Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

‘Arrancamos o coração dele, tá ligado’: áudios revelam violência extrema em conflito interno do PCC


Autos da Operação Baal, investigação da Polícia Federal e da Promotoria em São Paulo sobre racha da facção e ataques do ‘Novo Cangaço’, revelam sucessão de barbáries; diálogos e imagens recuperadas nos celulares de integrantes da organização criminosa assombram até veteranos do combate ao crime

Por Pepita Ortega, Marcelo Godoy e Fausto Macedo
Atualização:
Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Em meio às investigações sobre a estratégia do PCC para ataques do ‘Novo Cangaço’ - ações bárbaras que levam terror a pequenas cidades do interior durante assaltos a blindados de valores e bancos -, a Polícia Federal e a Promotoria de São Paulo capturaram diálogos e áudios via WatsApp que indicam os métodos cruéis da facção. “Aí irmão, arrancamos o coração e o fígado dele, tá ligado, cortamos ele todinho, pedacinho por pedacinho. Daquele jeito, daquele modelo que esses lixos ai merece”, diz um faccionado.

Não era um blefe. Os investigadores da Operação Baal seguiram a pista e encontraram um rastro de sangue do PCC em três Estados - Mato Grosso, São Paulo e Piauí - cenas de uma guerra interna da organização pelo controle de biqueiras e vinganças. Decapitações e a extração de órgãos vitais das vítimas, como fígado e coração, marcam esse conflito e assombram até veteranos do combate ao crime.

continua após a publicidade

A Operação Baal foi deflagrada em maio. Dezoito suspeitos foram denunciados à Justiça por tráfico, assassinatos e lavagem de dinheiro.

Os autos são ilustrados com espelho de mensagens e fotos de órgãos humanos arrancados à mão e exibidos como troféus por matadores sanguinários. Cabeças decepadas fazem parte do leque de imagens enviadas por faccionados como prova de execuções sob encomenda.

Crimes brutais eram discutidos pelo aplicativo. Os homens do PCC promoviam debates em tempo real sobre eventuais entraves para as missões, como a eventual aproximação da Polícia.

continua após a publicidade

Diálogos interceptados pelos investigadores indicam os caminhos da barbárie. “Derruba tudo manda pra fossa”, “vou meter a rajada dentro do carro”, “vou matar mais amanhã”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

A Operação Baal detalha uma ação da polícia que culminou na morte de 18 do PCC em Confresa, cidade situada em Mato Grosso. A investigação alcança lideranças da facção em Avelino Lopes (Piauí) e São Paulo e desvenda o pano de fundo dos assassinatos: a execução de um dos líderes do bando do Novo Cangaço ligado ao PCC e a disputa por pontos de tráfico de drogas.

continua após a publicidade

Um chefão do crime organizado carrega a alcunha ‘Pantera’. Ele foi detido em flagrante em maio, um dia antes da abertura da Operação Baal, em um apartamento no município paulista de Itapeva sob acusação de posse ilegal de arma.

A prisão de ‘Pantera’ foi meio que por acaso. Atraídos por uma denúncia anônima de cárcere privado e desinteligência, policiais militares foram ao endereço do faccionado. Durante buscas, os PMs encontraram dentro da geladeira da casa uma pistola Taurus.

Segundo o Ministério Público, ‘Pantera’ assumiu a chefia do braço especializado em domínio de cidades do PCC após a morte de seu irmão Fleques em dezembro de 2023.

continua após a publicidade

Fleques também era da facção e estava foragido desde 2018. Ele foi executado em uma barbearia em Osasco, na Grande São Paulo, em meio a uma disputa sangrenta por pontos de venda de drogas.

Os pistoleiros que eliminaram Fleques enviaram a seus líderes fotos da cena do crime e do morto, ainda sentado na cadeira do barbeiro.

A Promotoria indica que, a mando de ‘Pantera’, um grupo deu início a uma brutal retaliação pela morte de Fleques. ‘Pantera’ publicou um vídeo em que aliados exibem armas de grosso calibre e se autodenominam ‘Índios do panta’.

continua após a publicidade
Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Os investigadores resgataram diálogos em que ‘Pantera’ confessa a matança de rivais e planos de eliminar outros.

Em uma dessas conversas, agentes da Polícia Federal acharam a foto de um coração humano nas mãos do assassino. O chefe do bando do PCC conversava com Vanderson, suposto intermediador de munições e acessórios de armas.

continua após a publicidade

No celular de Vanderson, os contatos de ‘Pantera’ eram salvos com ‘Bruto’ e ‘El Chapo’.

A partir dessas mensagens, a PF identificou que ‘Pantera’ estava armando seus homens para fazer “ações” e vingar a morte do irmão. Uma ‘ação’ visou um homem em um bar no Ipiranga, na capital paulista. Ele tombou crivado com 17 balaços.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Em um diálogo sobre as “ações”, Vanderson oferece e vende um colete à prova de balas a ‘Pantera’. Durante a negociação, Vanderson diz que Fleques usou um equipamento semelhante em um ataque do PCC e “só não morreu” por usar a proteção.

No dia 11 de fevereiro passado, ‘Pantera’ encaminhou ao colega áudios e fotos, atribuídos pela PF a um homem ligado ao chefe do PCC.

Segundo o inquérito, o conteúdo se refere a um homicídio que teria sido encomendado por ‘Pantera’ em meio à guerra batizada “brancos e marotos” no Piauí, conflito interno da facção deflagrado como resposta à morte de seu irmão Fleques.

O áudio repassado a Vanderson diz. “Aí irmão, arrancamos aí o coração e o fígado dele, tá ligado, cortamos ele todinho, pedacinho por pedacinho. Daquele jeito, daquele modelo que esses lixos ai merece.”

