Apresentação de Bolsonaro em inglês a embaixadores tinha seis erros de tradução


Presidente convocou diplomatas para desacreditar o sistema eletrônico de votação usando fake news; iniciativa gerou forte reação negativa; erros viraram piada nas redes sociais

Por Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - Com erros de inglês, informações fora de contexto ou já desmentidas, a apresentação do presidente Jair Bolsonaro contra as urnas eletrônicas a embaixadores estrangeiros virou alvo de críticas fora e dentro do governo. Houve repercussão negativa no Congresso, em segmentos do funcionalismo público, na academia e até no exterior, como as respostas diplomáticas dos Estados Unidos classificando o sistema eleitoral brasileiro como “modelo” para o mundo. O documento exibido continha pelo menos seis erros de tradução entre problemas ortográficos e literalidade forçada na conversão para o inglês.

Aliados do presidente, principalmente do núcleo político que toca o comitê da campanha à reeleição, rejeitaram a iniciativa, vista como contraproducente para quem deveria concentrar esforços na busca por votos além dos seguidores do bolsonarismo. O objetivo da apresentação, minar a confiança nas urnas e se contrapor à Justiça Eleitoral, havia sido anunciado pelo presidente, mas aliados afirmam que ele manteve os detalhes sobre o conteúdo restritos a alguns de seus colaboradores mais imediatos.

Slides apresentados por Bolsonaro tinham erros ortográficos ou problemas de tradução por literalidade forçada na conversão para o inglês. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
continua após a publicidade

Para o comitê, poucas pessoas tiveram acesso à sequência de slides de power-point previamente, entre elas o coronel Mauro Cid, ajudante de ordens, e o almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos. Durante a apresentação, Bolsonaro de fato se dirigiu a Cid algumas vezes - ele passava as páginas, acompanhando a explanação. Rocha acompanhava da plateia. O Estadão questionou a Presidência da República sobre quem preparou a apresentação, mas não recebeu resposta.

Embaixadores ouvidos pela reportagem se assustaram com os erros de tradução e classificaram o power-point como “amador”. Algumas frases em inglês usadas pela Presidência da República são traduções muito literais do português, enquanto outras eram bastante diferentes dos termos originais. Na última página, a indagação “Por que não querer a auditoria das urnas?” virou “Why shouldn’t the eletronic voting machines be audited?”. A tradução mais correta para o português seria “Por que as urnas eletrônicas não devem ser auditadas?”.

Até os nomes variavam. O Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, aparecia ora como “Superior Electoral Court”, ora como “Higher Electoral Court”. Houve ainda erros de grafia como a palavra “briefing” grafada como “brienfing”, com um n a mais, logo na primeira página; “diretor-geral” traduzido como “directo (sic) general”, sem o “r”; e a expressão “Moraes manda investigar Bolsonaro”, que virou “Moraes sends Federal Police to investigate”, quando o mais preciso seria o verbo “orders”.

continua após a publicidade

Nas redes sociais, alguns erros foram citados e viraram piada

O núcleo político afirma também que os militares teriam endossado a insistência do presidente em reagir ao TSE e expor seus argumentos aos embaixadores. O ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, estava preparado para expor uma apresentação da Defesa, mas não chegou a falar. Seu antecessor, general Braga Netto, futuro candidato a vice-presidente, defende os questionamentos de Bolsonaro e a auditoria dos votos.

continua após a publicidade

Nenhum dos chefes dos poderes Legislativo e Judiciário compareceu. Dos tribunais superiores, só o presidente do Superior Tribunal Militar, general Luis Carlos Gomes Mattos, se fez presente, numa demonstração de endosso dos militares à pauta. Dos ministros de Estado, a maioria era militar ou teve carreira ligada às Forças Armadas: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União), Celio Faria Junior (Secretaria de Governo) e Antonio Lorenzo (secretário executivo do Ministério da Justiça). Só Ciro Nogueira (Casa Civil), Carlos França (Relações Exteriores) e Bruno Bianco (Advocacia-Geral da União) não têm vínculos antecedentes com as Forças Armadas. Como mostrou o Estadão, o ataque de Bolsonaro ao sistema eleitoral envolve até órgãos como CGU e AGU.

