Uma questão levantada pelo bispo de Duque de Caxias (RJ), d. Mauro Morelli, ao pedir a opinião de monsenhor Bruno Forte, membro da Comissão Teológica Internacional do Vaticano, sobre a ordenação sacerdotal de mulheres e de homens casados causou polêmica no plenário da Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Itaici, município paulista de Indaiatuba. "As leis eclesiásticas estão me impedindo de providenciar a eucaristia para o povo", desabafou d. Mauro, depois de esclarecer que, como fez em 1992 na conferência do episcopado latino-americano em Santo Domingo, República Dominicana, não defende a ordenação de mulheres pelo simples fato de serem mulheres, nem a de homens casados só porque são casados. Recorrendo a um argumento teológico para interpelar o teólogo italiano, d. Mauro disse que tanto mulheres como homens casados deveriam ser admitidos ao sacerdócio, pelo fato de poderem ser pessoas "eminentes na fé e excelentes na caridade, portanto cristãos capacitados para a distribuição da eucaristia, sacramento pelo qual se realiza a plenitude da Igreja". Metade do auditório, com mais de 200 bispos, padres e freiras, aplaudiu. Monsenhor Bruno pediu permissão para responder como teólogo, livrando-se com isso de dar uma opinião pessoal. "O que posso dizer é que a história não registra a ordenação de mulheres, mas registra, sim, a ordenação de homens casados", lembrou ele, acrescentando que, ainda hoje, as igrejas católicas de rito oriental ordenam homens casados. "Na viagem que João Paulo II fez recentemente à Ucrânia, programou-se um encontro dele com um grupo de seminaristas que estariam acompanhados de suas noivas", revelou monsenhor Bruno. Sem confirmar se o encontro chegou a concretizar-se, pois não foi divulgado, o teólogo confidenciou que o papa gostou da sugestão. D. Mauro Morelli lamenta que o teólogo não tenha respondido diretamente à sua pergunta. "Eu sei dos fatos históricos, queria era saber a opinião de monsenhor Bruno", justificou. A questão virou o assunto do dia durante o almoço em Itaici. Enquanto outros bispos comentavam o episódio com discrição, padres e freiras da assessoria da CNBB elogiavam a intervenção de d. Mauro. O bispo de Jundiaí (SP), d. Amaury Castanho, argumentou que não seria possível defender a ordenação de mulheres, já que Jesus Cristo não incluiu nenhuma mulher entre os apóstolos, mas afirmou ser favorável à admissão de homens casados. "Acho que dentro de uns 15 a 20 anos a Igreja adotará essa prática", prevê o bispo. Em sua opinião, a questão não deveria ter sido levantada na assembléia.