Cerca de sessenta juízes federais, e também procuradores do Ministério Público Federal e servidores do Judiciário, fizeram na tarde desta sexta, 4, ato de protesto contra a violência que os atinge. Os magistrados estão perplexos, e assustados, com o ataque do procurador da Fazenda Nacional Matheus Carneiro Assunção que, no final da tarde de quinta, 3, esfaqueou no pescoço a juíza Louise Filgueiras, no 21.º andar do prédio-sede do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região (TRF-3), na Avenida Paulista.
"O episódio faz com que essa reflexão seja necessária, a sociedade precisa entender que discurso do ódio tem que ceder ao discurso da racionalidade", declarou o presidente da Associação dos Juízes Federais, Fernando Mendes.
O protesto ocorreu em frente ao Fórum Federal Pedro Lessa, que abriga as varas cíveis federais, na Paulista. A duas quadras dali, no Fórum Criminal, o esfaqueador passou por audiência de custódia. A Justiça decretou sua prisão preventiva e ele será transferido para o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico "Dr. Arnaldo Amado Ferreira", em Taubaté, no interior do Estado.
No ato público, Fernando Mendes clamou. "Precisamos preservar as instituições, encontrar o caminho da racionalidade e do diálogo. Este é um ato de repúdio à violencia contra uma colega e repúdio simbólico à violência que tem sido praticada contra o Poder Judiciário, alicerce da democracia."
Nas palavras de Mendes, a manifestação na rua 'é um ato mais de paz, de reflexão'.
Ele conclamou. "Precisamos dar um basta a tudo isso que está acontecendo e passemos a respeitar as instituições e não atacá-las de maneira sistemática, como vêm sendo atacadas, particularmente o Poder Judiciário."
A juíza Marcelle Ragazoni Carvalho Ferreira, diretora da Associação dos Juízes Federais no Estado de São Paulo (Ajufesp) leu nota pública divulgada pelas entidades de classe. "A ousadia e a violência do ataque desferido pelo procurador da Fazenda trazem à tona grandes preocupações."
Ela fez um alerta. "A falta de segurança que acomete o ofício dos magistrados é crônica. Não se justifica, em hipótese nenhuma, colocar vidas em risco por motivos de restrições orçamentárias. A segurança (dos fóruns) por profissionais treinados é esencial ao juiz. A magistratura carece de um mínimo de tranquilildade para trabalhar em paz."
Marcelle foi enfática ao apontar para o momento político que o País atravessa, 'com a interdição do diálogo e polarização ideológica, que contribuem para o acirramento de ânimos e para o desrespeito crescente às instituições'.
Na avaliação de Marcelle, os ataques ao Poder Judiciário 'maculam sua independência'.
"Essa quebra de institucionalidade pode causar consequências nefastas", adverte Marcelle Ragazoni.
O presidente da Associação dos Juízes Federais no Estado de São Paulo, Otávio Port, declarou.
"É importante que o Judiciário, como guardião múltiplo das leis e da Constituição, seja respeitado. Esse sentimento que permeia as redes sociais, por exemplo, de descumprimento e desrespeito de ordens judiciais pode sim levar à violência, essa violência que a nossa colega sentiu na pele, infelizmente."
Port classificou a agressão como 'ato covarde, desvairado'.
"As associações devem e vão atuar firme na segurança dos juízes. Esse quadro de rivalidade social, de divisão entre opiniões absolutamente opostas, em nada fortalece a democracia. É importante o diálogo, a discussão serena, tranquila, sempre buscando um denominador comum. Nós do Judiciário Federal queremos trabalhar com tranquilidade, com segurança e, acima de tudo, com paz."