67,5% dos brasileiros temem agressão física em razão de escolhas políticas ou partidárias


Pesquisa inédita de vitimização feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Raps por meio do Datafolha mostra tamanho violência política no País

Por Marcelo Godoy
Atualização:

O medo de ser alvo de violência política nas eleições deste ano atinge a maioria da população brasileira, segundo a pesquisa Violência e Democracia: panorama brasileiro pré-eleições de 2022, uma parceria entre a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Os dados foram coletados pelo Datafolha.

De acordo com o levantamento, 67,5% dos entrevistados têm muito medo (49,9%) ou um pouco de medo (17,6%) de ser vítima de agressões físicas em razão de escolhas políticas ou partidárias. Apenas 32,5% dos ouvidos não temem ser atingidos pela violência no pleito deste ano. A amostra indica que 113,4 milhões de brasileiros têm medo de sofrerem agressões físicas. Ao mesmo tempo, a pesquisa verificou que 3,2% dos brasileiros disseram ter sido vítimas de ameaças por razões políticas e 0,8% de violência física.

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Rafael Silva Oliveira, de 22 anos, bolsonarista que matou Benedito Cardoso dos Santos, apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Confresa (MT), com ao menos 15 facadas durante uma briga Foto: Polícia Civil-MT

“É difícil falar em eleições livres e justas com este nível de violência. As eleições livres estão ameaçadas não pelas razões que (o presidente Jair) Bolsonaro suspeita — as urnas eletrônicas —, mas pela violência política”, afirmou o presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima. Para a cientista política Mônica Sodré, do Raps, a violência de matriz política – medida pela primeira vez – afeta milhões de pessoas. “É um indicador que preocupa. Temos uma população amedrontada.”

A sondagem mostra, ainda, que o medo de sofrer uma ameaça diante do clima de escalada da violência política no País também é alto. Segundo a pesquisa, 45,2% têm muito medo de sofrer uma ameaça em razão de escolhas políticas ou partidárias e 17,4% dos ouvidos dizem ter pouco medo. Apenas 37,3% afirmam não temer ameaças. Com isso, pela projeção, o temor de ameaça atinge 105,2 milhões de brasileiros (62,6%).

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Tensão

O clima de violência levou à entidade internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) a fazer um apelo aos representantes das forças políticas do País em favor da moderação. O pedido ocorreu após o registro de dois casos extremos neste ano: os assassinatos do dirigente petista e guarda municipal Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR), e do trabalhador rural e eleitor do PT Benedito Cardoso dos Santos, em Confresa (MT). Ambos foram mortos por eleitores de Bolsonaro.

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Além desses crimes, outros episódios de violência e ameaça foram registrados durante a campanha envolvendo petistas e bolsonaristas, como ataques com drones e com bombas com fezes em Minas e no Rio. Houve ainda ataques à imprensa, como o praticado pelo deputado bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos-SP) contra a jornalista Vera Magalhães.

Para Lima, as ocorrências estão relacionadas a outro dado importante da pesquisa: o aumento do chamado índice de agressividade autoritária. Em 2017, pesquisa do fórum mostrou que o indicador estava em 6,5 pontos no Brasil, em uma escala internacional de 0 a 10; em 2022, avançou para 7,11.

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O levantamento foi realizado entre os dias 3 e 13 de agosto e ouviu 2,1 mil em todo o País. Dos entrevistados, 3,2% dizem ter sofrido alguma ameaça por causa de suas escolhas políticas ou partidárias, o que, em projeção na população, indica 5,3 milhões de brasileiros. Além disso, 1,4 milhão de brasileiros afirmou ter sido vítima de violência física no começo da campanha eleitoral deste ano — 0,8% da população.

O total de pessoas ameaçadas por motivos partidários ou eleitorais ficou atrás apenas dos que se disseram vítimas de golpe ou que perderam dinheiro por meio do celular (9,2 milhões) e das vítimas de furto ou roubo de telefone (9,1 milhões). “A radicalização da violência política está sequestrando a agenda política e impedindo que as pessoas exerçam sua cidadania”, disse Lima.

