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Opinião|Aqui é o meu lugar


Por José Renato Nalini*
José Renato Nalini Foto: Iara Morselli/Estadão

Essa a célebre frase de Rodrigues Alves, na revolta de 14 de novembro de 1904, a permanecer em seu posto de Presidente da República, num vulnerável Palácio do Catete. Enfrentou com galhardia a insatisfação da plebe ignara, que não queria vacina ou revitalização da capital, o Rio de Janeiro. Dois anos antes, Epitácio Pessoa, embora tendo conhecimento das intenções do Exército, não temeu e também esteve no Catete, à espera dos acontecimentos.

Diversa a atitude de Carlos de Campos, Presidente de São Paulo em 1924, que se acovardou e deixou o Palácio dos Campos Elíseos, tomando o rumo de Mogi das Cruzes. Essa a versão corrente sobre os episódios de julho daquele ano. Antônio dos Santos Figueiredo, o cronista da Revolução, narra em seu livro “1924″: “Grande excitação nas ruas. As calçadas transformaram-se em pontos de reunião. Todos, à uma, invectivavam o dr. Carlos de Campos, por ter se acovardado. Os próprios funcionários públicos lançavam impropérios contra o presidente, que entregava a cidade, sem ao menos deixar uma proclamação. Na verdade, nunca houve igual pusilanimidade”.

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Mas a conduta dos políticos profissionais à época não era tão diferente. Pois o escritor continua: “Trabalho inútil criticar os políticos paulistas. Todos eles são do mesmo barro. A dominação prolongada abastarda e abate os ânimos varonis. Nenhum dos funcionários do Estado, nessa quadra, tentaria uma luta mais acesa: cairiam de podres”.

Condena a atitude dos governantes e governistas, quando da greve de 1917. Triste figura fizeram, chegando a rastejar-se “para não sofrer desacatos, fatais ante a pressão dos infelizes. Depois, algemados estes por compromissos de honra, vingaram-se os governistas, perseguindo os chefes operários com atrocidade. Naturalíssimo tal procedimento. Não há que esperar blandícias de homens acostumados a aviltamentos”.

Exercer a política para fins personalíssimos, quando não inidôneos, é uma praxe antiga, na visão de Antônio Figueiredo: “No Brasil, o escravagismo bárbaro – isso que aí está com rótulos diversos – só entende a legalidade favorável aos seus apetites e digestões. Transtornem as digestões dos legalistas, e todos os homens, de cérebro e de pulmões, se transformam em sicários e bandidos. Em 1889, o Exército serviu-se ao papel absurdo de humilhar um patriota, já abalado pelos anos e doenças. Acusavam-no de interferir demais nos negócios públicos. Por não intervir nos negócios públicos com continuidade, muitos tronos da Europa desabaram, e o nosso, que cumpria a rigor o seu programa, é apunhalado à traição, por ter orientado o nosso progresso e apagado a mancha mais negra da história: a escravidão”.

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Acerbo crítico da República, o narrador dos acontecimentos do mês de julho de 1924 reproduz a intenção dos revolucionários comandados pelo General Isidoro Dias Lopes. Haviam escrito e divulgado um manifesto, do qual constava: “Esse governo – de Arthur Bernardes – não está à altura dos destinos do país, e por fatos cuja citação é desnecessária, tem demonstrado praticamente ser a continuação de governos eivados de vícios que têm desmoralizado o Brasil nos últimos anos. Estes governos de nepotismo, de advocacia administrativa e de incompetência técnica, de concessão em concessão, de acordos em acordos, vêm arruinando paulatinamente as forças vivas, aniquilando o país interna e externamente”.

Como o movimento rebelde era chefiado por um General, a menção ao Exército fez parte do manifesto: “O Exército não tem ambições e não quer postos. Age abnegadamente, por altruísmo brasileiro e patriótico, e, nesse particular, os chefes do movimento aspiram dar o exemplo, que empreste autoridade à sua crítica, aos republicanos que, até agora, ocuparam os altos postos da administração do país e que, com raras exceções, não o souberam servir nos seus interesses vitais”.

Quem vivenciou os acontecimentos de 1924 repudiava a fuga do presidente do Estado, mas também não acreditava que os objetivos dos revolucionários fossem alcançados. Para o jornalista, “Se estivéssemos numa sociedade educada em rígidos princípios éticos” ainda se esperaria o desinteresse. Mas, para ele, “os brasileiros ignoravam a honestidade e viam os indivíduos ajuntarem-se em torno de competições materiais. A honradez dos tempos do Império desaparecera e a vida só se concebia com a série de trocas vis e de inconfessáveis renúncias”.