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

‘Pantera’ respondeu que ia matar “esses caras do veio tudo”. Vanderson incentivou as ações. “Derruba tudo manda pra fossa. Poderia falar algo bonito pra vc mas nessa situação aí tem que ripar mesmo, até hj parece q o pequeno tá vivo..pau nesses fdp.”

Na mesma conversa em que foi enviada a ‘Pantera’ a foto de um coração há menção a um outro homicídio ligado ao bando no ‘Bar do Negão’, localizado em Osasco - estabelecimento usado por Flaques e ‘Pantera’ como ponto de encontro para a negociação de armas e entorpecentes, segundo o Ministério Público.

‘Pantera’ e Vanderson combinaram que a entrega do colete à prova de balas se daria no ‘Bar do Negão’. O dono do restaurante foi alvo da Operação Baal, mas por câmeras de segurança avistou policiais entrando em sua casa e fugiu.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Quatro dias após a abertura da Baal, um funcionário do restaurante foi executado. Um carro branco passou em frente e disparou contra ‘Batata’, o churrasqueiro. A PF suspeita de queima de arquivo porque a churrascaria era usada de bunker de armas, munições e drogas.

De acordo com a Promotoria, o ‘Bar do Negão’ era um ponto de apoio usado pelo bando do Novo Cangaço para “encontrar outros comparsas e concretizar tratativas ilícitas”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

As confidências de ‘Pantera’ à ‘Patroa’ do PCC

‘Pantera’ também compartilhou informações sobre seu plano de vingança em parceria com Elaine, a ‘Patroa’ do PCC - presa na etapa mais recente da Baal, no dia em que assumiria o cargo de estagiária de Direito na Promotoria de Itapeva, a 290 quilômetros da capital paulista.

Em dezembro de 2023, ele enviou à Elaine uma foto sua ao lado de outros homens armados, tirada na comunidade Areião, em Osasco. Também mandou um vídeo que indicava “o homem que eles iriam matar naquele dia”. O plano, no entanto, encontrou um obstáculo: havia muito policiamento na região.

'Patroa' do PCC foi treinada por CAC para atirar com fuzil Foto: Processo judicial

Em outra passagem, ‘Pantera’ afirma que matou dois homens supostamente envolvidos na morte do seu irmão. O faccionado envia imagens que foram apagadas em seguida, a pedido da ‘Patroa’.

O bandido também confidenciou a Elaine como teria descoberto uma ‘traição’ a seu irmão por parte de Janes, também alvo da investigação. ‘Pantera’ diz que o homem “vai para o inferno”. E completa que “vai matar mais amanhã”. Essas mensagens foram trocadas logo após a morte de Fleques.

Em análise de diálogos mantidos com a ‘Patroa’ do PCC, a PF destaca a “naturalidade” com que ‘Pantera’ trata de assassinatos. Em um dado momento, Elaine reclamou que ele estava em uma tabacaria na madrugada de um sábado. ‘Pantera’ responde que está lá apenas para matar um “fdp”.

Os investigadores ainda identificaram um áudio, encaminhado em abril deste ano, em que ‘Pantera’ chora e fala que não consegue mais matar mais ninguém”.

“Não tô entendendo mais, cara. Faz quatro mês e um dia que meu irmão morreu. [choro] Na verdade eu nem consegui mais matar ninguém. Eu não consegui mais matar ninguém, cara. Eu não consigo fazer nada mais. Na verdade, eu não sei o que ta acontecendo comigo mais. Tenho que sair daqui”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Confresa

A investigação que levou à deflagração da Operação Baal teve início com a tentativa de roubo de um blindado da Brinks em Confresa, em abril de 2023. A PF recuperou diálogos indicando que ‘Pantera’ sabia do grande ataque.

A ação do PCC acabou frustrada. Dezoito faccionados sucumbiram em confrontos em série com a Polícia Militar. Entre as baixas da organização estava ‘Magrelo’, que teria planejado o roubo e seria ligado a Fleques. Como mostrou o Estadão, o PCC investiu cerca de R$ 3,4 milhões no grande ataque de Confresa, mas acabou no prejuízo.

Dias após a tentativa de assalto ao carro-forte, ‘Pantera’ demonstrou sua preocupação com o paradeiro do irmão, desaparecido após a empreitada em Mato Grosso. “Então mano, é o seguinte... Tô na maior neurose aqui. Aconteceu um problema lá que meu irmão foi lá. Morreu dois cara que tava mais ele, tem dois baleado e o meu irmão outro mais três caras caiu na caatinga. Nois não sabe nem o que aconteceu nessa desgrama aí. Falou que o fuzil dele travou. Baguio do carai aí ó, mano. Entendeu? Só por Deus.”

No entanto, segundo a PF, ‘Magrelo’ participou da trama em Confresa no lugar de Fleques, pois estava precisando de dinheiro. Fleques lamentou a morte do colega em áudio. Ele disse que o luto na facção provocou o adiamento de um outro ataque, em Redenção, no Pará.

‘Kaçador’

A PF encontrou indícios do envolvimento de um outro personagem do PCC, ‘Kaçador’, atualmente preso sob acusação de assassinato de dois desafetos em retaliação à execução de Fleques em Osasco. Os investigadores encontraram diálogos em que ‘Kaçador’ se compromete a matar um homem e se diz sempre à disposição “para matar lixo”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Irmão mandou colocar fogo em casa de inimigos

‘Pantera’ herdou o comando do bando do irmão Fleques, que também carregava um histórico de tentativa de execução de rivais. A PF resgatou um diálogo entre ele e outro da quadrilha, Janes, sobre a tentativa de assassinato de desafetos em Curimatá, no Piauí. Mas os alvos não estavam em casa. Fleques ordenou a seus homens que ateassem fogo no imóvel.