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Democracia

O apoio à democracia é alto no Brasil. Segundo a pesquisa, quase 90% dos entrevistados concordam com a ideia de que o vencedor na eleição de outubro deve ser empossado em janeiro de 2023. Ao todo, 89,3% dos entrevistados concordam ainda com a frase: “O povo escolher seus líderes em eleições livres e transparentes é essencial para a democracia”.

Outros 88,5% afirmam concordar ou concordar totalmente com a afirmação segundo a qual é essencial para a democracia que o povo tenha voz ativa e participe das principais decisões governamentais. O índice de propensão à democracia ficou em 7,25, o que é considerado alto pelos organizadores da pesquisa. Eles afirmam ainda que mais da metade dos entrevistados marcaram índice acima de 7 pontos. Para Mônica Sodré, a despeito dos ataques às instituições nos últimos anos, a população está dizendo que confia na democracia.

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Gleisi Hoffmann (PT) comparece ao funeral de Marcelo Arruda, petista morto por um bolsonarista em Foz do Iguaçu (PT), em julho deste ano.  Foto: Christian Rizzi/Reuters

Quando se verifica a divisão dos entrevistados por renda, a pesquisa mostra que o apoio à democracia é maior entre os que têm maior renda (7,82). Entre os que ganham até dois salários mínimos, o apoio cai para 7,17, abaixo da média nacional. “Indivíduos da classe A registram uma média de propensão à democracia de 8,02 pontos, contra 6,86 pontos dos indivíduos das classes D/E, que são os que apresentam menor propensão à democracia”, afirmaram os pesquisadores.

Para eles, “a violência e o medo são chaves analíticas fundamentais para compreender a sociedade brasileira atual”. De acordo com a conclusão dos organizadores do trabalho, o Brasil tem observado, desde 2018, queda no número de mortes violentas intencionais. “Porém, para além dessa queda dos homicídios, inúmeros outros dados reforçam que vivemos em uma sociedade violenta e com medo. E esse medo não parece descolado da realidade.”

O medo de ser alvo de violência política nas eleições deste ano atinge a maioria da população brasileira, segundo a pesquisa Violência e Democracia: panorama brasileiro pré-eleições de 2022, uma parceria entre a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Os dados foram coletados pelo Datafolha.

De acordo com o levantamento, 67,5% dos entrevistados têm muito medo (49,9%) ou um pouco de medo (17,6%) de ser vítima de agressões físicas em razão de escolhas políticas ou partidárias. Apenas 32,5% dos ouvidos não temem ser atingidos pela violência no pleito deste ano. A amostra indica que 113,4 milhões de brasileiros têm medo de sofrerem agressões físicas. Ao mesmo tempo, a pesquisa verificou que 3,2% dos brasileiros disseram ter sido vítimas de ameaças por razões políticas e 0,8% de violência física.

Rafael Silva Oliveira, de 22 anos, bolsonarista que matou Benedito Cardoso dos Santos, apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Confresa (MT), com ao menos 15 facadas durante uma briga Foto: Polícia Civil-MT

“É difícil falar em eleições livres e justas com este nível de violência. As eleições livres estão ameaçadas não pelas razões que (o presidente Jair) Bolsonaro suspeita — as urnas eletrônicas —, mas pela violência política”, afirmou o presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima. Para a cientista política Mônica Sodré, do Raps, a violência de matriz política – medida pela primeira vez – afeta milhões de pessoas. “É um indicador que preocupa. Temos uma população amedrontada.”

A sondagem mostra, ainda, que o medo de sofrer uma ameaça diante do clima de escalada da violência política no País também é alto. Segundo a pesquisa, 45,2% têm muito medo de sofrer uma ameaça em razão de escolhas políticas ou partidárias e 17,4% dos ouvidos dizem ter pouco medo. Apenas 37,3% afirmam não temer ameaças. Com isso, pela projeção, o temor de ameaça atinge 105,2 milhões de brasileiros (62,6%).

Tensão

O clima de violência levou à entidade internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) a fazer um apelo aos representantes das forças políticas do País em favor da moderação. O pedido ocorreu após o registro de dois casos extremos neste ano: os assassinatos do dirigente petista e guarda municipal Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR), e do trabalhador rural e eleitor do PT Benedito Cardoso dos Santos, em Confresa (MT). Ambos foram mortos por eleitores de Bolsonaro.

