de marcas como Jim Bean e StartPay, já destinou mais de R$ 350 mil aos restaurantes participantes.

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Um mês após o decreto de isolamento social no Estado de São Paulo, o Estadão PME conversou com empreendedores para entender o impacto dos vouchers em seus negócios. Entre donos de restaurantes, cafeteria e salão de beleza, há quem ache que o voucher pode atrapalhar o serviço futuro (por um dinheiro que o empreendedor já ganhou e gastou) e quem prefere associar a venda do voucher a serviços como aulas.

Raphael Despirite, proprietário do restaurante Marcel, em São Paulo, aderiu às plataformas Apoie um Restaurante e Menu do Amanhã, que oferecem vouchers de bares, restaurantes, confeitarias e cafeterias. “Neste primeiro momento é um negócio de desespero de caixa. O mercado de restaurantes sempre teve o problema seríssimo que é viver de pagar boleto com o que entra no dia anterior. Por isso, a gente fala que em uma semana eles já estavam quebrados”, conta Raphael.

O chef e empreendedor não acredita que o método será suficiente para que os restaurantes, no geral, salvem seus fluxos de caixa. Com o dinheiro dos vouchers - cerca de 100 vendidos no Marcel até agora - Despirite planeja pagar um décimo da folha de pagamento do negócio. “Não é um recurso que vai salvar a vida dos restaurantes, mas é uma ajuda. É uma fonte de receita em um momento que não tem nada entrando.”

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Pela dinâmica do restaurante, ele não vê a viabilidade de fazer delivery. Enquanto isso, a estratégia principal é poupar o máximo de recursos e negociar com fornecedores. Os cerca de 30 funcionários tiveram seus contratos suspensos até o fim de maio e foram cadastrados na plataforma Empregador Web, do Ministério do Trabalho, para receber o auxílio do seguro-desemprego, previsto pela medida provisória 936. “O que estamos fazendo é segurar para ver para onde vai o mercado e pensar em como vamos abrir em uma retomada", conta. 

A aposta nos vouchers, para ele, vai além da receita gerada com a própria venda e mira o comportamento do consumidor ao fim da quarentena. “Quando tudo voltar ao normal, o mercado não vai voltar a ser igual, mas uma pessoa vai ao restaurante [por causa do voucher] e gasta um pouco mais, vai com mais gente e acaba tendo um incentivo para voltar”, conta. 

Raphael Despirite, proprietário do restaurante Marcel, em São Paulo, aderiu aos vouchers, mas não acredita que o método será suficiente para que os restaurantes salvem seus fluxos de caixa. Foto: Iara Morselli/Estadão
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A visão de que os vouchers não podem ser encarados sozinhos como salvação para os negócios também é compartilhada pela consultora do Sebrae-SP Karyna Muniz. “Por mais que o movimento solidário aconteça, ele não vai suprir o necessário. É fundamental que os empreendedores desenvolvam competências para negociar e busquem ter caixa.”

Entre os lugares que já começaram a trabalhar com os vouchers, os que se saíram melhor foram aqueles que já possuíam um relacionamento forte com os clientes, aponta Karine. Segundo ela, a confiança tem sido necessária para driblar um trauma do brasileiro em relação ao método.

“Não faz muito tempo a gente teve um boom de plataformas de cupons que nem sempre ofereciam o atendimento que havia sido vendido. Não é o mesmo cenário, mas tem um histórico de trauma. Acho difícil que um consumidor que não conhece o estabelecimento compre um voucher. Que garantia ele tem que o lugar não vai fechar?”, destaca.

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Como implantar os vouchers

Na hora de adotar o voucher, uma das preocupações dos empreendedores é garantir que vão conseguir prestar os serviços futuramente com qualidade e sem prejudicar a entrada de novas receitas, vindas dos clientes que não compraram cupons. “O voucher é uma antecipação de recebíveis, então tem que tomar cuidado em como você vai fornecer um produto que já estará pago há muito tempo”, destaca Isabela Raposeiras, proprietária da cafeteria Coffee Lab.

