Banco da praça, PowerPoint do Deltan, ‘tudo joia’ na Receita: governo Lula aposta em piada nas redes


Publicações feitas no perfil da Secretaria de Comunicação nas redes sociais satirizam fatos políticos; especialistas consideram que estratégia ultrapassa atribuições de Estado

Por Isabella Alonso Panho

SÃO PAULO – O mesmo banco de praça em que o humorista Carlos Alberto de Nóbrega se sentava no programa humorístico que o consagrou na televisão foi usado pelo perfil da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência nas redes sociais para divulgar, nesta semana, um programa de renegociações de dívidas do governo. O anúncio tem a imagem de uma idosa, em referência à personagem Velha Surda, do “A Praça é Nossa”, do SBT.

A publicação ironiza crítica feita por Nóbrega ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dias antes, embora não haja uma menção explícita ao humorista. O post não é o primeiro da Secom no Twitter a satirizar fatos políticos para promover ações governamentais. O governo Lula diz que é “a lógicas das redes”. Especialistas ouvidos pelo Estadão, porém, consideram que a estratégia da comunicação oficial é um “problema de postura” e ultrapassa as atribuições de Estado.

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Durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira, 3, Carlos Alberto de Nóbrega disse que a falta de um diploma de curso superior no currículo do presidente seria o fator responsável pelo Brasil estar “desse jeito”. “Um homem que não tem um curso ginasial, universitário, contábil… ser presidente da República? Por isso que o País está desse jeito”, disse Nóbrega durante o programa. Ele comanda “A Praça é Nossa” há 36 anos. No programa, ele permanece sentado em um banco de praça interagindo com outros personagens.

“Nome sujo na praça já era. O Governo Federal está lançando um grande programa para renegociar as dívidas de 70 milhões de brasileiros: o Desenrola Brasil!”, diz a publicação da Secom, feita na quarta-feira, 5, onde a palavra “praça” aparece em destaque com letras vermelhas.

O ministro-chefe da Secom, Paulo Pimenta, defendeu as publicações feitas pela pasta como uma estratégia "criativa" de atingir o público Foto: Wilton Junior/Estadão
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Questionado pela reportagem, o ministro da Secom, Paulo Pimenta, disse que a publicação não é uma indireta para o humorista. “Quando você vincula uma informação a um assunto que está na ordem do dia, isso alavanca o alcance. Isso é mercadológico, é a lógica das redes”, disse o ministro ao Estadão.

De acordo com Pimenta, as publicações em tom humorístico são estrategicamente pensadas pela equipe da Secom para aumentar o engajamento do público e “fazer que a informação chegue o mais longe possível”. “É uma comunicação inteligente, criativa e moderna”, disse o ministro.

Ironia com Deltan

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Outro episódio com estratégia semelhante foi uma publicação feita pela Secom no dia 17 de maio, um dia depois da cassação do deputado lavajatista Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Em 2016, durante a operação que condenou e prendeu Lula, o ex-procurador da força-tarefa usou uma apresentação de PowerPoint para explicar as provas que possuía contra o petista.

Em maio deste ano, o mesmo modelo de apresentação feito por Dallagnol na ocasião foi replicado pela Secom para mostrar entregas dos primeiros 137 dias de governo.

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Vacinação da filha de Bolsonaro

Também em maio, no mesmo dia em que Bolsonaro foi alvo de uma operação da Polícia Federal que o investiga pelo crime de falsificação dos cartões de vacinação seu e de sua filha mais nova, Laura, a Secom usou o mote para falar sobre a importância de cumprir os protocolos sanitários antes de viagens ao exterior.

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Joias no governo Bolsonaro

O caso das joias, revelado pelo Estadão, também foi tema de publicações no perfil da Secom. O ex-presidente Jair Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o Brasil um conjunto de joias que recebeu de presente do governo da Arábia Saudita sem declará-lo como patrimônio da União.