Além desses crimes, outros episódios de violência e ameaça foram registrados durante a campanha envolvendo petistas e bolsonaristas, como ataques com drones e com bombas com fezes em Minas e no Rio. Houve ainda ataques à imprensa, como o praticado pelo deputado bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos-SP) contra a jornalista Vera Magalhães.

Para Lima, as ocorrências estão relacionadas a outro dado importante da pesquisa: o aumento do chamado índice de agressividade autoritária. Em 2017, pesquisa do fórum mostrou que o indicador estava em 6,5 pontos no Brasil, em uma escala internacional de 0 a 10; em 2022, avançou para 7,11.

O levantamento foi realizado entre os dias 3 e 13 de agosto e ouviu 2,1 mil em todo o País. Dos entrevistados, 3,2% dizem ter sofrido alguma ameaça por causa de suas escolhas políticas ou partidárias, o que, em projeção na população, indica 5,3 milhões de brasileiros. Além disso, 1,4 milhão de brasileiros afirmou ter sido vítima de violência física no começo da campanha eleitoral deste ano — 0,8% da população.

O total de pessoas ameaçadas por motivos partidários ou eleitorais ficou atrás apenas dos que se disseram vítimas de golpe ou que perderam dinheiro por meio do celular (9,2 milhões) e das vítimas de furto ou roubo de telefone (9,1 milhões). “A radicalização da violência política está sequestrando a agenda política e impedindo que as pessoas exerçam sua cidadania”, disse Lima.

Democracia

O apoio à democracia é alto no Brasil. Segundo a pesquisa, quase 90% dos entrevistados concordam com a ideia de que o vencedor na eleição de outubro deve ser empossado em janeiro de 2023. Ao todo, 89,3% dos entrevistados concordam ainda com a frase: “O povo escolher seus líderes em eleições livres e transparentes é essencial para a democracia”.

Outros 88,5% afirmam concordar ou concordar totalmente com a afirmação segundo a qual é essencial para a democracia que o povo tenha voz ativa e participe das principais decisões governamentais. O índice de propensão à democracia ficou em 7,25, o que é considerado alto pelos organizadores da pesquisa. Eles afirmam ainda que mais da metade dos entrevistados marcaram índice acima de 7 pontos. Para Mônica Sodré, a despeito dos ataques às instituições nos últimos anos, a população está dizendo que confia na democracia.

Gleisi Hoffmann (PT) comparece ao funeral de Marcelo Arruda, petista morto por um bolsonarista em Foz do Iguaçu (PT), em julho deste ano.  Foto: Christian Rizzi/Reuters

Quando se verifica a divisão dos entrevistados por renda, a pesquisa mostra que o apoio à democracia é maior entre os que têm maior renda (7,82). Entre os que ganham até dois salários mínimos, o apoio cai para 7,17, abaixo da média nacional. “Indivíduos da classe A registram uma média de propensão à democracia de 8,02 pontos, contra 6,86 pontos dos indivíduos das classes D/E, que são os que apresentam menor propensão à democracia”, afirmaram os pesquisadores.

Para eles, “a violência e o medo são chaves analíticas fundamentais para compreender a sociedade brasileira atual”. De acordo com a conclusão dos organizadores do trabalho, o Brasil tem observado, desde 2018, queda no número de mortes violentas intencionais. “Porém, para além dessa queda dos homicídios, inúmeros outros dados reforçam que vivemos em uma sociedade violenta e com medo. E esse medo não parece descolado da realidade.”

O medo de ser alvo de violência política nas eleições deste ano atinge a maioria da população brasileira, segundo a pesquisa Violência e Democracia: panorama brasileiro pré-eleições de 2022, uma parceria entre a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Os dados foram coletados pelo Datafolha.

De acordo com o levantamento, 67,5% dos entrevistados têm muito medo (49,9%) ou um pouco de medo (17,6%) de ser vítima de agressões físicas em razão de escolhas políticas ou partidárias. Apenas 32,5% dos ouvidos não temem ser atingidos pela violência no pleito deste ano. A amostra indica que 113,4 milhões de brasileiros têm medo de sofrerem agressões físicas. Ao mesmo tempo, a pesquisa verificou que 3,2% dos brasileiros disseram ter sido vítimas de ameaças por razões políticas e 0,8% de violência física.

