Há meses, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) vem mobilizando sua base para os atos deste 7 de Setembro. Em 2021, ele convocou milhares de manifestantes às ruas para defender o seu governo e fez ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, o 7 de Setembro marca o bicentenário da Independência do Brasil.
Como afirmou durante a convenção nacional de seu partido, o PL, em julho, Bolsonaro deve repetir a fórmula de ataque a diferentes alvos neste 7 de setembro, tentando mobilizar sua base mais ideológica. “Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no 7 de setembro, vá às ruas pela última vez. Estes poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo, têm que entender que quem faz as leis são o Poder Executivo e o Legislativo”, afirmou na ocasião.
Atos em Brasília e no Rio de Janeiro vão contar com a presença do presidente. Na capital carioca, Bolsonaro fará comício eleitoral em frente à praia de Copacabana, palco rotineiro de manifestações de sua base. Inicialmente o desfile militar estava agendado para ocorrer na Avenida Presidente Vargas, no centro da cidade.
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Qual a intenção de Bolsonaro?
Caio Marcondes Barbosa, cientista político e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), explica que, com os atos de 7 de setembro, Bolsonaro tenta dar uma demonstração de força política. “É uma forma de manter o eleitorado dele engajado pela reeleição. Isso foi feito com frequência ao longo do governo, mesmo durante os períodos mais críticos da pandemia.″
Já Rodrigo Lentz, professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), analisa que Bolsonaro se utiliza de uma data militar para realizar um movimento de campanha. “É uma mobilização da própria base de apoio dele, onde ele faz uso do Estado e de uma tradição de 7 de setembro ser um ato militar e não um ato civil. Ele joga com uma tradição de autonomia da instituição militar”, explica.
Como a mensagem pode afetar a corrida eleitoral?
Levando uma quantidade grande de militantes às ruas, Bolsonaro pode ter uma demonstração de apoio a seu governo e mostrar a outros eleitores que conta com respaldo popular. “Certamente ele vai querer utilizar as imagens do ato, com muita gente, um ‘fervor patriótico’. Ele quer, também, tentar angariar mais apoio com base numa impressão positiva”, analisa Barbosa.
Além disso, segundo o pesquisador, as manifestações podem se tornar combustível para um possível questionamento do resultado das eleições, em caso de derrota. “É o que eles chamam de ‘data povo’, que é uma forma de desmerecer e questionar a credibilidade das pesquisas de opinião que mostram Bolsonaro atrás do ex-presidente Lula”. As imagens dos atos, além de serem utilizadas durante a campanha eleitoral, podem basear possíveis questionamentos ao sistema eleitoral, alvo frequente de Bolsonaro.
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Algo pode dar errado no 7 de setembro?
Em um cenário de grande polarização, casos de violência podem ocorrer durante os atos. “Olhe o que aconteceu com a Cristina Kirchner (vice-presidente da Argentina, alvo de um atentado na última semana). O discurso do presidente e das redes, esse discurso violento, pode gerar esses lobos solitários”, analisa Lentz.
O que é diferente do 7 de setembro do ano passado?
“Pautas como intervenção militar e fechamento do STF e Congresso são mais fracas neste 7 de setembro. Ele não parece tanto com esse propósito, com a ideia de promover um golpe, pelo menos não de uma forma explícita”, explica Barbosa. “Ele quer passar a ideia de que não há a possibilidade dele perder nas urnas”, completa.
“Não vai acontecer algo parecido com o ano passado, porque as instituições se deram conta”, pontua Lentz, mencionando as diferentes manifestações de entidades e da sociedade civil a favor da democracia, como a carta elaborada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e lida em ato no início de agosto, na capital paulista.