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A recorrente tragédia climática brasileira, que pode ser resolvida com geotecnia e políticas públicas


Por Luciano Machado
 Foto: Werther Santana/Estadão

Sabe-se muito mais a respeito das tragédias anuais que estão agendadas para acontecer ano após ano no Brasil do que se imagina, as informações estão disponíveis, o que falta é a utilização dessas informações para uma inflexão nesse caminho de morte, principalmente de pessoas pobres. Trata-se de um evento que assola o país há décadas e que acontece todos os anos quando as chuvas chegam. A única mudança é o local das mortes, mas as áreas que podem acontecer as tragédias estão mapeadas e a informação é pública, nos últimos anos tivemos mortes concentradas no Sul da Bahia, Norte de Minas, Franco da Rocha, Petrópolis e nessa semana as mortes são no litoral de São Paulo.

Chamar um local de área de risco está diretamente ligado a fatores antrópicos e, nesse caso, estou falando do problema habitacional brasileiro e a ocupação desordenada de áreas suscetíveis a deslizamentos de terra em todo país.

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Do ponto de vista geológico, a ocorrência de escorregamento de solo, ocasionado pela chuvas em uma área suscetível a movimentação é normal, natural e faz parte da composição do solo brasileiro, o risco só existe quando a vida está envolvida nessa área suscetível a movimentação - eliminar 100% do risco dessa área só será possível se as vidas não estiverem nesse local. Existem muitas alternativas de engenharia para redução desse tipo de problema, obras de terra (terraplenagem), contenções, muros de espera, telas de fortificação de solos e rochas entre tantas outras.

São tecnologias como essas que podem reduzir os impactos causados pelas chuvas e possibilitar em muitos casos a habitação nessas áreas suscetíveis a movimentação de solo e rocha, porém com risco reduzido, nesse caso o que se precisa avaliar é o custo dessas intervenções de engenharia, que muitas das vezes é o que inviabiliza sua realização, mas aqui fica a questão: quanto vale uma vida?

Existem classificações de risco onde o mais grave é tratado de R4 (Risco Geológico 4 - Muito alto) e R1 (Risco Geológico 1 - Baixo). O objetivo da engenharia é proporcionar o menor risco possível sempre na tentativa de eliminar quando possível. As áreas de risco são conhecidas e a maior parte delas já estão mapeadas, catalogadas e disponíveis para estudo, a densidade demográfica também é outro dado disponível em arquivos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, por mais que muitas vezes estejam desatualizados a informação existe.

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Com todas essas informações a mão, a única resposta para que as tragédias continuem acontecendo é cruel e triste, pois o Brasil se acostumou com as mortes de pessoas que vivem nessas áreas e todos os anos ficamos chocados e a solidariedade aflora quando mandamos comida, água, roupa e dinheiro para os locais afetados. Essas ações já fazem parte do calendário, assim como colocar a culpa na natureza, no solo permeável ou impermeável, na chuva e, por último, nas pessoas que moram no local "errado" já que todos sabem que têm suscetibilidade de deslizamento de terra, como se tivessem outra opção.

Luciano Machado. Foto: Carol Coelho/Divulgação

De forma simplista e sem citar a complexidade que envolve efetivar sua frase, o atual presidente disse como resolver o problema: "É só construir em um local mais seguro".

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O presidente foi assertivo; é inaceitável que pessoas residam em zonas R4 , é inaceitável que não se tenha nenhum tipo de monitoramento geotécnico nesses locais, onde seria possível ter informações para apoiar a evacuação de forma antecipada, as tecnologias de sensores de monitoramento de massa estão disponíveis, é inadmissível receber a previsão das chuvas e não existir um plano de contingência para o caso da confirmação da previsão ou não existir um plano B para o caso de termos três vezes mais chuvas do que o previsto que foi o que aconteceu (a chuva prevista inicialmente era suficiente para trazer morte e destruição, a que aconteceu foi recorde histórico e  muito mais destruidora).

O que precisa ser feito está ligado a falta de definição de política pública para fomento de um amplo programa de redução de riscos, onde deve ser estudada e analisada a tipologia de cada local e envolve na engenharia geotécnica a junção de todas as soluções citadas dependendo da necessidade e do risco de cada local, construção de moradias populares, remoção e realocação das pessoas, implementação de micro e macro drenagem adequadas, obras de contenção, obras de terraplanagem e finalmente a implementação de monitoramento geotécnico, tudo analisado e definido de acordo com a necessidade de cada local. Ser uma voz que fala o que ninguém tem interesse de ouvir nos coloca em um lugar de isolamento, porém é importante insistir no que precisa ser dito.