Rafael Silva Oliveira, de 22 anos, bolsonarista que matou Benedito Cardoso dos Santos, apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Confresa (MT), com ao menos 15 facadas durante uma briga Foto: Polícia Civil-MT

“É difícil falar em eleições livres e justas com este nível de violência. As eleições livres estão ameaçadas não pelas razões que (o presidente Jair) Bolsonaro suspeita — as urnas eletrônicas —, mas pela violência política”, afirmou o presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima. Para a cientista política Mônica Sodré, do Raps, a violência de matriz política – medida pela primeira vez – afeta milhões de pessoas. “É um indicador que preocupa. Temos uma população amedrontada.”

A sondagem mostra, ainda, que o medo de sofrer uma ameaça diante do clima de escalada da violência política no País também é alto. Segundo a pesquisa, 45,2% têm muito medo de sofrer uma ameaça em razão de escolhas políticas ou partidárias e 17,4% dos ouvidos dizem ter pouco medo. Apenas 37,3% afirmam não temer ameaças. Com isso, pela projeção, o temor de ameaça atinge 105,2 milhões de brasileiros (62,6%).

Tensão

O clima de violência levou à entidade internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) a fazer um apelo aos representantes das forças políticas do País em favor da moderação. O pedido ocorreu após o registro de dois casos extremos neste ano: os assassinatos do dirigente petista e guarda municipal Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR), e do trabalhador rural e eleitor do PT Benedito Cardoso dos Santos, em Confresa (MT). Ambos foram mortos por eleitores de Bolsonaro.

Além desses crimes, outros episódios de violência e ameaça foram registrados durante a campanha envolvendo petistas e bolsonaristas, como ataques com drones e com bombas com fezes em Minas e no Rio. Houve ainda ataques à imprensa, como o praticado pelo deputado bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos-SP) contra a jornalista Vera Magalhães.

Para Lima, as ocorrências estão relacionadas a outro dado importante da pesquisa: o aumento do chamado índice de agressividade autoritária. Em 2017, pesquisa do fórum mostrou que o indicador estava em 6,5 pontos no Brasil, em uma escala internacional de 0 a 10; em 2022, avançou para 7,11.

O levantamento foi realizado entre os dias 3 e 13 de agosto e ouviu 2,1 mil em todo o País. Dos entrevistados, 3,2% dizem ter sofrido alguma ameaça por causa de suas escolhas políticas ou partidárias, o que, em projeção na população, indica 5,3 milhões de brasileiros. Além disso, 1,4 milhão de brasileiros afirmou ter sido vítima de violência física no começo da campanha eleitoral deste ano — 0,8% da população.

O total de pessoas ameaçadas por motivos partidários ou eleitorais ficou atrás apenas dos que se disseram vítimas de golpe ou que perderam dinheiro por meio do celular (9,2 milhões) e das vítimas de furto ou roubo de telefone (9,1 milhões). “A radicalização da violência política está sequestrando a agenda política e impedindo que as pessoas exerçam sua cidadania”, disse Lima.

Democracia

O apoio à democracia é alto no Brasil. Segundo a pesquisa, quase 90% dos entrevistados concordam com a ideia de que o vencedor na eleição de outubro deve ser empossado em janeiro de 2023. Ao todo, 89,3% dos entrevistados concordam ainda com a frase: “O povo escolher seus líderes em eleições livres e transparentes é essencial para a democracia”.

Outros 88,5% afirmam concordar ou concordar totalmente com a afirmação segundo a qual é essencial para a democracia que o povo tenha voz ativa e participe das principais decisões governamentais. O índice de propensão à democracia ficou em 7,25, o que é considerado alto pelos organizadores da pesquisa. Eles afirmam ainda que mais da metade dos entrevistados marcaram índice acima de 7 pontos. Para Mônica Sodré, a despeito dos ataques às instituições nos últimos anos, a população está dizendo que confia na democracia.

