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Opinião|Banho de multidão


Por José Renato Nalini

O verdadeiro estadista não tem medo do povo. Ao contrário, vai em busca do contato pessoal com os cidadãos de seu Estado. Era o que fazia Charles De Gaulle, que um mês após eleito presidente da República, fez uma visita de quatro dias ao sudoeste da França – entre 14 e 17 de fevereiro de 1959; dois meses depois, passou quatro dias na Borgonha – de 16 a 19 de abril – e um mês após, visitou quatro “départments” no centro do país – entre 7 e 15 de maio.

Essa programação exaustiva de visitas regionais era uma tradição iniciada após à Libertação. Tornou-se ritual em sua presidência. Os dois antecessores de De Gaulle, Coty e Auriol, também fizeram viagens. Mas programavam sete escalas em cada visita. A média de De Gaulle era de quase quarenta. Até junho de 1962, tinha realizado dezenove turnês e visitado sessenta e sete “départments”. Ao deixar o cargo, em 1969, havia visitado todos os “départments” e feito trinta e uma turnês regionais.

Obedecia, rigorosamente, a idêntico ritual. Em cada cidade, após uma saudação do Prefeito, De Gaulle respondia com poucas palavras gentis, louvando as virtudes da localidade. Terminava com uma fórmula convencional: “Quero dizer a X (nome da cidade) quantas lembranças reconfortantes e que confiança na unidade e no destino do país eu levo da minha breve visita. Viva X! Viva a República! Viva a França!”.

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Dizem os biógrafos que, quanto mais banal o discurso, mais frenéticos os aplausos. E isso acontecia em todos os lugares que o general visitava, inclusive no exterior. Os próprios adversários reconheciam o seu carisma, o seu charme, a sua imensa capacidade de emocionar as multidões.

De Gaulle era exímio em exercícios de retórica vazia. Alguns deles são lendários: “Saúdo Fécamp, porto marítimo que deseja continuar sendo porto marítimo, e que continuará a ser”. Sempre acrescentava um toque pessoal. Em Dunquerque: “Quando menino, eu ia à missa aqui perto, na igreja de Santo Elói. Para pagar por uma cadeira, eu dava um “sou” e recebia dois cêntimos”. Quando a cidade era grande, ele se estendia mais e aventava uma ideia para um anúncio político futuro.

De Gaulle mudou o estilo de visitas regionais em relação a seus antecessores. Nas Terceira e Quarta Repúblicas, o presidente se encontrava com dignitários locais, antes de ser formalmente apesentado a algumas figuras representativas: um operário, um aposentado, um agricultor, uma professora, uma criança. Mas o público era mantido à distância. Muitos seguranças, aquela parafernália que ainda existe nos Estados menos desenvolvidos e em algumas nações cujo governante precisa se acautelar porque é um semeador de inimigos.

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De Gaulle enfiava-se na multidão. Apertava mãos, beijava, abraçava, deixava-se tocar, beijar, abraçar. Uma jornalista de “Le Monde”, que passou anos estudando Charles De Gaulle, escreveu divertido relato desses “bains de foule” (banhos de multidão):

“Dizer que ele se mistura na multidão é um eufemismo: ele mergulha nela, chafurda nela. É possível saber onde ele está, não tanto pela estatura, mas porque é o centro do redemoinho. Depois de desaparecer aqui, desponta lá adiante por um momento, depois some de vista novamente por um longo trecho subaquático, até reaparecer como um mergulhador, do outro lado da rua. Já foi visto emergir faltando-lhe três botões, a farda rasgada, as mãos arranhadas... mas os olhos reluzindo de prazer, parecendo feliz de estar vivo”.

Esse comportamento é próprio dos grandes estadistas. É a personificação de sua comunhão com sua Pátria. Oportunidade para o povo se reunir em torno ao seu guia. Verdade que a motivação para esse frenesi podia variar. Ia da veneração à mera curiosidade. A visita de um governante é momento importante para a vida das comunidades. De Gaulle não temia o povo. Embora tenha sido alvo de tentativas de assassinato durante sua longa jornada.

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Os comunistas, que pregavam boicote a essas visitas, chegaram a homenagear, ainda que involuntariamente, o seu êxito: “O mais notável nas manifestações organizadas nessas ocasiões é o caráter pessoal e quase místico das cerimônias em cidades e vilarejos. O General De Gaulle não viaja pela França como Presidente da República. Ele é o Rei em contato com seus súditos, recebendo a homenagem deles e pregando a boa nova. Um exercício de infantilização das massas”.