Além de ter adotado o delivery em tempos de quarentena, o local também se cadastrou na plataforma Apoie um Restaurante. Para isso, o primeiro passo foi definir o que seria oferecido aos compradores dos cupons. “Tem que escolher produtos específicos, deixar livre (a escolha) pode te dar problema operacional e de fluxo de caixa. Uma boa escolha são produtos que têm CMV (custo de mercadoria vendida) mais baixo e que são operacionalmente mais fáceis de produzir. Se você tiver serviço a oferecer, ótimo, como no nosso caso, que temos degustações, pacotes de café e aulas”, explica Isabela.

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Foi por conta dessa preocupação que o proprietário da unidade Morumbi da rede de salões Jacques Janine, Roger Ajouri, não aderiu aos vouchers. “Acho que é empurrar o problema para frente. Você vai vender e depois vai executar. Se ganhou dinheiro agora, não vai ganhar lá na frente. Eu vi muitos salões que adotaram, mas que não tiveram tanto retorno. Quem comprou o fez mais pra ajudar do que pela atração em si”, afirma. Enquanto isso, o salão aposta no delivery de tinta para os cabelos como forma de gerar fluxo de caixa. 

Gabriel Fullen, sócio do Oguru, limitou o número de vouchers vendidos pelo restaurante de comida japonesa para não comprometer o atendimento ao final da quarentena. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Entre quem apostou no método dos vouchers, limitar a quantidade foi uma decisão para não comprometer a qualidade do serviço lá na frente. É o caso do Oguru, restaurante de comida japonesa que vendeu mais de 5 mil cupons (R$ 119 cada um) durante quatro dias e encerrou as vendas.

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Um dos proprietários da casa, Gabriel Fullen explica que outra decisão foi a escolha do rodízio como produto oferecido. “Em primeiro lugar, pensamos na atratividade. Somos conhecidos pelo nosso rodízio, então vamos chamar a atenção dos nossos clientes e de quem não nos conhece. Em segundo, pensamos também na facilidade da operação”, conta.

Para conseguir distribuir o atendimento entre os clientes que compraram o voucher e os que não, quando o período de isolamento acabar, os cupons poderão ser usados até o fim do ano, nas duas unidades da rede em São Paulo, inclusive na hora do almoço na casa do Jardins e também no delivery. 

Com o dinheiro gerado na venda, o restaurante arcou com as despesas previstas até o fim de abril. A partir do próximo mês, os sócios contam com a renda do delivery - implementado durante a quarentena - para gerar fluxo de caixa. 

Ainda que o negócio não seja do setor de alimentação, os cuidados na hora de implantar os vouchers são os mesmos. A clínica OdontoFares, que presta serviços odontológicos, lançou há duas semanas uma campanha para a venda de cupons pré-pagos. Os serviços oferecidos são limpeza dentária (R$ 100) e clareamento caseiro (R$ 350), ambos com desconto de 50%. 

“Eu escolhi esses dois porque são procedimentos que consigo disponibilizar na internet, sem precisar avaliar o paciente presencialmente e que não ocupam muito a nossa agenda. A limpeza não é demorada e, para o clareamento, fazemos apenas o molde e ele é finalizado em casa”, explica a proprietária da clínica, Camila Fares, que criou um site simples para que as vendas ocorram com mais facilidade. 

Embora não tenha definido um limite máximo de vouchers, ela diz estar acompanhando o movimento para que as vendas não fujam do controle. Durante a quarentena, a clínica funciona apenas para emergências, o que corresponde a metade da renda gerada até então. A outra metade ficou por conta dos vouchers vendidos. 

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Já nos primeiros dias da quarentena provocada pelo novo coronavírus, pequenos e médios negócios viram nos vouchers pré-pagos a oportunidade para convidar clientes fiéis a ajudarem em sua sobrevivência econômica. O movimento começou com os restaurantes e logo foi adotado por empresas de outros setores, como a beleza. No caminho, principalmente na área da gastronomia, os vouchers ganharam dimensão com o apoio de grandes marcas a pequenos negócios.

A Apoie um Restaurante, iniciativa da Stella Artois em parceria com a Nestlé e o ChefsClub, por exemplo, já arrecadou mais de R$ 8 milhões em vendas em todo o Brasil. Com atuação restrita a São Paulo, o movimento Gentileza Gera Gentileza, com o apoio de marcas como Jim Bean e StartPay, já destinou mais de R$ 350 mil aos restaurantes participantes.

Um mês após o decreto de isolamento social no Estado de São Paulo, o Estadão PME conversou com empreendedores para entender o impacto dos vouchers em seus negócios. Entre donos de restaurantes, cafeteria e salão de beleza, há quem ache que o voucher pode atrapalhar o serviço futuro (por um dinheiro que o empreendedor já ganhou e gastou) e quem prefere associar a venda do voucher a serviços como aulas.

Raphael Despirite, proprietário do restaurante Marcel, em São Paulo, aderiu às plataformas Apoie um Restaurante e Menu do Amanhã, que oferecem vouchers de bares, restaurantes, confeitarias e cafeterias. “Neste primeiro momento é um negócio de desespero de caixa. O mercado de restaurantes sempre teve o problema seríssimo que é viver de pagar boleto com o que entra no dia anterior. Por isso, a gente fala que em uma semana eles já estavam quebrados”, conta Raphael.

O chef e empreendedor não acredita que o método será suficiente para que os restaurantes, no geral, salvem seus fluxos de caixa. Com o dinheiro dos vouchers - cerca de 100 vendidos no Marcel até agora - Despirite planeja pagar um décimo da folha de pagamento do negócio. “Não é um recurso que vai salvar a vida dos restaurantes, mas é uma ajuda. É uma fonte de receita em um momento que não tem nada entrando.”

Pela dinâmica do restaurante, ele não vê a viabilidade de fazer delivery. Enquanto isso, a estratégia principal é poupar o máximo de recursos e negociar com fornecedores. Os cerca de 30 funcionários tiveram seus contratos suspensos até o fim de maio e foram cadastrados na plataforma Empregador Web, do Ministério do Trabalho, para receber o auxílio do seguro-desemprego, previsto pela medida provisória 936. “O que estamos fazendo é segurar para ver para onde vai o mercado e pensar em como vamos abrir em uma retomada", conta. 

A aposta nos vouchers, para ele, vai além da receita gerada com a própria venda e mira o comportamento do consumidor ao fim da quarentena. “Quando tudo voltar ao normal, o mercado não vai voltar a ser igual, mas uma pessoa vai ao restaurante [por causa do voucher] e gasta um pouco mais, vai com mais gente e acaba tendo um incentivo para voltar”, conta. 

Raphael Despirite, proprietário do restaurante Marcel, em São Paulo, aderiu aos vouchers, mas não acredita que o método será suficiente para que os restaurantes salvem seus fluxos de caixa. Foto: Iara Morselli/Estadão

A visão de que os vouchers não podem ser encarados sozinhos como salvação para os negócios também é compartilhada pela consultora do Sebrae-SP Karyna Muniz. “Por mais que o movimento solidário aconteça, ele não vai suprir o necessário. É fundamental que os empreendedores desenvolvam competências para negociar e busquem ter caixa.”

Entre os lugares que já começaram a trabalhar com os vouchers, os que se saíram melhor foram aqueles que já possuíam um relacionamento forte com os clientes, aponta Karine. Segundo ela, a confiança tem sido necessária para driblar um trauma do brasileiro em relação ao método.

“Não faz muito tempo a gente teve um boom de plataformas de cupons que nem sempre ofereciam o atendimento que havia sido vendido. Não é o mesmo cenário, mas tem um histórico de trauma. Acho difícil que um consumidor que não conhece o estabelecimento compre um voucher. Que garantia ele tem que o lugar não vai fechar?”, destaca.

Como implantar os vouchers

Na hora de adotar o voucher, uma das preocupações dos empreendedores é garantir que vão conseguir prestar os serviços futuramente com qualidade e sem prejudicar a entrada de novas receitas, vindas dos clientes que não compraram cupons. “O voucher é uma antecipação de recebíveis, então tem que tomar cuidado em como você vai fornecer um produto que já estará pago há muito tempo”, destaca Isabela Raposeiras, proprietária da cafeteria Coffee Lab.

Além de ter adotado o delivery em tempos de quarentena, o local também se cadastrou na plataforma Apoie um Restaurante. Para isso, o primeiro passo foi definir o que seria oferecido aos compradores dos cupons. “Tem que escolher produtos específicos, deixar livre (a escolha) pode te dar problema operacional e de fluxo de caixa. Uma boa escolha são produtos que têm CMV (custo de mercadoria vendida) mais baixo e que são operacionalmente mais fáceis de produzir. Se você tiver serviço a oferecer, ótimo, como no nosso caso, que temos degustações, pacotes de café e aulas”, explica Isabela.

Foi por conta dessa preocupação que o proprietário da unidade Morumbi da rede de salões Jacques Janine, Roger Ajouri, não aderiu aos vouchers. “Acho que é empurrar o problema para frente. Você vai vender e depois vai executar. Se ganhou dinheiro agora, não vai ganhar lá na frente. Eu vi muitos salões que adotaram, mas que não tiveram tanto retorno. Quem comprou o fez mais pra ajudar do que pela atração em si”, afirma. Enquanto isso, o salão aposta no delivery de tinta para os cabelos como forma de gerar fluxo de caixa. 

Gabriel Fullen, sócio do Oguru, limitou o número de vouchers vendidos pelo restaurante de comida japonesa para não comprometer o atendimento ao final da quarentena. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Entre quem apostou no método dos vouchers, limitar a quantidade foi uma decisão para não comprometer a qualidade do serviço lá na frente. É o caso do Oguru, restaurante de comida japonesa que vendeu mais de 5 mil cupons (R$ 119 cada um) durante quatro dias e encerrou as vendas.

Um dos proprietários da casa, Gabriel Fullen explica que outra decisão foi a escolha do rodízio como produto oferecido. “Em primeiro lugar, pensamos na atratividade. Somos conhecidos pelo nosso rodízio, então vamos chamar a atenção dos nossos clientes e de quem não nos conhece. Em segundo, pensamos também na facilidade da operação”, conta.

Para conseguir distribuir o atendimento entre os clientes que compraram o voucher e os que não, quando o período de isolamento acabar, os cupons poderão ser usados até o fim do ano, nas duas unidades da rede em São Paulo, inclusive na hora do almoço na casa do Jardins e também no delivery. 

Com o dinheiro gerado na venda, o restaurante arcou com as despesas previstas até o fim de abril. A partir do próximo mês, os sócios contam com a renda do delivery - implementado durante a quarentena - para gerar fluxo de caixa. 

Ainda que o negócio não seja do setor de alimentação, os cuidados na hora de implantar os vouchers são os mesmos. A clínica OdontoFares, que presta serviços odontológicos, lançou há duas semanas uma campanha para a venda de cupons pré-pagos. Os serviços oferecidos são limpeza dentária (R$ 100) e clareamento caseiro (R$ 350), ambos com desconto de 50%. 

“Eu escolhi esses dois porque são procedimentos que consigo disponibilizar na internet, sem precisar avaliar o paciente presencialmente e que não ocupam muito a nossa agenda. A limpeza não é demorada e, para o clareamento, fazemos apenas o molde e ele é finalizado em casa”, explica a proprietária da clínica, Camila Fares, que criou um site simples para que as vendas ocorram com mais facilidade. 

Embora não tenha definido um limite máximo de vouchers, ela diz estar acompanhando o movimento para que as vendas não fujam do controle. Durante a quarentena, a clínica funciona apenas para emergências, o que corresponde a metade da renda gerada até então. A outra metade ficou por conta dos vouchers vendidos. 

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Já nos primeiros dias da quarentena provocada pelo novo coronavírus, pequenos e médios negócios viram nos vouchers pré-pagos a oportunidade para convidar clientes fiéis a ajudarem em sua sobrevivência econômica. O movimento começou com os restaurantes e logo foi adotado por empresas de outros setores, como a beleza. No caminho, principalmente na área da gastronomia, os vouchers ganharam dimensão com o apoio de grandes marcas a pequenos negócios.

