BRASÍLIA – O senador Davi Alcolumbre (União-AP) articula um movimento para isolar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e forçá-la a deixar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a crise envolvendo a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas.
A estratégia é abrir espaço para seu grupo político e conquistar mais um ministério na Esplanada. O União Brasil já abocanhou as pastas das Comunicações, do Desenvolvimento Regional e do Turismo.
O cerco a Marina aumentou após o Ibama negar a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas pela Petrobras. A decisão contrariou interesses diretos de Alcolumbre no Amapá, seu reduto eleitoral. O senador saiu em defesa da exploração alegando ganhos econômicos para a população da região, que teria um “novo pré-sal”. Outro fator que desgastou a ministra foi a decisão do Congresso de esvaziar a pasta do Meio Ambiente com a mudança de uma medida provisória de Lula.
Em conversa com o Estadão, Alcolumbre foi irônico ao falar de Marina e da permanência dela no governo. “Ela é gente boa. É bom ela ficar para ir lá com a gente inaugurar o poço”, afirmou.
Todos juntos
Para colocar seu projeto em prática, o senador uniu líderes do Congresso, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (PT), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP), e até mesmo adversários políticos locais em defesa da exploração. O governador do Amapá, Clécio Luís (Solidariedade), aliado do senador, diz que vai recorrer à Justiça se o Ibama não rever a decisão.
Nesse grupo, ninguém acredita que Lula vai demitir Marina neste momento, mas apostam em um desgaste total da ministra a ponto de sua permanência ficar insustentável no governo e ela pedir para sair. Se isso acontecer, já existe até candidato para assumir o ministério: o ex-senador, Jorge Viana, aliado de Alcolumbre e Randolfe.
Viana chegou a ser afastado do comando da Apex após o Estadão revelar que ele não é fluente em inglês e ter alterado o regulamento interno da agência para revogar o domínio da língua como requisito para ocupar o cargo. Na quinta-feira, 25, o TRF-1 manteve Viana à frente do órgão em decisão liminar.
Davi Alcolumbre (União-AP), senador
Como a Coluna do Estadão informou, o próximo passo do grupo de Alcolumbre é retomar o debate de abertura da Reserva Nacional do Cobre e seus Associados (Renca), uma área preservada entre o Amapá e o Pará. O governo de Michel Temer tentou abrir a área para exploradores, mas recuou diante de pressão de entidades e celebridades internacionais.
Marina subiu o tom em reação à pressão do grupo de Alcolumbre. Ela disse que “decisão técnica em um governo democrático é cumprida e respeitada” e criticou o esvaziamento do ministério pelo Congresso. O presidente Lula sinalizou alinhamento com o interesse da Petrobras, mas pediu uma saída negociada entre os integrantes do governo, o que ainda não ocorreu.
Alcolumbre e Randolfe ficaram do mesmo lado na disputa mesmo após os dois terem se afastado em função de interesses eleitorais no Amapá. No passado, Randolfe já fez manifestações contra a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas. Agora, está do outro lado. Após decisão do Ibama, ele defendeu a exploração e deixou a Rede Sustentabilidade, partido fundado pela ministra.
Mesmo antes da polêmica proposta, o líder do governo já havia comunicado a dirigentes da Rede que sairia da legenda. Para aliados de Marina, o anúncio serviu como estratégia do senador para forçar a demissão da ministra.
Esvaziamento
Após a decisão do Ibama, Alcolumbre comandou uma votação que esvaziou o Ministério do Meio Ambiente. O interesse do senador é transformar a pasta num mero “cartão de visita” para a imagem de Lula no exterior, dizem aliados. Na última quarta, a comissão do Congresso que analisa a primeira medida provisória de Lula tirou o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a Agência Nacional de Águas (ANA) do guarda-chuva da ministra.
Sem base política no Congresso, Marina conquistou mais uma oposição: a do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). “O petróleo é explorado no Rio de Janeiro, é explorado em tantos outros Estados brasileiros, e eu quero crer que o Amapá tem o mesmo direito a essa exploração”, disse Pacheco em entrevista ao portal UOL. O parlamentar foi eleito e reeleito para presidir o Senado em articulações de Alcolumbre.