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Ainda bem que hoje tudo é diferente.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

José Renato Nalini Foto: Iara Morselli/Estadão

Essa a célebre frase de Rodrigues Alves, na revolta de 14 de novembro de 1904, a permanecer em seu posto de Presidente da República, num vulnerável Palácio do Catete. Enfrentou com galhardia a insatisfação da plebe ignara, que não queria vacina ou revitalização da capital, o Rio de Janeiro. Dois anos antes, Epitácio Pessoa, embora tendo conhecimento das intenções do Exército, não temeu e também esteve no Catete, à espera dos acontecimentos.

Diversa a atitude de Carlos de Campos, Presidente de São Paulo em 1924, que se acovardou e deixou o Palácio dos Campos Elíseos, tomando o rumo de Mogi das Cruzes. Essa a versão corrente sobre os episódios de julho daquele ano. Antônio dos Santos Figueiredo, o cronista da Revolução, narra em seu livro “1924″: “Grande excitação nas ruas. As calçadas transformaram-se em pontos de reunião. Todos, à uma, invectivavam o dr. Carlos de Campos, por ter se acovardado. Os próprios funcionários públicos lançavam impropérios contra o presidente, que entregava a cidade, sem ao menos deixar uma proclamação. Na verdade, nunca houve igual pusilanimidade”.

Mas a conduta dos políticos profissionais à época não era tão diferente. Pois o escritor continua: “Trabalho inútil criticar os políticos paulistas. Todos eles são do mesmo barro. A dominação prolongada abastarda e abate os ânimos varonis. Nenhum dos funcionários do Estado, nessa quadra, tentaria uma luta mais acesa: cairiam de podres”.

Condena a atitude dos governantes e governistas, quando da greve de 1917. Triste figura fizeram, chegando a rastejar-se “para não sofrer desacatos, fatais ante a pressão dos infelizes. Depois, algemados estes por compromissos de honra, vingaram-se os governistas, perseguindo os chefes operários com atrocidade. Naturalíssimo tal procedimento. Não há que esperar blandícias de homens acostumados a aviltamentos”.

Exercer a política para fins personalíssimos, quando não inidôneos, é uma praxe antiga, na visão de Antônio Figueiredo: “No Brasil, o escravagismo bárbaro – isso que aí está com rótulos diversos – só entende a legalidade favorável aos seus apetites e digestões. Transtornem as digestões dos legalistas, e todos os homens, de cérebro e de pulmões, se transformam em sicários e bandidos. Em 1889, o Exército serviu-se ao papel absurdo de humilhar um patriota, já abalado pelos anos e doenças. Acusavam-no de interferir demais nos negócios públicos. Por não intervir nos negócios públicos com continuidade, muitos tronos da Europa desabaram, e o nosso, que cumpria a rigor o seu programa, é apunhalado à traição, por ter orientado o nosso progresso e apagado a mancha mais negra da história: a escravidão”.

Acerbo crítico da República, o narrador dos acontecimentos do mês de julho de 1924 reproduz a intenção dos revolucionários comandados pelo General Isidoro Dias Lopes. Haviam escrito e divulgado um manifesto, do qual constava: “Esse governo – de Arthur Bernardes – não está à altura dos destinos do país, e por fatos cuja citação é desnecessária, tem demonstrado praticamente ser a continuação de governos eivados de vícios que têm desmoralizado o Brasil nos últimos anos. Estes governos de nepotismo, de advocacia administrativa e de incompetência técnica, de concessão em concessão, de acordos em acordos, vêm arruinando paulatinamente as forças vivas, aniquilando o país interna e externamente”.

Como o movimento rebelde era chefiado por um General, a menção ao Exército fez parte do manifesto: “O Exército não tem ambições e não quer postos. Age abnegadamente, por altruísmo brasileiro e patriótico, e, nesse particular, os chefes do movimento aspiram dar o exemplo, que empreste autoridade à sua crítica, aos republicanos que, até agora, ocuparam os altos postos da administração do país e que, com raras exceções, não o souberam servir nos seus interesses vitais”.

Quem vivenciou os acontecimentos de 1924 repudiava a fuga do presidente do Estado, mas também não acreditava que os objetivos dos revolucionários fossem alcançados. Para o jornalista, “Se estivéssemos numa sociedade educada em rígidos princípios éticos” ainda se esperaria o desinteresse. Mas, para ele, “os brasileiros ignoravam a honestidade e viam os indivíduos ajuntarem-se em torno de competições materiais. A honradez dos tempos do Império desaparecera e a vida só se concebia com a série de trocas vis e de inconfessáveis renúncias”.

