Bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga morre aos 92 anos em SP


Com graves problemas respiratórios, bispo emérito da Prelazia do Araguaia havia sido transferido de São Félix do Araguaia (MT) para Batatais, no interior paulista, onde faleceu nesta manhã

Por Adriana Ferraz

Aos 92 anos, morreu na manhã deste sábado, 8, no interior paulista, o bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga, da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT). Conhecido internacionalmente pela defesa dos direitos humanos e por sua atuação em prol dos povos indígenas e da reforma agrária, Casaldáliga estava internado desde o dia, 27, com graves problemas respiratórios.

Bispo emérito da Prelazia do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga. Foto: Celso Junior/AE - 13/10/2006

No último dia 4, foi transferido para Batatais, onde faleceu às 9h40, em consequência de uma embolia pulmonar, segundo comunicado conjunto da prelazia, Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos) e da Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos).

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Dom Pedro Casaldáliga chegou a fazer o teste de covid-19 quando ainda estava em Mato Grosso e o resultado foi negativo. Ele sofria de problemas respiratórios há décadas, agravados mais recentemente pelo Mal de Parkinson. Em função do quadro de saúde,  não conseguia mais falar nem andar. Ele vivia no interior de Mato Grosso assistido por cuidadores. As visitas haviam sido ainda mais restringidas em função do novo coronavírus.

Nascido na Catalunha, em uma província de Barcelona, Dom Pedro Casaldáliga vivia no Brasil desde 1968. Um dos expoentes da Teologia da Libertação, atuou na defesa de minorias no interior de Mato Grosso e sofreu diversas ameaças de morte em função de suas posições políticas.

Menos de dois anos após se radicar no País, o então padre chamou a atenção das autoridades brasileiras - em plena ditadura militar - ao publicar Escravidão e Feudalismo no norte de Mato Grosso, onde denunciava as péssimas condições de trabalho enfrentadas pelos camponeses e os abusos praticados pelos donos da terra.

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Já com fama de"comunista", foi nomeado pelo papa Paulo VI bispo da prezalia de São Félix, região que nunca abandonou, mesmo após a "aposentadoria" em 2003. Casaldáliga foi um dos fundadores do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Em sua biografia autorizada, Descalço sobre a Terra Vermelha, escrita pelo jornalista Francesc Escribano, conhece-se a luta do bispo também para que as pessoas pudessem saber de seus direitos e exercer a cidadania por meio da educação. Na época, na região do Araguaia, o ensino oferecido só chegava ao antigo quarto ano primário, hoje o quarto ano da educação básica.

A obra virou filme em 2013, a partir de uma coprodução entre a TV Brasil e duas emissoras públicas, a espanhola TVE e a catalã TVC. Apesar de ter escolhido o Brasil para viver, o bispo era uma autoridade católica reconhecida na Espanha.

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"Descalço sobre a terra vermelha" tem 3 capítulos e foi filmada em São Félix do Araguaia. Produção Catalunha/Brasil, obra será lançada até o final do ano

Repercussão

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou uma nota de pesar na qual se solidariza com a Prelazia de São Félix do Araguaia e a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria pelo falecimento de Dom Pedro Casaldáliga, que, segundo a entidade, marcou sua vida pela solidariedade em relação aos mais pobres e sofridos, fazendo de seu ministério, sua poesia e sua vida um canto à solidariedade.

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Citando a frase mais conhecida de Casaldáliga - "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar' - uma lema de sua atividade pastoral, a CNBB afirmou ainda que o bispo contempla agora o Deus da Vida, a quem buscou servir em cada pobre, em cada sofredor", afirma a nota assinada pelo presidente Dom Walmor Oliveira de Azevedo.

O teólogo e filósofo Leonardo Boff, teólogo da Libertação no Brasil, disse, em sua página oficial no Twitter, que o bispo emérito vive na memória de todos os que defendeu. "Dom Pedro Casaldáliga acabou de nascer para Deus. Dizia: a alternativa cristã é a vida ou a ressurreição. Vive na memória de todos os pobres que defendeu, dos martirizados pelo latifúndio, nos libertos da opressão e em nossa fé e em nossa esperança que ele nos fortaleceu."

