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Opinião|Café com leite


Por José Renato Nalini*

A intimidade entre São Paulo e Minas tem razão de ser. Não é apenas a contiguidade territorial. É a afinidade de sentimentos, até porque, os paulistas chegaram a Minas Gerais na sua vocação expansionista e muitos dos seus melhores ali se radicaram e fortaleceram a gente das alterosas.

Foi assim que, no final de 1747, foi estabelecer-se no Tejuco, futura Diamantina, a opulenta família dos Caldeiras. Já era famoso o nome de Felisberto Caldeira Brant. Ele já chefiava respeitável família, muito prestante na Capitania de São Vicente, de que as Minas Gerais haviam feito parte até 2 de dezembro de 1720.

José Renato Nalini Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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Felisberto era o primogênito de Ambrósio Caldeira, fidalgo português que deixara o valoroso nome assinalado nos fastos da guerra que aos emboabas moveram os paulistas. Descendia de nobre e antiga família flamenga, oriunda de João III, Duque de Brabant, morto em 1355. Ambrósio Caldeira, filho de Cônsul flamengo, viera em 1700 para a América e em São Paulo se casara com Josefa de Souza e Silva. Seu primeiro filho, Felisberto, casou-se em 1730 com Branca de Almeida Lara, descendente de uma das mais ilustres famílias paulistas, bisneta de Lourenço Castanho Tacques, o velho.

De gênio aventureiro e empreendedor, Felisberto foi sertanista e fez diversas entradas com seu irmão Joaquim. Envolvendo-se em desavença com o Ouvidor Geral da Comarca de Rio das Mortes, Antonio da Cunha e Silveira, em 23 de julho de 1731 o Conselho Ultramarino expediu ordem Régia ao Governador da Capitania, para que os irmãos fossem presos. Não foram e prosperaram.

Diz Rodrigo Octávio, no livro “Felisberto Caldeira – Crônica dos Tempos Coloniais”, publicado no Rio em 1900, que, “alegre e liberal, Felisberto deixava sempre atrás de sua passagem um rastro de reconhecimento que criou para seu nome extensa e duradoura popularidade”. Residia em São Paulo e aqui chegavam as mais convidativas notícias sobre a enorme riqueza das minas de Goiás, cujo caminho fora descoberto pelo destemido “Anhanguera”, o afamado Bartolomeu Bueno da Silva, descobridor das minas de ouro das terras habitadas pelos índios goiá, de que se originou a capitania de Goiás.

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Narra a crônica que, numa de suas entradas pelo sertão, Felisberto conheceu um velho jesuíta que voltava para São Paulo, disposto a terminar seus dias no antigo Colégio de Piratininga. O sacerdote entregou a Felisberto um mapa com roteiro em que se assinalava um lugar onde havia minas de incalculável riqueza.

Felisberto resolveu, não de imediato, mas após algum tempo, tomar o rumo indicado. Com seu irmão Joaquim e com grande número de familiares e agregados, mais africanos e índios, depois de muitos perigos e contratempos, alcança um córrego em que havia muito ouro. Os veios auríferos eram de fertilidade assombrosa.

Dividiu com seus irmãos os trabalhos da mineração e, com isso, deu origem ao povoado que se tornaria célebre. Como havia muito peixe também, o local passou a se chamar Pyracatu e, depois, Paracatu.

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Não havia moradores nas imediações. Por isso tardou a chegar ao governo de El Rey a notícia das novas minas. Felisberto não era egoísta. Era um tipo singular de homem: aliava a ambição com o desprendimento. Embora reunisse para si e para sua família, grossos cabedais, não embaraçava que outros também enriquecessem. Ao contrário, auxiliava e oferecia elementos para que recém-chegados tivessem condição de iniciar vida e fortuna. Procedendo assim, era enorme a sua popularidade.

Durante um tempo, deixou de pagar o quinto, a quinta parte de todo o ouro extraído das lavras e a captação, o pagamento semestral de duas oitavas e doze vinténs de ouro por escravo a trabalhar nas minas. O “quinto” foi estabelecido no Brasil por Alvará de 8 de agosto de 1681 e adotado em Minas em 1700, quando o governador do Rio de Janeiro criou os funcionários encarregados de sua arrecadação e nomeou os guarda-mores para a repartição das terras minerais.

Era o fisco, implacável e ganancioso, a trazer seu elenco de nefastas consequências e a perturbar o paulista que, por sua iniciativa, sem depender do governo, arrostou sacrifícios, levou sua gente a desbravar Goiás e garantia o sustento para inúmeras famílias. O “café com leite” começou a existir já no século XVIII e prosseguiu, airoso, na Primeira República.

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*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

A intimidade entre São Paulo e Minas tem razão de ser. Não é apenas a contiguidade territorial. É a afinidade de sentimentos, até porque, os paulistas chegaram a Minas Gerais na sua vocação expansionista e muitos dos seus melhores ali se radicaram e fortaleceram a gente das alterosas.