Gleisi Hoffmann (PT) comparece ao funeral de Marcelo Arruda, petista morto por um bolsonarista em Foz do Iguaçu (PT), em julho deste ano.  Foto: Christian Rizzi/Reuters

Quando se verifica a divisão dos entrevistados por renda, a pesquisa mostra que o apoio à democracia é maior entre os que têm maior renda (7,82). Entre os que ganham até dois salários mínimos, o apoio cai para 7,17, abaixo da média nacional. “Indivíduos da classe A registram uma média de propensão à democracia de 8,02 pontos, contra 6,86 pontos dos indivíduos das classes D/E, que são os que apresentam menor propensão à democracia”, afirmaram os pesquisadores.

Para eles, “a violência e o medo são chaves analíticas fundamentais para compreender a sociedade brasileira atual”. De acordo com a conclusão dos organizadores do trabalho, o Brasil tem observado, desde 2018, queda no número de mortes violentas intencionais. “Porém, para além dessa queda dos homicídios, inúmeros outros dados reforçam que vivemos em uma sociedade violenta e com medo. E esse medo não parece descolado da realidade.”

O medo de ser alvo de violência política nas eleições deste ano atinge a maioria da população brasileira, segundo a pesquisa Violência e Democracia: panorama brasileiro pré-eleições de 2022, uma parceria entre a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Os dados foram coletados pelo Datafolha.

De acordo com o levantamento, 67,5% dos entrevistados têm muito medo (49,9%) ou um pouco de medo (17,6%) de ser vítima de agressões físicas em razão de escolhas políticas ou partidárias. Apenas 32,5% dos ouvidos não temem ser atingidos pela violência no pleito deste ano. A amostra indica que 113,4 milhões de brasileiros têm medo de sofrerem agressões físicas. Ao mesmo tempo, a pesquisa verificou que 3,2% dos brasileiros disseram ter sido vítimas de ameaças por razões políticas e 0,8% de violência física.

Rafael Silva Oliveira, de 22 anos, bolsonarista que matou Benedito Cardoso dos Santos, apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Confresa (MT), com ao menos 15 facadas durante uma briga Foto: Polícia Civil-MT

“É difícil falar em eleições livres e justas com este nível de violência. As eleições livres estão ameaçadas não pelas razões que (o presidente Jair) Bolsonaro suspeita — as urnas eletrônicas —, mas pela violência política”, afirmou o presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima. Para a cientista política Mônica Sodré, do Raps, a violência de matriz política – medida pela primeira vez – afeta milhões de pessoas. “É um indicador que preocupa. Temos uma população amedrontada.”

A sondagem mostra, ainda, que o medo de sofrer uma ameaça diante do clima de escalada da violência política no País também é alto. Segundo a pesquisa, 45,2% têm muito medo de sofrer uma ameaça em razão de escolhas políticas ou partidárias e 17,4% dos ouvidos dizem ter pouco medo. Apenas 37,3% afirmam não temer ameaças. Com isso, pela projeção, o temor de ameaça atinge 105,2 milhões de brasileiros (62,6%).

Tensão

O clima de violência levou à entidade internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) a fazer um apelo aos representantes das forças políticas do País em favor da moderação. O pedido ocorreu após o registro de dois casos extremos neste ano: os assassinatos do dirigente petista e guarda municipal Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR), e do trabalhador rural e eleitor do PT Benedito Cardoso dos Santos, em Confresa (MT). Ambos foram mortos por eleitores de Bolsonaro.

Além desses crimes, outros episódios de violência e ameaça foram registrados durante a campanha envolvendo petistas e bolsonaristas, como ataques com drones e com bombas com fezes em Minas e no Rio. Houve ainda ataques à imprensa, como o praticado pelo deputado bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos-SP) contra a jornalista Vera Magalhães.

Para Lima, as ocorrências estão relacionadas a outro dado importante da pesquisa: o aumento do chamado índice de agressividade autoritária. Em 2017, pesquisa do fórum mostrou que o indicador estava em 6,5 pontos no Brasil, em uma escala internacional de 0 a 10; em 2022, avançou para 7,11.

O levantamento foi realizado entre os dias 3 e 13 de agosto e ouviu 2,1 mil em todo o País. Dos entrevistados, 3,2% dizem ter sofrido alguma ameaça por causa de suas escolhas políticas ou partidárias, o que, em projeção na população, indica 5,3 milhões de brasileiros. Além disso, 1,4 milhão de brasileiros afirmou ter sido vítima de violência física no começo da campanha eleitoral deste ano — 0,8% da população.