Políticos também se manifestaram pelas redes sociais. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o povo perde um defensor e exemplo de vida generosa na luta por um mundo melhor. "Fará muita falta", afirmou. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disse que o trabalho de Casaldáliga na defesa dos povos indígenas seguirá sendo exemplo para todos, "ainda mais nestes tempos de ataques aos povos tradicionais".

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Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos disse que a morte do bispo deixa um vazio na luta contra o autoritarismo, "tão fundamental neste momento". De Mato Grosso, o senador Carlos Fávaro (PSD) afirmou que "a história viva, construída na luta de Dom Pedro Casaldáliga, encerra um capítulo, mas segue eterna em seu legado". Líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destacou que Casaldáliga "será farol para inspirar". O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que as palavras do bispo seguem ecoando. "'Todo opressor é obsessivo', disse ele em uma entrevista antiga, que só foi divulgada recentemente. Não poderia ser mais atual."

A deputada federal Margarida Salomão (PT-MG) classificou a morte de Casaldáliga como uma perda "sem tamanho" para o País. O também deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) afirmou que o bispo foi um exemplo de caridade, doação e comprometimento com os mais pobres e excluídos. O apresentador Luciano Huck também lamentou a perda. "Dom Pedro era uma liderança cristã à frente do seu tempo", escreveu.

Homenagens

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De acordo com o padre Reni Bresolin, missionário claretiano, o corpo de Casaldáliga será embalsamado e velado em três cidades. O primeiro velório deve começar por volta das 14h deste sábado na capela do Claretiano, no Centro Universitário de Batatais, e seguir até as 15h este domingo, 9, quando será celebrada uma missa de corpo presente.

De Batatais, o corpo seguirá para Ribeirão Cascalheira (MT). Lá, o velório está marcado para ocorrer no Santuário dos Mártires, a partir de segunda, 10, ainda sem previsão de horário. E, por fim, a última homenagem ao bispo será feita em São Félix do Araguaia, no Centro Comunitário Tia Irene, também sem previsão de data ou horário, seguida do sepultamento./COLABOROU THAÍS BARCELLOS

Aos 92 anos, morreu na manhã deste sábado, 8, no interior paulista, o bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga, da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT). Conhecido internacionalmente pela defesa dos direitos humanos e por sua atuação em prol dos povos indígenas e da reforma agrária, Casaldáliga estava internado desde o dia, 27, com graves problemas respiratórios.

Bispo emérito da Prelazia do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga. Foto: Celso Junior/AE - 13/10/2006

No último dia 4, foi transferido para Batatais, onde faleceu às 9h40, em consequência de uma embolia pulmonar, segundo comunicado conjunto da prelazia, Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos) e da Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos).

Dom Pedro Casaldáliga chegou a fazer o teste de covid-19 quando ainda estava em Mato Grosso e o resultado foi negativo. Ele sofria de problemas respiratórios há décadas, agravados mais recentemente pelo Mal de Parkinson. Em função do quadro de saúde,  não conseguia mais falar nem andar. Ele vivia no interior de Mato Grosso assistido por cuidadores. As visitas haviam sido ainda mais restringidas em função do novo coronavírus.

Nascido na Catalunha, em uma província de Barcelona, Dom Pedro Casaldáliga vivia no Brasil desde 1968. Um dos expoentes da Teologia da Libertação, atuou na defesa de minorias no interior de Mato Grosso e sofreu diversas ameaças de morte em função de suas posições políticas.

Menos de dois anos após se radicar no País, o então padre chamou a atenção das autoridades brasileiras - em plena ditadura militar - ao publicar Escravidão e Feudalismo no norte de Mato Grosso, onde denunciava as péssimas condições de trabalho enfrentadas pelos camponeses e os abusos praticados pelos donos da terra.

Já com fama de"comunista", foi nomeado pelo papa Paulo VI bispo da prezalia de São Félix, região que nunca abandonou, mesmo após a "aposentadoria" em 2003. Casaldáliga foi um dos fundadores do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Em sua biografia autorizada, Descalço sobre a Terra Vermelha, escrita pelo jornalista Francesc Escribano, conhece-se a luta do bispo também para que as pessoas pudessem saber de seus direitos e exercer a cidadania por meio da educação. Na época, na região do Araguaia, o ensino oferecido só chegava ao antigo quarto ano primário, hoje o quarto ano da educação básica.