Segundo o inquérito da Operação Baal, Fleques participou de ações do ‘Novo Cangaço’ em Criciúma, em 2020, e Guarapuava, no Paraná, em 2022.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Em meio às investigações sobre a estratégia do PCC para ataques do ‘Novo Cangaço’ - ações bárbaras que levam terror a pequenas cidades do interior durante assaltos a blindados de valores e bancos -, a Polícia Federal e a Promotoria de São Paulo capturaram diálogos e áudios via WatsApp que indicam os métodos cruéis da facção. “Aí irmão, arrancamos o coração e o fígado dele, tá ligado, cortamos ele todinho, pedacinho por pedacinho. Daquele jeito, daquele modelo que esses lixos ai merece”, diz um faccionado.

Não era um blefe. Os investigadores da Operação Baal seguiram a pista e encontraram um rastro de sangue do PCC em três Estados - Mato Grosso, São Paulo e Piauí - cenas de uma guerra interna da organização pelo controle de biqueiras e vinganças. Decapitações e a extração de órgãos vitais das vítimas, como fígado e coração, marcam esse conflito e assombram até veteranos do combate ao crime.

A Operação Baal foi deflagrada em maio. Dezoito suspeitos foram denunciados à Justiça por tráfico, assassinatos e lavagem de dinheiro.

Os autos são ilustrados com espelho de mensagens e fotos de órgãos humanos arrancados à mão e exibidos como troféus por matadores sanguinários. Cabeças decepadas fazem parte do leque de imagens enviadas por faccionados como prova de execuções sob encomenda.

Crimes brutais eram discutidos pelo aplicativo. Os homens do PCC promoviam debates em tempo real sobre eventuais entraves para as missões, como a eventual aproximação da Polícia.

Diálogos interceptados pelos investigadores indicam os caminhos da barbárie. “Derruba tudo manda pra fossa”, “vou meter a rajada dentro do carro”, “vou matar mais amanhã”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

A Operação Baal detalha uma ação da polícia que culminou na morte de 18 do PCC em Confresa, cidade situada em Mato Grosso. A investigação alcança lideranças da facção em Avelino Lopes (Piauí) e São Paulo e desvenda o pano de fundo dos assassinatos: a execução de um dos líderes do bando do Novo Cangaço ligado ao PCC e a disputa por pontos de tráfico de drogas.

Um chefão do crime organizado carrega a alcunha ‘Pantera’. Ele foi detido em flagrante em maio, um dia antes da abertura da Operação Baal, em um apartamento no município paulista de Itapeva sob acusação de posse ilegal de arma.

A prisão de ‘Pantera’ foi meio que por acaso. Atraídos por uma denúncia anônima de cárcere privado e desinteligência, policiais militares foram ao endereço do faccionado. Durante buscas, os PMs encontraram dentro da geladeira da casa uma pistola Taurus.

Segundo o Ministério Público, ‘Pantera’ assumiu a chefia do braço especializado em domínio de cidades do PCC após a morte de seu irmão Fleques em dezembro de 2023.

Fleques também era da facção e estava foragido desde 2018. Ele foi executado em uma barbearia em Osasco, na Grande São Paulo, em meio a uma disputa sangrenta por pontos de venda de drogas.

Os pistoleiros que eliminaram Fleques enviaram a seus líderes fotos da cena do crime e do morto, ainda sentado na cadeira do barbeiro.

A Promotoria indica que, a mando de ‘Pantera’, um grupo deu início a uma brutal retaliação pela morte de Fleques. ‘Pantera’ publicou um vídeo em que aliados exibem armas de grosso calibre e se autodenominam ‘Índios do panta’.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Os investigadores resgataram diálogos em que ‘Pantera’ confessa a matança de rivais e planos de eliminar outros.

Em uma dessas conversas, agentes da Polícia Federal acharam a foto de um coração humano nas mãos do assassino. O chefe do bando do PCC conversava com Vanderson, suposto intermediador de munições e acessórios de armas.

No celular de Vanderson, os contatos de ‘Pantera’ eram salvos com ‘Bruto’ e ‘El Chapo’.

A partir dessas mensagens, a PF identificou que ‘Pantera’ estava armando seus homens para fazer “ações” e vingar a morte do irmão. Uma ‘ação’ visou um homem em um bar no Ipiranga, na capital paulista. Ele tombou crivado com 17 balaços.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Em um diálogo sobre as “ações”, Vanderson oferece e vende um colete à prova de balas a ‘Pantera’. Durante a negociação, Vanderson diz que Fleques usou um equipamento semelhante em um ataque do PCC e “só não morreu” por usar a proteção.

No dia 11 de fevereiro passado, ‘Pantera’ encaminhou ao colega áudios e fotos, atribuídos pela PF a um homem ligado ao chefe do PCC.

Segundo o inquérito, o conteúdo se refere a um homicídio que teria sido encomendado por ‘Pantera’ em meio à guerra batizada “brancos e marotos” no Piauí, conflito interno da facção deflagrado como resposta à morte de seu irmão Fleques.

O áudio repassado a Vanderson diz. “Aí irmão, arrancamos aí o coração e o fígado dele, tá ligado, cortamos ele todinho, pedacinho por pedacinho. Daquele jeito, daquele modelo que esses lixos ai merece.”

