Derrotado nas eleições presidenciais de 1922, o Marechal Hermes da Fonseca redigiu um texto chamando os militares a uma reação. Por isso, Epitácio Pessoa determinou sua prisão e o fechamento do Clube Militar, que o Marechal presidia.
Esses fatos ensejaram o episódio dos “18 do Forte”, ocorrido em 5.7.1922, rebelião prontamente dominada pelo Governo, que prometeu não perseguir os insubordinados. Promessa descumprida. O Exército, dividido, se recolhera aos quarteis. Os oficiais mais graduados e contrários a Arthur Bernardes requereram reforma ou abandonaram a Força.
O estado de sítio, decretado anteriormente por Epitácio Pessoa e que se encerraria a 31 de dezembro de 1922, foi prorrogado por Bernardes e só foi suspenso em dezembro de 1923. Rebeliões espoucavam em vários Estados, todas contra Arthur Bernardes, considerado presidente vingativo e prepotente.
Em São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná se articulava a derrubada de Bernardes. Aqui se encontravam alguns militares que trocaram de nome: o capitão Joaquim do Nascimento Fernando Távora passou a se chamar J. Fernandes ou simplesmente Joaquim. O capitão Juarez Távora, irmão dele, ficou sendo Otávio Fernandes. O tenente Eduardo Gomes passou a assinar Dr. Eugênio Guimarães, para conservar as iniciais. O tenente Granville Belerophonto de Lima era agora Gabriel de Lima. O tenente Henrique Ricardo Hall chamava-se Dr. Ricardo Fischer Júnior. O tenente Vítor César da Cunha Cruz se tornou conhecido como Dr. Vítor da Silveira. O oficial reformado da reserva Isidoro Dias Lopes (1865-1949), conhecido nos meios militares como o “Severo”, foi o único a não mudar de nome.
Um dos elementos escolhidos em São Paulo para chefiar a revolução foi o major fiscal Miguel Alberto Crispim da Costa Rodrigues (1885-1954), mais conhecido como Miguel Costa. Embora argentino de nascimento, era naturalizado brasileiro.
Nomes que depois se tornaram famosos estavam também descontentes com Bernardes. Dentre eles, o tenente Felinto Muller, que viria a se tornar conhecido como o homem mais poderoso do Brasil, na ditadura Vargas. Também o capitão Newton Estillac Leal, o coronel João Francisco, mais conhecido como “Hiena do Caty”, devido à fama de degolador de prisioneiros; segundo tenente João Cabanas, também célebre por sua ferocidade. Dentre os civis, a aviadora Anésia Pinheira Machado, Heitor da Cunha Bueno e, segundo alguns, Antônio Rodrigues de Carvalho, jogador profissional, que em 19 de julho invadiu e tomou posse do Gabinete de Investigações e Capturas, destruindo todo o prontuário, inclusive o seu.
O levante revolucionário estava programado para maio de 1924. Mas só veio a ser deflagrado em julho. Uma carta do General Isidoro Dias Lopes foi endereçada a J.Fernandes, que não era senão Joaquim Távora e nos termos que seguem: “Rio, 12.5.1924. Caro J.Fernandes. Como você sabe, não posso comparecer amanhã, 13, à reunião em São Paulo. Transmita aos companheiros o seguinte: aprovo sem restrição o plano adotado e que vai por mim rubricado. Remeta, com antecedência, as ordens às forças que não tomarão parte no ataque em São Paulo, forças essas que deverão estar prontas a executar as referidas ordens, logo à tomada de São Paulo. O ataque a São Paulo será depois de segunda-feira, 19; assim, os comandantes de destacamentos e unidades menores devem estar prontos para a ação desde terça-feira, 20. Na véspera do dia designado, todos receberão avisos. Eu estarei em São Paulo pelo menos dois dias antes da ação. Nestes termos, escrevo hoje mesmo ao tenente-coronel Mesquita. Estas determinações você as leva escritas e já lhe dei verbalmente. Você é pois, o meu representante na reunião de amanhã. General Isidoro Dias Lopes”.
Troca de mensagens ocorreu durante maio e junho. Finalmente, na madrugada de 5 de julho de 1924, no bairro da Luz, tropas do Exército iam ocupando os quartéis da Avenida Tiradentes. Na sede do Regimento de Cavalaria da Força Pública, sob comando do Major Miguel Costa, a cada chegada de militar ele interpelava: - “Você é brasileiro?”. Ante a resposta afirmativa, ele completava: “Então tem de ficar ao lado da revolução!”.
Começava a Revolução de julho de 1924, que matou milhares de paulistanos e que teve como gatilho a prisão do Marechal Hermes da Fonseca.
*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras