Arthur do Val retira pré-candidatura ao governo de São Paulo após áudios machistas


Deputado estadual do Podemos pediu desculpas e disse desistir da corrida ao Palácio dos Bandeirantes para preservar a terceira via

Por Redação
Atualização:

O deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) decidiu retirar sua pré-candidatura ao governo de São Paulo após a divulgação de áudios em que diz que mulheres ucranianas são “fáceis porque são pobres”. “Não tenho compromisso com o erro. Por isso, entrei em contato com a presidente do Podemos, Renata Abreu, para retirar minha pré-candidatura ao governo de São Paulo”, escreveu em nota publicada no Instagram. 

Do Val disse ainda que tomou essa decisão na tentativa de preservar o que chamou de “construção de uma terceira via”. “O projeto não merece que minhas lamentáveis falas sejam utilizadas para atacá-lo", completou.

A preocupação no Podemos é sobre como a polêmica envolvendo um membro do Movimento Brasil Livre (MBL) pode recair sobre a pré-candidatura do ex-juiz Sérgio Moro, a quem o grupo se aliou.

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Mais cedo, o deputado publicou um vídeo em que diz que suas falas foram “escrotas” e “machistas”. “Eu estou sendo moleque. Essa não é a postura que as pessoas esperam de mim”, disse em vídeo intitulado “pedido de desculpas” publicado neste sábado, 5, no Youtube. 

Chegada do deputado estadual Arthur do Val no aeroporto de Guarulhos. Ele teve áudios vazados com discurso que depreciava mulheres ucranianas Foto: Willian Moreira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Conhecido como “Mamãe Falei”, Do Val afirmou que aceita ser julgado pelo que falou, mas que não aceita ser julgado pelo que não fez. “Tive a experiência mais transformadora que já vivi, vi exemplos de civilidade. Isso está sendo colocado como se eu tivesse ido arriscar minha vida para fazer turismo sexual”, concluiu. 

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Segundo ele, os áudios teriam sido enviados para um “grupo de amigos do futebol”, depois de sair da Ucrânia, quando estava na Eslováquia e a “tensão” tinha passado. “O que eu senti naquele momento, eu senti alegria. Comecei a mandar mensagem para todo mundo”, defendeu, alegando que mandou áudios “contando vantagem”. 

Antes da publicação do vídeo, o deputado falou com jornalistas no aeroporto de Guarulhos imediatamente após chegar de viagem da Europa. Na ocasião, defendeu que foi à Ucrânia em uma missão humanitária e pediu desculpa às mulheres que se sentiram ofendidas. Também atribuiu a fala a um momento de empolgação e reconheceu ter cometido um erro ao enviar os áudios.

“Falei besteira, sou homem para assumir. Eu comparei é obvio com a situação que a gente tem aqui em São Paulo. Eu não sou santo, sou homem, sou jovem, eu fui para lá, eu vi um monte de mulheres bonitas sendo simpáticas. Eu falei, porque isso está acontecendo? Talvez porque aqui em São Paulo as mulheres sejam mais inacessíveis”, afirmou.

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O MBL repudiou as declarações de Arthur do Val e, em nota, disse subscrever o pedido de desculpas do deputado, ao afirmar que os áudios "não são corretos com as mulheres brasileiras e ucranianas". Defenderam, porém, que a atitude do integrante do movimento não invalida o objetivo da viagem, que teria o objetivo de arrecadar suprimentos aos refugiados ucranianos. 

O movimento ainda atacou "lulistas" e "bolsonaristas" e afirmou que continua "trabalhando em prol da terceira via".

Podemos

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As declarações do deputado repercutiram mal na cúpula do Podemos. O presidenciável Sérgio Moro foi duro nas respostas e descreveu o tratamento do deputado com as ucranianas refugiadas e policiais como “inaceitável em qualquer contexto”. 

“Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas que têm esse tipo de opinião e comportamento. Espero que meu partido se manifeste brevemente diante da gravidade que a situação exige”, afirmou o presidenciável através de nota.

O senador Alvaro Dias (Podemos) também repudiou as declarações de Do Val. “Nossa posição é de pedir à executiva nacional uma atitude urgente e rigorosa, de rompimento. Nós não podemos conviver com o inacreditável. Porque é inacreditável alguém que postula cargo de governador de São Paulo dizer bobagens dessa grandeza", afirmou Dias.

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A presidente do Podemos, Renata Abreu, classificou as declarações como "gravíssimas e inaceitáveis". " Não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro País, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra", disse Renata Abreu. Segundo ela, o partido instaurou de imediato um procedimento disciplinar interno para apuração dos fatos.

Áudios

Nas gravações enviadas a um grupo de WhatsApp, Do Val comenta sobre as policiais da alfândega. “Mano, eu tô mal. Tô mal, tô mal. Eu passei agora, são quatro barreiras alfandegárias. São duas casinhas em cada país. Mano, eu juro para vocês, eu contei: foram 12 policiais deusas.. Mas deusa assim que você casa e você faz tudo o que ela quiser”, disse. 

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Ele também disse que a fila da melhor balada do Brasil "não chega aos pés" da fila de refugiadas na Ucrânia. Arthur do Val viajou à Ucrânia, acompanhado do dirigente do Movimento Brasil Livre (MBL), Renan dos Santos, para relatar o conflito no leste europeu. Durante os últimos dias, o parlamentar utilizou as redes sociais para compartilhar fotos da fronteira e chegou a publicar uma foto na qual afirma estar produzindo Coquetéis Molotov para o exército Ucraniano.

Arthur do Val também afirmou nos áudios que Renan dos Santos, dirigente do MBL que o acompanhou na Ucrânia, viaja frequentemente para o leste europeu para "pegar loiras”. No pedido de desculpas, o deputado disse que errou e que Renan nunca tinha viajado àquela região. 

Denúncias

O Movimento Brasil Livre foi denunciado ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pela Uneafro. A organização pede que a Promotoria do Núcleo de Direitos Humanos  investigue a viagem de Arthur do Val à Ucrânia e, ao criticar as fotos do deputado do Podemos ao lado de bombas caseiras, alega a existência de uma suposta relação do MBL com os grupos neonazistas ucranianos. "Queremos saber quais grupos articularam a ida de @arthurmoledoval à Ucrânia; Quem o abriga lá; e quais grupos garantem sua segurança circulando pelas fronteiras de um país em guerra", escreveu a organização no Instagram. 

Em ofício, a Uneafro pede ainda que Do Val seja investigado por "incentivar o turismo sexual" e pede a cassação do mandato do deputado. 

Em nota, o MBL afirmou que a representação da Uneafro é uma ação "publicitária". "A representação não passa de um delírio oportunista que tenta criar conexões inexistentes. Trata-se de uma ação puramente publicitária, com a plena ciência de que não existem fundamentos para se chegar a algum resultado jurídico, mas apenas midiático", escreveu. O movimento destacou que a viagem à Ucrânia "apresentou resultados práticos", com a arrecadação de suprimentos ao Exército e refugiados ucranianos.

Além do processo interno no partido e da denúncia no Ministério Público, Do Val também já é alvo de pedidos de cassação na Assembleia Legislativa de SP. 

O caso também repercutiu no Senado. O senador Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, afirmou que quer convocar Arthur do Val após as declarações ofensivas proferidas contra mulheres ucranianas.

 "É inadmissível que alguém com mandato parlamentar agrida vítimas de guerra de forma tão brutal, aumentando o horror da tragédia já vivida por elas. Ou tomamos uma atitude drástica ou essa violência praticada por um parlamentar pode ser encarada como uma agressão do próprio Brasil", afirmou o parlamentar em sua conta no Twitter neste sábado.