Embora o chanceler Carlos França tenha comparecido ao encontro no Palácio da Alvorada, o Itamaraty tentou se manter afastado da iniciativa e teria colaborado apenas com contatos para os convites. A organização ficou a cargo do cerimonial da Presidência da República, chefiado pelo diplomata André Chermont de Lima.

continua após a publicidade
Alguns dos ministros de Bolsonaro no encontro com embaixadores em Brasília, na segunda-feira, 18. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

BRASÍLIA - Com erros de inglês, informações fora de contexto ou já desmentidas, a apresentação do presidente Jair Bolsonaro contra as urnas eletrônicas a embaixadores estrangeiros virou alvo de críticas fora e dentro do governo. Houve repercussão negativa no Congresso, em segmentos do funcionalismo público, na academia e até no exterior, como as respostas diplomáticas dos Estados Unidos classificando o sistema eleitoral brasileiro como “modelo” para o mundo. O documento exibido continha pelo menos seis erros de tradução entre problemas ortográficos e literalidade forçada na conversão para o inglês.

Aliados do presidente, principalmente do núcleo político que toca o comitê da campanha à reeleição, rejeitaram a iniciativa, vista como contraproducente para quem deveria concentrar esforços na busca por votos além dos seguidores do bolsonarismo. O objetivo da apresentação, minar a confiança nas urnas e se contrapor à Justiça Eleitoral, havia sido anunciado pelo presidente, mas aliados afirmam que ele manteve os detalhes sobre o conteúdo restritos a alguns de seus colaboradores mais imediatos.

Slides apresentados por Bolsonaro tinham erros ortográficos ou problemas de tradução por literalidade forçada na conversão para o inglês. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Para o comitê, poucas pessoas tiveram acesso à sequência de slides de power-point previamente, entre elas o coronel Mauro Cid, ajudante de ordens, e o almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos. Durante a apresentação, Bolsonaro de fato se dirigiu a Cid algumas vezes - ele passava as páginas, acompanhando a explanação. Rocha acompanhava da plateia. O Estadão questionou a Presidência da República sobre quem preparou a apresentação, mas não recebeu resposta.

Embaixadores ouvidos pela reportagem se assustaram com os erros de tradução e classificaram o power-point como “amador”. Algumas frases em inglês usadas pela Presidência da República são traduções muito literais do português, enquanto outras eram bastante diferentes dos termos originais. Na última página, a indagação “Por que não querer a auditoria das urnas?” virou “Why shouldn’t the eletronic voting machines be audited?”. A tradução mais correta para o português seria “Por que as urnas eletrônicas não devem ser auditadas?”.

Até os nomes variavam. O Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, aparecia ora como “Superior Electoral Court”, ora como “Higher Electoral Court”. Houve ainda erros de grafia como a palavra “briefing” grafada como “brienfing”, com um n a mais, logo na primeira página; “diretor-geral” traduzido como “directo (sic) general”, sem o “r”; e a expressão “Moraes manda investigar Bolsonaro”, que virou “Moraes sends Federal Police to investigate”, quando o mais preciso seria o verbo “orders”.

Nas redes sociais, alguns erros foram citados e viraram piada

O núcleo político afirma também que os militares teriam endossado a insistência do presidente em reagir ao TSE e expor seus argumentos aos embaixadores. O ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, estava preparado para expor uma apresentação da Defesa, mas não chegou a falar. Seu antecessor, general Braga Netto, futuro candidato a vice-presidente, defende os questionamentos de Bolsonaro e a auditoria dos votos.

Nenhum dos chefes dos poderes Legislativo e Judiciário compareceu. Dos tribunais superiores, só o presidente do Superior Tribunal Militar, general Luis Carlos Gomes Mattos, se fez presente, numa demonstração de endosso dos militares à pauta. Dos ministros de Estado, a maioria era militar ou teve carreira ligada às Forças Armadas: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União), Celio Faria Junior (Secretaria de Governo) e Antonio Lorenzo (secretário executivo do Ministério da Justiça). Só Ciro Nogueira (Casa Civil), Carlos França (Relações Exteriores) e Bruno Bianco (Advocacia-Geral da União) não têm vínculos antecedentes com as Forças Armadas. Como mostrou o Estadão, o ataque de Bolsonaro ao sistema eleitoral envolve até órgãos como CGU e AGU.

Embora o chanceler Carlos França tenha comparecido ao encontro no Palácio da Alvorada, o Itamaraty tentou se manter afastado da iniciativa e teria colaborado apenas com contatos para os convites. A organização ficou a cargo do cerimonial da Presidência da República, chefiado pelo diplomata André Chermont de Lima.