*Luciano Machado é engenheiro civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com MBA em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, especialista pós-graduado em geotecnia pelo Instituto Brasileiro de Educação Continuada (INBEC), filósofo pela Universidade Cruzeiro do Sul e sócio-fundador da MMF Projetos

 Foto: Werther Santana/Estadão

Sabe-se muito mais a respeito das tragédias anuais que estão agendadas para acontecer ano após ano no Brasil do que se imagina, as informações estão disponíveis, o que falta é a utilização dessas informações para uma inflexão nesse caminho de morte, principalmente de pessoas pobres. Trata-se de um evento que assola o país há décadas e que acontece todos os anos quando as chuvas chegam. A única mudança é o local das mortes, mas as áreas que podem acontecer as tragédias estão mapeadas e a informação é pública, nos últimos anos tivemos mortes concentradas no Sul da Bahia, Norte de Minas, Franco da Rocha, Petrópolis e nessa semana as mortes são no litoral de São Paulo.

Chamar um local de área de risco está diretamente ligado a fatores antrópicos e, nesse caso, estou falando do problema habitacional brasileiro e a ocupação desordenada de áreas suscetíveis a deslizamentos de terra em todo país.

Do ponto de vista geológico, a ocorrência de escorregamento de solo, ocasionado pela chuvas em uma área suscetível a movimentação é normal, natural e faz parte da composição do solo brasileiro, o risco só existe quando a vida está envolvida nessa área suscetível a movimentação - eliminar 100% do risco dessa área só será possível se as vidas não estiverem nesse local. Existem muitas alternativas de engenharia para redução desse tipo de problema, obras de terra (terraplenagem), contenções, muros de espera, telas de fortificação de solos e rochas entre tantas outras.

São tecnologias como essas que podem reduzir os impactos causados pelas chuvas e possibilitar em muitos casos a habitação nessas áreas suscetíveis a movimentação de solo e rocha, porém com risco reduzido, nesse caso o que se precisa avaliar é o custo dessas intervenções de engenharia, que muitas das vezes é o que inviabiliza sua realização, mas aqui fica a questão: quanto vale uma vida?

Existem classificações de risco onde o mais grave é tratado de R4 (Risco Geológico 4 - Muito alto) e R1 (Risco Geológico 1 - Baixo). O objetivo da engenharia é proporcionar o menor risco possível sempre na tentativa de eliminar quando possível. As áreas de risco são conhecidas e a maior parte delas já estão mapeadas, catalogadas e disponíveis para estudo, a densidade demográfica também é outro dado disponível em arquivos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, por mais que muitas vezes estejam desatualizados a informação existe.

Com todas essas informações a mão, a única resposta para que as tragédias continuem acontecendo é cruel e triste, pois o Brasil se acostumou com as mortes de pessoas que vivem nessas áreas e todos os anos ficamos chocados e a solidariedade aflora quando mandamos comida, água, roupa e dinheiro para os locais afetados. Essas ações já fazem parte do calendário, assim como colocar a culpa na natureza, no solo permeável ou impermeável, na chuva e, por último, nas pessoas que moram no local "errado" já que todos sabem que têm suscetibilidade de deslizamento de terra, como se tivessem outra opção.

Luciano Machado. Foto: Carol Coelho/Divulgação

De forma simplista e sem citar a complexidade que envolve efetivar sua frase, o atual presidente disse como resolver o problema: "É só construir em um local mais seguro".

O presidente foi assertivo; é inaceitável que pessoas residam em zonas R4 , é inaceitável que não se tenha nenhum tipo de monitoramento geotécnico nesses locais, onde seria possível ter informações para apoiar a evacuação de forma antecipada, as tecnologias de sensores de monitoramento de massa estão disponíveis, é inadmissível receber a previsão das chuvas e não existir um plano de contingência para o caso da confirmação da previsão ou não existir um plano B para o caso de termos três vezes mais chuvas do que o previsto que foi o que aconteceu (a chuva prevista inicialmente era suficiente para trazer morte e destruição, a que aconteceu foi recorde histórico e  muito mais destruidora).

O que precisa ser feito está ligado a falta de definição de política pública para fomento de um amplo programa de redução de riscos, onde deve ser estudada e analisada a tipologia de cada local e envolve na engenharia geotécnica a junção de todas as soluções citadas dependendo da necessidade e do risco de cada local, construção de moradias populares, remoção e realocação das pessoas, implementação de micro e macro drenagem adequadas, obras de contenção, obras de terraplanagem e finalmente a implementação de monitoramento geotécnico, tudo analisado e definido de acordo com a necessidade de cada local. Ser uma voz que fala o que ninguém tem interesse de ouvir nos coloca em um lugar de isolamento, porém é importante insistir no que precisa ser dito.