 "Ele terá de comparecer para explicar as declarações misóginas, machistas e atentatórias à dignidade humana que fez contra as ucranianas", completou.

Viagem

Arthur do Val e Renan Santos, coordenador do MBL, desembarcaram na Europa no último dia 28 e, de lá, foram à Eslováquia, na fronteira com a Ucrânia. Em vídeos publicados nas redes sociais, a dupla afirmou que a proposta da viagem era acompanhar in loco a invasão russa e contestar a posição do Brasil e de Jair Bolsonaro sobre o conflito. Enquanto esteve no país, o deputado auxiliou na produção de coquetéis molotov como forma de contribuir com a resistência ucraniana. Ele alegou ter viajado com recursos próprios e usado o recesso de carnaval para realizar a ação.

Em uma live publicada no dia 1º de março, os integrantes do MBL encabeçaram uma campanha que arrecadou mais de R$ 180 mil, o equivalente a 31,5 mil euros, em doações. De acordo com o grupo, o valor foi usado para compra de suprimentos doados às vítimas do conflito. 

Na última quarta-feira, o pré-candidato do Podemos à presidência, Sérgio Moro, elogiou a iniciativa de Do Val. "É sempre louvável quando saímos do discurso e partimos para a prática", publicou em sua conta pessoal no Twitter, um dia após a arrecadação das doações. /COLABORARAM GUSTAVO QUEIROZ, DAVI MEDEIROS, DANIEL REIS, MATHEUS LARA, CAMILA TURTELLI E RUBENS ANATER

O deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) decidiu retirar sua pré-candidatura ao governo de São Paulo após a divulgação de áudios em que diz que mulheres ucranianas são “fáceis porque são pobres”. “Não tenho compromisso com o erro. Por isso, entrei em contato com a presidente do Podemos, Renata Abreu, para retirar minha pré-candidatura ao governo de São Paulo”, escreveu em nota publicada no Instagram. 

Do Val disse ainda que tomou essa decisão na tentativa de preservar o que chamou de “construção de uma terceira via”. “O projeto não merece que minhas lamentáveis falas sejam utilizadas para atacá-lo", completou.

A preocupação no Podemos é sobre como a polêmica envolvendo um membro do Movimento Brasil Livre (MBL) pode recair sobre a pré-candidatura do ex-juiz Sérgio Moro, a quem o grupo se aliou.

Mais cedo, o deputado publicou um vídeo em que diz que suas falas foram “escrotas” e “machistas”. “Eu estou sendo moleque. Essa não é a postura que as pessoas esperam de mim”, disse em vídeo intitulado “pedido de desculpas” publicado neste sábado, 5, no Youtube. 

Chegada do deputado estadual Arthur do Val no aeroporto de Guarulhos. Ele teve áudios vazados com discurso que depreciava mulheres ucranianas Foto: Willian Moreira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Conhecido como “Mamãe Falei”, Do Val afirmou que aceita ser julgado pelo que falou, mas que não aceita ser julgado pelo que não fez. “Tive a experiência mais transformadora que já vivi, vi exemplos de civilidade. Isso está sendo colocado como se eu tivesse ido arriscar minha vida para fazer turismo sexual”, concluiu. 

Segundo ele, os áudios teriam sido enviados para um “grupo de amigos do futebol”, depois de sair da Ucrânia, quando estava na Eslováquia e a “tensão” tinha passado. “O que eu senti naquele momento, eu senti alegria. Comecei a mandar mensagem para todo mundo”, defendeu, alegando que mandou áudios “contando vantagem”. 

Antes da publicação do vídeo, o deputado falou com jornalistas no aeroporto de Guarulhos imediatamente após chegar de viagem da Europa. Na ocasião, defendeu que foi à Ucrânia em uma missão humanitária e pediu desculpa às mulheres que se sentiram ofendidas. Também atribuiu a fala a um momento de empolgação e reconheceu ter cometido um erro ao enviar os áudios.