A obra virou filme em 2013, a partir de uma coprodução entre a TV Brasil e duas emissoras públicas, a espanhola TVE e a catalã TVC. Apesar de ter escolhido o Brasil para viver, o bispo era uma autoridade católica reconhecida na Espanha.

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Repercussão

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou uma nota de pesar na qual se solidariza com a Prelazia de São Félix do Araguaia e a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria pelo falecimento de Dom Pedro Casaldáliga, que, segundo a entidade, marcou sua vida pela solidariedade em relação aos mais pobres e sofridos, fazendo de seu ministério, sua poesia e sua vida um canto à solidariedade.

Citando a frase mais conhecida de Casaldáliga - "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar' - uma lema de sua atividade pastoral, a CNBB afirmou ainda que o bispo contempla agora o Deus da Vida, a quem buscou servir em cada pobre, em cada sofredor", afirma a nota assinada pelo presidente Dom Walmor Oliveira de Azevedo.

O teólogo e filósofo Leonardo Boff, teólogo da Libertação no Brasil, disse, em sua página oficial no Twitter, que o bispo emérito vive na memória de todos os que defendeu. "Dom Pedro Casaldáliga acabou de nascer para Deus. Dizia: a alternativa cristã é a vida ou a ressurreição. Vive na memória de todos os pobres que defendeu, dos martirizados pelo latifúndio, nos libertos da opressão e em nossa fé e em nossa esperança que ele nos fortaleceu."

Políticos também se manifestaram pelas redes sociais. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o povo perde um defensor e exemplo de vida generosa na luta por um mundo melhor. "Fará muita falta", afirmou. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disse que o trabalho de Casaldáliga na defesa dos povos indígenas seguirá sendo exemplo para todos, "ainda mais nestes tempos de ataques aos povos tradicionais".

Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos disse que a morte do bispo deixa um vazio na luta contra o autoritarismo, "tão fundamental neste momento". De Mato Grosso, o senador Carlos Fávaro (PSD) afirmou que "a história viva, construída na luta de Dom Pedro Casaldáliga, encerra um capítulo, mas segue eterna em seu legado". Líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destacou que Casaldáliga "será farol para inspirar". O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que as palavras do bispo seguem ecoando. "'Todo opressor é obsessivo', disse ele em uma entrevista antiga, que só foi divulgada recentemente. Não poderia ser mais atual."

A deputada federal Margarida Salomão (PT-MG) classificou a morte de Casaldáliga como uma perda "sem tamanho" para o País. O também deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) afirmou que o bispo foi um exemplo de caridade, doação e comprometimento com os mais pobres e excluídos. O apresentador Luciano Huck também lamentou a perda. "Dom Pedro era uma liderança cristã à frente do seu tempo", escreveu.

Homenagens

De acordo com o padre Reni Bresolin, missionário claretiano, o corpo de Casaldáliga será embalsamado e velado em três cidades. O primeiro velório deve começar por volta das 14h deste sábado na capela do Claretiano, no Centro Universitário de Batatais, e seguir até as 15h este domingo, 9, quando será celebrada uma missa de corpo presente.

De Batatais, o corpo seguirá para Ribeirão Cascalheira (MT). Lá, o velório está marcado para ocorrer no Santuário dos Mártires, a partir de segunda, 10, ainda sem previsão de horário. E, por fim, a última homenagem ao bispo será feita em São Félix do Araguaia, no Centro Comunitário Tia Irene, também sem previsão de data ou horário, seguida do sepultamento./COLABOROU THAÍS BARCELLOS

Aos 92 anos, morreu na manhã deste sábado, 8, no interior paulista, o bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga, da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT). Conhecido internacionalmente pela defesa dos direitos humanos e por sua atuação em prol dos povos indígenas e da reforma agrária, Casaldáliga estava internado desde o dia, 27, com graves problemas respiratórios.

Bispo emérito da Prelazia do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga. Foto: Celso Junior/AE - 13/10/2006

No último dia 4, foi transferido para Batatais, onde faleceu às 9h40, em consequência de uma embolia pulmonar, segundo comunicado conjunto da prelazia, Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos) e da Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos).

