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Americanas: PF suspeita que executivo vazou operação sobre fraude de R$ 25,3 bi para alertar ex-CEO


Agentes da Operação Disclosure supõem que um ex-executivo da varejista, Márcio Cruz, teria alertado Miguel Gutierrez - que já estava em Madri e não retornou ao Brasil na data prevista -, e Anna Saicali, que viajou para Lisboa; Estadão busca contato com defesa

Por Pepita Ortega e Fausto Macedo
Atualização:
Miguel Gutierrez e Anna Saicali Foto: Vinicius Loures/Agencia Camara -Americanas Summit 2021

A Polícia Federal suspeita de vazamento da Operação Disclosure, antes de sua deflagração na manhã do último dia 27, o que teria feito com que o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez, principal alvo da investigação sobre fraudes de R$ 25,3 bilhões na varejista, permanecesse em Madri e não retornasse ao Brasil na data marcada. O alerta sobre os passos da PF também teria propiciado a ‘fuga’ da ex-diretora Anna Christina Saicali, para Lisboa. Contra ambos, Gutierrez e Anna, a Justiça Federal havia emitido ordem de prisão preventiva.

Agentes empenhados na apuração acreditam que Gutierrez e Anna Saicali foram alertados por um outro ex-executivo da Americanas, Márcio Cruz, que a PF os espreitava. Cruz é ligado ao ex-CEO e à ex-diretora e também é apontado como integrante do esquema de fraudes bilionárias no grupo.

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A reportagem do Estadão busca contato com os investigados. O espaço está aberto para manifestações.

Detalhes do suposto vazamento constam do pedido de prisão de Gutierrez e também da decisão judicial que decretou a preventiva do ex-CEO e incluiu seu nome na Difusão Vermelha da Interpol, índex dos mais procurados da Polícia Internacional.

O mandado de prisão de Gutierrez foi cumprido em Madri, no dia seguinte à abertura da Disclosure. Logo em seguida, a Justiça da Espanha o colocou em liberdade, sob a condição de cumprir medidas alternativas, como entregar o passaporte.

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A ordem de prisão de Gutierrez foi assinada menos de 48 horas antes da Operação Disclosure sair às ruas. Na noite de 25 de junho, o juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Federal Criminal do Rio, mandou prender o ex-CEO.

Uma semana antes, o juiz havia autorizado outras diligências, mandados de busca e apreensão, quebra de sigilo e sequestro de bens dos investigados.

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Em seu despacho, o juiz Márcio Carvalho anotou que não pretendia, inicialmente, decretar a prisão de nenhum investigado no escândalo Americanas. No entanto, o magistrado ponderou que os “fortes indícios de evasão” de Gutierrez do país “na tentativa de se furtar à aplicação da lei penal” não lhe deixavam “qualquer outra alternativa”.

O juiz tomou a decisão após uma representação da Polícia Federal, datada de 23 de junho, comunicando a descoberta de uma passagem aérea, em nome de Gutierrez, para o último dia 20 com destino ao Brasil.

O ex-CEO não embarcou, provavelmente já informado sobre os passos da PF. No dia 29, a passagem comprada quando Gutierrez saiu do País, expirou.

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A investigação mostra que ele saiu do Brasil no dia 29 de junho de 2023, com destino à Espanha, após a abertura do inquérito que culminou na Operação Disclosure e na instauração da CPI da Americanas.

Inicialmente, estava previsto o retorno do executivo ao Brasil no dia 8 de julho do ano passado, mas a passagem foi remarcada para último dia 20 de junho. O bilhete tinha 12 meses de validade.

“Gutierrez já havia remarcado a passagem de volta para 20/06/2024, mas após ter tido ciência da existência de cautelares penais em face a sua pessoa em 06/05/2024, acabou por não retornar ao Brasil visando garantir a não aplicação da lei penal”, sustenta a PF.

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Os investigadores suspeitam que os planos do ex-CEO teriam mudado após ele receber informações sobre as cautelares impostas pela Justiça a pedido da PF.

As suspeitas da corporação sobre o vazamento recaem sobre Márcio Cruz, que trabalhou 20 anos junto de Gutierrez e da ex-diretora Anna Saicali. Eles tem um nível elevado de proximidade, dizem os investigadores.

A PF narra que Márcio Cruz pediu, junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), no Rio, acesso ao conteúdo dos depoimentos de dois delatores da Disclosure – Flávia Carneiro e Marcelo Nunes.

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No dia 6 de maio, foi juntado ao processo no TRF-2 um ofício sigiloso, que informava o desembargador relator do caso sobre a existência de um rol de medidas cautelares com relação a Gutierrez – busca e apreensão, quebra de sigilo fiscal, bancário e financeiro, além de pedido de sequestro de bens.

