O ex-presidente Jair Bolsonaro está entre os alvos da operação da Polícia Federal para apurar a organização criminosa responsável por atuar em tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito. Apesar de não ser um dos alvos dos mandados de busca e apreensão, Bolsonaro está obrigado a entregar seu passaporte à PF em até 24 horas. O advogado Fábio Wajngarten, que representa o ex-presidente, informou que o documento “está em Brasília” e será entregue à PF. A operação atende medidas expedidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.
Com o nome de Tempus Veritatis (hora da verdade, em latim), essa etapa da investigação fecha o cerco decisivamente a Bolsonaro. A PF espreita os aliados mais próximos do ex-presidente, inclusive militares de alta patente, como os generais Paulo Sérgio Nogueira, Braga Netto e Augusto Heleno, além do almirante da Marinha Almir Garnier Santos. São alvo também Anderson Torres e Valdemar Costa Neto, e já foram presos Filipe Martins, ex-assessor do ex-presidente, Marcelo Câmara, coronel do Exército e também ex-assessor, e Rafael Martins de Oliveira, major das Forças Especiais do Exército.
Bolsonaro e outros alvos investigados afirmaram, via defesa, que vão cumprir as determinações impostas pela Justiça, mas que ainda não tiveram acesso às investigações para saberem o que pesa contra cada um deles.
Essa etapa da investigação tem base na delação do tenente coronel Mauro Cid. De acordo com informações da PF, o Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de parte dos mandados. Entre outras medidas cautelares, Alexandre proibiu o ex-presidente de manter contato com outros investigados.
A Polícia Federal apreendeu também o celular do ex-assessor de Bolsonaro, Tércio Arnaud Tomaz. Ele é considerado um dos pilares do “gabinete do ódio”.
Segundo a Polícia Federal, estão sendo cumpridos um total de 33 mandados de busca e apreensão, além de quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão. Entre elas, estão a proibição de manter contato com os demais investigados, suspensão do exercício de funções públicas e proibição de se ausentarem do País.
Nesta etapa da operação, a PF aponta aponta que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar desinformação sobre supostas fraudes nas eleições de 2022. Essa atuação teria começado ainda antes do pleito, com o suposto objetivo de “viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital”.
Segundo a PF, o primeiro eixo de atuação do grupo consistiu na construção e propagação de informação falaciosa sobre vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação. O discurso foi reiterado pelos investigados desde 2019 e persistiu mesmo após os resultados do segundo turno de 2022. Essas afirmações também faziam parte dos discursos do próprio ex-presidente Bolsonaro, e pesaram na decisão do Tribunal Superior Eleitoral que levou à sua inelegibilidade em 2023.
A partir da disseminação da desinformação, o grupo também teria praticado “atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível”, conforme informado pela Polícia Federal.
A investigação apura os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.