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A cabotagem no Brasil e o desequilíbrio entre os modais


O Brasil é um país continental, com 8 mil quilômetros de costa. Nada mais normal do que usarmos essa estrada natural para transporte de carga. Nos últimos 10 anos, a cabotagem - navegação costeira entre portos do mesmo país - vem crescendo em um ritmo acelerado no Brasil. Foram adquiridas, nesse período, 21 embarcações de bandeira brasileira, em um investimento da ordem de R$ 3,5 bilhões.

Por André Mello

São investimentos em navios de última geração, comparáveis aos melhores do mundo, que prestam serviços sofisticados. As empresas brasileiras de navegação, que operam regularmente no transporte de contêineres, já superam a marca de 1 milhão de TEUS/ano (2017), e os números do 1.º trimestre de 2018 mostram ritmo de crescimento ainda maior. Apenas na movimentação de contêineres, o crescimento anual médio, desde 2011, foi de 13,01%. E isso se manteve mesmo com a economia desaquecida dos últimos anos.

A solução logística porta a porta, oferecida pelos armadores nacionais, tem estimulado a transferência de cargas de longa distância do modal rodoviário para a cabotagem.

Ou seja, o transporte de carga por via marítima existe no país, é forte, presta um serviço confiável e de alta qualidade. Neste momento poderia estar contribuindo ainda mais para amenizar o problema da distribuição de cargas ao longo da costa brasileira. Mas, segundo dados da ILOS de 2017, o Brasil conta, atualmente, com 63% da produção sendo escoada pelas rodovias, 21% da produção passando pelas ferrovias nacionais, enquanto o transporte aquaviário movimenta apenas 13% das cargas, aqui incluídos a navegação de cabotagem e a navegação fluvial e lacustre. Em termos de comparação, na China, mais de 50% da produção é escoada pelo modal aquaviário.

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Vimos recentemente, com a greve dos caminhoneiros, o tamanho do prejuízo para todo o País da dependência do modal rodoviário. Ficou evidente a necessidade ainda maior de um melhor equilíbrio entre os modais.

Uma boa oportunidade para que a cabotagem continue ganhando espaço, é o PNL (Plano Nacional de Logística), em fase de discussão no Governo. Ele tem como objetivo "alcançar uma divisão mais equilibrada da matriz de transportes, considerando-se a eficiência dos modais para a movimentação de cargas no País". Para que essa proposta se concretize, no entanto, é necessário que haja isonomia no tratamento entre os modais.

Ao contrário da direção que deveríamos estar tomando, com o advento das manifestações dos caminhoneiros, mais uma vez o Governo se dispôs a oferecer diferenciais competitivos ao transporte rodoviário de cargas, correndo o risco de, assim, ampliar ainda mais o fosso da desigualdade de condições entre os modais.

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Há mais de 20 anos a navegação de cabotagem enfrenta dificuldades com a flutuação internacional de preços de combustível marítimo. Para os rodoviários, o tratamento na relação com o diesel já era diferenciado. Agora, mesmo com o aumento de custo de todos os combustíveis, superior a 50% só neste ano, que impactou a todos os modais de forma similar, o subsídio do diesel foi apenas para os transportes terrestres.

Por outro lado, o governo parece ceder às pressões e se dispõe a interferir na economia privada, definindo tabelas de fretes mínimos para o modal rodoviário e, esquecendo que um dos motivos da atual crise é o excesso de caminhões adquiridos nos últimos anos, parece disposto a agravar a situação mostrando disposição de incentivar a renovação / ampliação da frota de caminhões com financiamentos em condições privilegiadas.

Enquanto isto a cabotagem, que tem inúmeros benefícios que deveriam estar sendo levados em consideração, na tomada de decisão política para alcançar o equilíbrio entre os modais, continua sendo tratada em um segundo plano, com frequentes ameaças de mudanças nos marcos regulatórios.

