RIO - No dia que marca cinco anos do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, três faixas foram estendidas, na manhã desta terça, 14, em frente à Câmara Municipal do Rio com a pergunta que três governos, cinco delegados e diferentes forças-tarefas do Ministério Público do Rio de Janeiro ainda não conseguiram responder: ‘Quem matou Marielle Franco?’. O ato no início da manhã foi o primeiro de uma série de ações previstas para a data.
“Como todo 14 (de março), é um sentimento de dor, e este em especial. São cinco anos de um assassinato que abalou a democracia do País, cinco anos sem resposta. Do tempo da saudade pessoal, é muito tempo. E cinco anos sem resposta de um assassinato desses para a história do País é mais do que muito tempo”, disse a vereadora Mônica Benício (PSOL), viúva de Marielle Franco.
O ato na Praça Marechal Floriano, em frente à Câmara, reuniu pouca gente. Foi marcado pelo silêncio, pedidos por justiça e também de cobrança ao governo do Estado e órgãos de segurança. Parentes, amigos e ex-companheiros de luta política não se conformam com a incapacidade dos investigadores para identificar quem e por que mandou matar Marielle. Desde 2019, dois suspeitos, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, estão presos preventivamente pelo crime. Ambos alegam inocência.
“Não tenho dúvida de que, cinco anos depois do assassinato de Marielle, não termos os nomes dos mandantes significa evidentemente que esse é um crime político dos mais importantes da história brasileira”, declarou a deputada estadual Renata Souza (PSOL).
A vereadora Luciana Boiteux (PSOL) pediu por atuação mais firme do Ministério Público. “Este é um dia muito triste para todas nós, que convivíamos cotidianamente com Marielle. É dia de cobrar respostas. Cinco anos é muito tempo sem resposta”, disse. “
Ao longo do dia, uma série de atos na cidade estão marcados para lembrar os cinco anos das mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes. Uma escultura da vereadora será inaugurada no Museu de Arte do Rio e no Museu do Amanhã. Haverá ainda oficinas e um festival no início da noite.
Viúva
Às 15h desta terça, o governador Cláudio Castro (PL) recebeu no Palácio Guanabara, sede do governo do Estado, em Laranjeiras (zona sul do Rio), a diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, e outros integrantesda entidade para conversar sobre a investigação do assassinato de Marielle e Anderson. A apuração é conduzida pela Polícia Civil, subordinada ao mandatário. Repórteres não puderam acompanhar a reunião, que prosseguia até o meio da tarde. Os jornalistas também não foram autorizados a ficar na sede do governo. Tiveram que esperar do lado de fora, na calçada.
A vereadora Mônica Benicio (PSOL), viúva de Marielle, acompanharia a reunião, mas decidiu não participar, em protesto contra o que considera falta de interesse do governador em esclarecer o crime.
“Há um ano, eu e toda a família de Marielle viemos aqui e o governador disse que teria todo empenho na investigação, mas não foi isso que vimos. Então, não quero participar de novo disso”, afirmou, antes de ir embora do Palácio. Quando lhe perguntaram se avisou ao governador sobre sua ausência, ela foi enfática: “Não me dei o trabalho de fazer isso”.
Mônica afirmou ter esperanças de que o caso seja finalmente esclarecido com a participação da Polícia Federal.
“Essa é nossa expectativa”.
Decepção
Após a reunião com Castro e integrantes da Polícia Civil no Palácio Guanabara,Jurema Werneck, demonstrou decepção.
“Dissemos que a gente não quer voltar no ano que vem. Cinco anos é tempo demais para a gente ainda não saber quem mandou matar. O governador nos disse que reconhecia que é vergonhoso o Estado do Rio não ter uma resposta em relação a isso”, afirmou.
Segundo Jurema, as autoridades não deram nenhuma informação sobre a investigação.
“A reunião desse ano foi igual à do ano passado, que foi igual à do ano anterior, em que todos afirmam empenho, o governo do Estado, o Ministério Público do Estado, os policiais, todo mundo reafirma seu empenho, mas resposta mesmo continua faltando”, afirmou.
Ela defendeu a criação de um comitê internacional para monitorar e auxiliar na investigação do crime.
“A Anistia Internacional reitera que se dispõe a colaborar na formação dessa comissão, para ajudar a Polícia a investigar esse caso”