BRASÍLIA - O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, determinou a exoneração imediata do diretor de administração da Funai, Francisco José Nunes Ferreira. A exoneração será publicada nesta quinta-feira, 24, segundo a assessoria de Padilha. A decisão foi tomada após publicação, na quarta, de reportagem do Estado que revelou áudios de conversas entre Ferreira e o ex-coordenador de tecnologia da informação da Funai Bruno Rebello.
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As gravações indicam que o diretor de Administração teria favorecido empresas predeterminadas para compras do setor de informática, orientado pedidos feitos por parlamentares, feito ingerências e solicitado a aquisição de itens sem relação com as atividades do órgão.
As gravações foram realizadas por Rebello entre setembro e outubro de 2017. Nos áudios, Ferreira menciona nomes de políticos como o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o senador e presidente nacional do MDB, Romero Jucá (RR), e do líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE). Procurados, Padilha e Jucá desautorizaram “uso indevido” de seus nomes.
Nos áudios, Ferreira pede a Rebello que ajude em contratações apontadas por parlamentares e promete que ambos poderão “se dar bem”, porque ele assumiria, neste ano, a presidência da Dataprev, empresa de tecnologia da Previdência Social. Ferreira nega as irregularidades e acusa Rebello de “revanchismo”.
PF VAI INVESTIGAR DIRETOR
A atuação do diretor de administração da Funai Francisco Ferreira é investigada pela Polícia Federal. A informação foi confirmada pelo ex-presidente da Funai, o general Franklimberg Ribeiro de Freitas. Procurada, a Polícia Federal afirma apenas que há uma “apuração em curso”, sem dar maiores detalhes.
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Segundo Freitas, um celular com as gravações das conversas foi entregue à PF, além de ter sido tomado o depoimento de um servidor da instituição. Após publicação da gravação pelo Estado, o novo presidente da Funai, Wallace Bastos, encaminhou à Corregedoria da instituição os áudios das conversas gravadas entre Ferreira e Rebello. Bastos afirmou que serão “seguidos os trâmites exigidos legalmente e assegurada devida penalidade, caso a denúncia se comprove verídica”.
“A Funai repudia qualquer desvio do padrão ético de atuação exigido aos servidores e colaboradores durante os 50 anos de atividade em prol dos direitos indígenas e reagirá contra todo ato que comprometa a seriedade empregada no cumprimento de sua missão”, diz Bastos em nota.
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Francisco José Nunes Ferreira chegou ao cargo de diretor de administração da Funai em maio do ano passado, por meio de indicação do PSC e da bancada ruralista. Ele já era alvo de críticas dentro da Funai. Em dezembro passado, a diretoria da Associação Nacional dos Servidores da Funai (Ansef) encaminhou um ofício ao ministro da Justiça, Torquato Jardim, para criticar a atuação do diretor de administração e gestão.
Dois dias depois de publicada a reportagem do Estado, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) divulgou nota para informar que a indicação do diretor administrativo da Funai, Francisco José Nunes Ferreira, foi feita pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, deputado André Moura, “sem nenhuma intervenção da FPA. “A FPA reitera que não houve declaração advinda da Frente para recomendar o nome em questão ao respectivo cargo na Funai. Diante das justificativas acima, a FPA deseja que as decisões do governo federal sejam fundadas em melhorias das políticas públicas voltadas para atender as comunidades indígenas, a sociedade brasileira e aos anseios do Poder Legislativo.”
Confira os aúdios:
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Gravações mostram conversas entre o diretor de Administração da Fundação Nacional do Índio (Funai), Francisco José Nunes Ferreira, e um funcionário da área de tecnologia demonstram suposta tentativa de favorecer empresas em contratos com o órgão em setembro de 2017. Nos áudios, obtidos pelo Estado, Ferreira tenta convencer o coordenador geral de tecnologia, Bruno Rebello, a direcionar compras na área.