Dom Pedro Casaldáliga chegou a fazer o teste de covid-19 quando ainda estava em Mato Grosso e o resultado foi negativo. Ele sofria de problemas respiratórios há décadas, agravados mais recentemente pelo Mal de Parkinson. Em função do quadro de saúde,  não conseguia mais falar nem andar. Ele vivia no interior de Mato Grosso assistido por cuidadores. As visitas haviam sido ainda mais restringidas em função do novo coronavírus.

Nascido na Catalunha, em uma província de Barcelona, Dom Pedro Casaldáliga vivia no Brasil desde 1968. Um dos expoentes da Teologia da Libertação, atuou na defesa de minorias no interior de Mato Grosso e sofreu diversas ameaças de morte em função de suas posições políticas.

Menos de dois anos após se radicar no País, o então padre chamou a atenção das autoridades brasileiras - em plena ditadura militar - ao publicar Escravidão e Feudalismo no norte de Mato Grosso, onde denunciava as péssimas condições de trabalho enfrentadas pelos camponeses e os abusos praticados pelos donos da terra.

Já com fama de"comunista", foi nomeado pelo papa Paulo VI bispo da prezalia de São Félix, região que nunca abandonou, mesmo após a "aposentadoria" em 2003. Casaldáliga foi um dos fundadores do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Em sua biografia autorizada, Descalço sobre a Terra Vermelha, escrita pelo jornalista Francesc Escribano, conhece-se a luta do bispo também para que as pessoas pudessem saber de seus direitos e exercer a cidadania por meio da educação. Na época, na região do Araguaia, o ensino oferecido só chegava ao antigo quarto ano primário, hoje o quarto ano da educação básica.

A obra virou filme em 2013, a partir de uma coprodução entre a TV Brasil e duas emissoras públicas, a espanhola TVE e a catalã TVC. Apesar de ter escolhido o Brasil para viver, o bispo era uma autoridade católica reconhecida na Espanha.

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"Descalço sobre a terra vermelha" tem 3 capítulos e foi filmada em São Félix do Araguaia. Produção Catalunha/Brasil, obra será lançada até o final do ano

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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou uma nota de pesar na qual se solidariza com a Prelazia de São Félix do Araguaia e a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria pelo falecimento de Dom Pedro Casaldáliga, que, segundo a entidade, marcou sua vida pela solidariedade em relação aos mais pobres e sofridos, fazendo de seu ministério, sua poesia e sua vida um canto à solidariedade.

Citando a frase mais conhecida de Casaldáliga - "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar' - uma lema de sua atividade pastoral, a CNBB afirmou ainda que o bispo contempla agora o Deus da Vida, a quem buscou servir em cada pobre, em cada sofredor", afirma a nota assinada pelo presidente Dom Walmor Oliveira de Azevedo.

O teólogo e filósofo Leonardo Boff, teólogo da Libertação no Brasil, disse, em sua página oficial no Twitter, que o bispo emérito vive na memória de todos os que defendeu. "Dom Pedro Casaldáliga acabou de nascer para Deus. Dizia: a alternativa cristã é a vida ou a ressurreição. Vive na memória de todos os pobres que defendeu, dos martirizados pelo latifúndio, nos libertos da opressão e em nossa fé e em nossa esperança que ele nos fortaleceu."

Políticos também se manifestaram pelas redes sociais. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o povo perde um defensor e exemplo de vida generosa na luta por um mundo melhor. "Fará muita falta", afirmou. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disse que o trabalho de Casaldáliga na defesa dos povos indígenas seguirá sendo exemplo para todos, "ainda mais nestes tempos de ataques aos povos tradicionais".

Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos disse que a morte do bispo deixa um vazio na luta contra o autoritarismo, "tão fundamental neste momento". De Mato Grosso, o senador Carlos Fávaro (PSD) afirmou que "a história viva, construída na luta de Dom Pedro Casaldáliga, encerra um capítulo, mas segue eterna em seu legado". Líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destacou que Casaldáliga "será farol para inspirar". O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que as palavras do bispo seguem ecoando. "'Todo opressor é obsessivo', disse ele em uma entrevista antiga, que só foi divulgada recentemente. Não poderia ser mais atual."

A deputada federal Margarida Salomão (PT-MG) classificou a morte de Casaldáliga como uma perda "sem tamanho" para o País. O também deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) afirmou que o bispo foi um exemplo de caridade, doação e comprometimento com os mais pobres e excluídos. O apresentador Luciano Huck também lamentou a perda. "Dom Pedro era uma liderança cristã à frente do seu tempo", escreveu.