À época, essas medidas ainda não haviam sido analisadas pela Justiça Federal de primeira instância. Segundo o juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, o ofício sigiloso foi juntado por “engano”.

A PF considera a possibilidade de que Márcio Cruz tenha repassado as informações aos demais investigados. “É muito provável que Márcio Cruz tenha informado a eles sobre a existências das cautelares”, avalia a corporação.

Os investigadores indicam que, após a juntada do ofício, a ex-diretora Anna Christina Saicali também deixou o País, rumo à Lisboa. Ela comprou passagem no dia 15 de junho e só retornou ao Brasil após um acordo, com a Justiça Federal, para que se entregasse no Aeroporto no Rio em troca da revogação da prisão preventiva.

“É possível afirmar que os três (Gutierrez, Anna e Cruz) eram próximos, e é possível que tenham entrado em contato nesse ínterim entre a juntada do ofício no mandado de segurança impetrado por Marcio Cruz informando sobre a existência das cautelares, a fuga de Saicali do país e o não retorno do Miguel Gutierrez ao país, conforme passagem agendada”, ressalta a PF.

COM A PALAVRA, MÁRCIO CRUZ

A reportagem do Estadão busca contato com a defesa de Márcio Cruz. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE MIGUEL GUTIERREZ E ANNA SAICALI

O Estadão pediu manifestação da defesa de Gutierrez e busca contato com a defesa de Anna Saicali.(pepita.ortega@estadao.com)

Miguel Gutierrez e Anna Saicali Foto: Vinicius Loures/Agencia Camara -Americanas Summit 2021

A Polícia Federal suspeita de vazamento da Operação Disclosure, antes de sua deflagração na manhã do último dia 27, o que teria feito com que o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez, principal alvo da investigação sobre fraudes de R$ 25,3 bilhões na varejista, permanecesse em Madri e não retornasse ao Brasil na data marcada. O alerta sobre os passos da PF também teria propiciado a ‘fuga’ da ex-diretora Anna Christina Saicali, para Lisboa. Contra ambos, Gutierrez e Anna, a Justiça Federal havia emitido ordem de prisão preventiva.

Agentes empenhados na apuração acreditam que Gutierrez e Anna Saicali foram alertados por um outro ex-executivo da Americanas, Márcio Cruz, que a PF os espreitava. Cruz é ligado ao ex-CEO e à ex-diretora e também é apontado como integrante do esquema de fraudes bilionárias no grupo.

A reportagem do Estadão busca contato com os investigados. O espaço está aberto para manifestações.

Detalhes do suposto vazamento constam do pedido de prisão de Gutierrez e também da decisão judicial que decretou a preventiva do ex-CEO e incluiu seu nome na Difusão Vermelha da Interpol, índex dos mais procurados da Polícia Internacional.

O mandado de prisão de Gutierrez foi cumprido em Madri, no dia seguinte à abertura da Disclosure. Logo em seguida, a Justiça da Espanha o colocou em liberdade, sob a condição de cumprir medidas alternativas, como entregar o passaporte.

A ordem de prisão de Gutierrez foi assinada menos de 48 horas antes da Operação Disclosure sair às ruas. Na noite de 25 de junho, o juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Federal Criminal do Rio, mandou prender o ex-CEO.

Uma semana antes, o juiz havia autorizado outras diligências, mandados de busca e apreensão, quebra de sigilo e sequestro de bens dos investigados.

Em seu despacho, o juiz Márcio Carvalho anotou que não pretendia, inicialmente, decretar a prisão de nenhum investigado no escândalo Americanas. No entanto, o magistrado ponderou que os “fortes indícios de evasão” de Gutierrez do país “na tentativa de se furtar à aplicação da lei penal” não lhe deixavam “qualquer outra alternativa”.

O juiz tomou a decisão após uma representação da Polícia Federal, datada de 23 de junho, comunicando a descoberta de uma passagem aérea, em nome de Gutierrez, para o último dia 20 com destino ao Brasil.

O ex-CEO não embarcou, provavelmente já informado sobre os passos da PF. No dia 29, a passagem comprada quando Gutierrez saiu do País, expirou.

A investigação mostra que ele saiu do Brasil no dia 29 de junho de 2023, com destino à Espanha, após a abertura do inquérito que culminou na Operação Disclosure e na instauração da CPI da Americanas.

Inicialmente, estava previsto o retorno do executivo ao Brasil no dia 8 de julho do ano passado, mas a passagem foi remarcada para último dia 20 de junho. O bilhete tinha 12 meses de validade.