“Falei besteira, sou homem para assumir. Eu comparei é obvio com a situação que a gente tem aqui em São Paulo. Eu não sou santo, sou homem, sou jovem, eu fui para lá, eu vi um monte de mulheres bonitas sendo simpáticas. Eu falei, porque isso está acontecendo? Talvez porque aqui em São Paulo as mulheres sejam mais inacessíveis”, afirmou.

O MBL repudiou as declarações de Arthur do Val e, em nota, disse subscrever o pedido de desculpas do deputado, ao afirmar que os áudios "não são corretos com as mulheres brasileiras e ucranianas". Defenderam, porém, que a atitude do integrante do movimento não invalida o objetivo da viagem, que teria o objetivo de arrecadar suprimentos aos refugiados ucranianos. 

O movimento ainda atacou "lulistas" e "bolsonaristas" e afirmou que continua "trabalhando em prol da terceira via".

Podemos

As declarações do deputado repercutiram mal na cúpula do Podemos. O presidenciável Sérgio Moro foi duro nas respostas e descreveu o tratamento do deputado com as ucranianas refugiadas e policiais como “inaceitável em qualquer contexto”. 

“Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas que têm esse tipo de opinião e comportamento. Espero que meu partido se manifeste brevemente diante da gravidade que a situação exige”, afirmou o presidenciável através de nota.

O senador Alvaro Dias (Podemos) também repudiou as declarações de Do Val. “Nossa posição é de pedir à executiva nacional uma atitude urgente e rigorosa, de rompimento. Nós não podemos conviver com o inacreditável. Porque é inacreditável alguém que postula cargo de governador de São Paulo dizer bobagens dessa grandeza", afirmou Dias.

A presidente do Podemos, Renata Abreu, classificou as declarações como "gravíssimas e inaceitáveis". " Não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro País, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra", disse Renata Abreu. Segundo ela, o partido instaurou de imediato um procedimento disciplinar interno para apuração dos fatos.

Áudios

Nas gravações enviadas a um grupo de WhatsApp, Do Val comenta sobre as policiais da alfândega. “Mano, eu tô mal. Tô mal, tô mal. Eu passei agora, são quatro barreiras alfandegárias. São duas casinhas em cada país. Mano, eu juro para vocês, eu contei: foram 12 policiais deusas.. Mas deusa assim que você casa e você faz tudo o que ela quiser”, disse. 

Ele também disse que a fila da melhor balada do Brasil "não chega aos pés" da fila de refugiadas na Ucrânia. Arthur do Val viajou à Ucrânia, acompanhado do dirigente do Movimento Brasil Livre (MBL), Renan dos Santos, para relatar o conflito no leste europeu. Durante os últimos dias, o parlamentar utilizou as redes sociais para compartilhar fotos da fronteira e chegou a publicar uma foto na qual afirma estar produzindo Coquetéis Molotov para o exército Ucraniano.

Arthur do Val também afirmou nos áudios que Renan dos Santos, dirigente do MBL que o acompanhou na Ucrânia, viaja frequentemente para o leste europeu para "pegar loiras”. No pedido de desculpas, o deputado disse que errou e que Renan nunca tinha viajado àquela região. 

Denúncias

O Movimento Brasil Livre foi denunciado ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pela Uneafro. A organização pede que a Promotoria do Núcleo de Direitos Humanos  investigue a viagem de Arthur do Val à Ucrânia e, ao criticar as fotos do deputado do Podemos ao lado de bombas caseiras, alega a existência de uma suposta relação do MBL com os grupos neonazistas ucranianos. "Queremos saber quais grupos articularam a ida de @arthurmoledoval à Ucrânia; Quem o abriga lá; e quais grupos garantem sua segurança circulando pelas fronteiras de um país em guerra", escreveu a organização no Instagram. 

Em ofício, a Uneafro pede ainda que Do Val seja investigado por "incentivar o turismo sexual" e pede a cassação do mandato do deputado. 