Quem é que, hoje em dia, conseguiria reproduzir tal fenômeno?

O verdadeiro estadista não tem medo do povo. Ao contrário, vai em busca do contato pessoal com os cidadãos de seu Estado. Era o que fazia Charles De Gaulle, que um mês após eleito presidente da República, fez uma visita de quatro dias ao sudoeste da França – entre 14 e 17 de fevereiro de 1959; dois meses depois, passou quatro dias na Borgonha – de 16 a 19 de abril – e um mês após, visitou quatro “départments” no centro do país – entre 7 e 15 de maio.

Essa programação exaustiva de visitas regionais era uma tradição iniciada após à Libertação. Tornou-se ritual em sua presidência. Os dois antecessores de De Gaulle, Coty e Auriol, também fizeram viagens. Mas programavam sete escalas em cada visita. A média de De Gaulle era de quase quarenta. Até junho de 1962, tinha realizado dezenove turnês e visitado sessenta e sete “départments”. Ao deixar o cargo, em 1969, havia visitado todos os “départments” e feito trinta e uma turnês regionais.

Obedecia, rigorosamente, a idêntico ritual. Em cada cidade, após uma saudação do Prefeito, De Gaulle respondia com poucas palavras gentis, louvando as virtudes da localidade. Terminava com uma fórmula convencional: “Quero dizer a X (nome da cidade) quantas lembranças reconfortantes e que confiança na unidade e no destino do país eu levo da minha breve visita. Viva X! Viva a República! Viva a França!”.

Dizem os biógrafos que, quanto mais banal o discurso, mais frenéticos os aplausos. E isso acontecia em todos os lugares que o general visitava, inclusive no exterior. Os próprios adversários reconheciam o seu carisma, o seu charme, a sua imensa capacidade de emocionar as multidões.

De Gaulle era exímio em exercícios de retórica vazia. Alguns deles são lendários: “Saúdo Fécamp, porto marítimo que deseja continuar sendo porto marítimo, e que continuará a ser”. Sempre acrescentava um toque pessoal. Em Dunquerque: “Quando menino, eu ia à missa aqui perto, na igreja de Santo Elói. Para pagar por uma cadeira, eu dava um “sou” e recebia dois cêntimos”. Quando a cidade era grande, ele se estendia mais e aventava uma ideia para um anúncio político futuro.

De Gaulle mudou o estilo de visitas regionais em relação a seus antecessores. Nas Terceira e Quarta Repúblicas, o presidente se encontrava com dignitários locais, antes de ser formalmente apesentado a algumas figuras representativas: um operário, um aposentado, um agricultor, uma professora, uma criança. Mas o público era mantido à distância. Muitos seguranças, aquela parafernália que ainda existe nos Estados menos desenvolvidos e em algumas nações cujo governante precisa se acautelar porque é um semeador de inimigos.

De Gaulle enfiava-se na multidão. Apertava mãos, beijava, abraçava, deixava-se tocar, beijar, abraçar. Uma jornalista de “Le Monde”, que passou anos estudando Charles De Gaulle, escreveu divertido relato desses “bains de foule” (banhos de multidão):

“Dizer que ele se mistura na multidão é um eufemismo: ele mergulha nela, chafurda nela. É possível saber onde ele está, não tanto pela estatura, mas porque é o centro do redemoinho. Depois de desaparecer aqui, desponta lá adiante por um momento, depois some de vista novamente por um longo trecho subaquático, até reaparecer como um mergulhador, do outro lado da rua. Já foi visto emergir faltando-lhe três botões, a farda rasgada, as mãos arranhadas... mas os olhos reluzindo de prazer, parecendo feliz de estar vivo”.

Esse comportamento é próprio dos grandes estadistas. É a personificação de sua comunhão com sua Pátria. Oportunidade para o povo se reunir em torno ao seu guia. Verdade que a motivação para esse frenesi podia variar. Ia da veneração à mera curiosidade. A visita de um governante é momento importante para a vida das comunidades. De Gaulle não temia o povo. Embora tenha sido alvo de tentativas de assassinato durante sua longa jornada.

Os comunistas, que pregavam boicote a essas visitas, chegaram a homenagear, ainda que involuntariamente, o seu êxito: “O mais notável nas manifestações organizadas nessas ocasiões é o caráter pessoal e quase místico das cerimônias em cidades e vilarejos. O General De Gaulle não viaja pela França como Presidente da República. Ele é o Rei em contato com seus súditos, recebendo a homenagem deles e pregando a boa nova. Um exercício de infantilização das massas”.

