Brasília -A sessão plenária desta quarta-feira, 28, foi marcada por bate-boca entre deputados e protestos contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Com acusações de roubo de dinheiro público e de ligação com o narcotráfico, os deputados João Rodrigues (PSD-SC) e Jean Wyllys (PSOL-RJ) protagonizaramdiscussão que, por pouco, não terminou em briga.
Tudo começou quando João Rodrigues usava a tribuna da Câmara para criticar parlamentares que eram contra a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, aprovada na terça-feira, 27, por uma comissão especial da Casa.
Pelo aprovado, todos os cidadãos a partir de 21 anos poderão possuir e portar armas de fogo para defesa própria e do patrimônio. O texto também permitiu deputados e senadores poderão andar armados, assim como pessoas que respondam a inquérito policial ou processo criminal.
O deputado de Santa Catarina sugeriu que parlamentares que são contra a flexibilização, como Jean Wyllys, "se postam como que se fossem verdadeiros defensores de bandido". "A forma determinava que alguns defendem me parece que estão extremamente ligados a quadrilhas, ao narcotráfico a bandidos", acusou.
Rodrigues lembrou que o deputado do PSOL foi eleito com a ajuda da exposição que teve no reality show Big Brother, da TV Globo, do qual foi o vencedor da edição 5, em 2005. "Pela sua história, ele não merece meu respeito e da maioria dos deputados", afirmou o parlamentar catarinense.
Vídeos pornôs. Em resposta, Jean Wyllys acusou Rodrigues de roubar dinheiro público. "Homens decentes não assistem vídeos pornôs durante a sessão plenária. Homens decentes não são condenados por improbidade administrativa, por roubar dinheiro público, como o deputado foi", disparou.
O deputado do PSOL se referia ao flagra feito pela imprensa, em maio deste ano. Durante uma votação de propostas da reforma política na Casa, Rodrigues foi flagrado assistindo vídeo e vendo fotos pornôs. Na época, o parlamentar afirmou que tinha apenas aberto um vídeo enviado em grupo do aplicativo WhatsApp.
"Portanto quem não tem moral para representar o povo brasileiro é ladrão", afirmou Wyllys, acrescentando: "Qualquer programa de televisão é mais decente do que deputado que rouba dinheiro do povo na sua administração pública". "E olha deputado resta saber se seu video pornô era hetero ou homossexual", finalizou.
Veja trecho do bate-boca:
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Jean Wyllys responde a ataques do dep. João Rodrigues (PSD-SC) NOVÍSSIMA CRÔNICA DO ABSURDO (ABSURDO MESMO!)Há pouco, no plenário da Câmara, a Deputada Federal Jô Moraes me chamou para mostrar o boletim da Comissão de Relações Exteriores, da qual fazemos parte. Estávamos aí, analisando a publicação, quando o deputado João Rodrigues (PSD-SC) chegou bem próximo de mim e me abordou [pra quem ainda não sabe quem ele é, eu informo que é aquele cujas falas em favor da morte de "bandidos", chamando-a de "faxina", eu critiquei em postagens anteriores; e também aquele que foi flagrado, em plena sessão, assistindo a um filme pornô]. O breve "diálogo" que se seguiu foi mais ou menos o seguinte:João Rodrigues: Você me conhece? Você sabe quem eu sou?Eu: Nunca lhe cumprimentei nem me apresentei pessoalmente, mas, sim, sei quem você é.João Rodrigues: Então, você tome cuidado com o que você fala a meu respeito. Você postou, colocando a minha foto, que "bandido bom é bandido de gravata e com gabinete". Você não me conhece...[Ele achava que eu me intimidaria. Perdeu o chão quando olhei em seus olhos e reiterei tudo que eu escrevi sobre sua fala de tons fascistas e acrescentei:]Eu: ...E, por fim, alguém precisava relativizar sua fala; afinal, você foi denunciado pelo Ministério Público por aquilo que o órgão considera crime.João Rodrigues: Mas, o processo contra mim que você citou foi arquivado...Eu: Ora, se o processo contra você foi arquivado, é porque você teve amplo direito a defesa. Então, os outros que você chama de "bandidos" também devem ter direito a defesa, em vez de serem mortos sem a chance de se defender, não?João Rodrigues: Bandido safado, nojento, merece morrer mesmo.Eu: Ah, é? Então por que você não sobe à tribuna e diz isso em relação ao Eduardo Cunha? Afinal, pra Procuradoria Geral da República, ele cometeu os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão ilegal de divisas, logo, é um bandido...João Rodrigues: Mas ele só está denunciado...Eu: Mas por qual julgamento passaram os "bandidos" ao quais você se refere