Em nota, o MBL afirmou que a representação da Uneafro é uma ação "publicitária". "A representação não passa de um delírio oportunista que tenta criar conexões inexistentes. Trata-se de uma ação puramente publicitária, com a plena ciência de que não existem fundamentos para se chegar a algum resultado jurídico, mas apenas midiático", escreveu. O movimento destacou que a viagem à Ucrânia "apresentou resultados práticos", com a arrecadação de suprimentos ao Exército e refugiados ucranianos.

Além do processo interno no partido e da denúncia no Ministério Público, Do Val também já é alvo de pedidos de cassação na Assembleia Legislativa de SP. 

O caso também repercutiu no Senado. O senador Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, afirmou que quer convocar Arthur do Val após as declarações ofensivas proferidas contra mulheres ucranianas.

 "É inadmissível que alguém com mandato parlamentar agrida vítimas de guerra de forma tão brutal, aumentando o horror da tragédia já vivida por elas. Ou tomamos uma atitude drástica ou essa violência praticada por um parlamentar pode ser encarada como uma agressão do próprio Brasil", afirmou o parlamentar em sua conta no Twitter neste sábado.

 "Ele terá de comparecer para explicar as declarações misóginas, machistas e atentatórias à dignidade humana que fez contra as ucranianas", completou.

Viagem

Arthur do Val e Renan Santos, coordenador do MBL, desembarcaram na Europa no último dia 28 e, de lá, foram à Eslováquia, na fronteira com a Ucrânia. Em vídeos publicados nas redes sociais, a dupla afirmou que a proposta da viagem era acompanhar in loco a invasão russa e contestar a posição do Brasil e de Jair Bolsonaro sobre o conflito. Enquanto esteve no país, o deputado auxiliou na produção de coquetéis molotov como forma de contribuir com a resistência ucraniana. Ele alegou ter viajado com recursos próprios e usado o recesso de carnaval para realizar a ação.

Em uma live publicada no dia 1º de março, os integrantes do MBL encabeçaram uma campanha que arrecadou mais de R$ 180 mil, o equivalente a 31,5 mil euros, em doações. De acordo com o grupo, o valor foi usado para compra de suprimentos doados às vítimas do conflito. 

Na última quarta-feira, o pré-candidato do Podemos à presidência, Sérgio Moro, elogiou a iniciativa de Do Val. "É sempre louvável quando saímos do discurso e partimos para a prática", publicou em sua conta pessoal no Twitter, um dia após a arrecadação das doações. /COLABORARAM GUSTAVO QUEIROZ, DAVI MEDEIROS, DANIEL REIS, MATHEUS LARA, CAMILA TURTELLI E RUBENS ANATER

O deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) decidiu retirar sua pré-candidatura ao governo de São Paulo após a divulgação de áudios em que diz que mulheres ucranianas são “fáceis porque são pobres”. “Não tenho compromisso com o erro. Por isso, entrei em contato com a presidente do Podemos, Renata Abreu, para retirar minha pré-candidatura ao governo de São Paulo”, escreveu em nota publicada no Instagram. 

Do Val disse ainda que tomou essa decisão na tentativa de preservar o que chamou de “construção de uma terceira via”. “O projeto não merece que minhas lamentáveis falas sejam utilizadas para atacá-lo", completou.

A preocupação no Podemos é sobre como a polêmica envolvendo um membro do Movimento Brasil Livre (MBL) pode recair sobre a pré-candidatura do ex-juiz Sérgio Moro, a quem o grupo se aliou.

Mais cedo, o deputado publicou um vídeo em que diz que suas falas foram “escrotas” e “machistas”. “Eu estou sendo moleque. Essa não é a postura que as pessoas esperam de mim”, disse em vídeo intitulado “pedido de desculpas” publicado neste sábado, 5, no Youtube. 