“Gutierrez já havia remarcado a passagem de volta para 20/06/2024, mas após ter tido ciência da existência de cautelares penais em face a sua pessoa em 06/05/2024, acabou por não retornar ao Brasil visando garantir a não aplicação da lei penal”, sustenta a PF.

Os investigadores suspeitam que os planos do ex-CEO teriam mudado após ele receber informações sobre as cautelares impostas pela Justiça a pedido da PF.

As suspeitas da corporação sobre o vazamento recaem sobre Márcio Cruz, que trabalhou 20 anos junto de Gutierrez e da ex-diretora Anna Saicali. Eles tem um nível elevado de proximidade, dizem os investigadores.

A PF narra que Márcio Cruz pediu, junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), no Rio, acesso ao conteúdo dos depoimentos de dois delatores da Disclosure – Flávia Carneiro e Marcelo Nunes.

No dia 6 de maio, foi juntado ao processo no TRF-2 um ofício sigiloso, que informava o desembargador relator do caso sobre a existência de um rol de medidas cautelares com relação a Gutierrez – busca e apreensão, quebra de sigilo fiscal, bancário e financeiro, além de pedido de sequestro de bens.

À época, essas medidas ainda não haviam sido analisadas pela Justiça Federal de primeira instância. Segundo o juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, o ofício sigiloso foi juntado por “engano”.

A PF considera a possibilidade de que Márcio Cruz tenha repassado as informações aos demais investigados. “É muito provável que Márcio Cruz tenha informado a eles sobre a existências das cautelares”, avalia a corporação.

Os investigadores indicam que, após a juntada do ofício, a ex-diretora Anna Christina Saicali também deixou o País, rumo à Lisboa. Ela comprou passagem no dia 15 de junho e só retornou ao Brasil após um acordo, com a Justiça Federal, para que se entregasse no Aeroporto no Rio em troca da revogação da prisão preventiva.

“É possível afirmar que os três (Gutierrez, Anna e Cruz) eram próximos, e é possível que tenham entrado em contato nesse ínterim entre a juntada do ofício no mandado de segurança impetrado por Marcio Cruz informando sobre a existência das cautelares, a fuga de Saicali do país e o não retorno do Miguel Gutierrez ao país, conforme passagem agendada”, ressalta a PF.

COM A PALAVRA, MÁRCIO CRUZ

A reportagem do Estadão busca contato com a defesa de Márcio Cruz. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE MIGUEL GUTIERREZ E ANNA SAICALI

O Estadão pediu manifestação da defesa de Gutierrez e busca contato com a defesa de Anna Saicali.(pepita.ortega@estadao.com)

Miguel Gutierrez e Anna Saicali Foto: Vinicius Loures/Agencia Camara -Americanas Summit 2021

A Polícia Federal suspeita de vazamento da Operação Disclosure, antes de sua deflagração na manhã do último dia 27, o que teria feito com que o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez, principal alvo da investigação sobre fraudes de R$ 25,3 bilhões na varejista, permanecesse em Madri e não retornasse ao Brasil na data marcada. O alerta sobre os passos da PF também teria propiciado a ‘fuga’ da ex-diretora Anna Christina Saicali, para Lisboa. Contra ambos, Gutierrez e Anna, a Justiça Federal havia emitido ordem de prisão preventiva.

Agentes empenhados na apuração acreditam que Gutierrez e Anna Saicali foram alertados por um outro ex-executivo da Americanas, Márcio Cruz, que a PF os espreitava. Cruz é ligado ao ex-CEO e à ex-diretora e também é apontado como integrante do esquema de fraudes bilionárias no grupo.

A reportagem do Estadão busca contato com os investigados. O espaço está aberto para manifestações.

Detalhes do suposto vazamento constam do pedido de prisão de Gutierrez e também da decisão judicial que decretou a preventiva do ex-CEO e incluiu seu nome na Difusão Vermelha da Interpol, índex dos mais procurados da Polícia Internacional.

O mandado de prisão de Gutierrez foi cumprido em Madri, no dia seguinte à abertura da Disclosure. Logo em seguida, a Justiça da Espanha o colocou em liberdade, sob a condição de cumprir medidas alternativas, como entregar o passaporte.

A ordem de prisão de Gutierrez foi assinada menos de 48 horas antes da Operação Disclosure sair às ruas. Na noite de 25 de junho, o juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Federal Criminal do Rio, mandou prender o ex-CEO.

Uma semana antes, o juiz havia autorizado outras diligências, mandados de busca e apreensão, quebra de sigilo e sequestro de bens dos investigados.