O total de pessoas ameaçadas por motivos partidários ou eleitorais ficou atrás apenas dos que se disseram vítimas de golpe ou que perderam dinheiro por meio do celular (9,2 milhões) e das vítimas de furto ou roubo de telefone (9,1 milhões). “A radicalização da violência política está sequestrando a agenda política e impedindo que as pessoas exerçam sua cidadania”, disse Lima.

Democracia

O apoio à democracia é alto no Brasil. Segundo a pesquisa, quase 90% dos entrevistados concordam com a ideia de que o vencedor na eleição de outubro deve ser empossado em janeiro de 2023. Ao todo, 89,3% dos entrevistados concordam ainda com a frase: “O povo escolher seus líderes em eleições livres e transparentes é essencial para a democracia”.

Outros 88,5% afirmam concordar ou concordar totalmente com a afirmação segundo a qual é essencial para a democracia que o povo tenha voz ativa e participe das principais decisões governamentais. O índice de propensão à democracia ficou em 7,25, o que é considerado alto pelos organizadores da pesquisa. Eles afirmam ainda que mais da metade dos entrevistados marcaram índice acima de 7 pontos. Para Mônica Sodré, a despeito dos ataques às instituições nos últimos anos, a população está dizendo que confia na democracia.

Gleisi Hoffmann (PT) comparece ao funeral de Marcelo Arruda, petista morto por um bolsonarista em Foz do Iguaçu (PT), em julho deste ano.  Foto: Christian Rizzi/Reuters

Quando se verifica a divisão dos entrevistados por renda, a pesquisa mostra que o apoio à democracia é maior entre os que têm maior renda (7,82). Entre os que ganham até dois salários mínimos, o apoio cai para 7,17, abaixo da média nacional. “Indivíduos da classe A registram uma média de propensão à democracia de 8,02 pontos, contra 6,86 pontos dos indivíduos das classes D/E, que são os que apresentam menor propensão à democracia”, afirmaram os pesquisadores.

Para eles, “a violência e o medo são chaves analíticas fundamentais para compreender a sociedade brasileira atual”. De acordo com a conclusão dos organizadores do trabalho, o Brasil tem observado, desde 2018, queda no número de mortes violentas intencionais. “Porém, para além dessa queda dos homicídios, inúmeros outros dados reforçam que vivemos em uma sociedade violenta e com medo. E esse medo não parece descolado da realidade.”

O medo de ser alvo de violência política nas eleições deste ano atinge a maioria da população brasileira, segundo a pesquisa Violência e Democracia: panorama brasileiro pré-eleições de 2022, uma parceria entre a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Os dados foram coletados pelo Datafolha.

De acordo com o levantamento, 67,5% dos entrevistados têm muito medo (49,9%) ou um pouco de medo (17,6%) de ser vítima de agressões físicas em razão de escolhas políticas ou partidárias. Apenas 32,5% dos ouvidos não temem ser atingidos pela violência no pleito deste ano. A amostra indica que 113,4 milhões de brasileiros têm medo de sofrerem agressões físicas. Ao mesmo tempo, a pesquisa verificou que 3,2% dos brasileiros disseram ter sido vítimas de ameaças por razões políticas e 0,8% de violência física.

Rafael Silva Oliveira, de 22 anos, bolsonarista que matou Benedito Cardoso dos Santos, apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Confresa (MT), com ao menos 15 facadas durante uma briga Foto: Polícia Civil-MT

“É difícil falar em eleições livres e justas com este nível de violência. As eleições livres estão ameaçadas não pelas razões que (o presidente Jair) Bolsonaro suspeita — as urnas eletrônicas —, mas pela violência política”, afirmou o presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima. Para a cientista política Mônica Sodré, do Raps, a violência de matriz política – medida pela primeira vez – afeta milhões de pessoas. “É um indicador que preocupa. Temos uma população amedrontada.”

A sondagem mostra, ainda, que o medo de sofrer uma ameaça diante do clima de escalada da violência política no País também é alto. Segundo a pesquisa, 45,2% têm muito medo de sofrer uma ameaça em razão de escolhas políticas ou partidárias e 17,4% dos ouvidos dizem ter pouco medo. Apenas 37,3% afirmam não temer ameaças. Com isso, pela projeção, o temor de ameaça atinge 105,2 milhões de brasileiros (62,6%).

Tensão

O clima de violência levou à entidade internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) a fazer um apelo aos representantes das forças políticas do País em favor da moderação. O pedido ocorreu após o registro de dois casos extremos neste ano: os assassinatos do dirigente petista e guarda municipal Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR), e do trabalhador rural e eleitor do PT Benedito Cardoso dos Santos, em Confresa (MT). Ambos foram mortos por eleitores de Bolsonaro.

Além desses crimes, outros episódios de violência e ameaça foram registrados durante a campanha envolvendo petistas e bolsonaristas, como ataques com drones e com bombas com fezes em Minas e no Rio. Houve ainda ataques à imprensa, como o praticado pelo deputado bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos-SP) contra a jornalista Vera Magalhães.

Para Lima, as ocorrências estão relacionadas a outro dado importante da pesquisa: o aumento do chamado índice de agressividade autoritária. Em 2017, pesquisa do fórum mostrou que o indicador estava em 6,5 pontos no Brasil, em uma escala internacional de 0 a 10; em 2022, avançou para 7,11.

O levantamento foi realizado entre os dias 3 e 13 de agosto e ouviu 2,1 mil em todo o País. Dos entrevistados, 3,2% dizem ter sofrido alguma ameaça por causa de suas escolhas políticas ou partidárias, o que, em projeção na população, indica 5,3 milhões de brasileiros. Além disso, 1,4 milhão de brasileiros afirmou ter sido vítima de violência física no começo da campanha eleitoral deste ano — 0,8% da população.

O total de pessoas ameaçadas por motivos partidários ou eleitorais ficou atrás apenas dos que se disseram vítimas de golpe ou que perderam dinheiro por meio do celular (9,2 milhões) e das vítimas de furto ou roubo de telefone (9,1 milhões). “A radicalização da violência política está sequestrando a agenda política e impedindo que as pessoas exerçam sua cidadania”, disse Lima.

Democracia

O apoio à democracia é alto no Brasil. Segundo a pesquisa, quase 90% dos entrevistados concordam com a ideia de que o vencedor na eleição de outubro deve ser empossado em janeiro de 2023. Ao todo, 89,3% dos entrevistados concordam ainda com a frase: “O povo escolher seus líderes em eleições livres e transparentes é essencial para a democracia”.

Outros 88,5% afirmam concordar ou concordar totalmente com a afirmação segundo a qual é essencial para a democracia que o povo tenha voz ativa e participe das principais decisões governamentais. O índice de propensão à democracia ficou em 7,25, o que é considerado alto pelos organizadores da pesquisa. Eles afirmam ainda que mais da metade dos entrevistados marcaram índice acima de 7 pontos. Para Mônica Sodré, a despeito dos ataques às instituições nos últimos anos, a população está dizendo que confia na democracia.

Gleisi Hoffmann (PT) comparece ao funeral de Marcelo Arruda, petista morto por um bolsonarista em Foz do Iguaçu (PT), em julho deste ano.  Foto: Christian Rizzi/Reuters

Quando se verifica a divisão dos entrevistados por renda, a pesquisa mostra que o apoio à democracia é maior entre os que têm maior renda (7,82). Entre os que ganham até dois salários mínimos, o apoio cai para 7,17, abaixo da média nacional. “Indivíduos da classe A registram uma média de propensão à democracia de 8,02 pontos, contra 6,86 pontos dos indivíduos das classes D/E, que são os que apresentam menor propensão à democracia”, afirmaram os pesquisadores.

Para eles, “a violência e o medo são chaves analíticas fundamentais para compreender a sociedade brasileira atual”. De acordo com a conclusão dos organizadores do trabalho, o Brasil tem observado, desde 2018, queda no número de mortes violentas intencionais. “Porém, para além dessa queda dos homicídios, inúmeros outros dados reforçam que vivemos em uma sociedade violenta e com medo. E esse medo não parece descolado da realidade.”

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