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De acordo com o padre Reni Bresolin, missionário claretiano, o corpo de Casaldáliga será embalsamado e velado em três cidades. O primeiro velório deve começar por volta das 14h deste sábado na capela do Claretiano, no Centro Universitário de Batatais, e seguir até as 15h este domingo, 9, quando será celebrada uma missa de corpo presente.

De Batatais, o corpo seguirá para Ribeirão Cascalheira (MT). Lá, o velório está marcado para ocorrer no Santuário dos Mártires, a partir de segunda, 10, ainda sem previsão de horário. E, por fim, a última homenagem ao bispo será feita em São Félix do Araguaia, no Centro Comunitário Tia Irene, também sem previsão de data ou horário, seguida do sepultamento./COLABOROU THAÍS BARCELLOS

Aos 92 anos, morreu na manhã deste sábado, 8, no interior paulista, o bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga, da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT). Conhecido internacionalmente pela defesa dos direitos humanos e por sua atuação em prol dos povos indígenas e da reforma agrária, Casaldáliga estava internado desde o dia, 27, com graves problemas respiratórios.

Bispo emérito da Prelazia do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga. Foto: Celso Junior/AE - 13/10/2006

No último dia 4, foi transferido para Batatais, onde faleceu às 9h40, em consequência de uma embolia pulmonar, segundo comunicado conjunto da prelazia, Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos) e da Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos).

Dom Pedro Casaldáliga chegou a fazer o teste de covid-19 quando ainda estava em Mato Grosso e o resultado foi negativo. Ele sofria de problemas respiratórios há décadas, agravados mais recentemente pelo Mal de Parkinson. Em função do quadro de saúde,  não conseguia mais falar nem andar. Ele vivia no interior de Mato Grosso assistido por cuidadores. As visitas haviam sido ainda mais restringidas em função do novo coronavírus.

Nascido na Catalunha, em uma província de Barcelona, Dom Pedro Casaldáliga vivia no Brasil desde 1968. Um dos expoentes da Teologia da Libertação, atuou na defesa de minorias no interior de Mato Grosso e sofreu diversas ameaças de morte em função de suas posições políticas.

Menos de dois anos após se radicar no País, o então padre chamou a atenção das autoridades brasileiras - em plena ditadura militar - ao publicar Escravidão e Feudalismo no norte de Mato Grosso, onde denunciava as péssimas condições de trabalho enfrentadas pelos camponeses e os abusos praticados pelos donos da terra.

Já com fama de"comunista", foi nomeado pelo papa Paulo VI bispo da prezalia de São Félix, região que nunca abandonou, mesmo após a "aposentadoria" em 2003. Casaldáliga foi um dos fundadores do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Em sua biografia autorizada, Descalço sobre a Terra Vermelha, escrita pelo jornalista Francesc Escribano, conhece-se a luta do bispo também para que as pessoas pudessem saber de seus direitos e exercer a cidadania por meio da educação. Na época, na região do Araguaia, o ensino oferecido só chegava ao antigo quarto ano primário, hoje o quarto ano da educação básica.

A obra virou filme em 2013, a partir de uma coprodução entre a TV Brasil e duas emissoras públicas, a espanhola TVE e a catalã TVC. Apesar de ter escolhido o Brasil para viver, o bispo era uma autoridade católica reconhecida na Espanha.

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"Descalço sobre a terra vermelha" tem 3 capítulos e foi filmada em São Félix do Araguaia. Produção Catalunha/Brasil, obra será lançada até o final do ano

Repercussão

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou uma nota de pesar na qual se solidariza com a Prelazia de São Félix do Araguaia e a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria pelo falecimento de Dom Pedro Casaldáliga, que, segundo a entidade, marcou sua vida pela solidariedade em relação aos mais pobres e sofridos, fazendo de seu ministério, sua poesia e sua vida um canto à solidariedade.

Citando a frase mais conhecida de Casaldáliga - "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar' - uma lema de sua atividade pastoral, a CNBB afirmou ainda que o bispo contempla agora o Deus da Vida, a quem buscou servir em cada pobre, em cada sofredor", afirma a nota assinada pelo presidente Dom Walmor Oliveira de Azevedo.