Quem é que, hoje em dia, conseguiria reproduzir tal fenômeno?

O verdadeiro estadista não tem medo do povo. Ao contrário, vai em busca do contato pessoal com os cidadãos de seu Estado. Era o que fazia Charles De Gaulle, que um mês após eleito presidente da República, fez uma visita de quatro dias ao sudoeste da França – entre 14 e 17 de fevereiro de 1959; dois meses depois, passou quatro dias na Borgonha – de 16 a 19 de abril – e um mês após, visitou quatro “départments” no centro do país – entre 7 e 15 de maio.

Essa programação exaustiva de visitas regionais era uma tradição iniciada após à Libertação. Tornou-se ritual em sua presidência. Os dois antecessores de De Gaulle, Coty e Auriol, também fizeram viagens. Mas programavam sete escalas em cada visita. A média de De Gaulle era de quase quarenta. Até junho de 1962, tinha realizado dezenove turnês e visitado sessenta e sete “départments”. Ao deixar o cargo, em 1969, havia visitado todos os “départments” e feito trinta e uma turnês regionais.

Obedecia, rigorosamente, a idêntico ritual. Em cada cidade, após uma saudação do Prefeito, De Gaulle respondia com poucas palavras gentis, louvando as virtudes da localidade. Terminava com uma fórmula convencional: “Quero dizer a X (nome da cidade) quantas lembranças reconfortantes e que confiança na unidade e no destino do país eu levo da minha breve visita. Viva X! Viva a República! Viva a França!”.

Dizem os biógrafos que, quanto mais banal o discurso, mais frenéticos os aplausos. E isso acontecia em todos os lugares que o general visitava, inclusive no exterior. Os próprios adversários reconheciam o seu carisma, o seu charme, a sua imensa capacidade de emocionar as multidões.

De Gaulle era exímio em exercícios de retórica vazia. Alguns deles são lendários: “Saúdo Fécamp, porto marítimo que deseja continuar sendo porto marítimo, e que continuará a ser”. Sempre acrescentava um toque pessoal. Em Dunquerque: “Quando menino, eu ia à missa aqui perto, na igreja de Santo Elói. Para pagar por uma cadeira, eu dava um “sou” e recebia dois cêntimos”. Quando a cidade era grande, ele se estendia mais e aventava uma ideia para um anúncio político futuro.

De Gaulle mudou o estilo de visitas regionais em relação a seus antecessores. Nas Terceira e Quarta Repúblicas, o presidente se encontrava com dignitários locais, antes de ser formalmente apesentado a algumas figuras representativas: um operário, um aposentado, um agricultor, uma professora, uma criança. Mas o público era mantido à distância. Muitos seguranças, aquela parafernália que ainda existe nos Estados menos desenvolvidos e em algumas nações cujo governante precisa se acautelar porque é um semeador de inimigos.

De Gaulle enfiava-se na multidão. Apertava mãos, beijava, abraçava, deixava-se tocar, beijar, abraçar. Uma jornalista de “Le Monde”, que passou anos estudando Charles De Gaulle, escreveu divertido relato desses “bains de foule” (banhos de multidão):

“Dizer que ele se mistura na multidão é um eufemismo: ele mergulha nela, chafurda nela. É possível saber onde ele está, não tanto pela estatura, mas porque é o centro do redemoinho. Depois de desaparecer aqui, desponta lá adiante por um momento, depois some de vista novamente por um longo trecho subaquático, até reaparecer como um mergulhador, do outro lado da rua. Já foi visto emergir faltando-lhe três botões, a farda rasgada, as mãos arranhadas... mas os olhos reluzindo de prazer, parecendo feliz de estar vivo”.

Esse comportamento é próprio dos grandes estadistas. É a personificação de sua comunhão com sua Pátria. Oportunidade para o povo se reunir em torno ao seu guia. Verdade que a motivação para esse frenesi podia variar. Ia da veneração à mera curiosidade. A visita de um governante é momento importante para a vida das comunidades. De Gaulle não temia o povo. Embora tenha sido alvo de tentativas de assassinato durante sua longa jornada.

Os comunistas, que pregavam boicote a essas visitas, chegaram a homenagear, ainda que involuntariamente, o seu êxito: “O mais notável nas manifestações organizadas nessas ocasiões é o caráter pessoal e quase místico das cerimônias em cidades e vilarejos. O General De Gaulle não viaja pela França como Presidente da República. Ele é o Rei em contato com seus súditos, recebendo a homenagem deles e pregando a boa nova. Um exercício de infantilização das massas”.

Quem é que, hoje em dia, conseguiria reproduzir tal fenômeno?

