A ex-gerente executiva da Diretoria de Abastecimento da Petrobrás Venina Velosa da Fonseca afirmou ter alertado pessoalmente, em 2008, a hoje presidente da estatal, Graça Foster, sobre a existência de irregularidades em contratos na área de comunicação da diretoria em que atuava. A afirmação, feita em entrevista exibida neste domingo, 22, pelo Fantástico, da Rede Globo, contradiz nota publicada pela Petrobrás no dia 19 de dezembro, na qual a empresa afirma que Graça se inteirou dos fatos apenas neste ano.
“Eu estive com a presidente pessoalmente quando ela era diretora de Gás e Energia. Naquele momento, nós discutimos o assunto. Foi passada uma documentação para ela sobre processo de denúncia na área de comunicação. Ela teve acesso a essas irregularidades nas reuniões da diretoria executiva”, afirmou Venina.
No dia 12 deste mês, reportagem do jornal Valor Econômico revelou e-mails enviados por Venina a Graça nos quais ela denuncia irregularidades na área de comunicação da Diretoria de Abastecimento, aumento do custo da Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, de R$ 4 bilhões para R$ 18 bilhões, e também denúncias que atingem contratações de fornecedores no exterior.
Venina disse também que alertou outros diretores sobre as irregularidades na Petrobrás. “Num primeiro momento, em 2008, como gerente executiva, eu informei ao então diretor Paulo Roberto Costa, informei a outros diretores como a Graça Foster, e em outro momento, como gerente-geral, eu informei aos meus gerentes executivos, José Raimundo Brandão Pereira e o Abílio (Paulo Pinheiro Ramos), que era meu atual gerente executivo. Informei ao presidente Gabrielli. Informei a todas a pessoas que eu achava que podiam fazer alguma coisa para combater aquele processo que estava se instalando dentro da empresa”, afirmou a ex-gerente.
Em relação à conversa com o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, que ficou no cargo entre 2004 e 2012, Venina disse que ele perguntou se ela queria “derrubar o mundo” em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Ai eu falei: ele já fez, não tem como eu chegar agora e falar vamos esquecer o que aconteceu e vamos trabalhar diferente. Existe um fato concreto que tinha que ser apurado e investigado. Aí, nesse momento ele ficou muito irritado. A gente tava sentado na mesa da sala dele, ele apontou pro retrato do Lula, apontou pra direção da sala do Gabrielli e perguntou: você quer derrubar todo mundo? Ai eu fiquei assustada e disse: olha eu tenho duas filhas, eu tenho que colocar cabeça na cama e dormir e no outro dia eu tenho que olhar nos olhos dela e não sentir vergonha”.
“Esse evento aconteceu quando eu fui apresentar o problema que ocorreu na área de comunicação, que eu cheguei na sala dele (Paulo Costa) e falei, olha aqui tem só amostra do que tá acontecendo na área. Eram vários contratos de pequenos serviços onde nos não tínhamos conhecimento do tipo de serviço. Mas mostrava esquartejamento do contrato. Aí naquele momento, eu falei: eu nunca soube, tô sabendo isso agora e acho que é muito sério e temos que tomar atitude. Aí ele pediu que eu procurasse gerente responsável e pedisse para que ele parasse.”
Venina disse também não ter sido a única funcionária de alto escalão a presenciar atos ilícitos dentro da empresa e convocou outros colegas a contarem o que sabem. “Não fui só eu quem presenciou. É essencial que outras pessoas também contem o que viram.” A ex-executiva declarou ainda temer por sua integridade física, mas não pretende recuar nas denúncias. “Eu vou até o fim. Tenho muito medo, mas eu não vou parar (de denunciar)”.
Questionada se participou do esquema ou se foi cúmplice, a ex-gerente executiva negou. “Em momento nenhum eu cedi. Se eu tivesse participado de algum esquema eu não teria feito a denuncia que eu fiz, nem entregue meu computador com todos meu documentos desde 2002.”
Ao Fantástico, a Petrobrás informou que tomou todas as providências para esclarecer as denúncias feitas por Venina e negou que não tenham sido investigadas as irregularidades apontadas. A empresa afirmou também que a funcionária tornou pública as denúncias porque foi apontada como responsável por uma comissão interna. A estatal informou que Graça foi informada por e-mail, e não pessoalmente.