Dias depois de o caso vir à tona, a Secom usou um “tudo joia?” em uma publicação para relembrar os usuários de declarar o Imposto de Renda (IR) de 2023.

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Institucional x pessoal

Para o professor de Marketing Político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Marcelo Vitorino, as brincadeiras feitas no perfil da Secom “ainda não chegam a ser um problema legal, mas talvez de postura”. “O artigo 37 da Constituição fala que a comunicação tem que ser impessoal, sem o uso de marcas ou de nomes. Por isso, é claro que um meio de comunicação institucional não pode fazer promoção pessoal específica”, explicou.

Ele avalia que a falta de clareza sobre esse limite entre o institucional e o pessoal foi o que motivou condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Bolsonaro usou muito desse recurso durante todo o seu mandato. O processo que o tornou inelegível teve como principal elemento comprobatório o fato de ele ter usado um meio de comunicação institucional.”

No dia 18 de julho de 2022, o ex-presidente usou uma reunião com embaixadores para criticar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, antecipando uma das suas bandeiras de campanha. O encontro foi transmitido por canais oficiais do governo.

‘Estado não faz piada’

A própria constituição da figura do Estado passa por uma contrapartida que envolve a questão da comunicação, explica o jornalista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Eugênio Bucci. “Para haver convivência pacífica em uma sociedade que observa leis, o cidadão precisa renunciar à tentação de querer fazer justiça com as próprias mãos. Existe nisso uma contrapartida: da mesma forma, o Estado deve renunciar à tentação de opinar e querer orientar o debate público.”

De acordo com o professor, esses são “pontos de princípio de comunicação na democracia”. “O Estado não tem opinião partidária, religião ou gosto estético. O Estado não faz piada, não abraça religião, não define a conduta sexual das pessoas. Ele abre mão disso para poder ser Estado”, disse Bucci.

SÃO PAULO – O mesmo banco de praça em que o humorista Carlos Alberto de Nóbrega se sentava no programa humorístico que o consagrou na televisão foi usado pelo perfil da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência nas redes sociais para divulgar, nesta semana, um programa de renegociações de dívidas do governo. O anúncio tem a imagem de uma idosa, em referência à personagem Velha Surda, do “A Praça é Nossa”, do SBT.

A publicação ironiza crítica feita por Nóbrega ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dias antes, embora não haja uma menção explícita ao humorista. O post não é o primeiro da Secom no Twitter a satirizar fatos políticos para promover ações governamentais. O governo Lula diz que é “a lógicas das redes”. Especialistas ouvidos pelo Estadão, porém, consideram que a estratégia da comunicação oficial é um “problema de postura” e ultrapassa as atribuições de Estado.

Durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira, 3, Carlos Alberto de Nóbrega disse que a falta de um diploma de curso superior no currículo do presidente seria o fator responsável pelo Brasil estar “desse jeito”. “Um homem que não tem um curso ginasial, universitário, contábil… ser presidente da República? Por isso que o País está desse jeito”, disse Nóbrega durante o programa. Ele comanda “A Praça é Nossa” há 36 anos. No programa, ele permanece sentado em um banco de praça interagindo com outros personagens.

“Nome sujo na praça já era. O Governo Federal está lançando um grande programa para renegociar as dívidas de 70 milhões de brasileiros: o Desenrola Brasil!”, diz a publicação da Secom, feita na quarta-feira, 5, onde a palavra “praça” aparece em destaque com letras vermelhas.

O ministro-chefe da Secom, Paulo Pimenta, defendeu as publicações feitas pela pasta como uma estratégia "criativa" de atingir o público Foto: Wilton Junior/Estadão

Questionado pela reportagem, o ministro da Secom, Paulo Pimenta, disse que a publicação não é uma indireta para o humorista. “Quando você vincula uma informação a um assunto que está na ordem do dia, isso alavanca o alcance. Isso é mercadológico, é a lógica das redes”, disse o ministro ao Estadão.

