A Polícia Federal concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha conhecimento do plano de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de seu vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Como mostrou o Estadão, o ex-chefe do Executivo deve ser indiciado pela terceira vez, agora no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado em dezembro de 2022, após a derrota de Bolsonaro nas urnas.
A defesa de Bolsonaro afirma que não tem informações sobre a conclusão da Polícia Federal.
Nesta quinta, 21, a PF deve encaminhar ao STF o relatório final do inquérito sobre a suposta tentativa de golpe de Estado gestada no governo Bolsonaro. As investigações já mostraram o envolvimento de importantes aliados do ex-presidente, como o ministro da Defesa, general Braga Netto, e um numeroso grupo de militares - pelo menos 35 oficiais, entre eles dez generais e 16 coronéis, estão sob suspeita.
O plano de assassinato de Lula, Alckmin e Moraes veio à tona com a abertura da Operação Contragolpe na terça, 19, que prendeu o general Mário Fernandes, três ‘kids pretos’ e um policial federal por tramarem o envenenamento do presidente e a eliminação, à bomba, do ministro do STF. O relatório de 220 páginas com os detalhes da ofensiva já sinalizava o indiciamento de Bolsonaro, apesar de ele não ter sido alvo das diligências.
No documento, a Polícia Federal indicou categoricamente passagens sobre suposto envolvimento do ex-presidente com a trama golpista e deu ênfase a mensagens que citavam Bolsonaro - como o diálogo em que o general Mário Fernandes (alvo principal da Contragolpe e próximo do ex-presidente) comemora que o então chefe do Executivo “aceitou o nosso assessoramento”.
A corporação ainda indicou que Bolsonaro “enxugou” a minuta do golpe - que circulava entre bolsonaristas no final de seu governo - “com a finalidade de consumar o golpe de Estado”. Frisou que, em dezembro de 2022, o ex-presidente “estava naquele momento empenhado para consumação do golpe de Estado, tentando obter o apoio das Forças Armadas”.
A mais recente fase ostensiva da investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado atingiu, direta e indiretamente, dois aliados de Bolsonaro: seu ministro da Defesa, general Braga Netto, e seu secretário-executivo na Presidência, general Mário Fernandes.
A investigação diz que Braga Netto recebeu em sua casa uma reunião na qual foi aprovada a ação dos ‘kids pretos’ - militares de alta performance em ações de grande impacto - na missão de prisão/execução do ministro Alexandre de Moraes.
Já Mário Fernandes é apontado como o autor do plano para eliminar o ministro do STF, o presidente e o vice. A PF identificou que ele imprimiu o plano ‘Punhal Verde e Amarelo’ - que tinha detalhes sobre as execuções - de uma impressora instalada no Palácio do Planalto, por duas vezes: na primeira, o documento foi levado para o Alvorada; na segunda foi impresso enquanto Bolsonaro estava no prédio.
O então secretário-executivo do governo também imprimiu seis cópias de uma minuta de criação de um ‘gabinete de crise’ que seria instalado no caso hipotético de consumação do golpe. No dia seguinte, ele visitou Bolsonaro no Palácio do Alvorada, residência oficial do presidente.
Além das coincidências entre as ações de Mário Fernandes e as visitas a Bolsonaro, a PF interceptou áudios que se voltam contra o ex-presidente. Em um deles, enviado no dia 8 de dezembro ao tenente-coronel Mauro Cid, o general relatou uma conversa com o então chefe do Executivo. Nessa conversa, Bolsonaro teria afirmado que “qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo”. Naquele dia, Mário Fernandes esteve no Palácio da Alvorada por quarenta minutos, entre as 17h e as 17h40.
Um dia antes da conversa com Bolsonaro, no dia 7 de dezembro, ocorreu a reunião de Bolsonaro com a presença de comandantes do Exército e da Marinha, para apresentação da minuta do golpe de Estado. Mário Fernandes tinha conhecimento da reunião. Ele pediu a Cid que mostrasse um vídeo ao comandante do Exército, general Freire Gomes, na tentativa de convencê-lo a aderir ao golpe de Estado.
Um dia após a conversa, 9 de novembro, Mário voltou a acionar Cid. Foi então que ele ‘comemorou’ que o então presidente aceitou o “nosso assessoramento”.