Ainda bem que hoje tudo é diferente.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

José Renato Nalini Foto: Iara Morselli/Estadão

Essa a célebre frase de Rodrigues Alves, na revolta de 14 de novembro de 1904, a permanecer em seu posto de Presidente da República, num vulnerável Palácio do Catete. Enfrentou com galhardia a insatisfação da plebe ignara, que não queria vacina ou revitalização da capital, o Rio de Janeiro. Dois anos antes, Epitácio Pessoa, embora tendo conhecimento das intenções do Exército, não temeu e também esteve no Catete, à espera dos acontecimentos.

Diversa a atitude de Carlos de Campos, Presidente de São Paulo em 1924, que se acovardou e deixou o Palácio dos Campos Elíseos, tomando o rumo de Mogi das Cruzes. Essa a versão corrente sobre os episódios de julho daquele ano. Antônio dos Santos Figueiredo, o cronista da Revolução, narra em seu livro “1924″: “Grande excitação nas ruas. As calçadas transformaram-se em pontos de reunião. Todos, à uma, invectivavam o dr. Carlos de Campos, por ter se acovardado. Os próprios funcionários públicos lançavam impropérios contra o presidente, que entregava a cidade, sem ao menos deixar uma proclamação. Na verdade, nunca houve igual pusilanimidade”.

Mas a conduta dos políticos profissionais à época não era tão diferente. Pois o escritor continua: “Trabalho inútil criticar os políticos paulistas. Todos eles são do mesmo barro. A dominação prolongada abastarda e abate os ânimos varonis. Nenhum dos funcionários do Estado, nessa quadra, tentaria uma luta mais acesa: cairiam de podres”.

Condena a atitude dos governantes e governistas, quando da greve de 1917. Triste figura fizeram, chegando a rastejar-se “para não sofrer desacatos, fatais ante a pressão dos infelizes. Depois, algemados estes por compromissos de honra, vingaram-se os governistas, perseguindo os chefes operários com atrocidade. Naturalíssimo tal procedimento. Não há que esperar blandícias de homens acostumados a aviltamentos”.

Exercer a política para fins personalíssimos, quando não inidôneos, é uma praxe antiga, na visão de Antônio Figueiredo: “No Brasil, o escravagismo bárbaro – isso que aí está com rótulos diversos – só entende a legalidade favorável aos seus apetites e digestões. Transtornem as digestões dos legalistas, e todos os homens, de cérebro e de pulmões, se transformam em sicários e bandidos. Em 1889, o Exército serviu-se ao papel absurdo de humilhar um patriota, já abalado pelos anos e doenças. Acusavam-no de interferir demais nos negócios públicos. Por não intervir nos negócios públicos com continuidade, muitos tronos da Europa desabaram, e o nosso, que cumpria a rigor o seu programa, é apunhalado à traição, por ter orientado o nosso progresso e apagado a mancha mais negra da história: a escravidão”.

Acerbo crítico da República, o narrador dos acontecimentos do mês de julho de 1924 reproduz a intenção dos revolucionários comandados pelo General Isidoro Dias Lopes. Haviam escrito e divulgado um manifesto, do qual constava: “Esse governo – de Arthur Bernardes – não está à altura dos destinos do país, e por fatos cuja citação é desnecessária, tem demonstrado praticamente ser a continuação de governos eivados de vícios que têm desmoralizado o Brasil nos últimos anos. Estes governos de nepotismo, de advocacia administrativa e de incompetência técnica, de concessão em concessão, de acordos em acordos, vêm arruinando paulatinamente as forças vivas, aniquilando o país interna e externamente”.

Como o movimento rebelde era chefiado por um General, a menção ao Exército fez parte do manifesto: “O Exército não tem ambições e não quer postos. Age abnegadamente, por altruísmo brasileiro e patriótico, e, nesse particular, os chefes do movimento aspiram dar o exemplo, que empreste autoridade à sua crítica, aos republicanos que, até agora, ocuparam os altos postos da administração do país e que, com raras exceções, não o souberam servir nos seus interesses vitais”.

Quem vivenciou os acontecimentos de 1924 repudiava a fuga do presidente do Estado, mas também não acreditava que os objetivos dos revolucionários fossem alcançados. Para o jornalista, “Se estivéssemos numa sociedade educada em rígidos princípios éticos” ainda se esperaria o desinteresse. Mas, para ele, “os brasileiros ignoravam a honestidade e viam os indivíduos ajuntarem-se em torno de competições materiais. A honradez dos tempos do Império desaparecera e a vida só se concebia com a série de trocas vis e de inconfessáveis renúncias”.