De acordo com Pimenta, as publicações em tom humorístico são estrategicamente pensadas pela equipe da Secom para aumentar o engajamento do público e “fazer que a informação chegue o mais longe possível”. “É uma comunicação inteligente, criativa e moderna”, disse o ministro.

Ironia com Deltan

Outro episódio com estratégia semelhante foi uma publicação feita pela Secom no dia 17 de maio, um dia depois da cassação do deputado lavajatista Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Em 2016, durante a operação que condenou e prendeu Lula, o ex-procurador da força-tarefa usou uma apresentação de PowerPoint para explicar as provas que possuía contra o petista.

Em maio deste ano, o mesmo modelo de apresentação feito por Dallagnol na ocasião foi replicado pela Secom para mostrar entregas dos primeiros 137 dias de governo.

Vacinação da filha de Bolsonaro

Também em maio, no mesmo dia em que Bolsonaro foi alvo de uma operação da Polícia Federal que o investiga pelo crime de falsificação dos cartões de vacinação seu e de sua filha mais nova, Laura, a Secom usou o mote para falar sobre a importância de cumprir os protocolos sanitários antes de viagens ao exterior.

Joias no governo Bolsonaro

O caso das joias, revelado pelo Estadão, também foi tema de publicações no perfil da Secom. O ex-presidente Jair Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o Brasil um conjunto de joias que recebeu de presente do governo da Arábia Saudita sem declará-lo como patrimônio da União.

Dias depois de o caso vir à tona, a Secom usou um “tudo joia?” em uma publicação para relembrar os usuários de declarar o Imposto de Renda (IR) de 2023.

Institucional x pessoal

Para o professor de Marketing Político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Marcelo Vitorino, as brincadeiras feitas no perfil da Secom “ainda não chegam a ser um problema legal, mas talvez de postura”. “O artigo 37 da Constituição fala que a comunicação tem que ser impessoal, sem o uso de marcas ou de nomes. Por isso, é claro que um meio de comunicação institucional não pode fazer promoção pessoal específica”, explicou.

Ele avalia que a falta de clareza sobre esse limite entre o institucional e o pessoal foi o que motivou condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Bolsonaro usou muito desse recurso durante todo o seu mandato. O processo que o tornou inelegível teve como principal elemento comprobatório o fato de ele ter usado um meio de comunicação institucional.”

No dia 18 de julho de 2022, o ex-presidente usou uma reunião com embaixadores para criticar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, antecipando uma das suas bandeiras de campanha. O encontro foi transmitido por canais oficiais do governo.

‘Estado não faz piada’

A própria constituição da figura do Estado passa por uma contrapartida que envolve a questão da comunicação, explica o jornalista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Eugênio Bucci. “Para haver convivência pacífica em uma sociedade que observa leis, o cidadão precisa renunciar à tentação de querer fazer justiça com as próprias mãos. Existe nisso uma contrapartida: da mesma forma, o Estado deve renunciar à tentação de opinar e querer orientar o debate público.”

De acordo com o professor, esses são “pontos de princípio de comunicação na democracia”. “O Estado não tem opinião partidária, religião ou gosto estético. O Estado não faz piada, não abraça religião, não define a conduta sexual das pessoas. Ele abre mão disso para poder ser Estado”, disse Bucci.

SÃO PAULO – O mesmo banco de praça em que o humorista Carlos Alberto de Nóbrega se sentava no programa humorístico que o consagrou na televisão foi usado pelo perfil da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência nas redes sociais para divulgar, nesta semana, um programa de renegociações de dívidas do governo. O anúncio tem a imagem de uma idosa, em referência à personagem Velha Surda, do “A Praça é Nossa”, do SBT.