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

‘Pantera’ respondeu que ia matar “esses caras do veio tudo”. Vanderson incentivou as ações. “Derruba tudo manda pra fossa. Poderia falar algo bonito pra vc mas nessa situação aí tem que ripar mesmo, até hj parece q o pequeno tá vivo..pau nesses fdp.”

Na mesma conversa em que foi enviada a ‘Pantera’ a foto de um coração há menção a um outro homicídio ligado ao bando no ‘Bar do Negão’, localizado em Osasco - estabelecimento usado por Flaques e ‘Pantera’ como ponto de encontro para a negociação de armas e entorpecentes, segundo o Ministério Público.

‘Pantera’ e Vanderson combinaram que a entrega do colete à prova de balas se daria no ‘Bar do Negão’. O dono do restaurante foi alvo da Operação Baal, mas por câmeras de segurança avistou policiais entrando em sua casa e fugiu.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Quatro dias após a abertura da Baal, um funcionário do restaurante foi executado. Um carro branco passou em frente e disparou contra ‘Batata’, o churrasqueiro. A PF suspeita de queima de arquivo porque a churrascaria era usada de bunker de armas, munições e drogas.

De acordo com a Promotoria, o ‘Bar do Negão’ era um ponto de apoio usado pelo bando do Novo Cangaço para “encontrar outros comparsas e concretizar tratativas ilícitas”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

As confidências de ‘Pantera’ à ‘Patroa’ do PCC

‘Pantera’ também compartilhou informações sobre seu plano de vingança em parceria com Elaine, a ‘Patroa’ do PCC - presa na etapa mais recente da Baal, no dia em que assumiria o cargo de estagiária de Direito na Promotoria de Itapeva, a 290 quilômetros da capital paulista.

Em dezembro de 2023, ele enviou à Elaine uma foto sua ao lado de outros homens armados, tirada na comunidade Areião, em Osasco. Também mandou um vídeo que indicava “o homem que eles iriam matar naquele dia”. O plano, no entanto, encontrou um obstáculo: havia muito policiamento na região.

'Patroa' do PCC foi treinada por CAC para atirar com fuzil Foto: Processo judicial

Em outra passagem, ‘Pantera’ afirma que matou dois homens supostamente envolvidos na morte do seu irmão. O faccionado envia imagens que foram apagadas em seguida, a pedido da ‘Patroa’.

O bandido também confidenciou a Elaine como teria descoberto uma ‘traição’ a seu irmão por parte de Janes, também alvo da investigação. ‘Pantera’ diz que o homem “vai para o inferno”. E completa que “vai matar mais amanhã”. Essas mensagens foram trocadas logo após a morte de Fleques.

Em análise de diálogos mantidos com a ‘Patroa’ do PCC, a PF destaca a “naturalidade” com que ‘Pantera’ trata de assassinatos. Em um dado momento, Elaine reclamou que ele estava em uma tabacaria na madrugada de um sábado. ‘Pantera’ responde que está lá apenas para matar um “fdp”.

Os investigadores ainda identificaram um áudio, encaminhado em abril deste ano, em que ‘Pantera’ chora e fala que não consegue mais matar mais ninguém”.

“Não tô entendendo mais, cara. Faz quatro mês e um dia que meu irmão morreu. [choro] Na verdade eu nem consegui mais matar ninguém. Eu não consegui mais matar ninguém, cara. Eu não consigo fazer nada mais. Na verdade, eu não sei o que ta acontecendo comigo mais. Tenho que sair daqui”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Confresa

A investigação que levou à deflagração da Operação Baal teve início com a tentativa de roubo de um blindado da Brinks em Confresa, em abril de 2023. A PF recuperou diálogos indicando que ‘Pantera’ sabia do grande ataque.

A ação do PCC acabou frustrada. Dezoito faccionados sucumbiram em confrontos em série com a Polícia Militar. Entre as baixas da organização estava ‘Magrelo’, que teria planejado o roubo e seria ligado a Fleques. Como mostrou o Estadão, o PCC investiu cerca de R$ 3,4 milhões no grande ataque de Confresa, mas acabou no prejuízo.

Dias após a tentativa de assalto ao carro-forte, ‘Pantera’ demonstrou sua preocupação com o paradeiro do irmão, desaparecido após a empreitada em Mato Grosso. “Então mano, é o seguinte... Tô na maior neurose aqui. Aconteceu um problema lá que meu irmão foi lá. Morreu dois cara que tava mais ele, tem dois baleado e o meu irmão outro mais três caras caiu na caatinga. Nois não sabe nem o que aconteceu nessa desgrama aí. Falou que o fuzil dele travou. Baguio do carai aí ó, mano. Entendeu? Só por Deus.”

No entanto, segundo a PF, ‘Magrelo’ participou da trama em Confresa no lugar de Fleques, pois estava precisando de dinheiro. Fleques lamentou a morte do colega em áudio. Ele disse que o luto na facção provocou o adiamento de um outro ataque, em Redenção, no Pará.

‘Kaçador’

A PF encontrou indícios do envolvimento de um outro personagem do PCC, ‘Kaçador’, atualmente preso sob acusação de assassinato de dois desafetos em retaliação à execução de Fleques em Osasco. Os investigadores encontraram diálogos em que ‘Kaçador’ se compromete a matar um homem e se diz sempre à disposição “para matar lixo”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Irmão mandou colocar fogo em casa de inimigos

‘Pantera’ herdou o comando do bando do irmão Fleques, que também carregava um histórico de tentativa de execução de rivais. A PF resgatou um diálogo entre ele e outro da quadrilha, Janes, sobre a tentativa de assassinato de desafetos em Curimatá, no Piauí. Mas os alvos não estavam em casa. Fleques ordenou a seus homens que ateassem fogo no imóvel.

