O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou na noite desta quinta-feira pelas redes sociais que o professor colombiano Ricardo Vélez Rodríguez será o futuro ministro da Educação. Nome desconhecido da comunidade educacional, crítico ao Enem e com afinidade ao Escola sem Partido, hoje ele é professor-colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Gostaria de comunicar a todos a indicação de Ricardo Vélez Rodríguez, filósofo autor de mais de 30 obras, atualmente Professor Emérito da Escola de Comando e estado Maior do Exército, para o cargo de Ministro da Educação”, escreve Bolsonaro no Twitter.
A indicação do professor ocorre um dia depois de a bancada evangélica vetar o educador Mozart Neves, diretor do Instituto Ayrton Senna, para o cargo. Ele era crítico do projeto Escola sem Partido, uma das principais bandeiras do presidente eleito.
À tarde, Bolsonaro se reuniu por três horas na Granja do Torto, em Brasília, com o procurador regional do Distrito Federal, Guilherme Schelb, que também era cotado para o cargo. Ao deixar o local, Schelb admitiu ter apoio "muito significativo" da bancada evangélica e reafirmou ser a favor do movimento Escola sem Partido. Depois que saiu o anúncio de Vélez Rodríguez, Schelb parabenizou o presidente pela indicação.
Futuro ministro tem afinidade com Escola sem Partido e é crítico ao Enem
O professor é um desconhecido na comunidade educacional. Ele mantém um blog em que, em 7 de novembro, conta que foi indicado pelo filósofo Olavo de Carvalho a Bolsonaro para comandar a Pasta.
No texto, ele diz que é preciso “refundar” o Ministério da Educação no “contexto da valorização da educação para a vida e a cidadania a partir dos municípios” e que será o ministro da Educação para “tornar realidade, no terreno do MEC, a proposta de governo externada pelo candidato Jair Bolsonaro, de “Mais Brasil e Menos Brasília”. Diz ainda que Bolsonaro venceu porque representou a insatisfação de todos os brasileiros contra governos petistas.
O professor também critica outros nomes que foram pensados para o MEC, como o da presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Maria Inês Fini. Para o futuro ministro, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prova que ela é responsável atualmente, é um “instrumento de ideologização”.
Sobre educação, Vélez Rodríguez escreve de maneira complicada, mas deixa clara sua afinidade com projetos como Escola sem Partido. Diz em seu blog que os brasileiros estão “reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor, à sociedade, uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de 'revolução cultural gramsciana', com toda a corte de invenções deletérias em matéria pedagógica como a educação de gênero". Para ele, essa educação atual estaria “destinada a desmontar os valores tradicionais da nossa sociedade, no que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em soma, do patriotismo.”
O professor também tem um livro em que critica o PT, de 2015, chamado A Grande Mentira - Lula e o Patrimonialismo Petista. Na contracapa, diz que o partido conseguiu "potencializar as raízes da violência", mediante a disseminação "de uma perniciosa ideologia que já vinha inspirando a ação política do Partido dos Trabalhadores: a ‘revolução cultural gramsciana’”.
Ensino médio. Vélez Rodríguez elogiou em artigo para a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) a medida provisória do presidente Michel Temer que instituiu a reforma do ensino médio, em 2017. Para ele, a etapa de ensino foi tomada pela “militância petista”. O resultado, segundo o futuro ministro, foi a “progressiva ineficiência do sistema e a ideologização do processo educacional, com a substituição de matérias fundamentais por suspeitos currículos em que a educação de gênero e outras propostas estapafúrdias contrárias aos valores da família brasileira passaram a ser veiculadas”.
O filósofo se posiciona contra as cotas raciais, também em texto para a universidade. Vélez Rodríguez as considera um “paliativo que jogam para frente a exclusão”.