A publicação ironiza crítica feita por Nóbrega ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dias antes, embora não haja uma menção explícita ao humorista. O post não é o primeiro da Secom no Twitter a satirizar fatos políticos para promover ações governamentais. O governo Lula diz que é “a lógicas das redes”. Especialistas ouvidos pelo Estadão, porém, consideram que a estratégia da comunicação oficial é um “problema de postura” e ultrapassa as atribuições de Estado.

Durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira, 3, Carlos Alberto de Nóbrega disse que a falta de um diploma de curso superior no currículo do presidente seria o fator responsável pelo Brasil estar “desse jeito”. “Um homem que não tem um curso ginasial, universitário, contábil… ser presidente da República? Por isso que o País está desse jeito”, disse Nóbrega durante o programa. Ele comanda “A Praça é Nossa” há 36 anos. No programa, ele permanece sentado em um banco de praça interagindo com outros personagens.

“Nome sujo na praça já era. O Governo Federal está lançando um grande programa para renegociar as dívidas de 70 milhões de brasileiros: o Desenrola Brasil!”, diz a publicação da Secom, feita na quarta-feira, 5, onde a palavra “praça” aparece em destaque com letras vermelhas.

O ministro-chefe da Secom, Paulo Pimenta, defendeu as publicações feitas pela pasta como uma estratégia "criativa" de atingir o público Foto: Wilton Junior/Estadão

Questionado pela reportagem, o ministro da Secom, Paulo Pimenta, disse que a publicação não é uma indireta para o humorista. “Quando você vincula uma informação a um assunto que está na ordem do dia, isso alavanca o alcance. Isso é mercadológico, é a lógica das redes”, disse o ministro ao Estadão.

De acordo com Pimenta, as publicações em tom humorístico são estrategicamente pensadas pela equipe da Secom para aumentar o engajamento do público e “fazer que a informação chegue o mais longe possível”. “É uma comunicação inteligente, criativa e moderna”, disse o ministro.

Ironia com Deltan

Outro episódio com estratégia semelhante foi uma publicação feita pela Secom no dia 17 de maio, um dia depois da cassação do deputado lavajatista Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Em 2016, durante a operação que condenou e prendeu Lula, o ex-procurador da força-tarefa usou uma apresentação de PowerPoint para explicar as provas que possuía contra o petista.

Em maio deste ano, o mesmo modelo de apresentação feito por Dallagnol na ocasião foi replicado pela Secom para mostrar entregas dos primeiros 137 dias de governo.

Vacinação da filha de Bolsonaro

Também em maio, no mesmo dia em que Bolsonaro foi alvo de uma operação da Polícia Federal que o investiga pelo crime de falsificação dos cartões de vacinação seu e de sua filha mais nova, Laura, a Secom usou o mote para falar sobre a importância de cumprir os protocolos sanitários antes de viagens ao exterior.

Joias no governo Bolsonaro

O caso das joias, revelado pelo Estadão, também foi tema de publicações no perfil da Secom. O ex-presidente Jair Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o Brasil um conjunto de joias que recebeu de presente do governo da Arábia Saudita sem declará-lo como patrimônio da União.

Dias depois de o caso vir à tona, a Secom usou um “tudo joia?” em uma publicação para relembrar os usuários de declarar o Imposto de Renda (IR) de 2023.

Institucional x pessoal

Para o professor de Marketing Político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Marcelo Vitorino, as brincadeiras feitas no perfil da Secom “ainda não chegam a ser um problema legal, mas talvez de postura”. “O artigo 37 da Constituição fala que a comunicação tem que ser impessoal, sem o uso de marcas ou de nomes. Por isso, é claro que um meio de comunicação institucional não pode fazer promoção pessoal específica”, explicou.

Ele avalia que a falta de clareza sobre esse limite entre o institucional e o pessoal foi o que motivou condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Bolsonaro usou muito desse recurso durante todo o seu mandato. O processo que o tornou inelegível teve como principal elemento comprobatório o fato de ele ter usado um meio de comunicação institucional.”