Alguns dos ministros de Bolsonaro no encontro com embaixadores em Brasília, na segunda-feira, 18. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

BRASÍLIA - Com erros de inglês, informações fora de contexto ou já desmentidas, a apresentação do presidente Jair Bolsonaro contra as urnas eletrônicas a embaixadores estrangeiros virou alvo de críticas fora e dentro do governo. Houve repercussão negativa no Congresso, em segmentos do funcionalismo público, na academia e até no exterior, como as respostas diplomáticas dos Estados Unidos classificando o sistema eleitoral brasileiro como “modelo” para o mundo. O documento exibido continha pelo menos seis erros de tradução entre problemas ortográficos e literalidade forçada na conversão para o inglês.

Aliados do presidente, principalmente do núcleo político que toca o comitê da campanha à reeleição, rejeitaram a iniciativa, vista como contraproducente para quem deveria concentrar esforços na busca por votos além dos seguidores do bolsonarismo. O objetivo da apresentação, minar a confiança nas urnas e se contrapor à Justiça Eleitoral, havia sido anunciado pelo presidente, mas aliados afirmam que ele manteve os detalhes sobre o conteúdo restritos a alguns de seus colaboradores mais imediatos.

Slides apresentados por Bolsonaro tinham erros ortográficos ou problemas de tradução por literalidade forçada na conversão para o inglês. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Para o comitê, poucas pessoas tiveram acesso à sequência de slides de power-point previamente, entre elas o coronel Mauro Cid, ajudante de ordens, e o almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos. Durante a apresentação, Bolsonaro de fato se dirigiu a Cid algumas vezes - ele passava as páginas, acompanhando a explanação. Rocha acompanhava da plateia. O Estadão questionou a Presidência da República sobre quem preparou a apresentação, mas não recebeu resposta.

Embaixadores ouvidos pela reportagem se assustaram com os erros de tradução e classificaram o power-point como “amador”. Algumas frases em inglês usadas pela Presidência da República são traduções muito literais do português, enquanto outras eram bastante diferentes dos termos originais. Na última página, a indagação “Por que não querer a auditoria das urnas?” virou “Why shouldn’t the eletronic voting machines be audited?”. A tradução mais correta para o português seria “Por que as urnas eletrônicas não devem ser auditadas?”.

Até os nomes variavam. O Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, aparecia ora como “Superior Electoral Court”, ora como “Higher Electoral Court”. Houve ainda erros de grafia como a palavra “briefing” grafada como “brienfing”, com um n a mais, logo na primeira página; “diretor-geral” traduzido como “directo (sic) general”, sem o “r”; e a expressão “Moraes manda investigar Bolsonaro”, que virou “Moraes sends Federal Police to investigate”, quando o mais preciso seria o verbo “orders”.

Nas redes sociais, alguns erros foram citados e viraram piada

O núcleo político afirma também que os militares teriam endossado a insistência do presidente em reagir ao TSE e expor seus argumentos aos embaixadores. O ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, estava preparado para expor uma apresentação da Defesa, mas não chegou a falar. Seu antecessor, general Braga Netto, futuro candidato a vice-presidente, defende os questionamentos de Bolsonaro e a auditoria dos votos.

Nenhum dos chefes dos poderes Legislativo e Judiciário compareceu. Dos tribunais superiores, só o presidente do Superior Tribunal Militar, general Luis Carlos Gomes Mattos, se fez presente, numa demonstração de endosso dos militares à pauta. Dos ministros de Estado, a maioria era militar ou teve carreira ligada às Forças Armadas: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União), Celio Faria Junior (Secretaria de Governo) e Antonio Lorenzo (secretário executivo do Ministério da Justiça). Só Ciro Nogueira (Casa Civil), Carlos França (Relações Exteriores) e Bruno Bianco (Advocacia-Geral da União) não têm vínculos antecedentes com as Forças Armadas. Como mostrou o Estadão, o ataque de Bolsonaro ao sistema eleitoral envolve até órgãos como CGU e AGU.

Embora o chanceler Carlos França tenha comparecido ao encontro no Palácio da Alvorada, o Itamaraty tentou se manter afastado da iniciativa e teria colaborado apenas com contatos para os convites. A organização ficou a cargo do cerimonial da Presidência da República, chefiado pelo diplomata André Chermont de Lima.

Alguns dos ministros de Bolsonaro no encontro com embaixadores em Brasília, na segunda-feira, 18. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.