A Apoie um Restaurante, iniciativa da Stella Artois em parceria com a Nestlé e o ChefsClub, por exemplo, já arrecadou mais de R$ 8 milhões em vendas em todo o Brasil. Com atuação restrita a São Paulo, o movimento Gentileza Gera Gentileza, com o apoio de marcas como Jim Bean e StartPay, já destinou mais de R$ 350 mil aos restaurantes participantes.

Um mês após o decreto de isolamento social no Estado de São Paulo, o Estadão PME conversou com empreendedores para entender o impacto dos vouchers em seus negócios. Entre donos de restaurantes, cafeteria e salão de beleza, há quem ache que o voucher pode atrapalhar o serviço futuro (por um dinheiro que o empreendedor já ganhou e gastou) e quem prefere associar a venda do voucher a serviços como aulas.

Raphael Despirite, proprietário do restaurante Marcel, em São Paulo, aderiu às plataformas Apoie um Restaurante e Menu do Amanhã, que oferecem vouchers de bares, restaurantes, confeitarias e cafeterias. “Neste primeiro momento é um negócio de desespero de caixa. O mercado de restaurantes sempre teve o problema seríssimo que é viver de pagar boleto com o que entra no dia anterior. Por isso, a gente fala que em uma semana eles já estavam quebrados”, conta Raphael.

O chef e empreendedor não acredita que o método será suficiente para que os restaurantes, no geral, salvem seus fluxos de caixa. Com o dinheiro dos vouchers - cerca de 100 vendidos no Marcel até agora - Despirite planeja pagar um décimo da folha de pagamento do negócio. “Não é um recurso que vai salvar a vida dos restaurantes, mas é uma ajuda. É uma fonte de receita em um momento que não tem nada entrando.”

Pela dinâmica do restaurante, ele não vê a viabilidade de fazer delivery. Enquanto isso, a estratégia principal é poupar o máximo de recursos e negociar com fornecedores. Os cerca de 30 funcionários tiveram seus contratos suspensos até o fim de maio e foram cadastrados na plataforma Empregador Web, do Ministério do Trabalho, para receber o auxílio do seguro-desemprego, previsto pela medida provisória 936. “O que estamos fazendo é segurar para ver para onde vai o mercado e pensar em como vamos abrir em uma retomada", conta. 

A aposta nos vouchers, para ele, vai além da receita gerada com a própria venda e mira o comportamento do consumidor ao fim da quarentena. “Quando tudo voltar ao normal, o mercado não vai voltar a ser igual, mas uma pessoa vai ao restaurante [por causa do voucher] e gasta um pouco mais, vai com mais gente e acaba tendo um incentivo para voltar”, conta. 

Raphael Despirite, proprietário do restaurante Marcel, em São Paulo, aderiu aos vouchers, mas não acredita que o método será suficiente para que os restaurantes salvem seus fluxos de caixa. Foto: Iara Morselli/Estadão

A visão de que os vouchers não podem ser encarados sozinhos como salvação para os negócios também é compartilhada pela consultora do Sebrae-SP Karyna Muniz. “Por mais que o movimento solidário aconteça, ele não vai suprir o necessário. É fundamental que os empreendedores desenvolvam competências para negociar e busquem ter caixa.”

Entre os lugares que já começaram a trabalhar com os vouchers, os que se saíram melhor foram aqueles que já possuíam um relacionamento forte com os clientes, aponta Karine. Segundo ela, a confiança tem sido necessária para driblar um trauma do brasileiro em relação ao método.

“Não faz muito tempo a gente teve um boom de plataformas de cupons que nem sempre ofereciam o atendimento que havia sido vendido. Não é o mesmo cenário, mas tem um histórico de trauma. Acho difícil que um consumidor que não conhece o estabelecimento compre um voucher. Que garantia ele tem que o lugar não vai fechar?”, destaca.