No dia 18 de julho de 2022, o ex-presidente usou uma reunião com embaixadores para criticar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, antecipando uma das suas bandeiras de campanha. O encontro foi transmitido por canais oficiais do governo.

‘Estado não faz piada’

A própria constituição da figura do Estado passa por uma contrapartida que envolve a questão da comunicação, explica o jornalista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Eugênio Bucci. “Para haver convivência pacífica em uma sociedade que observa leis, o cidadão precisa renunciar à tentação de querer fazer justiça com as próprias mãos. Existe nisso uma contrapartida: da mesma forma, o Estado deve renunciar à tentação de opinar e querer orientar o debate público.”

De acordo com o professor, esses são “pontos de princípio de comunicação na democracia”. “O Estado não tem opinião partidária, religião ou gosto estético. O Estado não faz piada, não abraça religião, não define a conduta sexual das pessoas. Ele abre mão disso para poder ser Estado”, disse Bucci.

SÃO PAULO – O mesmo banco de praça em que o humorista Carlos Alberto de Nóbrega se sentava no programa humorístico que o consagrou na televisão foi usado pelo perfil da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência nas redes sociais para divulgar, nesta semana, um programa de renegociações de dívidas do governo. O anúncio tem a imagem de uma idosa, em referência à personagem Velha Surda, do “A Praça é Nossa”, do SBT.

A publicação ironiza crítica feita por Nóbrega ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dias antes, embora não haja uma menção explícita ao humorista. O post não é o primeiro da Secom no Twitter a satirizar fatos políticos para promover ações governamentais. O governo Lula diz que é “a lógicas das redes”. Especialistas ouvidos pelo Estadão, porém, consideram que a estratégia da comunicação oficial é um “problema de postura” e ultrapassa as atribuições de Estado.

Durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira, 3, Carlos Alberto de Nóbrega disse que a falta de um diploma de curso superior no currículo do presidente seria o fator responsável pelo Brasil estar “desse jeito”. “Um homem que não tem um curso ginasial, universitário, contábil… ser presidente da República? Por isso que o País está desse jeito”, disse Nóbrega durante o programa. Ele comanda “A Praça é Nossa” há 36 anos. No programa, ele permanece sentado em um banco de praça interagindo com outros personagens.

“Nome sujo na praça já era. O Governo Federal está lançando um grande programa para renegociar as dívidas de 70 milhões de brasileiros: o Desenrola Brasil!”, diz a publicação da Secom, feita na quarta-feira, 5, onde a palavra “praça” aparece em destaque com letras vermelhas.

O ministro-chefe da Secom, Paulo Pimenta, defendeu as publicações feitas pela pasta como uma estratégia "criativa" de atingir o público Foto: Wilton Junior/Estadão

Questionado pela reportagem, o ministro da Secom, Paulo Pimenta, disse que a publicação não é uma indireta para o humorista. “Quando você vincula uma informação a um assunto que está na ordem do dia, isso alavanca o alcance. Isso é mercadológico, é a lógica das redes”, disse o ministro ao Estadão.

De acordo com Pimenta, as publicações em tom humorístico são estrategicamente pensadas pela equipe da Secom para aumentar o engajamento do público e “fazer que a informação chegue o mais longe possível”. “É uma comunicação inteligente, criativa e moderna”, disse o ministro.

Ironia com Deltan

Outro episódio com estratégia semelhante foi uma publicação feita pela Secom no dia 17 de maio, um dia depois da cassação do deputado lavajatista Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Em 2016, durante a operação que condenou e prendeu Lula, o ex-procurador da força-tarefa usou uma apresentação de PowerPoint para explicar as provas que possuía contra o petista.

Em maio deste ano, o mesmo modelo de apresentação feito por Dallagnol na ocasião foi replicado pela Secom para mostrar entregas dos primeiros 137 dias de governo.