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Para começar, é um sistema de transporte menos poluente. Para uma mesma distância, um navio emite pelo menos 4 vezes menos carbono, por tonelada transportada, do que um caminhão, além de aliviar o congestionamento das rodovias, que é fator agravante na poluição rodoviária. Um exemplo claro disso acontece no transporte de toras de eucalipto entre o sul da Bahia e Portocel-ES, em comboios oceânicos especializados, iniciado há cerca de 15 anos, que realizam mais de 1 viagem por dia transportando o equivalente a 100 carretas tipo tritrem que são retiradas das estradas (200 viagens de ida + volta).

Outro ponto a ser valorizado é que a cabotagem detém o melhor desempenho em termos de segurança de transporte dentre os modais. Como o transporte rodoviário é mais sujeito a acidentes e roubos, isso tem impacto sobre o seguro das cargas. Por ser um meio mais seguro, a cabotagem pode caracterizar inexistência de sinistros durante o transporte de uma carga, o que reduz preços na renovação do seguro.

Por fim, a utilização da cabotagem exige muito menos investimentos em infraestrutura, o que é relevante para qualquer país em crise. A cabotagem usa uma via já pronta e com capacidade ilimitada, a "BR-Marítima", de 10 mil km, ao longo da costa brasileira, se incluirmos o trecho até Manaus. Os investimentos portuários, essenciais para receber navios cada vez maiores e estimular nosso comércio exterior, quase sempre representam um investimento marginal para receber os navios de menor porte operando na cabotagem.

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O governo está enfrentando um momento de crise extremamente delicado e tem que buscar soluções emergenciais. Não pode, no entanto, deixar que as soluções imediatas conduzam ao processo inverso ao que precisamos buscar no médio e longo prazo, que é a correção da matriz de transportes, para reduzir a dependência da logística interna a um único modal. O país pode e deve contar com a cabotagem.

*André Mello é vice-presidente executivo da ABAC (Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem)

São investimentos em navios de última geração, comparáveis aos melhores do mundo, que prestam serviços sofisticados. As empresas brasileiras de navegação, que operam regularmente no transporte de contêineres, já superam a marca de 1 milhão de TEUS/ano (2017), e os números do 1.º trimestre de 2018 mostram ritmo de crescimento ainda maior. Apenas na movimentação de contêineres, o crescimento anual médio, desde 2011, foi de 13,01%. E isso se manteve mesmo com a economia desaquecida dos últimos anos.

A solução logística porta a porta, oferecida pelos armadores nacionais, tem estimulado a transferência de cargas de longa distância do modal rodoviário para a cabotagem.

Ou seja, o transporte de carga por via marítima existe no país, é forte, presta um serviço confiável e de alta qualidade. Neste momento poderia estar contribuindo ainda mais para amenizar o problema da distribuição de cargas ao longo da costa brasileira. Mas, segundo dados da ILOS de 2017, o Brasil conta, atualmente, com 63% da produção sendo escoada pelas rodovias, 21% da produção passando pelas ferrovias nacionais, enquanto o transporte aquaviário movimenta apenas 13% das cargas, aqui incluídos a navegação de cabotagem e a navegação fluvial e lacustre. Em termos de comparação, na China, mais de 50% da produção é escoada pelo modal aquaviário.

Vimos recentemente, com a greve dos caminhoneiros, o tamanho do prejuízo para todo o País da dependência do modal rodoviário. Ficou evidente a necessidade ainda maior de um melhor equilíbrio entre os modais.

Uma boa oportunidade para que a cabotagem continue ganhando espaço, é o PNL (Plano Nacional de Logística), em fase de discussão no Governo. Ele tem como objetivo "alcançar uma divisão mais equilibrada da matriz de transportes, considerando-se a eficiência dos modais para a movimentação de cargas no País". Para que essa proposta se concretize, no entanto, é necessário que haja isonomia no tratamento entre os modais.

Ao contrário da direção que deveríamos estar tomando, com o advento das manifestações dos caminhoneiros, mais uma vez o Governo se dispôs a oferecer diferenciais competitivos ao transporte rodoviário de cargas, correndo o risco de, assim, ampliar ainda mais o fosso da desigualdade de condições entre os modais.

Há mais de 20 anos a navegação de cabotagem enfrenta dificuldades com a flutuação internacional de preços de combustível marítimo. Para os rodoviários, o tratamento na relação com o diesel já era diferenciado. Agora, mesmo com o aumento de custo de todos os combustíveis, superior a 50% só neste ano, que impactou a todos os modais de forma similar, o subsídio do diesel foi apenas para os transportes terrestres.

Por outro lado, o governo parece ceder às pressões e se dispõe a interferir na economia privada, definindo tabelas de fretes mínimos para o modal rodoviário e, esquecendo que um dos motivos da atual crise é o excesso de caminhões adquiridos nos últimos anos, parece disposto a agravar a situação mostrando disposição de incentivar a renovação / ampliação da frota de caminhões com financiamentos em condições privilegiadas.

Enquanto isto a cabotagem, que tem inúmeros benefícios que deveriam estar sendo levados em consideração, na tomada de decisão política para alcançar o equilíbrio entre os modais, continua sendo tratada em um segundo plano, com frequentes ameaças de mudanças nos marcos regulatórios.

Para começar, é um sistema de transporte menos poluente. Para uma mesma distância, um navio emite pelo menos 4 vezes menos carbono, por tonelada transportada, do que um caminhão, além de aliviar o congestionamento das rodovias, que é fator agravante na poluição rodoviária. Um exemplo claro disso acontece no transporte de toras de eucalipto entre o sul da Bahia e Portocel-ES, em comboios oceânicos especializados, iniciado há cerca de 15 anos, que realizam mais de 1 viagem por dia transportando o equivalente a 100 carretas tipo tritrem que são retiradas das estradas (200 viagens de ida + volta).

Outro ponto a ser valorizado é que a cabotagem detém o melhor desempenho em termos de segurança de transporte dentre os modais. Como o transporte rodoviário é mais sujeito a acidentes e roubos, isso tem impacto sobre o seguro das cargas. Por ser um meio mais seguro, a cabotagem pode caracterizar inexistência de sinistros durante o transporte de uma carga, o que reduz preços na renovação do seguro.

Por fim, a utilização da cabotagem exige muito menos investimentos em infraestrutura, o que é relevante para qualquer país em crise. A cabotagem usa uma via já pronta e com capacidade ilimitada, a "BR-Marítima", de 10 mil km, ao longo da costa brasileira, se incluirmos o trecho até Manaus. Os investimentos portuários, essenciais para receber navios cada vez maiores e estimular nosso comércio exterior, quase sempre representam um investimento marginal para receber os navios de menor porte operando na cabotagem.

O governo está enfrentando um momento de crise extremamente delicado e tem que buscar soluções emergenciais. Não pode, no entanto, deixar que as soluções imediatas conduzam ao processo inverso ao que precisamos buscar no médio e longo prazo, que é a correção da matriz de transportes, para reduzir a dependência da logística interna a um único modal. O país pode e deve contar com a cabotagem.

*André Mello é vice-presidente executivo da ABAC (Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem)

São investimentos em navios de última geração, comparáveis aos melhores do mundo, que prestam serviços sofisticados. As empresas brasileiras de navegação, que operam regularmente no transporte de contêineres, já superam a marca de 1 milhão de TEUS/ano (2017), e os números do 1.º trimestre de 2018 mostram ritmo de crescimento ainda maior. Apenas na movimentação de contêineres, o crescimento anual médio, desde 2011, foi de 13,01%. E isso se manteve mesmo com a economia desaquecida dos últimos anos.

A solução logística porta a porta, oferecida pelos armadores nacionais, tem estimulado a transferência de cargas de longa distância do modal rodoviário para a cabotagem.

Ou seja, o transporte de carga por via marítima existe no país, é forte, presta um serviço confiável e de alta qualidade. Neste momento poderia estar contribuindo ainda mais para amenizar o problema da distribuição de cargas ao longo da costa brasileira. Mas, segundo dados da ILOS de 2017, o Brasil conta, atualmente, com 63% da produção sendo escoada pelas rodovias, 21% da produção passando pelas ferrovias nacionais, enquanto o transporte aquaviário movimenta apenas 13% das cargas, aqui incluídos a navegação de cabotagem e a navegação fluvial e lacustre. Em termos de comparação, na China, mais de 50% da produção é escoada pelo modal aquaviário.