Ainda bem que hoje tudo é diferente.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

José Renato Nalini Foto: Iara Morselli/Estadão

Essa a célebre frase de Rodrigues Alves, na revolta de 14 de novembro de 1904, a permanecer em seu posto de Presidente da República, num vulnerável Palácio do Catete. Enfrentou com galhardia a insatisfação da plebe ignara, que não queria vacina ou revitalização da capital, o Rio de Janeiro. Dois anos antes, Epitácio Pessoa, embora tendo conhecimento das intenções do Exército, não temeu e também esteve no Catete, à espera dos acontecimentos.

Diversa a atitude de Carlos de Campos, Presidente de São Paulo em 1924, que se acovardou e deixou o Palácio dos Campos Elíseos, tomando o rumo de Mogi das Cruzes. Essa a versão corrente sobre os episódios de julho daquele ano. Antônio dos Santos Figueiredo, o cronista da Revolução, narra em seu livro “1924″: “Grande excitação nas ruas. As calçadas transformaram-se em pontos de reunião. Todos, à uma, invectivavam o dr. Carlos de Campos, por ter se acovardado. Os próprios funcionários públicos lançavam impropérios contra o presidente, que entregava a cidade, sem ao menos deixar uma proclamação. Na verdade, nunca houve igual pusilanimidade”.

Mas a conduta dos políticos profissionais à época não era tão diferente. Pois o escritor continua: “Trabalho inútil criticar os políticos paulistas. Todos eles são do mesmo barro. A dominação prolongada abastarda e abate os ânimos varonis. Nenhum dos funcionários do Estado, nessa quadra, tentaria uma luta mais acesa: cairiam de podres”.

Condena a atitude dos governantes e governistas, quando da greve de 1917. Triste figura fizeram, chegando a rastejar-se “para não sofrer desacatos, fatais ante a pressão dos infelizes. Depois, algemados estes por compromissos de honra, vingaram-se os governistas, perseguindo os chefes operários com atrocidade. Naturalíssimo tal procedimento. Não há que esperar blandícias de homens acostumados a aviltamentos”.

Exercer a política para fins personalíssimos, quando não inidôneos, é uma praxe antiga, na visão de Antônio Figueiredo: “No Brasil, o escravagismo bárbaro – isso que aí está com rótulos diversos – só entende a legalidade favorável aos seus apetites e digestões. Transtornem as digestões dos legalistas, e todos os homens, de cérebro e de pulmões, se transformam em sicários e bandidos. Em 1889, o Exército serviu-se ao papel absurdo de humilhar um patriota, já abalado pelos anos e doenças. Acusavam-no de interferir demais nos negócios públicos. Por não intervir nos negócios públicos com continuidade, muitos tronos da Europa desabaram, e o nosso, que cumpria a rigor o seu programa, é apunhalado à traição, por ter orientado o nosso progresso e apagado a mancha mais negra da história: a escravidão”.

Acerbo crítico da República, o narrador dos acontecimentos do mês de julho de 1924 reproduz a intenção dos revolucionários comandados pelo General Isidoro Dias Lopes. Haviam escrito e divulgado um manifesto, do qual constava: “Esse governo – de Arthur Bernardes – não está à altura dos destinos do país, e por fatos cuja citação é desnecessária, tem demonstrado praticamente ser a continuação de governos eivados de vícios que têm desmoralizado o Brasil nos últimos anos. Estes governos de nepotismo, de advocacia administrativa e de incompetência técnica, de concessão em concessão, de acordos em acordos, vêm arruinando paulatinamente as forças vivas, aniquilando o país interna e externamente”.

Como o movimento rebelde era chefiado por um General, a menção ao Exército fez parte do manifesto: “O Exército não tem ambições e não quer postos. Age abnegadamente, por altruísmo brasileiro e patriótico, e, nesse particular, os chefes do movimento aspiram dar o exemplo, que empreste autoridade à sua crítica, aos republicanos que, até agora, ocuparam os altos postos da administração do país e que, com raras exceções, não o souberam servir nos seus interesses vitais”.

Quem vivenciou os acontecimentos de 1924 repudiava a fuga do presidente do Estado, mas também não acreditava que os objetivos dos revolucionários fossem alcançados. Para o jornalista, “Se estivéssemos numa sociedade educada em rígidos princípios éticos” ainda se esperaria o desinteresse. Mas, para ele, “os brasileiros ignoravam a honestidade e viam os indivíduos ajuntarem-se em torno de competições materiais. A honradez dos tempos do Império desaparecera e a vida só se concebia com a série de trocas vis e de inconfessáveis renúncias”.