O teólogo e filósofo Leonardo Boff, teólogo da Libertação no Brasil, disse, em sua página oficial no Twitter, que o bispo emérito vive na memória de todos os que defendeu. "Dom Pedro Casaldáliga acabou de nascer para Deus. Dizia: a alternativa cristã é a vida ou a ressurreição. Vive na memória de todos os pobres que defendeu, dos martirizados pelo latifúndio, nos libertos da opressão e em nossa fé e em nossa esperança que ele nos fortaleceu."

Políticos também se manifestaram pelas redes sociais. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o povo perde um defensor e exemplo de vida generosa na luta por um mundo melhor. "Fará muita falta", afirmou. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disse que o trabalho de Casaldáliga na defesa dos povos indígenas seguirá sendo exemplo para todos, "ainda mais nestes tempos de ataques aos povos tradicionais".

Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos disse que a morte do bispo deixa um vazio na luta contra o autoritarismo, "tão fundamental neste momento". De Mato Grosso, o senador Carlos Fávaro (PSD) afirmou que "a história viva, construída na luta de Dom Pedro Casaldáliga, encerra um capítulo, mas segue eterna em seu legado". Líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destacou que Casaldáliga "será farol para inspirar". O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que as palavras do bispo seguem ecoando. "'Todo opressor é obsessivo', disse ele em uma entrevista antiga, que só foi divulgada recentemente. Não poderia ser mais atual."

A deputada federal Margarida Salomão (PT-MG) classificou a morte de Casaldáliga como uma perda "sem tamanho" para o País. O também deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) afirmou que o bispo foi um exemplo de caridade, doação e comprometimento com os mais pobres e excluídos. O apresentador Luciano Huck também lamentou a perda. "Dom Pedro era uma liderança cristã à frente do seu tempo", escreveu.

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De acordo com o padre Reni Bresolin, missionário claretiano, o corpo de Casaldáliga será embalsamado e velado em três cidades. O primeiro velório deve começar por volta das 14h deste sábado na capela do Claretiano, no Centro Universitário de Batatais, e seguir até as 15h este domingo, 9, quando será celebrada uma missa de corpo presente.

De Batatais, o corpo seguirá para Ribeirão Cascalheira (MT). Lá, o velório está marcado para ocorrer no Santuário dos Mártires, a partir de segunda, 10, ainda sem previsão de horário. E, por fim, a última homenagem ao bispo será feita em São Félix do Araguaia, no Centro Comunitário Tia Irene, também sem previsão de data ou horário, seguida do sepultamento./COLABOROU THAÍS BARCELLOS

Aos 92 anos, morreu na manhã deste sábado, 8, no interior paulista, o bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga, da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT). Conhecido internacionalmente pela defesa dos direitos humanos e por sua atuação em prol dos povos indígenas e da reforma agrária, Casaldáliga estava internado desde o dia, 27, com graves problemas respiratórios.

Bispo emérito da Prelazia do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga. Foto: Celso Junior/AE - 13/10/2006

No último dia 4, foi transferido para Batatais, onde faleceu às 9h40, em consequência de uma embolia pulmonar, segundo comunicado conjunto da prelazia, Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos) e da Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos).

Dom Pedro Casaldáliga chegou a fazer o teste de covid-19 quando ainda estava em Mato Grosso e o resultado foi negativo. Ele sofria de problemas respiratórios há décadas, agravados mais recentemente pelo Mal de Parkinson. Em função do quadro de saúde,  não conseguia mais falar nem andar. Ele vivia no interior de Mato Grosso assistido por cuidadores. As visitas haviam sido ainda mais restringidas em função do novo coronavírus.

Nascido na Catalunha, em uma província de Barcelona, Dom Pedro Casaldáliga vivia no Brasil desde 1968. Um dos expoentes da Teologia da Libertação, atuou na defesa de minorias no interior de Mato Grosso e sofreu diversas ameaças de morte em função de suas posições políticas.

Menos de dois anos após se radicar no País, o então padre chamou a atenção das autoridades brasileiras - em plena ditadura militar - ao publicar Escravidão e Feudalismo no norte de Mato Grosso, onde denunciava as péssimas condições de trabalho enfrentadas pelos camponeses e os abusos praticados pelos donos da terra.