Segundo o inquérito da Operação Baal, Fleques participou de ações do ‘Novo Cangaço’ em Criciúma, em 2020, e Guarapuava, no Paraná, em 2022.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Em meio às investigações sobre a estratégia do PCC para ataques do ‘Novo Cangaço’ - ações bárbaras que levam terror a pequenas cidades do interior durante assaltos a blindados de valores e bancos -, a Polícia Federal e a Promotoria de São Paulo capturaram diálogos e áudios via WatsApp que indicam os métodos cruéis da facção. “Aí irmão, arrancamos o coração e o fígado dele, tá ligado, cortamos ele todinho, pedacinho por pedacinho. Daquele jeito, daquele modelo que esses lixos ai merece”, diz um faccionado.

Não era um blefe. Os investigadores da Operação Baal seguiram a pista e encontraram um rastro de sangue do PCC em três Estados - Mato Grosso, São Paulo e Piauí - cenas de uma guerra interna da organização pelo controle de biqueiras e vinganças. Decapitações e a extração de órgãos vitais das vítimas, como fígado e coração, marcam esse conflito e assombram até veteranos do combate ao crime.

A Operação Baal foi deflagrada em maio. Dezoito suspeitos foram denunciados à Justiça por tráfico, assassinatos e lavagem de dinheiro.

Os autos são ilustrados com espelho de mensagens e fotos de órgãos humanos arrancados à mão e exibidos como troféus por matadores sanguinários. Cabeças decepadas fazem parte do leque de imagens enviadas por faccionados como prova de execuções sob encomenda.

Crimes brutais eram discutidos pelo aplicativo. Os homens do PCC promoviam debates em tempo real sobre eventuais entraves para as missões, como a eventual aproximação da Polícia.

Diálogos interceptados pelos investigadores indicam os caminhos da barbárie. “Derruba tudo manda pra fossa”, “vou meter a rajada dentro do carro”, “vou matar mais amanhã”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

A Operação Baal detalha uma ação da polícia que culminou na morte de 18 do PCC em Confresa, cidade situada em Mato Grosso. A investigação alcança lideranças da facção em Avelino Lopes (Piauí) e São Paulo e desvenda o pano de fundo dos assassinatos: a execução de um dos líderes do bando do Novo Cangaço ligado ao PCC e a disputa por pontos de tráfico de drogas.

Um chefão do crime organizado carrega a alcunha ‘Pantera’. Ele foi detido em flagrante em maio, um dia antes da abertura da Operação Baal, em um apartamento no município paulista de Itapeva sob acusação de posse ilegal de arma.

A prisão de ‘Pantera’ foi meio que por acaso. Atraídos por uma denúncia anônima de cárcere privado e desinteligência, policiais militares foram ao endereço do faccionado. Durante buscas, os PMs encontraram dentro da geladeira da casa uma pistola Taurus.

Segundo o Ministério Público, ‘Pantera’ assumiu a chefia do braço especializado em domínio de cidades do PCC após a morte de seu irmão Fleques em dezembro de 2023.

Fleques também era da facção e estava foragido desde 2018. Ele foi executado em uma barbearia em Osasco, na Grande São Paulo, em meio a uma disputa sangrenta por pontos de venda de drogas.

Os pistoleiros que eliminaram Fleques enviaram a seus líderes fotos da cena do crime e do morto, ainda sentado na cadeira do barbeiro.

A Promotoria indica que, a mando de ‘Pantera’, um grupo deu início a uma brutal retaliação pela morte de Fleques. ‘Pantera’ publicou um vídeo em que aliados exibem armas de grosso calibre e se autodenominam ‘Índios do panta’.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Os investigadores resgataram diálogos em que ‘Pantera’ confessa a matança de rivais e planos de eliminar outros.

Em uma dessas conversas, agentes da Polícia Federal acharam a foto de um coração humano nas mãos do assassino. O chefe do bando do PCC conversava com Vanderson, suposto intermediador de munições e acessórios de armas.

No celular de Vanderson, os contatos de ‘Pantera’ eram salvos com ‘Bruto’ e ‘El Chapo’.

A partir dessas mensagens, a PF identificou que ‘Pantera’ estava armando seus homens para fazer “ações” e vingar a morte do irmão. Uma ‘ação’ visou um homem em um bar no Ipiranga, na capital paulista. Ele tombou crivado com 17 balaços.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Em um diálogo sobre as “ações”, Vanderson oferece e vende um colete à prova de balas a ‘Pantera’. Durante a negociação, Vanderson diz que Fleques usou um equipamento semelhante em um ataque do PCC e “só não morreu” por usar a proteção.

No dia 11 de fevereiro passado, ‘Pantera’ encaminhou ao colega áudios e fotos, atribuídos pela PF a um homem ligado ao chefe do PCC.

Segundo o inquérito, o conteúdo se refere a um homicídio que teria sido encomendado por ‘Pantera’ em meio à guerra batizada “brancos e marotos” no Piauí, conflito interno da facção deflagrado como resposta à morte de seu irmão Fleques.

O áudio repassado a Vanderson diz. “Aí irmão, arrancamos aí o coração e o fígado dele, tá ligado, cortamos ele todinho, pedacinho por pedacinho. Daquele jeito, daquele modelo que esses lixos ai merece.”

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

‘Pantera’ respondeu que ia matar “esses caras do veio tudo”. Vanderson incentivou as ações. “Derruba tudo manda pra fossa. Poderia falar algo bonito pra vc mas nessa situação aí tem que ripar mesmo, até hj parece q o pequeno tá vivo..pau nesses fdp.”

Na mesma conversa em que foi enviada a ‘Pantera’ a foto de um coração há menção a um outro homicídio ligado ao bando no ‘Bar do Negão’, localizado em Osasco - estabelecimento usado por Flaques e ‘Pantera’ como ponto de encontro para a negociação de armas e entorpecentes, segundo o Ministério Público.

‘Pantera’ e Vanderson combinaram que a entrega do colete à prova de balas se daria no ‘Bar do Negão’. O dono do restaurante foi alvo da Operação Baal, mas por câmeras de segurança avistou policiais entrando em sua casa e fugiu.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Quatro dias após a abertura da Baal, um funcionário do restaurante foi executado. Um carro branco passou em frente e disparou contra ‘Batata’, o churrasqueiro. A PF suspeita de queima de arquivo porque a churrascaria era usada de bunker de armas, munições e drogas.

De acordo com a Promotoria, o ‘Bar do Negão’ era um ponto de apoio usado pelo bando do Novo Cangaço para “encontrar outros comparsas e concretizar tratativas ilícitas”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

As confidências de ‘Pantera’ à ‘Patroa’ do PCC

‘Pantera’ também compartilhou informações sobre seu plano de vingança em parceria com Elaine, a ‘Patroa’ do PCC - presa na etapa mais recente da Baal, no dia em que assumiria o cargo de estagiária de Direito na Promotoria de Itapeva, a 290 quilômetros da capital paulista.

Em dezembro de 2023, ele enviou à Elaine uma foto sua ao lado de outros homens armados, tirada na comunidade Areião, em Osasco. Também mandou um vídeo que indicava “o homem que eles iriam matar naquele dia”. O plano, no entanto, encontrou um obstáculo: havia muito policiamento na região.

'Patroa' do PCC foi treinada por CAC para atirar com fuzil Foto: Processo judicial

Em outra passagem, ‘Pantera’ afirma que matou dois homens supostamente envolvidos na morte do seu irmão. O faccionado envia imagens que foram apagadas em seguida, a pedido da ‘Patroa’.

O bandido também confidenciou a Elaine como teria descoberto uma ‘traição’ a seu irmão por parte de Janes, também alvo da investigação. ‘Pantera’ diz que o homem “vai para o inferno”. E completa que “vai matar mais amanhã”. Essas mensagens foram trocadas logo após a morte de Fleques.

Em análise de diálogos mantidos com a ‘Patroa’ do PCC, a PF destaca a “naturalidade” com que ‘Pantera’ trata de assassinatos. Em um dado momento, Elaine reclamou que ele estava em uma tabacaria na madrugada de um sábado. ‘Pantera’ responde que está lá apenas para matar um “fdp”.

Os investigadores ainda identificaram um áudio, encaminhado em abril deste ano, em que ‘Pantera’ chora e fala que não consegue mais matar mais ninguém”.

“Não tô entendendo mais, cara. Faz quatro mês e um dia que meu irmão morreu. [choro] Na verdade eu nem consegui mais matar ninguém. Eu não consegui mais matar ninguém, cara. Eu não consigo fazer nada mais. Na verdade, eu não sei o que ta acontecendo comigo mais. Tenho que sair daqui”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Confresa

A investigação que levou à deflagração da Operação Baal teve início com a tentativa de roubo de um blindado da Brinks em Confresa, em abril de 2023. A PF recuperou diálogos indicando que ‘Pantera’ sabia do grande ataque.

A ação do PCC acabou frustrada. Dezoito faccionados sucumbiram em confrontos em série com a Polícia Militar. Entre as baixas da organização estava ‘Magrelo’, que teria planejado o roubo e seria ligado a Fleques. Como mostrou o Estadão, o PCC investiu cerca de R$ 3,4 milhões no grande ataque de Confresa, mas acabou no prejuízo.

Dias após a tentativa de assalto ao carro-forte, ‘Pantera’ demonstrou sua preocupação com o paradeiro do irmão, desaparecido após a empreitada em Mato Grosso. “Então mano, é o seguinte... Tô na maior neurose aqui. Aconteceu um problema lá que meu irmão foi lá. Morreu dois cara que tava mais ele, tem dois baleado e o meu irmão outro mais três caras caiu na caatinga. Nois não sabe nem o que aconteceu nessa desgrama aí. Falou que o fuzil dele travou. Baguio do carai aí ó, mano. Entendeu? Só por Deus.”

No entanto, segundo a PF, ‘Magrelo’ participou da trama em Confresa no lugar de Fleques, pois estava precisando de dinheiro. Fleques lamentou a morte do colega em áudio. Ele disse que o luto na facção provocou o adiamento de um outro ataque, em Redenção, no Pará.

‘Kaçador’

A PF encontrou indícios do envolvimento de um outro personagem do PCC, ‘Kaçador’, atualmente preso sob acusação de assassinato de dois desafetos em retaliação à execução de Fleques em Osasco. Os investigadores encontraram diálogos em que ‘Kaçador’ se compromete a matar um homem e se diz sempre à disposição “para matar lixo”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Irmão mandou colocar fogo em casa de inimigos

‘Pantera’ herdou o comando do bando do irmão Fleques, que também carregava um histórico de tentativa de execução de rivais. A PF resgatou um diálogo entre ele e outro da quadrilha, Janes, sobre a tentativa de assassinato de desafetos em Curimatá, no Piauí. Mas os alvos não estavam em casa. Fleques ordenou a seus homens que ateassem fogo no imóvel.

Segundo o inquérito da Operação Baal, Fleques participou de ações do ‘Novo Cangaço’ em Criciúma, em 2020, e Guarapuava, no Paraná, em 2022.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Em meio às investigações sobre a estratégia do PCC para ataques do ‘Novo Cangaço’ - ações bárbaras que levam terror a pequenas cidades do interior durante assaltos a blindados de valores e bancos -, a Polícia Federal e a Promotoria de São Paulo capturaram diálogos e áudios via WatsApp que indicam os métodos cruéis da facção. “Aí irmão, arrancamos o coração e o fígado dele, tá ligado, cortamos ele todinho, pedacinho por pedacinho. Daquele jeito, daquele modelo que esses lixos ai merece”, diz um faccionado.

Não era um blefe. Os investigadores da Operação Baal seguiram a pista e encontraram um rastro de sangue do PCC em três Estados - Mato Grosso, São Paulo e Piauí - cenas de uma guerra interna da organização pelo controle de biqueiras e vinganças. Decapitações e a extração de órgãos vitais das vítimas, como fígado e coração, marcam esse conflito e assombram até veteranos do combate ao crime.

A Operação Baal foi deflagrada em maio. Dezoito suspeitos foram denunciados à Justiça por tráfico, assassinatos e lavagem de dinheiro.

Os autos são ilustrados com espelho de mensagens e fotos de órgãos humanos arrancados à mão e exibidos como troféus por matadores sanguinários. Cabeças decepadas fazem parte do leque de imagens enviadas por faccionados como prova de execuções sob encomenda.

Crimes brutais eram discutidos pelo aplicativo. Os homens do PCC promoviam debates em tempo real sobre eventuais entraves para as missões, como a eventual aproximação da Polícia.

Diálogos interceptados pelos investigadores indicam os caminhos da barbárie. “Derruba tudo manda pra fossa”, “vou meter a rajada dentro do carro”, “vou matar mais amanhã”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

A Operação Baal detalha uma ação da polícia que culminou na morte de 18 do PCC em Confresa, cidade situada em Mato Grosso. A investigação alcança lideranças da facção em Avelino Lopes (Piauí) e São Paulo e desvenda o pano de fundo dos assassinatos: a execução de um dos líderes do bando do Novo Cangaço ligado ao PCC e a disputa por pontos de tráfico de drogas.

Um chefão do crime organizado carrega a alcunha ‘Pantera’. Ele foi detido em flagrante em maio, um dia antes da abertura da Operação Baal, em um apartamento no município paulista de Itapeva sob acusação de posse ilegal de arma.

A prisão de ‘Pantera’ foi meio que por acaso. Atraídos por uma denúncia anônima de cárcere privado e desinteligência, policiais militares foram ao endereço do faccionado. Durante buscas, os PMs encontraram dentro da geladeira da casa uma pistola Taurus.

Segundo o Ministério Público, ‘Pantera’ assumiu a chefia do braço especializado em domínio de cidades do PCC após a morte de seu irmão Fleques em dezembro de 2023.

Fleques também era da facção e estava foragido desde 2018. Ele foi executado em uma barbearia em Osasco, na Grande São Paulo, em meio a uma disputa sangrenta por pontos de venda de drogas.

Os pistoleiros que eliminaram Fleques enviaram a seus líderes fotos da cena do crime e do morto, ainda sentado na cadeira do barbeiro.

A Promotoria indica que, a mando de ‘Pantera’, um grupo deu início a uma brutal retaliação pela morte de Fleques. ‘Pantera’ publicou um vídeo em que aliados exibem armas de grosso calibre e se autodenominam ‘Índios do panta’.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Os investigadores resgataram diálogos em que ‘Pantera’ confessa a matança de rivais e planos de eliminar outros.

Em uma dessas conversas, agentes da Polícia Federal acharam a foto de um coração humano nas mãos do assassino. O chefe do bando do PCC conversava com Vanderson, suposto intermediador de munições e acessórios de armas.

No celular de Vanderson, os contatos de ‘Pantera’ eram salvos com ‘Bruto’ e ‘El Chapo’.

A partir dessas mensagens, a PF identificou que ‘Pantera’ estava armando seus homens para fazer “ações” e vingar a morte do irmão. Uma ‘ação’ visou um homem em um bar no Ipiranga, na capital paulista. Ele tombou crivado com 17 balaços.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Em um diálogo sobre as “ações”, Vanderson oferece e vende um colete à prova de balas a ‘Pantera’. Durante a negociação, Vanderson diz que Fleques usou um equipamento semelhante em um ataque do PCC e “só não morreu” por usar a proteção.

No dia 11 de fevereiro passado, ‘Pantera’ encaminhou ao colega áudios e fotos, atribuídos pela PF a um homem ligado ao chefe do PCC.

Segundo o inquérito, o conteúdo se refere a um homicídio que teria sido encomendado por ‘Pantera’ em meio à guerra batizada “brancos e marotos” no Piauí, conflito interno da facção deflagrado como resposta à morte de seu irmão Fleques.

O áudio repassado a Vanderson diz. “Aí irmão, arrancamos aí o coração e o fígado dele, tá ligado, cortamos ele todinho, pedacinho por pedacinho. Daquele jeito, daquele modelo que esses lixos ai merece.”

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

‘Pantera’ respondeu que ia matar “esses caras do veio tudo”. Vanderson incentivou as ações. “Derruba tudo manda pra fossa. Poderia falar algo bonito pra vc mas nessa situação aí tem que ripar mesmo, até hj parece q o pequeno tá vivo..pau nesses fdp.”