Ainda bem que hoje tudo é diferente.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

José Renato Nalini Foto: Iara Morselli/Estadão

Essa a célebre frase de Rodrigues Alves, na revolta de 14 de novembro de 1904, a permanecer em seu posto de Presidente da República, num vulnerável Palácio do Catete. Enfrentou com galhardia a insatisfação da plebe ignara, que não queria vacina ou revitalização da capital, o Rio de Janeiro. Dois anos antes, Epitácio Pessoa, embora tendo conhecimento das intenções do Exército, não temeu e também esteve no Catete, à espera dos acontecimentos.

Diversa a atitude de Carlos de Campos, Presidente de São Paulo em 1924, que se acovardou e deixou o Palácio dos Campos Elíseos, tomando o rumo de Mogi das Cruzes. Essa a versão corrente sobre os episódios de julho daquele ano. Antônio dos Santos Figueiredo, o cronista da Revolução, narra em seu livro “1924″: “Grande excitação nas ruas. As calçadas transformaram-se em pontos de reunião. Todos, à uma, invectivavam o dr. Carlos de Campos, por ter se acovardado. Os próprios funcionários públicos lançavam impropérios contra o presidente, que entregava a cidade, sem ao menos deixar uma proclamação. Na verdade, nunca houve igual pusilanimidade”.

Mas a conduta dos políticos profissionais à época não era tão diferente. Pois o escritor continua: “Trabalho inútil criticar os políticos paulistas. Todos eles são do mesmo barro. A dominação prolongada abastarda e abate os ânimos varonis. Nenhum dos funcionários do Estado, nessa quadra, tentaria uma luta mais acesa: cairiam de podres”.

Condena a atitude dos governantes e governistas, quando da greve de 1917. Triste figura fizeram, chegando a rastejar-se “para não sofrer desacatos, fatais ante a pressão dos infelizes. Depois, algemados estes por compromissos de honra, vingaram-se os governistas, perseguindo os chefes operários com atrocidade. Naturalíssimo tal procedimento. Não há que esperar blandícias de homens acostumados a aviltamentos”.

Exercer a política para fins personalíssimos, quando não inidôneos, é uma praxe antiga, na visão de Antônio Figueiredo: “No Brasil, o escravagismo bárbaro – isso que aí está com rótulos diversos – só entende a legalidade favorável aos seus apetites e digestões. Transtornem as digestões dos legalistas, e todos os homens, de cérebro e de pulmões, se transformam em sicários e bandidos. Em 1889, o Exército serviu-se ao papel absurdo de humilhar um patriota, já abalado pelos anos e doenças. Acusavam-no de interferir demais nos negócios públicos. Por não intervir nos negócios públicos com continuidade, muitos tronos da Europa desabaram, e o nosso, que cumpria a rigor o seu programa, é apunhalado à traição, por ter orientado o nosso progresso e apagado a mancha mais negra da história: a escravidão”.

Acerbo crítico da República, o narrador dos acontecimentos do mês de julho de 1924 reproduz a intenção dos revolucionários comandados pelo General Isidoro Dias Lopes. Haviam escrito e divulgado um manifesto, do qual constava: “Esse governo – de Arthur Bernardes – não está à altura dos destinos do país, e por fatos cuja citação é desnecessária, tem demonstrado praticamente ser a continuação de governos eivados de vícios que têm desmoralizado o Brasil nos últimos anos. Estes governos de nepotismo, de advocacia administrativa e de incompetência técnica, de concessão em concessão, de acordos em acordos, vêm arruinando paulatinamente as forças vivas, aniquilando o país interna e externamente”.

Como o movimento rebelde era chefiado por um General, a menção ao Exército fez parte do manifesto: “O Exército não tem ambições e não quer postos. Age abnegadamente, por altruísmo brasileiro e patriótico, e, nesse particular, os chefes do movimento aspiram dar o exemplo, que empreste autoridade à sua crítica, aos republicanos que, até agora, ocuparam os altos postos da administração do país e que, com raras exceções, não o souberam servir nos seus interesses vitais”.

Quem vivenciou os acontecimentos de 1924 repudiava a fuga do presidente do Estado, mas também não acreditava que os objetivos dos revolucionários fossem alcançados. Para o jornalista, “Se estivéssemos numa sociedade educada em rígidos princípios éticos” ainda se esperaria o desinteresse. Mas, para ele, “os brasileiros ignoravam a honestidade e viam os indivíduos ajuntarem-se em torno de competições materiais. A honradez dos tempos do Império desaparecera e a vida só se concebia com a série de trocas vis e de inconfessáveis renúncias”.

Ainda bem que hoje tudo é diferente.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

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