*Luciano Machado é engenheiro civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com MBA em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, especialista pós-graduado em geotecnia pelo Instituto Brasileiro de Educação Continuada (INBEC), filósofo pela Universidade Cruzeiro do Sul e sócio-fundador da MMF Projetos

 Foto: Werther Santana/Estadão

Sabe-se muito mais a respeito das tragédias anuais que estão agendadas para acontecer ano após ano no Brasil do que se imagina, as informações estão disponíveis, o que falta é a utilização dessas informações para uma inflexão nesse caminho de morte, principalmente de pessoas pobres. Trata-se de um evento que assola o país há décadas e que acontece todos os anos quando as chuvas chegam. A única mudança é o local das mortes, mas as áreas que podem acontecer as tragédias estão mapeadas e a informação é pública, nos últimos anos tivemos mortes concentradas no Sul da Bahia, Norte de Minas, Franco da Rocha, Petrópolis e nessa semana as mortes são no litoral de São Paulo.

Chamar um local de área de risco está diretamente ligado a fatores antrópicos e, nesse caso, estou falando do problema habitacional brasileiro e a ocupação desordenada de áreas suscetíveis a deslizamentos de terra em todo país.

Do ponto de vista geológico, a ocorrência de escorregamento de solo, ocasionado pela chuvas em uma área suscetível a movimentação é normal, natural e faz parte da composição do solo brasileiro, o risco só existe quando a vida está envolvida nessa área suscetível a movimentação - eliminar 100% do risco dessa área só será possível se as vidas não estiverem nesse local. Existem muitas alternativas de engenharia para redução desse tipo de problema, obras de terra (terraplenagem), contenções, muros de espera, telas de fortificação de solos e rochas entre tantas outras.

São tecnologias como essas que podem reduzir os impactos causados pelas chuvas e possibilitar em muitos casos a habitação nessas áreas suscetíveis a movimentação de solo e rocha, porém com risco reduzido, nesse caso o que se precisa avaliar é o custo dessas intervenções de engenharia, que muitas das vezes é o que inviabiliza sua realização, mas aqui fica a questão: quanto vale uma vida?

Existem classificações de risco onde o mais grave é tratado de R4 (Risco Geológico 4 - Muito alto) e R1 (Risco Geológico 1 - Baixo). O objetivo da engenharia é proporcionar o menor risco possível sempre na tentativa de eliminar quando possível. As áreas de risco são conhecidas e a maior parte delas já estão mapeadas, catalogadas e disponíveis para estudo, a densidade demográfica também é outro dado disponível em arquivos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, por mais que muitas vezes estejam desatualizados a informação existe.

Com todas essas informações a mão, a única resposta para que as tragédias continuem acontecendo é cruel e triste, pois o Brasil se acostumou com as mortes de pessoas que vivem nessas áreas e todos os anos ficamos chocados e a solidariedade aflora quando mandamos comida, água, roupa e dinheiro para os locais afetados. Essas ações já fazem parte do calendário, assim como colocar a culpa na natureza, no solo permeável ou impermeável, na chuva e, por último, nas pessoas que moram no local "errado" já que todos sabem que têm suscetibilidade de deslizamento de terra, como se tivessem outra opção.

Luciano Machado. Foto: Carol Coelho/Divulgação

De forma simplista e sem citar a complexidade que envolve efetivar sua frase, o atual presidente disse como resolver o problema: "É só construir em um local mais seguro".

O presidente foi assertivo; é inaceitável que pessoas residam em zonas R4 , é inaceitável que não se tenha nenhum tipo de monitoramento geotécnico nesses locais, onde seria possível ter informações para apoiar a evacuação de forma antecipada, as tecnologias de sensores de monitoramento de massa estão disponíveis, é inadmissível receber a previsão das chuvas e não existir um plano de contingência para o caso da confirmação da previsão ou não existir um plano B para o caso de termos três vezes mais chuvas do que o previsto que foi o que aconteceu (a chuva prevista inicialmente era suficiente para trazer morte e destruição, a que aconteceu foi recorde histórico e  muito mais destruidora).

O que precisa ser feito está ligado a falta de definição de política pública para fomento de um amplo programa de redução de riscos, onde deve ser estudada e analisada a tipologia de cada local e envolve na engenharia geotécnica a junção de todas as soluções citadas dependendo da necessidade e do risco de cada local, construção de moradias populares, remoção e realocação das pessoas, implementação de micro e macro drenagem adequadas, obras de contenção, obras de terraplanagem e finalmente a implementação de monitoramento geotécnico, tudo analisado e definido de acordo com a necessidade de cada local. Ser uma voz que fala o que ninguém tem interesse de ouvir nos coloca em um lugar de isolamento, porém é importante insistir no que precisa ser dito.

*Luciano Machado é engenheiro civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com MBA em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, especialista pós-graduado em geotecnia pelo Instituto Brasileiro de Educação Continuada (INBEC), filósofo pela Universidade Cruzeiro do Sul e sócio-fundador da MMF Projetos

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