Chegada do deputado estadual Arthur do Val no aeroporto de Guarulhos. Ele teve áudios vazados com discurso que depreciava mulheres ucranianas Foto: Willian Moreira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Conhecido como “Mamãe Falei”, Do Val afirmou que aceita ser julgado pelo que falou, mas que não aceita ser julgado pelo que não fez. “Tive a experiência mais transformadora que já vivi, vi exemplos de civilidade. Isso está sendo colocado como se eu tivesse ido arriscar minha vida para fazer turismo sexual”, concluiu. 

Segundo ele, os áudios teriam sido enviados para um “grupo de amigos do futebol”, depois de sair da Ucrânia, quando estava na Eslováquia e a “tensão” tinha passado. “O que eu senti naquele momento, eu senti alegria. Comecei a mandar mensagem para todo mundo”, defendeu, alegando que mandou áudios “contando vantagem”. 

Antes da publicação do vídeo, o deputado falou com jornalistas no aeroporto de Guarulhos imediatamente após chegar de viagem da Europa. Na ocasião, defendeu que foi à Ucrânia em uma missão humanitária e pediu desculpa às mulheres que se sentiram ofendidas. Também atribuiu a fala a um momento de empolgação e reconheceu ter cometido um erro ao enviar os áudios.

“Falei besteira, sou homem para assumir. Eu comparei é obvio com a situação que a gente tem aqui em São Paulo. Eu não sou santo, sou homem, sou jovem, eu fui para lá, eu vi um monte de mulheres bonitas sendo simpáticas. Eu falei, porque isso está acontecendo? Talvez porque aqui em São Paulo as mulheres sejam mais inacessíveis”, afirmou.

O MBL repudiou as declarações de Arthur do Val e, em nota, disse subscrever o pedido de desculpas do deputado, ao afirmar que os áudios "não são corretos com as mulheres brasileiras e ucranianas". Defenderam, porém, que a atitude do integrante do movimento não invalida o objetivo da viagem, que teria o objetivo de arrecadar suprimentos aos refugiados ucranianos. 

O movimento ainda atacou "lulistas" e "bolsonaristas" e afirmou que continua "trabalhando em prol da terceira via".

Podemos

As declarações do deputado repercutiram mal na cúpula do Podemos. O presidenciável Sérgio Moro foi duro nas respostas e descreveu o tratamento do deputado com as ucranianas refugiadas e policiais como “inaceitável em qualquer contexto”. 

“Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas que têm esse tipo de opinião e comportamento. Espero que meu partido se manifeste brevemente diante da gravidade que a situação exige”, afirmou o presidenciável através de nota.

O senador Alvaro Dias (Podemos) também repudiou as declarações de Do Val. “Nossa posição é de pedir à executiva nacional uma atitude urgente e rigorosa, de rompimento. Nós não podemos conviver com o inacreditável. Porque é inacreditável alguém que postula cargo de governador de São Paulo dizer bobagens dessa grandeza", afirmou Dias.

A presidente do Podemos, Renata Abreu, classificou as declarações como "gravíssimas e inaceitáveis". " Não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro País, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra", disse Renata Abreu. Segundo ela, o partido instaurou de imediato um procedimento disciplinar interno para apuração dos fatos.

Áudios

Nas gravações enviadas a um grupo de WhatsApp, Do Val comenta sobre as policiais da alfândega. “Mano, eu tô mal. Tô mal, tô mal. Eu passei agora, são quatro barreiras alfandegárias. São duas casinhas em cada país. Mano, eu juro para vocês, eu contei: foram 12 policiais deusas.. Mas deusa assim que você casa e você faz tudo o que ela quiser”, disse. 

Ele também disse que a fila da melhor balada do Brasil "não chega aos pés" da fila de refugiadas na Ucrânia. Arthur do Val viajou à Ucrânia, acompanhado do dirigente do Movimento Brasil Livre (MBL), Renan dos Santos, para relatar o conflito no leste europeu. Durante os últimos dias, o parlamentar utilizou as redes sociais para compartilhar fotos da fronteira e chegou a publicar uma foto na qual afirma estar produzindo Coquetéis Molotov para o exército Ucraniano.