Como implantar os vouchers

Na hora de adotar o voucher, uma das preocupações dos empreendedores é garantir que vão conseguir prestar os serviços futuramente com qualidade e sem prejudicar a entrada de novas receitas, vindas dos clientes que não compraram cupons. “O voucher é uma antecipação de recebíveis, então tem que tomar cuidado em como você vai fornecer um produto que já estará pago há muito tempo”, destaca Isabela Raposeiras, proprietária da cafeteria Coffee Lab.

Além de ter adotado o delivery em tempos de quarentena, o local também se cadastrou na plataforma Apoie um Restaurante. Para isso, o primeiro passo foi definir o que seria oferecido aos compradores dos cupons. “Tem que escolher produtos específicos, deixar livre (a escolha) pode te dar problema operacional e de fluxo de caixa. Uma boa escolha são produtos que têm CMV (custo de mercadoria vendida) mais baixo e que são operacionalmente mais fáceis de produzir. Se você tiver serviço a oferecer, ótimo, como no nosso caso, que temos degustações, pacotes de café e aulas”, explica Isabela.

Foi por conta dessa preocupação que o proprietário da unidade Morumbi da rede de salões Jacques Janine, Roger Ajouri, não aderiu aos vouchers. “Acho que é empurrar o problema para frente. Você vai vender e depois vai executar. Se ganhou dinheiro agora, não vai ganhar lá na frente. Eu vi muitos salões que adotaram, mas que não tiveram tanto retorno. Quem comprou o fez mais pra ajudar do que pela atração em si”, afirma. Enquanto isso, o salão aposta no delivery de tinta para os cabelos como forma de gerar fluxo de caixa. 

Gabriel Fullen, sócio do Oguru, limitou o número de vouchers vendidos pelo restaurante de comida japonesa para não comprometer o atendimento ao final da quarentena. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Entre quem apostou no método dos vouchers, limitar a quantidade foi uma decisão para não comprometer a qualidade do serviço lá na frente. É o caso do Oguru, restaurante de comida japonesa que vendeu mais de 5 mil cupons (R$ 119 cada um) durante quatro dias e encerrou as vendas.

Um dos proprietários da casa, Gabriel Fullen explica que outra decisão foi a escolha do rodízio como produto oferecido. “Em primeiro lugar, pensamos na atratividade. Somos conhecidos pelo nosso rodízio, então vamos chamar a atenção dos nossos clientes e de quem não nos conhece. Em segundo, pensamos também na facilidade da operação”, conta.

Para conseguir distribuir o atendimento entre os clientes que compraram o voucher e os que não, quando o período de isolamento acabar, os cupons poderão ser usados até o fim do ano, nas duas unidades da rede em São Paulo, inclusive na hora do almoço na casa do Jardins e também no delivery. 

Com o dinheiro gerado na venda, o restaurante arcou com as despesas previstas até o fim de abril. A partir do próximo mês, os sócios contam com a renda do delivery - implementado durante a quarentena - para gerar fluxo de caixa. 

Ainda que o negócio não seja do setor de alimentação, os cuidados na hora de implantar os vouchers são os mesmos. A clínica OdontoFares, que presta serviços odontológicos, lançou há duas semanas uma campanha para a venda de cupons pré-pagos. Os serviços oferecidos são limpeza dentária (R$ 100) e clareamento caseiro (R$ 350), ambos com desconto de 50%. 

“Eu escolhi esses dois porque são procedimentos que consigo disponibilizar na internet, sem precisar avaliar o paciente presencialmente e que não ocupam muito a nossa agenda. A limpeza não é demorada e, para o clareamento, fazemos apenas o molde e ele é finalizado em casa”, explica a proprietária da clínica, Camila Fares, que criou um site simples para que as vendas ocorram com mais facilidade. 

Embora não tenha definido um limite máximo de vouchers, ela diz estar acompanhando o movimento para que as vendas não fujam do controle. Durante a quarentena, a clínica funciona apenas para emergências, o que corresponde a metade da renda gerada até então. A outra metade ficou por conta dos vouchers vendidos. 

