A manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para este domingo, 25, na Avenida Paulista, em São Paulo, reuniu 600 mil pessoas em uma das vias mais importantes da capital paulista, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP). O número de presentes ultrapassou o registrado em atos anteriores promovidos pelo ex-mandatário no mesmo local, porém não superou a quantidade de pessoas que foram à avenida durante a campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2015.
De acordo com a estimativa da SSP na época, 1,4 milhão de pessoas estiveram na Paulista protestando contra a então presidente Dilma Rousseff em março de 2015. Até hoje, esse é considerado o maior protesto registrado na avenida. Por outro lado, a manifestação bolsonarista deste domingo superou os atos de 7 de Setembro de 2021 e 2022, quando 50,4 mil e 125 mil, respectivamente, foram à Paulista em favor de Bolsonaro, segundo a Secretaria.
Ainda segundo dados da SSP, o público total da manifestação deste domingo chegou a 750 mil, considerando não só os presentes na Paulista como também os manifestantes nas ruas adjacentes.
As estimativas realizadas pela Secretaria, porém, divergem de levantamentos feitos por outras entidades. A pré-campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição com apoio de Bolsonaro, divulgou um texto informando que havia 1,8 milhão de pessoas na Paulista. A equipe do emedebista atribuiu o dado ao Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), órgão subordinado à SSP.
A reportagem questionou o Copom sobre a estimativa divulgada pela equipe de Nunes. Em resposta, o oficial de plantão na sala de operações da PM disse que a corporação não havia divulgado qualquer número sobre a manifestação na Paulista, e que a Secretaria de Segurança Pública era a instância responsável sobre o assunto.
Já o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP) apurou que o público no pico da manifestação, às 15 horas, foi de 185 mil pessoas. Considerando os dados do monitor da USP, o ato bolsonarista reuniu mais pessoas do que a manifestação em celebração a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2022. Em outubro daquele ano, 58,2 mil pessoas se reuniram na Paulista para comemorar a eleição do petista.
Para chegar nesse número, o monitor da USP tirou 43 fotos entre 15h e 17h. Onze fotos foram selecionadas de forma a cobrir a extensão da manifestação na Paulista, sem sobreposição. Cada uma das fotos foi repartida em oito pedaços. Em cada parte, foi aplicada uma implementação do método Point to Point Network (P2PNet)1 que identifica cabeças e estima a quantidade de pessoas em uma imagem. O método tem precisão de 72,9% e acurácia de 69,5% na identificação de cada indivíduo.
O Monitor do Debate Político no Meio Digital é um projeto de pesquisa realizado desde 2016 pelo Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação (GPoPAI) com sede na USP Leste. Desde agosto de 2022, o projeto faz a estimativa de público de manifestações políticas.
Bolsonaro minimiza minuta do golpe e pede anistia para presos do 8/1
Investigado pela Polícia Federal por suposta tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro afirmou neste domingo, durante ato político na Paulista que sofre uma perseguição que se recrudesceu depois que deixou a Presidência no fim de 2022 e pediu anistia a presos do 8 de Janeiro. Em um discurso para milhares de apoiadores, o ex-mandatário negou liderar uma articulação golpista depois da derrota nas eleições.
Ele minimizou a existência da “minuta do golpe”, da qual foi o mentor, segundo a Polícia Federal (PF). Segundo ele, estados de sítio e defesa estão previstos na Constituição e só poderiam ser acionados depois de consulta a conselhos da República e deliberação do Congresso, o que não ocorreu.
A manifestação com milhares de pessoas foi convocada pessoalmente por Bolsonaro para mostrar força política e apoio popular no momento em que ele e aliados são pressionados por inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele se mostrou satisfeito com a adesão dos apoiadores e disse que a “fotografia vai rodar o mundo”.
A manifestação na Paulista foi bancada pelo pastor evangélico Silas Malafaia, que estimou na sexta-feira desembolsar entre R$ 90 mil e R$ 100 mil para arcar com toda a estrutura do evento, como fornecimento de água, instalação de grades e transmissão pela internet — há seguranças privados, mas a Polícia Militar também atua no local. Malafaia alugou dois trios elétricos que estão dispostos em “L”: um maior, onde está Bolsonaro e os aliados mais importantes, de onde são feitos os discursos e um segundo veículo, sem estrutura de som, para abrigar os demais convidados, fotógrafos e cinegrafistas.