Vimos recentemente, com a greve dos caminhoneiros, o tamanho do prejuízo para todo o País da dependência do modal rodoviário. Ficou evidente a necessidade ainda maior de um melhor equilíbrio entre os modais.

Uma boa oportunidade para que a cabotagem continue ganhando espaço, é o PNL (Plano Nacional de Logística), em fase de discussão no Governo. Ele tem como objetivo "alcançar uma divisão mais equilibrada da matriz de transportes, considerando-se a eficiência dos modais para a movimentação de cargas no País". Para que essa proposta se concretize, no entanto, é necessário que haja isonomia no tratamento entre os modais.

Ao contrário da direção que deveríamos estar tomando, com o advento das manifestações dos caminhoneiros, mais uma vez o Governo se dispôs a oferecer diferenciais competitivos ao transporte rodoviário de cargas, correndo o risco de, assim, ampliar ainda mais o fosso da desigualdade de condições entre os modais.

Há mais de 20 anos a navegação de cabotagem enfrenta dificuldades com a flutuação internacional de preços de combustível marítimo. Para os rodoviários, o tratamento na relação com o diesel já era diferenciado. Agora, mesmo com o aumento de custo de todos os combustíveis, superior a 50% só neste ano, que impactou a todos os modais de forma similar, o subsídio do diesel foi apenas para os transportes terrestres.

Por outro lado, o governo parece ceder às pressões e se dispõe a interferir na economia privada, definindo tabelas de fretes mínimos para o modal rodoviário e, esquecendo que um dos motivos da atual crise é o excesso de caminhões adquiridos nos últimos anos, parece disposto a agravar a situação mostrando disposição de incentivar a renovação / ampliação da frota de caminhões com financiamentos em condições privilegiadas.

Enquanto isto a cabotagem, que tem inúmeros benefícios que deveriam estar sendo levados em consideração, na tomada de decisão política para alcançar o equilíbrio entre os modais, continua sendo tratada em um segundo plano, com frequentes ameaças de mudanças nos marcos regulatórios.

Para começar, é um sistema de transporte menos poluente. Para uma mesma distância, um navio emite pelo menos 4 vezes menos carbono, por tonelada transportada, do que um caminhão, além de aliviar o congestionamento das rodovias, que é fator agravante na poluição rodoviária. Um exemplo claro disso acontece no transporte de toras de eucalipto entre o sul da Bahia e Portocel-ES, em comboios oceânicos especializados, iniciado há cerca de 15 anos, que realizam mais de 1 viagem por dia transportando o equivalente a 100 carretas tipo tritrem que são retiradas das estradas (200 viagens de ida + volta).

Outro ponto a ser valorizado é que a cabotagem detém o melhor desempenho em termos de segurança de transporte dentre os modais. Como o transporte rodoviário é mais sujeito a acidentes e roubos, isso tem impacto sobre o seguro das cargas. Por ser um meio mais seguro, a cabotagem pode caracterizar inexistência de sinistros durante o transporte de uma carga, o que reduz preços na renovação do seguro.

Por fim, a utilização da cabotagem exige muito menos investimentos em infraestrutura, o que é relevante para qualquer país em crise. A cabotagem usa uma via já pronta e com capacidade ilimitada, a "BR-Marítima", de 10 mil km, ao longo da costa brasileira, se incluirmos o trecho até Manaus. Os investimentos portuários, essenciais para receber navios cada vez maiores e estimular nosso comércio exterior, quase sempre representam um investimento marginal para receber os navios de menor porte operando na cabotagem.

O governo está enfrentando um momento de crise extremamente delicado e tem que buscar soluções emergenciais. Não pode, no entanto, deixar que as soluções imediatas conduzam ao processo inverso ao que precisamos buscar no médio e longo prazo, que é a correção da matriz de transportes, para reduzir a dependência da logística interna a um único modal. O país pode e deve contar com a cabotagem.

*André Mello é vice-presidente executivo da ABAC (Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem)

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