Arthur do Val também afirmou nos áudios que Renan dos Santos, dirigente do MBL que o acompanhou na Ucrânia, viaja frequentemente para o leste europeu para "pegar loiras”. No pedido de desculpas, o deputado disse que errou e que Renan nunca tinha viajado àquela região. 

Denúncias

O Movimento Brasil Livre foi denunciado ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pela Uneafro. A organização pede que a Promotoria do Núcleo de Direitos Humanos  investigue a viagem de Arthur do Val à Ucrânia e, ao criticar as fotos do deputado do Podemos ao lado de bombas caseiras, alega a existência de uma suposta relação do MBL com os grupos neonazistas ucranianos. "Queremos saber quais grupos articularam a ida de @arthurmoledoval à Ucrânia; Quem o abriga lá; e quais grupos garantem sua segurança circulando pelas fronteiras de um país em guerra", escreveu a organização no Instagram. 

Em ofício, a Uneafro pede ainda que Do Val seja investigado por "incentivar o turismo sexual" e pede a cassação do mandato do deputado. 

Em nota, o MBL afirmou que a representação da Uneafro é uma ação "publicitária". "A representação não passa de um delírio oportunista que tenta criar conexões inexistentes. Trata-se de uma ação puramente publicitária, com a plena ciência de que não existem fundamentos para se chegar a algum resultado jurídico, mas apenas midiático", escreveu. O movimento destacou que a viagem à Ucrânia "apresentou resultados práticos", com a arrecadação de suprimentos ao Exército e refugiados ucranianos.

Além do processo interno no partido e da denúncia no Ministério Público, Do Val também já é alvo de pedidos de cassação na Assembleia Legislativa de SP. 

O caso também repercutiu no Senado. O senador Humberto Costa (PT-PE), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa, afirmou que quer convocar Arthur do Val após as declarações ofensivas proferidas contra mulheres ucranianas.

 "É inadmissível que alguém com mandato parlamentar agrida vítimas de guerra de forma tão brutal, aumentando o horror da tragédia já vivida por elas. Ou tomamos uma atitude drástica ou essa violência praticada por um parlamentar pode ser encarada como uma agressão do próprio Brasil", afirmou o parlamentar em sua conta no Twitter neste sábado.

 "Ele terá de comparecer para explicar as declarações misóginas, machistas e atentatórias à dignidade humana que fez contra as ucranianas", completou.

Viagem

Arthur do Val e Renan Santos, coordenador do MBL, desembarcaram na Europa no último dia 28 e, de lá, foram à Eslováquia, na fronteira com a Ucrânia. Em vídeos publicados nas redes sociais, a dupla afirmou que a proposta da viagem era acompanhar in loco a invasão russa e contestar a posição do Brasil e de Jair Bolsonaro sobre o conflito. Enquanto esteve no país, o deputado auxiliou na produção de coquetéis molotov como forma de contribuir com a resistência ucraniana. Ele alegou ter viajado com recursos próprios e usado o recesso de carnaval para realizar a ação.

Em uma live publicada no dia 1º de março, os integrantes do MBL encabeçaram uma campanha que arrecadou mais de R$ 180 mil, o equivalente a 31,5 mil euros, em doações. De acordo com o grupo, o valor foi usado para compra de suprimentos doados às vítimas do conflito. 

Na última quarta-feira, o pré-candidato do Podemos à presidência, Sérgio Moro, elogiou a iniciativa de Do Val. "É sempre louvável quando saímos do discurso e partimos para a prática", publicou em sua conta pessoal no Twitter, um dia após a arrecadação das doações. /COLABORARAM GUSTAVO QUEIROZ, DAVI MEDEIROS, DANIEL REIS, MATHEUS LARA, CAMILA TURTELLI E RUBENS ANATER

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