O almirante Almir Garnier Santos, acusado de tramar um golpe de Estado ao lado de Jair Bolsonaro (PL) logo depois de ele ser derrotado nas eleições, tem um salário de R$ 35 mil. Garnier é um militar reformado e recebe a mesma remuneração de quando era da ativa. Ele comandou a Marinha de abril de 2021 a dezembro de 2022.
Os R$ 35 mil que Garnier ganha são de remuneração bruta. Após descontos e bonificações, em junho deste ano, por exemplo, ele recebeu R$ 40,9 mil. Dentro desse valor, estão R$ 17,5 mil de adiantamento da gratificação natalina.
O vencimento do almirante corresponde a 26,5 salários mínimos, o que o coloca entre o 1% mais rico da população brasileira, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em maio deste ano.
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Viagens ficaram mais ‘caras’ na era Bolsonaro
Dados do Portal da Transparência mostram que, de junho de 2014 a dezembro de 2022, o almirante recebeu mais de R$ 230 mil em diárias – indenizações pagas para cobrir despesas com viagens, alimentação e transporte. Esse valor equivale a quase R$ 2 mil por mês.
Mais da metade dessas diárias estão concentradas nos anos do governo Bolsonaro, mesmo antes de se tornar comandante da Marinha. De janeiro de 2019 a dezembro de 2022, foram R$ 122 mil. A média por mês fica mais alta nesse período, subindo para R$ 2.545. Nas redes sociais, o almirante compartilha diversas imagens dessas agendas.
No final de julho, por exemplo, ele passou por Genebra, Londres e Lisboa. A viagem, de acordo com dados do Portal da Transparência, custou R$ 31 mil aos cofres públicos.
“Durante a minha passagem por Genebra-Suíça, na última sexta-feira (29), em agenda oficial, tive a oportunidade de visitar o Escritório do Conselheiro Militar do Brasil em Genebra”, escreveu o almirante no seu Instagram. Ele disse que, depois de assistir a uma palestra, conheceu o prédio do escritório da ONU em Genebra. “Tudo pela Pátria!”, disse Garnier.
Almirante foi o único a endossar proposta de golpe
A delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cesar Barbosa Cid colocou o nome de Garnier nos holofotes. O acordo está em segredo de Justiça e foi homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no último dia 9.
Alguns trechos, no entanto, vieram a público. Um deles é de que Mauro Cid teria dito às autoridades que Bolsonaro levou uma “minuta de golpe”, feita e entregue a ele pelo ex-assessor Filipe Martins, para uma reunião com a cúpula das Forças Armadas. A proposta do encontro, que aconteceu logo após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas, era avaliar a possibilidade de um golpe de estado.
De acordo com a delação, o encontro teve um clima “pesado” e Garnier foi o único comandante que teria dito que sua tropa estaria pronta para aderir a um chamamento do ex-presidente. Os comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, não deram apoio à ideia.
Como mostrou o Estadão, o almirante foi abandonado pelos pares diante da repercussão do caso. Sua atual condição contrasta com o que disse em 2021, quando foi nomeado para o comando da Marinha. “As Forças Armadas são uma grande família a serviço da Pátria e assim vão permanecer até o fim dos tempos. Sempre estarão unidas sob a direção do ministro da Defesa. Que ninguém se engane!”, escreveu Garnier nas redes sociais.