Em seu despacho, o juiz Márcio Carvalho anotou que não pretendia, inicialmente, decretar a prisão de nenhum investigado no escândalo Americanas. No entanto, o magistrado ponderou que os “fortes indícios de evasão” de Gutierrez do país “na tentativa de se furtar à aplicação da lei penal” não lhe deixavam “qualquer outra alternativa”.

O juiz tomou a decisão após uma representação da Polícia Federal, datada de 23 de junho, comunicando a descoberta de uma passagem aérea, em nome de Gutierrez, para o último dia 20 com destino ao Brasil.

O ex-CEO não embarcou, provavelmente já informado sobre os passos da PF. No dia 29, a passagem comprada quando Gutierrez saiu do País, expirou.

A investigação mostra que ele saiu do Brasil no dia 29 de junho de 2023, com destino à Espanha, após a abertura do inquérito que culminou na Operação Disclosure e na instauração da CPI da Americanas.

Inicialmente, estava previsto o retorno do executivo ao Brasil no dia 8 de julho do ano passado, mas a passagem foi remarcada para último dia 20 de junho. O bilhete tinha 12 meses de validade.

“Gutierrez já havia remarcado a passagem de volta para 20/06/2024, mas após ter tido ciência da existência de cautelares penais em face a sua pessoa em 06/05/2024, acabou por não retornar ao Brasil visando garantir a não aplicação da lei penal”, sustenta a PF.

Os investigadores suspeitam que os planos do ex-CEO teriam mudado após ele receber informações sobre as cautelares impostas pela Justiça a pedido da PF.

As suspeitas da corporação sobre o vazamento recaem sobre Márcio Cruz, que trabalhou 20 anos junto de Gutierrez e da ex-diretora Anna Saicali. Eles tem um nível elevado de proximidade, dizem os investigadores.

A PF narra que Márcio Cruz pediu, junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), no Rio, acesso ao conteúdo dos depoimentos de dois delatores da Disclosure – Flávia Carneiro e Marcelo Nunes.

No dia 6 de maio, foi juntado ao processo no TRF-2 um ofício sigiloso, que informava o desembargador relator do caso sobre a existência de um rol de medidas cautelares com relação a Gutierrez – busca e apreensão, quebra de sigilo fiscal, bancário e financeiro, além de pedido de sequestro de bens.

À época, essas medidas ainda não haviam sido analisadas pela Justiça Federal de primeira instância. Segundo o juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, o ofício sigiloso foi juntado por “engano”.

A PF considera a possibilidade de que Márcio Cruz tenha repassado as informações aos demais investigados. “É muito provável que Márcio Cruz tenha informado a eles sobre a existências das cautelares”, avalia a corporação.

Os investigadores indicam que, após a juntada do ofício, a ex-diretora Anna Christina Saicali também deixou o País, rumo à Lisboa. Ela comprou passagem no dia 15 de junho e só retornou ao Brasil após um acordo, com a Justiça Federal, para que se entregasse no Aeroporto no Rio em troca da revogação da prisão preventiva.

“É possível afirmar que os três (Gutierrez, Anna e Cruz) eram próximos, e é possível que tenham entrado em contato nesse ínterim entre a juntada do ofício no mandado de segurança impetrado por Marcio Cruz informando sobre a existência das cautelares, a fuga de Saicali do país e o não retorno do Miguel Gutierrez ao país, conforme passagem agendada”, ressalta a PF.

COM A PALAVRA, MÁRCIO CRUZ

A reportagem do Estadão busca contato com a defesa de Márcio Cruz. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE MIGUEL GUTIERREZ E ANNA SAICALI

O Estadão pediu manifestação da defesa de Gutierrez e busca contato com a defesa de Anna Saicali.(pepita.ortega@estadao.com)

Miguel Gutierrez e Anna Saicali Foto: Vinicius Loures/Agencia Camara -Americanas Summit 2021

A Polícia Federal suspeita de vazamento da Operação Disclosure, antes de sua deflagração na manhã do último dia 27, o que teria feito com que o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez, principal alvo da investigação sobre fraudes de R$ 25,3 bilhões na varejista, permanecesse em Madri e não retornasse ao Brasil na data marcada. O alerta sobre os passos da PF também teria propiciado a ‘fuga’ da ex-diretora Anna Christina Saicali, para Lisboa. Contra ambos, Gutierrez e Anna, a Justiça Federal havia emitido ordem de prisão preventiva.

Agentes empenhados na apuração acreditam que Gutierrez e Anna Saicali foram alertados por um outro ex-executivo da Americanas, Márcio Cruz, que a PF os espreitava. Cruz é ligado ao ex-CEO e à ex-diretora e também é apontado como integrante do esquema de fraudes bilionárias no grupo.