Na mesma conversa em que foi enviada a ‘Pantera’ a foto de um coração há menção a um outro homicídio ligado ao bando no ‘Bar do Negão’, localizado em Osasco - estabelecimento usado por Flaques e ‘Pantera’ como ponto de encontro para a negociação de armas e entorpecentes, segundo o Ministério Público.

‘Pantera’ e Vanderson combinaram que a entrega do colete à prova de balas se daria no ‘Bar do Negão’. O dono do restaurante foi alvo da Operação Baal, mas por câmeras de segurança avistou policiais entrando em sua casa e fugiu.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Quatro dias após a abertura da Baal, um funcionário do restaurante foi executado. Um carro branco passou em frente e disparou contra ‘Batata’, o churrasqueiro. A PF suspeita de queima de arquivo porque a churrascaria era usada de bunker de armas, munições e drogas.

De acordo com a Promotoria, o ‘Bar do Negão’ era um ponto de apoio usado pelo bando do Novo Cangaço para “encontrar outros comparsas e concretizar tratativas ilícitas”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

As confidências de ‘Pantera’ à ‘Patroa’ do PCC

‘Pantera’ também compartilhou informações sobre seu plano de vingança em parceria com Elaine, a ‘Patroa’ do PCC - presa na etapa mais recente da Baal, no dia em que assumiria o cargo de estagiária de Direito na Promotoria de Itapeva, a 290 quilômetros da capital paulista.

Em dezembro de 2023, ele enviou à Elaine uma foto sua ao lado de outros homens armados, tirada na comunidade Areião, em Osasco. Também mandou um vídeo que indicava “o homem que eles iriam matar naquele dia”. O plano, no entanto, encontrou um obstáculo: havia muito policiamento na região.

'Patroa' do PCC foi treinada por CAC para atirar com fuzil Foto: Processo judicial

Em outra passagem, ‘Pantera’ afirma que matou dois homens supostamente envolvidos na morte do seu irmão. O faccionado envia imagens que foram apagadas em seguida, a pedido da ‘Patroa’.

O bandido também confidenciou a Elaine como teria descoberto uma ‘traição’ a seu irmão por parte de Janes, também alvo da investigação. ‘Pantera’ diz que o homem “vai para o inferno”. E completa que “vai matar mais amanhã”. Essas mensagens foram trocadas logo após a morte de Fleques.

Em análise de diálogos mantidos com a ‘Patroa’ do PCC, a PF destaca a “naturalidade” com que ‘Pantera’ trata de assassinatos. Em um dado momento, Elaine reclamou que ele estava em uma tabacaria na madrugada de um sábado. ‘Pantera’ responde que está lá apenas para matar um “fdp”.

Os investigadores ainda identificaram um áudio, encaminhado em abril deste ano, em que ‘Pantera’ chora e fala que não consegue mais matar mais ninguém”.

“Não tô entendendo mais, cara. Faz quatro mês e um dia que meu irmão morreu. [choro] Na verdade eu nem consegui mais matar ninguém. Eu não consegui mais matar ninguém, cara. Eu não consigo fazer nada mais. Na verdade, eu não sei o que ta acontecendo comigo mais. Tenho que sair daqui”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Confresa

A investigação que levou à deflagração da Operação Baal teve início com a tentativa de roubo de um blindado da Brinks em Confresa, em abril de 2023. A PF recuperou diálogos indicando que ‘Pantera’ sabia do grande ataque.

A ação do PCC acabou frustrada. Dezoito faccionados sucumbiram em confrontos em série com a Polícia Militar. Entre as baixas da organização estava ‘Magrelo’, que teria planejado o roubo e seria ligado a Fleques. Como mostrou o Estadão, o PCC investiu cerca de R$ 3,4 milhões no grande ataque de Confresa, mas acabou no prejuízo.

Dias após a tentativa de assalto ao carro-forte, ‘Pantera’ demonstrou sua preocupação com o paradeiro do irmão, desaparecido após a empreitada em Mato Grosso. “Então mano, é o seguinte... Tô na maior neurose aqui. Aconteceu um problema lá que meu irmão foi lá. Morreu dois cara que tava mais ele, tem dois baleado e o meu irmão outro mais três caras caiu na caatinga. Nois não sabe nem o que aconteceu nessa desgrama aí. Falou que o fuzil dele travou. Baguio do carai aí ó, mano. Entendeu? Só por Deus.”

No entanto, segundo a PF, ‘Magrelo’ participou da trama em Confresa no lugar de Fleques, pois estava precisando de dinheiro. Fleques lamentou a morte do colega em áudio. Ele disse que o luto na facção provocou o adiamento de um outro ataque, em Redenção, no Pará.

‘Kaçador’

A PF encontrou indícios do envolvimento de um outro personagem do PCC, ‘Kaçador’, atualmente preso sob acusação de assassinato de dois desafetos em retaliação à execução de Fleques em Osasco. Os investigadores encontraram diálogos em que ‘Kaçador’ se compromete a matar um homem e se diz sempre à disposição “para matar lixo”.

Trechos do inquérito da Operação Baal Foto: Processo judicial

Irmão mandou colocar fogo em casa de inimigos

‘Pantera’ herdou o comando do bando do irmão Fleques, que também carregava um histórico de tentativa de execução de rivais. A PF resgatou um diálogo entre ele e outro da quadrilha, Janes, sobre a tentativa de assassinato de desafetos em Curimatá, no Piauí. Mas os alvos não estavam em casa. Fleques ordenou a seus homens que ateassem fogo no imóvel.

Segundo o inquérito da Operação Baal, Fleques participou de ações do ‘Novo Cangaço’ em Criciúma, em 2020, e Guarapuava, no Paraná, em 2022.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.