Vacinação da filha de Bolsonaro

Também em maio, no mesmo dia em que Bolsonaro foi alvo de uma operação da Polícia Federal que o investiga pelo crime de falsificação dos cartões de vacinação seu e de sua filha mais nova, Laura, a Secom usou o mote para falar sobre a importância de cumprir os protocolos sanitários antes de viagens ao exterior.

Joias no governo Bolsonaro

O caso das joias, revelado pelo Estadão, também foi tema de publicações no perfil da Secom. O ex-presidente Jair Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o Brasil um conjunto de joias que recebeu de presente do governo da Arábia Saudita sem declará-lo como patrimônio da União.

Dias depois de o caso vir à tona, a Secom usou um “tudo joia?” em uma publicação para relembrar os usuários de declarar o Imposto de Renda (IR) de 2023.

Institucional x pessoal

Para o professor de Marketing Político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Marcelo Vitorino, as brincadeiras feitas no perfil da Secom “ainda não chegam a ser um problema legal, mas talvez de postura”. “O artigo 37 da Constituição fala que a comunicação tem que ser impessoal, sem o uso de marcas ou de nomes. Por isso, é claro que um meio de comunicação institucional não pode fazer promoção pessoal específica”, explicou.

Ele avalia que a falta de clareza sobre esse limite entre o institucional e o pessoal foi o que motivou condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Bolsonaro usou muito desse recurso durante todo o seu mandato. O processo que o tornou inelegível teve como principal elemento comprobatório o fato de ele ter usado um meio de comunicação institucional.”

No dia 18 de julho de 2022, o ex-presidente usou uma reunião com embaixadores para criticar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, antecipando uma das suas bandeiras de campanha. O encontro foi transmitido por canais oficiais do governo.

‘Estado não faz piada’

A própria constituição da figura do Estado passa por uma contrapartida que envolve a questão da comunicação, explica o jornalista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Eugênio Bucci. “Para haver convivência pacífica em uma sociedade que observa leis, o cidadão precisa renunciar à tentação de querer fazer justiça com as próprias mãos. Existe nisso uma contrapartida: da mesma forma, o Estado deve renunciar à tentação de opinar e querer orientar o debate público.”

De acordo com o professor, esses são “pontos de princípio de comunicação na democracia”. “O Estado não tem opinião partidária, religião ou gosto estético. O Estado não faz piada, não abraça religião, não define a conduta sexual das pessoas. Ele abre mão disso para poder ser Estado”, disse Bucci.

SÃO PAULO – O mesmo banco de praça em que o humorista Carlos Alberto de Nóbrega se sentava no programa humorístico que o consagrou na televisão foi usado pelo perfil da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência nas redes sociais para divulgar, nesta semana, um programa de renegociações de dívidas do governo. O anúncio tem a imagem de uma idosa, em referência à personagem Velha Surda, do “A Praça é Nossa”, do SBT.

A publicação ironiza crítica feita por Nóbrega ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dias antes, embora não haja uma menção explícita ao humorista. O post não é o primeiro da Secom no Twitter a satirizar fatos políticos para promover ações governamentais. O governo Lula diz que é “a lógicas das redes”. Especialistas ouvidos pelo Estadão, porém, consideram que a estratégia da comunicação oficial é um “problema de postura” e ultrapassa as atribuições de Estado.

Durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira, 3, Carlos Alberto de Nóbrega disse que a falta de um diploma de curso superior no currículo do presidente seria o fator responsável pelo Brasil estar “desse jeito”. “Um homem que não tem um curso ginasial, universitário, contábil… ser presidente da República? Por isso que o País está desse jeito”, disse Nóbrega durante o programa. Ele comanda “A Praça é Nossa” há 36 anos. No programa, ele permanece sentado em um banco de praça interagindo com outros personagens.

“Nome sujo na praça já era. O Governo Federal está lançando um grande programa para renegociar as dívidas de 70 milhões de brasileiros: o Desenrola Brasil!”, diz a publicação da Secom, feita na quarta-feira, 5, onde a palavra “praça” aparece em destaque com letras vermelhas.