O verdadeiro estadista não tem medo do povo. Ao contrário, vai em busca do contato pessoal com os cidadãos de seu Estado. Era o que fazia Charles De Gaulle, que um mês após eleito presidente da República, fez uma visita de quatro dias ao sudoeste da França – entre 14 e 17 de fevereiro de 1959; dois meses depois, passou quatro dias na Borgonha – de 16 a 19 de abril – e um mês após, visitou quatro “départments” no centro do país – entre 7 e 15 de maio.

Essa programação exaustiva de visitas regionais era uma tradição iniciada após à Libertação. Tornou-se ritual em sua presidência. Os dois antecessores de De Gaulle, Coty e Auriol, também fizeram viagens. Mas programavam sete escalas em cada visita. A média de De Gaulle era de quase quarenta. Até junho de 1962, tinha realizado dezenove turnês e visitado sessenta e sete “départments”. Ao deixar o cargo, em 1969, havia visitado todos os “départments” e feito trinta e uma turnês regionais.

Obedecia, rigorosamente, a idêntico ritual. Em cada cidade, após uma saudação do Prefeito, De Gaulle respondia com poucas palavras gentis, louvando as virtudes da localidade. Terminava com uma fórmula convencional: “Quero dizer a X (nome da cidade) quantas lembranças reconfortantes e que confiança na unidade e no destino do país eu levo da minha breve visita. Viva X! Viva a República! Viva a França!”.

Dizem os biógrafos que, quanto mais banal o discurso, mais frenéticos os aplausos. E isso acontecia em todos os lugares que o general visitava, inclusive no exterior. Os próprios adversários reconheciam o seu carisma, o seu charme, a sua imensa capacidade de emocionar as multidões.

De Gaulle era exímio em exercícios de retórica vazia. Alguns deles são lendários: “Saúdo Fécamp, porto marítimo que deseja continuar sendo porto marítimo, e que continuará a ser”. Sempre acrescentava um toque pessoal. Em Dunquerque: “Quando menino, eu ia à missa aqui perto, na igreja de Santo Elói. Para pagar por uma cadeira, eu dava um “sou” e recebia dois cêntimos”. Quando a cidade era grande, ele se estendia mais e aventava uma ideia para um anúncio político futuro.

De Gaulle mudou o estilo de visitas regionais em relação a seus antecessores. Nas Terceira e Quarta Repúblicas, o presidente se encontrava com dignitários locais, antes de ser formalmente apesentado a algumas figuras representativas: um operário, um aposentado, um agricultor, uma professora, uma criança. Mas o público era mantido à distância. Muitos seguranças, aquela parafernália que ainda existe nos Estados menos desenvolvidos e em algumas nações cujo governante precisa se acautelar porque é um semeador de inimigos.

De Gaulle enfiava-se na multidão. Apertava mãos, beijava, abraçava, deixava-se tocar, beijar, abraçar. Uma jornalista de “Le Monde”, que passou anos estudando Charles De Gaulle, escreveu divertido relato desses “bains de foule” (banhos de multidão):

“Dizer que ele se mistura na multidão é um eufemismo: ele mergulha nela, chafurda nela. É possível saber onde ele está, não tanto pela estatura, mas porque é o centro do redemoinho. Depois de desaparecer aqui, desponta lá adiante por um momento, depois some de vista novamente por um longo trecho subaquático, até reaparecer como um mergulhador, do outro lado da rua. Já foi visto emergir faltando-lhe três botões, a farda rasgada, as mãos arranhadas... mas os olhos reluzindo de prazer, parecendo feliz de estar vivo”.

Esse comportamento é próprio dos grandes estadistas. É a personificação de sua comunhão com sua Pátria. Oportunidade para o povo se reunir em torno ao seu guia. Verdade que a motivação para esse frenesi podia variar. Ia da veneração à mera curiosidade. A visita de um governante é momento importante para a vida das comunidades. De Gaulle não temia o povo. Embora tenha sido alvo de tentativas de assassinato durante sua longa jornada.

Os comunistas, que pregavam boicote a essas visitas, chegaram a homenagear, ainda que involuntariamente, o seu êxito: “O mais notável nas manifestações organizadas nessas ocasiões é o caráter pessoal e quase místico das cerimônias em cidades e vilarejos. O General De Gaulle não viaja pela França como Presidente da República. Ele é o Rei em contato com seus súditos, recebendo a homenagem deles e pregando a boa nova. Um exercício de infantilização das massas”.

Quem é que, hoje em dia, conseguiria reproduzir tal fenômeno?