para já sentenciá-los à pena de morte? Vamos, se bandido bom não é bandido com gravata, então por que você não sobe à tribuna e diz, em relação a Cunha, o que você disse sobre os bandidos pobres?João Rodrigues: E por que você defende Lula?Eu: Em primeiro lugar, eu não defendo Lula. Ele não precisa de minha defesa. Em segundo, ainda não há nenhuma denúncia formal contra Lula. Em terceiro, quem está negando o direito à defesa e defendendo pena de morte no vácuo da legalidade é você; não eu!João Rodrigues [chegando bem mais perto de mim, de modo que eu quase sentia sua respiração e seu perfume]: Eu defendo a pena de morte mesmo! Você fica aí, defendendo essa raça... Você não sabe com quem você foi comprar briga! [referindo-se a si mesmo]Eu [olhando no olho dele e para baixo, já que ele é bem menor que eu]: "Essa raça" é também parte do povo brasileiro e está sob o mesmo estado de direito... Quem é você para decidir quem vive ou morre? Deus? E se você está me ameaçando, devo lhe dizer que não temo sua ameaça. [aproximando-me bem dele e olhando diretamente em seus olhos] Os tempos mudaram, meu caro. Os "coronéis" já não podem mais intimidar as pessoas ou ameaça-las impunemente.João Rodrigues [se esforçando para ser irônico]: Não, eu não estou lhe ameaçando. Eu não ajo desse forma. Eu não cheguei aqui pelo BBB, aquela putaria, eu tenho muitos mandatos.Eu: Bom, eu estou em meu segundo mandato e fui eleito com quase 145 mil votos, mas se você quer crer que foi o BBB que me trouxe aqui, fique à vontade... Ao menos não cheguei pela força da grana.João Rodrigues: Bom, agora você já me conhece. Já sabe quem eu sou. E já está avisado de que mexeu com a pessoa errada.Eu: Prazer. Agora você já sabe que eu não temo o que me parece uma ameaça.Despedimo-nos. Ele seguiu. Eu permaneci ali para concluir minha conversa com Jô Morais. O clima estava tão tenso entre os que conseguiam nos ouvir que dava para cortar o ar com uma faca [toda a conversa se deu como numa cena de um thriller político]E, aí, amados e amadas, vocês acham que eu devo temer algo mais que as já manjadas difamações, injúrias e calúnias feitas na internet?__*Durante a produção do texto acima, em que contava a vocês a cena surreal em que fui abordado pelo deputado João Rodrigues, ele subiu à Tribuna da Câmara para novamente me atacar e intimidar. Não intimidou!!!! Sou acostumado a falar o que penso, porque a verdade é libertadora. A resposta que dei a ele está no vídeo. Posted by Jean Wyllys on Quarta, 28 de outubro de 2015
Defesas. Em defesa do correligionário, o deputado Ricardo Izar (PSD-SP) anunciou que, se Jean Wyllys não provar que o Ricardo Rodrigues é ladão, entrará com representação no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. Izar já foi presidente do colegiado e atualmente está na suplência.
A líder do PC do B, Jandira Feghali (RJ), saiu em defesa de Jean e classificou como "deplorável" e "fascista" a agressão contra o colega. A deputada disse que Jean é tão deputado como os outros e tem direito a apresentar projetos e manifestar sua opinião em plenário. "Às vezes tenho a sensação de que estamos na idade média neste plenário", disse Jandira se referindo à pauta conservadora da Casa.
Em seu discurso, a líder aproveitou para cobrar a saída de Cunha. "A situação do presidente da Câmara está ficando insustentável", declarou.
Protesto. Pouco depois do primeiro bate-boca, mais confusão em plenário. Eduardo Cunha chamou a deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ) para discursar, mas ela diz não ter tido tempo de chegar à tribuna.
"Ele não permitiu o tempo de caminhar. Estou há mais de três meses inscrita para falar. Ele (Cunha) sabe que não vou poupá-lo no meu discurso. Ele marcou (sessões) extraordinárias todas as vezes que fui sorteada", reclamou a deputada, filha do ex-governador do Rio de Janeiro Anthny Garotinho, ex-aliado e atual desafeto de Cunha.
Sem poder falar, Clarissa subiu à Mesa e posicionou-se atrás de Eduardo Cunha com um cartaz em que se lia "Cunha quer trazer o dinheiro sujo da Suíça. Diga não", em alusão às contas secretas na Suíça atribuídas ao presidente da Câmara e seus familiares. "Estou fazendo essa manifestação em forma de cartaz porque não tem jeito de falar", disse a deputada, que deixou a Mesa conduzida por seguranças da Casa.
Há uma semana, Clarissa interrompeu uma entrevista coletiva de Cunha. À época, ele menosprezou a intervenção. "Foi só um parlamentar. A Casa tem 513", disse o presidente da Câmara.