O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tem resistido à pressão de bolsonaristas para intensificar os acenos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a campanha eleitoral. Aliados de Bolsonaro acreditam que essa estratégia poderia fortalecer a presença do prefeito nas redes sociais e ajudá-lo a enfrentar o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que busca atrair o eleitorado conservador da cidade. Estrategistas do emedebista dizem, no entanto, que a campanha permanecerá focada nas questões da cidade, sem a nacionalização da disputa.
A avaliação de parte da ala bolsonarista é que mostrar as entregas da gestão Nunes dos últimos três anos não será suficiente para impedir o crescimento do influenciador nas pesquisas. O grupo aponta a necessidade de combater Marçal “no terreno dele” e defende uma estratégia digital que mobilize os eleitores de Bolsonaro por meio de vídeos e cortes feitos para viralizar nas redes sociais.
A campanha de Nunes, no entanto, segue apostando nas realizações da gestão como seu principal atrativo para conquistar votos. A estratégia é respaldada por pesquisas qualitativas internas, que mostram que o eleitor paulistano rejeita a nacionalização do pleito e busca um candidato independente de Bolsonaro e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Outro fato que pesa contra a estratégia defendida pelos bolsonaristas, segundo integrantes da campanha de Nunes, é a alta rejeição ao nome de Bolsonaro na cidade: segundo o Datafolha, dois em cada três eleitores de São Paulo não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado pelo ex-chefe do Executivo.
Um dos principais aliados do prefeito com trânsito no bolsonarismo reconheceu ao Estadão que as redes sociais de Nunes precisam de mudanças. A avaliação dele é que o estilo dos vídeos e publicações reproduzem material de campanha feito para a televisão, mas que é necessário ajustar a forma para a comunicação digital e a dinâmica de compartilhamento das redes.
Diferente de outros correligionários de Bolsonaro, no entanto, este aliado considera que seria um erro tentar pintar o prefeito artificialmente como bolsonarista radical porque o movimento provavelmente soaria artificial e afastaria os eleitores do ex-presidente em vez de atraí-los.
O grupo de Nunes argumenta que aqueles que acusam o chefe do Executivo paulistano de “esconder” Bolsonaro estão em busca de “desculpas” para apoiar Marçal. Os integrantes do núcleo mais próximo ao prefeito fazem questão de ressaltar que enquanto o emedebista tem uma postura respeitosa em relação ao ex-presidente, o candidato do PRTB já fez críticas a Bolsonaro no passado e constantemente se envolve em discussões com seus filhos nas redes sociais.
Aliados do prefeito citam como evidências de alinhamento com o bolsonarismo a participação de Bolsonaro na convenção partidária do MDB, a escolha de Ricardo Mello Araújo (PL) como vice na chapa, indicado pelo ex-presidente, e o papel desempenhado por Tarcísio de Freitas (Republicanos) na campanha. O governador se tornou o conselheiro mais ouvido pelo prefeito.
Porém, o próprio Bolsonaro envia sinais dúbios. Na quinta-feira, 15, elogiou Marçal, mas dias depois, no sábado, o chamou de “mentiroso”, segundo a CNN Brasil. O PL divulgou um vídeo no Instagram na segunda-feira em que o ex-presidente declara apoio a Nunes. O conteúdo foi compartilhado pelo prefeito.
“Temos algumas coligações em algumas cidades. Em São Paulo, estamos coligados com o MDB e vamos apoiar Ricardo Nunes para a reeleição. Para que não haja dúvida, o nosso vice é o coronel Mello Araújo, 22. Então aos amigos de São Paulo eu peço para o bem de todo nós que reeleja Ricardo Nunes para a Prefeitura de São Paulo”, disse o presidente.
Leia também
Se por um lado resiste a nacionalizar a campanha, o prefeito mudou o alvo de sua artilharia. Antes focado apenas em Guilherme Boulos (PSOL), ele passou a centrar fogo em Marçal após o candidato do PRTB dominar a repercussão dos debates realizados pela Band e pelo Estadão nos últimos 10 dias.
A mudança ocorreu após uma reunião de Nunes com Tarcísio e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) no Palácio dos Bandeirantes. O Estadão apurou que o parlamentar mineiro deu dicas ao candidato à reeleição sobre como ajustar seu discurso para desmontar a imagem de conservador criada por Marçal.
‘Espetáculos circenses’
Os conselhos passaram pela exploração de críticas feitas por Marçal a Bolsonaro em 2022, quando o influenciador tentou se candidatar a presidente da República, e livros escritos pelo ex-coach. Na avaliação dos presentes, as obras teriam trechos que vão na contramão do conservadorismo defendido pelo candidato do PRTB em entrevistas e debates na atual campanha eleitoral.
A campanha de Nunes considera que os debates foram “espetáculos circenses” liderados pelo influenciador e afirma que irá avaliar caso a caso se ele irá aos próximos compromissos no formato. O prefeito não compareceu ao debate realizado pela revista Veja na segunda-feira, 19.
Ele pediu que os meios de comunicação revejam as regras para coibir ataques pessoais e aumentar a discussão de propostas. “Não é possível que alguém vá no debate, faça tantos ataques e fique isso no ar”, disse, ao justificar a ausência.
“Nesses debates tem acontecido tudo menos aquilo que seria o objetivo, que é debater a cidade, que é poder apresentar as propostas, discutir as propostas. São muitos ataques. E muitas pessoas estão indo não para debater, mas para fazer cortes para internet”, continuou Nunes.
Marçal utiliza as oportunidades para dizer que o prefeito representa a “falsa direita” e insinuar que Boulos é usuário de drogas e não gosta de trabalhar. O candidato do PSOL ganhou direito de resposta depois que o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo considerou que ele foi vítima de difamação.
Malafaia, ‘02′ e ‘03′ assumem embate contra Marçal
Enquanto Nunes resiste a mudar a estratégia nas redes, o pastor Silas Malafaia e os filhos do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro (PL) e Carlos Bolsonaro (PL) assumiram a linha de frente do embate com Marçal. Um dos temores do grupo, como mostrou o Estadão, é que o influenciador se cacife para disputar o Senado em 2026 por São Paulo e atrapalhe Eduardo, que é pré-candidato ao cargo.
A deixa para a ofensiva bolsonarista foi o fato de Marçal não encampar o movimento pelo impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O jornal Folha de S. Paulo mostrou que Moraes ordenou, de forma não oficial, a produção de relatórios do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para embasar decisões no STF contra aliados de Bolsonaro.
Eduardo Bolsonaro publicou uma foto de Marçal ao lado de Moraes com uma declaração elogiosa do ex-coach ao ministro. Na mesma postagem, há uma notícia que mostra que Nunes é contra a descriminalização do aborto e uma foto dele com Bolsonaro.
“Estão me vinculando ao Marçal indevidamente através de cortes de vídeos meus. Então vou deixar cada vez mais claro meu lado e o motivo pelo qual tomei essa decisão. E você: Qual sua opinião sobre AM (Alexandre de Moraes)? Qual sua opinião sobre aborto?”, escreveu.
Silas Malafaia também criticou o candidato do PRTB. “PABLO MARÇAL DEIXA DE CONVERSA FIADA ! Que conversa é essa de colocar em dúvida as denúncias gravíssimas da folha de SP sobre o ditador da toga Alexandre de Moraes”, publicou o religioso.
“É amiguinho dele? Porque você foi na posse dele no TSE? A sua argumentação é furada! O PT e o Gov Lula estão apoiando ele com força. VOCÊ NUNCA ME ENGANOU E NÃO VAI SER AGORA QUE VAI ME ENGANAR!”, concluiu Malafaia.