O verdadeiro estadista não tem medo do povo. Ao contrário, vai em busca do contato pessoal com os cidadãos de seu Estado. Era o que fazia Charles De Gaulle, que um mês após eleito presidente da República, fez uma visita de quatro dias ao sudoeste da França – entre 14 e 17 de fevereiro de 1959; dois meses depois, passou quatro dias na Borgonha – de 16 a 19 de abril – e um mês após, visitou quatro “départments” no centro do país – entre 7 e 15 de maio.

Essa programação exaustiva de visitas regionais era uma tradição iniciada após à Libertação. Tornou-se ritual em sua presidência. Os dois antecessores de De Gaulle, Coty e Auriol, também fizeram viagens. Mas programavam sete escalas em cada visita. A média de De Gaulle era de quase quarenta. Até junho de 1962, tinha realizado dezenove turnês e visitado sessenta e sete “départments”. Ao deixar o cargo, em 1969, havia visitado todos os “départments” e feito trinta e uma turnês regionais.

Obedecia, rigorosamente, a idêntico ritual. Em cada cidade, após uma saudação do Prefeito, De Gaulle respondia com poucas palavras gentis, louvando as virtudes da localidade. Terminava com uma fórmula convencional: “Quero dizer a X (nome da cidade) quantas lembranças reconfortantes e que confiança na unidade e no destino do país eu levo da minha breve visita. Viva X! Viva a República! Viva a França!”.

Dizem os biógrafos que, quanto mais banal o discurso, mais frenéticos os aplausos. E isso acontecia em todos os lugares que o general visitava, inclusive no exterior. Os próprios adversários reconheciam o seu carisma, o seu charme, a sua imensa capacidade de emocionar as multidões.

De Gaulle era exímio em exercícios de retórica vazia. Alguns deles são lendários: “Saúdo Fécamp, porto marítimo que deseja continuar sendo porto marítimo, e que continuará a ser”. Sempre acrescentava um toque pessoal. Em Dunquerque: “Quando menino, eu ia à missa aqui perto, na igreja de Santo Elói. Para pagar por uma cadeira, eu dava um “sou” e recebia dois cêntimos”. Quando a cidade era grande, ele se estendia mais e aventava uma ideia para um anúncio político futuro.

De Gaulle mudou o estilo de visitas regionais em relação a seus antecessores. Nas Terceira e Quarta Repúblicas, o presidente se encontrava com dignitários locais, antes de ser formalmente apesentado a algumas figuras representativas: um operário, um aposentado, um agricultor, uma professora, uma criança. Mas o público era mantido à distância. Muitos seguranças, aquela parafernália que ainda existe nos Estados menos desenvolvidos e em algumas nações cujo governante precisa se acautelar porque é um semeador de inimigos.

De Gaulle enfiava-se na multidão. Apertava mãos, beijava, abraçava, deixava-se tocar, beijar, abraçar. Uma jornalista de “Le Monde”, que passou anos estudando Charles De Gaulle, escreveu divertido relato desses “bains de foule” (banhos de multidão):

“Dizer que ele se mistura na multidão é um eufemismo: ele mergulha nela, chafurda nela. É possível saber onde ele está, não tanto pela estatura, mas porque é o centro do redemoinho. Depois de desaparecer aqui, desponta lá adiante por um momento, depois some de vista novamente por um longo trecho subaquático, até reaparecer como um mergulhador, do outro lado da rua. Já foi visto emergir faltando-lhe três botões, a farda rasgada, as mãos arranhadas... mas os olhos reluzindo de prazer, parecendo feliz de estar vivo”.

Esse comportamento é próprio dos grandes estadistas. É a personificação de sua comunhão com sua Pátria. Oportunidade para o povo se reunir em torno ao seu guia. Verdade que a motivação para esse frenesi podia variar. Ia da veneração à mera curiosidade. A visita de um governante é momento importante para a vida das comunidades. De Gaulle não temia o povo. Embora tenha sido alvo de tentativas de assassinato durante sua longa jornada.

Os comunistas, que pregavam boicote a essas visitas, chegaram a homenagear, ainda que involuntariamente, o seu êxito: “O mais notável nas manifestações organizadas nessas ocasiões é o caráter pessoal e quase místico das cerimônias em cidades e vilarejos. O General De Gaulle não viaja pela França como Presidente da República. Ele é o Rei em contato com seus súditos, recebendo a homenagem deles e pregando a boa nova. Um exercício de infantilização das massas”.

Quem é que, hoje em dia, conseguiria reproduzir tal fenômeno?

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