Uma comissão de bispos da Amazônia sugeriu nesta segunda-feira, em documento apresentado ao plenário da 39ª Assembléia-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Itaici, município de Indaiatuba, que o episcopado encare a região como uma questão nacional e não apenas das dioceses locais. "A Amazônia é um desafio para toda a Igreja do Brasil, assim como de toda a sociedade", advertiu o arcebispo de Porto Velho (RO), d.Moacyr Grecchi, argumentando que a solução dos problemas regionais depende de um esforço conjunto, dentro de uma visão global, tanto no aspecto religioso, como no político e social. O arcebispo disse que a revisão do trabalho pastoral deve ter em vista o futuro da Amazônia, em vez de limitar-se à análise da situação atual, mesmo que seja para a necessária denúncia de crimes cometidos contra o meio ambiente e as nações indígenas, como ocorre com freqüência. D. Moacyr lembrou a devastação das matas e o extermínio de índios. Desastre ecológico "A Amazônia sempre foi considerada uma espécie de província, cuja vocação seria resolver problemas de outras regiões", emendou o bispo-prelado do Xingu, d. Erwin Kräutler, lembrando como exemplos disso os assentamentos de colonos vindos do Sul e a construção de hidrelétricas destinadas a abastecer o Nordeste e o Sudeste. Como bispo da região escolhida para construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, para produção de 11 mil MW, d. Erwin alertou para "o desastre ecológico" que essa usina representará para o Pará. "O Xingu jamais será o mesmo após a execução desse projeto", advertiu. "Vendida como sinônimo de desenvolvimento, nesta hora em que todos estão com medo de apagões, a hidrelétrica de Belo Monte assusta a população ribeirinha, porque ela sabe que não é levada em conta, na hora de tomada de decisão", afirmou o bispo de Xingu. Solução final "Se a presença de moradores atrapalha o projeto, os tecnocratas não hesitam em retirá-los da região como solução final", acrescentou. Ao debater a questão com os expositores e com o professor Armando Mendes, assessor da CNBB responsável pela redação do documento, vários bispos alertaram para o esvaziamento da ação missionária da Igreja Católica na região. Foi inevitável uma comparação com o trabalho dos evangélicos, especialmente a Assembléia de Deus, mais presentes e mais atuantes. Em resposta aos bispos que lamentaram a falta de padres e freiras na região, d. Moacyr disse que isso ocorreu porque durante muito tempo a Igreja brasileira não assumiu a Amazônia como devia, porque a considerava de responsabilidade de missionários estrangeiros. O arcebispo defendeu também o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) das críticas daqueles que responsabilizam esse organismo da CNBB de haver desvirtuado a evangelização dos índios.