Ao reclamar na reunião ministerial de 22 abril que não tem informações dos órgãos de inteligência do governo, o presidente Jair Bolsonaro disse que tem um sistema de informações particular que funciona. Bolsonaro não deu detalhes.
Ao reclamar na reunião ministerial de 22 abril que não recebe dados dos órgãos de inteligência do governo, o presidente Jair Bolsonaro disse que tem um sistema de informações particular. Bolsonaro não deu detalhes sobre como funciona esta organização que o mantém municiado. As informações constam no vídeo do encontro divulgado nesta sexta-feira, 22, por determinação do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal.
"Sistemas de informações, o meu funciona. O meu particular funciona. Os que têm oficialmente, desinforma. E voltando ao tema prefiro não ter informação a ser desinformado em cima de informações que eu tenho", reclamou Bolsonaro na reunião.
Nesta sexta-feira, após a divulgação do vídeo, o presidente foi questionado sobre o sistema de informação e disse que o grupo tem uma pessoa da imprensa, policiais e militares.
"É um colega de vocês da imprensa que com certeza eu tenho, é um sargento no batalhão de operações especiais no Rio, um capitão do Exército de um grupo de artilharia m Nioaque, um policial civil em Manaus. É um amigo que eu fiz em um determinado local faz anos, que liga pra mim e mantém contado pelo zap. São essas informações que eu tenho pessoal minha. Descubro muitas coisas, que lamentavelmente não descubro via inteligência oficial, que é a PF, Marinha, Aeronáutica e Abin", disse.
O ex-ministro Gustavo Bebianno, morto em 14 de março, disse que no início do governo o filho do presidente e vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) queria criar uma Abin (Agência Brasileira de Inteligência) paralela, formada por policiais federais. A declaração foi dada em entrevista ao programa "Roda Viva", 11 dias antes de morrer de um ataque cardíaco em seu sítio em Teresópolis.
Em outro momento da reunião ministerial, Bolsonaro disse que aos auxiliares que não pode ser "surpreendido com notícias" e cobrou relatórios de inteligência de todos os órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), que inclui a PF, Abin, Forças Armadas e outros ministérios, como a Advocacia-Geral da União.
"Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações; a ABIN tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente... temos problemas... aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação", disse Bolsonaro.
"Quem é que nunca "ficou atrás da... da... da... porta ouvindo o que o seu filho ou a sua filha tá comentando? Tem que ver pra depois... depois que ela engravida não adianta falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era. E informação é assim. [referências a Nações amigas] Então essa é a preocupação que temos que ter: "a questão estratégia". E não estamos tendo. E me desculpe o serviço de informação nosso -- todos --- é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não e' extrapolação da minha parte. É uma verdade", afirmou Bolsonaro.
Segundo Bebianno, o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e o então ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, desaconselharam o presidente em adotar a ideia. Carlos, segundo o ex-ministro, dizia que não confiava nos órgãos oficiais.
"Eu lembro o nome do delegado. Mas não vou revelar por uma questão institucional e pessoal", disse Bebianno, se recusando a confirmar se o delegado era Alexandre Ramagem, atual chefe da Abin e próximo dos filhos do presidente desde a campanha eleitoral.
Ramagem chegou a ser nomeado para o comando da Polícia Federal como substituto de Maurício Valeixo, homem de confiança do então ministro da Justiça, Sergio Moro. Uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), impediu que chefe da Abin assumisse a PF. O comando da instituição foi entregue o delegado Rolando Alexandre de Souza, homem de confiança de Ramagem.
O vídeo da reunião no Palácio do Planalto foi liberado nesta sexta-feira, dia 22, pelo ministro Celso de Mello, relator do inquérito que investiga a acusação de que o presidente Jair Bolsonaro teria interferido politicamente na Polícia Federal (PF) para nomear alguém de sua confiança para a direção da superintendência do órgão no Rio. A gravação é uma das principais provas do caso. Ela foi entregue pelo governo ao STF por ordem do decano do tribunal.