O ministro-chefe da Secom, Paulo Pimenta, defendeu as publicações feitas pela pasta como uma estratégia "criativa" de atingir o público Foto: Wilton Junior/Estadão

Questionado pela reportagem, o ministro da Secom, Paulo Pimenta, disse que a publicação não é uma indireta para o humorista. “Quando você vincula uma informação a um assunto que está na ordem do dia, isso alavanca o alcance. Isso é mercadológico, é a lógica das redes”, disse o ministro ao Estadão.

De acordo com Pimenta, as publicações em tom humorístico são estrategicamente pensadas pela equipe da Secom para aumentar o engajamento do público e “fazer que a informação chegue o mais longe possível”. “É uma comunicação inteligente, criativa e moderna”, disse o ministro.

Ironia com Deltan

Outro episódio com estratégia semelhante foi uma publicação feita pela Secom no dia 17 de maio, um dia depois da cassação do deputado lavajatista Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Em 2016, durante a operação que condenou e prendeu Lula, o ex-procurador da força-tarefa usou uma apresentação de PowerPoint para explicar as provas que possuía contra o petista.

Em maio deste ano, o mesmo modelo de apresentação feito por Dallagnol na ocasião foi replicado pela Secom para mostrar entregas dos primeiros 137 dias de governo.

Vacinação da filha de Bolsonaro

Também em maio, no mesmo dia em que Bolsonaro foi alvo de uma operação da Polícia Federal que o investiga pelo crime de falsificação dos cartões de vacinação seu e de sua filha mais nova, Laura, a Secom usou o mote para falar sobre a importância de cumprir os protocolos sanitários antes de viagens ao exterior.

Joias no governo Bolsonaro

O caso das joias, revelado pelo Estadão, também foi tema de publicações no perfil da Secom. O ex-presidente Jair Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o Brasil um conjunto de joias que recebeu de presente do governo da Arábia Saudita sem declará-lo como patrimônio da União.

Dias depois de o caso vir à tona, a Secom usou um “tudo joia?” em uma publicação para relembrar os usuários de declarar o Imposto de Renda (IR) de 2023.

Institucional x pessoal

Para o professor de Marketing Político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Marcelo Vitorino, as brincadeiras feitas no perfil da Secom “ainda não chegam a ser um problema legal, mas talvez de postura”. “O artigo 37 da Constituição fala que a comunicação tem que ser impessoal, sem o uso de marcas ou de nomes. Por isso, é claro que um meio de comunicação institucional não pode fazer promoção pessoal específica”, explicou.

Ele avalia que a falta de clareza sobre esse limite entre o institucional e o pessoal foi o que motivou condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Bolsonaro usou muito desse recurso durante todo o seu mandato. O processo que o tornou inelegível teve como principal elemento comprobatório o fato de ele ter usado um meio de comunicação institucional.”

No dia 18 de julho de 2022, o ex-presidente usou uma reunião com embaixadores para criticar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, antecipando uma das suas bandeiras de campanha. O encontro foi transmitido por canais oficiais do governo.

‘Estado não faz piada’

A própria constituição da figura do Estado passa por uma contrapartida que envolve a questão da comunicação, explica o jornalista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Eugênio Bucci. “Para haver convivência pacífica em uma sociedade que observa leis, o cidadão precisa renunciar à tentação de querer fazer justiça com as próprias mãos. Existe nisso uma contrapartida: da mesma forma, o Estado deve renunciar à tentação de opinar e querer orientar o debate público.”

De acordo com o professor, esses são “pontos de princípio de comunicação na democracia”. “O Estado não tem opinião partidária, religião ou gosto estético. O Estado não faz piada, não abraça religião, não define a conduta sexual das pessoas. Ele abre mão disso para poder ser Estado”, disse Bucci.

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