Já com fama de"comunista", foi nomeado pelo papa Paulo VI bispo da prezalia de São Félix, região que nunca abandonou, mesmo após a "aposentadoria" em 2003. Casaldáliga foi um dos fundadores do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Em sua biografia autorizada, Descalço sobre a Terra Vermelha, escrita pelo jornalista Francesc Escribano, conhece-se a luta do bispo também para que as pessoas pudessem saber de seus direitos e exercer a cidadania por meio da educação. Na época, na região do Araguaia, o ensino oferecido só chegava ao antigo quarto ano primário, hoje o quarto ano da educação básica.

A obra virou filme em 2013, a partir de uma coprodução entre a TV Brasil e duas emissoras públicas, a espanhola TVE e a catalã TVC. Apesar de ter escolhido o Brasil para viver, o bispo era uma autoridade católica reconhecida na Espanha.

Seu navegador não suporta esse video.

"Descalço sobre a terra vermelha" tem 3 capítulos e foi filmada em São Félix do Araguaia. Produção Catalunha/Brasil, obra será lançada até o final do ano

Repercussão

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou uma nota de pesar na qual se solidariza com a Prelazia de São Félix do Araguaia e a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria pelo falecimento de Dom Pedro Casaldáliga, que, segundo a entidade, marcou sua vida pela solidariedade em relação aos mais pobres e sofridos, fazendo de seu ministério, sua poesia e sua vida um canto à solidariedade.

Citando a frase mais conhecida de Casaldáliga - "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar' - uma lema de sua atividade pastoral, a CNBB afirmou ainda que o bispo contempla agora o Deus da Vida, a quem buscou servir em cada pobre, em cada sofredor", afirma a nota assinada pelo presidente Dom Walmor Oliveira de Azevedo.

O teólogo e filósofo Leonardo Boff, teólogo da Libertação no Brasil, disse, em sua página oficial no Twitter, que o bispo emérito vive na memória de todos os que defendeu. "Dom Pedro Casaldáliga acabou de nascer para Deus. Dizia: a alternativa cristã é a vida ou a ressurreição. Vive na memória de todos os pobres que defendeu, dos martirizados pelo latifúndio, nos libertos da opressão e em nossa fé e em nossa esperança que ele nos fortaleceu."

Políticos também se manifestaram pelas redes sociais. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o povo perde um defensor e exemplo de vida generosa na luta por um mundo melhor. "Fará muita falta", afirmou. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disse que o trabalho de Casaldáliga na defesa dos povos indígenas seguirá sendo exemplo para todos, "ainda mais nestes tempos de ataques aos povos tradicionais".

Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos disse que a morte do bispo deixa um vazio na luta contra o autoritarismo, "tão fundamental neste momento". De Mato Grosso, o senador Carlos Fávaro (PSD) afirmou que "a história viva, construída na luta de Dom Pedro Casaldáliga, encerra um capítulo, mas segue eterna em seu legado". Líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destacou que Casaldáliga "será farol para inspirar". O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que as palavras do bispo seguem ecoando. "'Todo opressor é obsessivo', disse ele em uma entrevista antiga, que só foi divulgada recentemente. Não poderia ser mais atual."

A deputada federal Margarida Salomão (PT-MG) classificou a morte de Casaldáliga como uma perda "sem tamanho" para o País. O também deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) afirmou que o bispo foi um exemplo de caridade, doação e comprometimento com os mais pobres e excluídos. O apresentador Luciano Huck também lamentou a perda. "Dom Pedro era uma liderança cristã à frente do seu tempo", escreveu.

Homenagens

De acordo com o padre Reni Bresolin, missionário claretiano, o corpo de Casaldáliga será embalsamado e velado em três cidades. O primeiro velório deve começar por volta das 14h deste sábado na capela do Claretiano, no Centro Universitário de Batatais, e seguir até as 15h este domingo, 9, quando será celebrada uma missa de corpo presente.

De Batatais, o corpo seguirá para Ribeirão Cascalheira (MT). Lá, o velório está marcado para ocorrer no Santuário dos Mártires, a partir de segunda, 10, ainda sem previsão de horário. E, por fim, a última homenagem ao bispo será feita em São Félix do Araguaia, no Centro Comunitário Tia Irene, também sem previsão de data ou horário, seguida do sepultamento./COLABOROU THAÍS BARCELLOS

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