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Já nos primeiros dias da quarentena provocada pelo novo coronavírus, pequenos e médios negócios viram nos vouchers pré-pagos a oportunidade para convidar clientes fiéis a ajudarem em sua sobrevivência econômica. O movimento começou com os restaurantes e logo foi adotado por empresas de outros setores, como a beleza. No caminho, principalmente na área da gastronomia, os vouchers ganharam dimensão com o apoio de grandes marcas a pequenos negócios.

A Apoie um Restaurante, iniciativa da Stella Artois em parceria com a Nestlé e o ChefsClub, por exemplo, já arrecadou mais de R$ 8 milhões em vendas em todo o Brasil. Com atuação restrita a São Paulo, o movimento Gentileza Gera Gentileza, com o apoio de marcas como Jim Bean e StartPay, já destinou mais de R$ 350 mil aos restaurantes participantes.

Um mês após o decreto de isolamento social no Estado de São Paulo, o Estadão PME conversou com empreendedores para entender o impacto dos vouchers em seus negócios. Entre donos de restaurantes, cafeteria e salão de beleza, há quem ache que o voucher pode atrapalhar o serviço futuro (por um dinheiro que o empreendedor já ganhou e gastou) e quem prefere associar a venda do voucher a serviços como aulas.

Raphael Despirite, proprietário do restaurante Marcel, em São Paulo, aderiu às plataformas Apoie um Restaurante e Menu do Amanhã, que oferecem vouchers de bares, restaurantes, confeitarias e cafeterias. “Neste primeiro momento é um negócio de desespero de caixa. O mercado de restaurantes sempre teve o problema seríssimo que é viver de pagar boleto com o que entra no dia anterior. Por isso, a gente fala que em uma semana eles já estavam quebrados”, conta Raphael.

O chef e empreendedor não acredita que o método será suficiente para que os restaurantes, no geral, salvem seus fluxos de caixa. Com o dinheiro dos vouchers - cerca de 100 vendidos no Marcel até agora - Despirite planeja pagar um décimo da folha de pagamento do negócio. “Não é um recurso que vai salvar a vida dos restaurantes, mas é uma ajuda. É uma fonte de receita em um momento que não tem nada entrando.”

Pela dinâmica do restaurante, ele não vê a viabilidade de fazer delivery. Enquanto isso, a estratégia principal é poupar o máximo de recursos e negociar com fornecedores. Os cerca de 30 funcionários tiveram seus contratos suspensos até o fim de maio e foram cadastrados na plataforma Empregador Web, do Ministério do Trabalho, para receber o auxílio do seguro-desemprego, previsto pela medida provisória 936. “O que estamos fazendo é segurar para ver para onde vai o mercado e pensar em como vamos abrir em uma retomada", conta. 

A aposta nos vouchers, para ele, vai além da receita gerada com a própria venda e mira o comportamento do consumidor ao fim da quarentena. “Quando tudo voltar ao normal, o mercado não vai voltar a ser igual, mas uma pessoa vai ao restaurante [por causa do voucher] e gasta um pouco mais, vai com mais gente e acaba tendo um incentivo para voltar”, conta. 

Raphael Despirite, proprietário do restaurante Marcel, em São Paulo, aderiu aos vouchers, mas não acredita que o método será suficiente para que os restaurantes salvem seus fluxos de caixa. Foto: Iara Morselli/Estadão

A visão de que os vouchers não podem ser encarados sozinhos como salvação para os negócios também é compartilhada pela consultora do Sebrae-SP Karyna Muniz. “Por mais que o movimento solidário aconteça, ele não vai suprir o necessário. É fundamental que os empreendedores desenvolvam competências para negociar e busquem ter caixa.”

Entre os lugares que já começaram a trabalhar com os vouchers, os que se saíram melhor foram aqueles que já possuíam um relacionamento forte com os clientes, aponta Karine. Segundo ela, a confiança tem sido necessária para driblar um trauma do brasileiro em relação ao método.

“Não faz muito tempo a gente teve um boom de plataformas de cupons que nem sempre ofereciam o atendimento que havia sido vendido. Não é o mesmo cenário, mas tem um histórico de trauma. Acho difícil que um consumidor que não conhece o estabelecimento compre um voucher. Que garantia ele tem que o lugar não vai fechar?”, destaca.

