Os 124 soldados, cabos e sargentos da Polícia Militar do Pará acusados de matar 19 trabalhadores sem terra na "Curva do S", em Eldorado do Carajás, no sul do Estado, foram absolvidos na tarde desta quarta-feira por maioria de votos dos sete jurados - 5 a 2 na maior parte e 6 a 1 em alguns casos. Os sete jurados reconheceram a tese de negativa de co-autoria levantada pela defesa. O massacre aconteceu em 17 de abril de 1996. Logo depois de a sentença ter sido lida pelo juiz Roberto Moura, os promotores Marco Aurélio do Nascimento e Rui Barbosa anunciaram que vão recorrer contra a decisão, afirmando que ela foi "contrária à prova dos autos". "Houve 19 mortes, dois coronéis condenados, mas nenhum executor punido. Isto é um absurdo", protestou Barbosa. A absolvição foi comemorada com gritos e abraços de parentes dos militares que lotaram o pequeno salão do Tribunal do Júri. O advogado Paulo Ronaldo Albuquerque, que conduziu sozinho a defesa de todos os acusados, foi muito cumprimentado pelos réus, alguns dos quais o abraçaram aos prantos. "Não havia provas para apontar quem dentre esses homens atirou e matou os 19 sem-terra. Se os tenentes e sargentos, que estavam armados no conflito, foram inocentados, era lógico que soldados e cabos também fossem absolvidos. Afinal, eles são o lado mais fraco desse processo", justificou Albuquerque. Três policiais militares que não participaram do julgamento serão submetidos ao Conselho de Sentença no próximo dia 20 de junho. São eles Jailton Ferreira da Silva, Genedir Chagas Feitosa e Lindon Jonhson Honorato Lima. Por estar foragido, Lindon Jonhson teve decretada contra si a prisão preventiva pelo juiz Roberto Moura. A subprocuradora-geral da República e procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Maria Eliane Menezes de Farias, presente ao julgamento na condição de observadora, avalia que o resultado contribuiu para "piorar a imagem do Brasil no exterior, como país da impunidade". E foi incisiva: "quando a Justiça diz que um gato preto é branco, ele fica sendo". O assistente da acusação, Marcelo Freitas, que, na segunda-feira se retirou do salão do júri por não concordar com o julgamento de 124 réus numa única sessão, disse que a absolvição já era previsível. Ele acredita que o fato de os matadores dos sem-terra terem sido inocentados não significa uma licença para matar novos integrantes do MST no Pará. "Espero que o Tribunal de Justiça anule esse julgamento e puna realmente os culpados."