A reportagem do Estadão busca contato com os investigados. O espaço está aberto para manifestações.

Detalhes do suposto vazamento constam do pedido de prisão de Gutierrez e também da decisão judicial que decretou a preventiva do ex-CEO e incluiu seu nome na Difusão Vermelha da Interpol, índex dos mais procurados da Polícia Internacional.

O mandado de prisão de Gutierrez foi cumprido em Madri, no dia seguinte à abertura da Disclosure. Logo em seguida, a Justiça da Espanha o colocou em liberdade, sob a condição de cumprir medidas alternativas, como entregar o passaporte.

A ordem de prisão de Gutierrez foi assinada menos de 48 horas antes da Operação Disclosure sair às ruas. Na noite de 25 de junho, o juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Federal Criminal do Rio, mandou prender o ex-CEO.

Uma semana antes, o juiz havia autorizado outras diligências, mandados de busca e apreensão, quebra de sigilo e sequestro de bens dos investigados.

Em seu despacho, o juiz Márcio Carvalho anotou que não pretendia, inicialmente, decretar a prisão de nenhum investigado no escândalo Americanas. No entanto, o magistrado ponderou que os “fortes indícios de evasão” de Gutierrez do país “na tentativa de se furtar à aplicação da lei penal” não lhe deixavam “qualquer outra alternativa”.

O juiz tomou a decisão após uma representação da Polícia Federal, datada de 23 de junho, comunicando a descoberta de uma passagem aérea, em nome de Gutierrez, para o último dia 20 com destino ao Brasil.

O ex-CEO não embarcou, provavelmente já informado sobre os passos da PF. No dia 29, a passagem comprada quando Gutierrez saiu do País, expirou.

A investigação mostra que ele saiu do Brasil no dia 29 de junho de 2023, com destino à Espanha, após a abertura do inquérito que culminou na Operação Disclosure e na instauração da CPI da Americanas.

Inicialmente, estava previsto o retorno do executivo ao Brasil no dia 8 de julho do ano passado, mas a passagem foi remarcada para último dia 20 de junho. O bilhete tinha 12 meses de validade.

“Gutierrez já havia remarcado a passagem de volta para 20/06/2024, mas após ter tido ciência da existência de cautelares penais em face a sua pessoa em 06/05/2024, acabou por não retornar ao Brasil visando garantir a não aplicação da lei penal”, sustenta a PF.

Os investigadores suspeitam que os planos do ex-CEO teriam mudado após ele receber informações sobre as cautelares impostas pela Justiça a pedido da PF.

As suspeitas da corporação sobre o vazamento recaem sobre Márcio Cruz, que trabalhou 20 anos junto de Gutierrez e da ex-diretora Anna Saicali. Eles tem um nível elevado de proximidade, dizem os investigadores.

A PF narra que Márcio Cruz pediu, junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), no Rio, acesso ao conteúdo dos depoimentos de dois delatores da Disclosure – Flávia Carneiro e Marcelo Nunes.

No dia 6 de maio, foi juntado ao processo no TRF-2 um ofício sigiloso, que informava o desembargador relator do caso sobre a existência de um rol de medidas cautelares com relação a Gutierrez – busca e apreensão, quebra de sigilo fiscal, bancário e financeiro, além de pedido de sequestro de bens.

À época, essas medidas ainda não haviam sido analisadas pela Justiça Federal de primeira instância. Segundo o juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, o ofício sigiloso foi juntado por “engano”.

A PF considera a possibilidade de que Márcio Cruz tenha repassado as informações aos demais investigados. “É muito provável que Márcio Cruz tenha informado a eles sobre a existências das cautelares”, avalia a corporação.

Os investigadores indicam que, após a juntada do ofício, a ex-diretora Anna Christina Saicali também deixou o País, rumo à Lisboa. Ela comprou passagem no dia 15 de junho e só retornou ao Brasil após um acordo, com a Justiça Federal, para que se entregasse no Aeroporto no Rio em troca da revogação da prisão preventiva.

“É possível afirmar que os três (Gutierrez, Anna e Cruz) eram próximos, e é possível que tenham entrado em contato nesse ínterim entre a juntada do ofício no mandado de segurança impetrado por Marcio Cruz informando sobre a existência das cautelares, a fuga de Saicali do país e o não retorno do Miguel Gutierrez ao país, conforme passagem agendada”, ressalta a PF.

COM A PALAVRA, MÁRCIO CRUZ

A reportagem do Estadão busca contato com a defesa de Márcio Cruz. O espaço está aberto para manifestação.

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