Como implantar os vouchers

Na hora de adotar o voucher, uma das preocupações dos empreendedores é garantir que vão conseguir prestar os serviços futuramente com qualidade e sem prejudicar a entrada de novas receitas, vindas dos clientes que não compraram cupons. “O voucher é uma antecipação de recebíveis, então tem que tomar cuidado em como você vai fornecer um produto que já estará pago há muito tempo”, destaca Isabela Raposeiras, proprietária da cafeteria Coffee Lab.

Além de ter adotado o delivery em tempos de quarentena, o local também se cadastrou na plataforma Apoie um Restaurante. Para isso, o primeiro passo foi definir o que seria oferecido aos compradores dos cupons. “Tem que escolher produtos específicos, deixar livre (a escolha) pode te dar problema operacional e de fluxo de caixa. Uma boa escolha são produtos que têm CMV (custo de mercadoria vendida) mais baixo e que são operacionalmente mais fáceis de produzir. Se você tiver serviço a oferecer, ótimo, como no nosso caso, que temos degustações, pacotes de café e aulas”, explica Isabela.

Foi por conta dessa preocupação que o proprietário da unidade Morumbi da rede de salões Jacques Janine, Roger Ajouri, não aderiu aos vouchers. “Acho que é empurrar o problema para frente. Você vai vender e depois vai executar. Se ganhou dinheiro agora, não vai ganhar lá na frente. Eu vi muitos salões que adotaram, mas que não tiveram tanto retorno. Quem comprou o fez mais pra ajudar do que pela atração em si”, afirma. Enquanto isso, o salão aposta no delivery de tinta para os cabelos como forma de gerar fluxo de caixa. 

Gabriel Fullen, sócio do Oguru, limitou o número de vouchers vendidos pelo restaurante de comida japonesa para não comprometer o atendimento ao final da quarentena. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Entre quem apostou no método dos vouchers, limitar a quantidade foi uma decisão para não comprometer a qualidade do serviço lá na frente. É o caso do Oguru, restaurante de comida japonesa que vendeu mais de 5 mil cupons (R$ 119 cada um) durante quatro dias e encerrou as vendas.

Um dos proprietários da casa, Gabriel Fullen explica que outra decisão foi a escolha do rodízio como produto oferecido. “Em primeiro lugar, pensamos na atratividade. Somos conhecidos pelo nosso rodízio, então vamos chamar a atenção dos nossos clientes e de quem não nos conhece. Em segundo, pensamos também na facilidade da operação”, conta.

Para conseguir distribuir o atendimento entre os clientes que compraram o voucher e os que não, quando o período de isolamento acabar, os cupons poderão ser usados até o fim do ano, nas duas unidades da rede em São Paulo, inclusive na hora do almoço na casa do Jardins e também no delivery. 

Com o dinheiro gerado na venda, o restaurante arcou com as despesas previstas até o fim de abril. A partir do próximo mês, os sócios contam com a renda do delivery - implementado durante a quarentena - para gerar fluxo de caixa. 

Ainda que o negócio não seja do setor de alimentação, os cuidados na hora de implantar os vouchers são os mesmos. A clínica OdontoFares, que presta serviços odontológicos, lançou há duas semanas uma campanha para a venda de cupons pré-pagos. Os serviços oferecidos são limpeza dentária (R$ 100) e clareamento caseiro (R$ 350), ambos com desconto de 50%. 

“Eu escolhi esses dois porque são procedimentos que consigo disponibilizar na internet, sem precisar avaliar o paciente presencialmente e que não ocupam muito a nossa agenda. A limpeza não é demorada e, para o clareamento, fazemos apenas o molde e ele é finalizado em casa”, explica a proprietária da clínica, Camila Fares, que criou um site simples para que as vendas ocorram com mais facilidade. 

Embora não tenha definido um limite máximo de vouchers, ela diz estar acompanhando o movimento para que as vendas não fujam do controle. Durante a quarentena, a clínica funciona apenas para emergências, o que corresponde a metade da renda gerada até então. A outra metade ficou por conta dos vouchers vendidos. 

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