Foi assim que, no final de 1747, foi estabelecer-se no Tejuco, futura Diamantina, a opulenta família dos Caldeiras. Já era famoso o nome de Felisberto Caldeira Brant. Ele já chefiava respeitável família, muito prestante na Capitania de São Vicente, de que as Minas Gerais haviam feito parte até 2 de dezembro de 1720.

José Renato Nalini Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Felisberto era o primogênito de Ambrósio Caldeira, fidalgo português que deixara o valoroso nome assinalado nos fastos da guerra que aos emboabas moveram os paulistas. Descendia de nobre e antiga família flamenga, oriunda de João III, Duque de Brabant, morto em 1355. Ambrósio Caldeira, filho de Cônsul flamengo, viera em 1700 para a América e em São Paulo se casara com Josefa de Souza e Silva. Seu primeiro filho, Felisberto, casou-se em 1730 com Branca de Almeida Lara, descendente de uma das mais ilustres famílias paulistas, bisneta de Lourenço Castanho Tacques, o velho.

De gênio aventureiro e empreendedor, Felisberto foi sertanista e fez diversas entradas com seu irmão Joaquim. Envolvendo-se em desavença com o Ouvidor Geral da Comarca de Rio das Mortes, Antonio da Cunha e Silveira, em 23 de julho de 1731 o Conselho Ultramarino expediu ordem Régia ao Governador da Capitania, para que os irmãos fossem presos. Não foram e prosperaram.

Diz Rodrigo Octávio, no livro “Felisberto Caldeira – Crônica dos Tempos Coloniais”, publicado no Rio em 1900, que, “alegre e liberal, Felisberto deixava sempre atrás de sua passagem um rastro de reconhecimento que criou para seu nome extensa e duradoura popularidade”. Residia em São Paulo e aqui chegavam as mais convidativas notícias sobre a enorme riqueza das minas de Goiás, cujo caminho fora descoberto pelo destemido “Anhanguera”, o afamado Bartolomeu Bueno da Silva, descobridor das minas de ouro das terras habitadas pelos índios goiá, de que se originou a capitania de Goiás.

Narra a crônica que, numa de suas entradas pelo sertão, Felisberto conheceu um velho jesuíta que voltava para São Paulo, disposto a terminar seus dias no antigo Colégio de Piratininga. O sacerdote entregou a Felisberto um mapa com roteiro em que se assinalava um lugar onde havia minas de incalculável riqueza.

Felisberto resolveu, não de imediato, mas após algum tempo, tomar o rumo indicado. Com seu irmão Joaquim e com grande número de familiares e agregados, mais africanos e índios, depois de muitos perigos e contratempos, alcança um córrego em que havia muito ouro. Os veios auríferos eram de fertilidade assombrosa.

Dividiu com seus irmãos os trabalhos da mineração e, com isso, deu origem ao povoado que se tornaria célebre. Como havia muito peixe também, o local passou a se chamar Pyracatu e, depois, Paracatu.

Não havia moradores nas imediações. Por isso tardou a chegar ao governo de El Rey a notícia das novas minas. Felisberto não era egoísta. Era um tipo singular de homem: aliava a ambição com o desprendimento. Embora reunisse para si e para sua família, grossos cabedais, não embaraçava que outros também enriquecessem. Ao contrário, auxiliava e oferecia elementos para que recém-chegados tivessem condição de iniciar vida e fortuna. Procedendo assim, era enorme a sua popularidade.

Durante um tempo, deixou de pagar o quinto, a quinta parte de todo o ouro extraído das lavras e a captação, o pagamento semestral de duas oitavas e doze vinténs de ouro por escravo a trabalhar nas minas. O “quinto” foi estabelecido no Brasil por Alvará de 8 de agosto de 1681 e adotado em Minas em 1700, quando o governador do Rio de Janeiro criou os funcionários encarregados de sua arrecadação e nomeou os guarda-mores para a repartição das terras minerais.

Era o fisco, implacável e ganancioso, a trazer seu elenco de nefastas consequências e a perturbar o paulista que, por sua iniciativa, sem depender do governo, arrostou sacrifícios, levou sua gente a desbravar Goiás e garantia o sustento para inúmeras famílias. O “café com leite” começou a existir já no século XVIII e prosseguiu, airoso, na Primeira República.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

A intimidade entre São Paulo e Minas tem razão de ser. Não é apenas a contiguidade territorial. É a afinidade de sentimentos, até porque, os paulistas chegaram a Minas Gerais na sua vocação expansionista e muitos dos seus melhores ali se radicaram e fortaleceram a gente das alterosas.

Foi assim que, no final de 1747, foi estabelecer-se no Tejuco, futura Diamantina, a opulenta família dos Caldeiras. Já era famoso o nome de Felisberto Caldeira Brant. Ele já chefiava respeitável família, muito prestante na Capitania de São Vicente, de que as Minas Gerais haviam feito parte até 2 de dezembro de 1720.

José Renato Nalini Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Felisberto era o primogênito de Ambrósio Caldeira, fidalgo português que deixara o valoroso nome assinalado nos fastos da guerra que aos emboabas moveram os paulistas. Descendia de nobre e antiga família flamenga, oriunda de João III, Duque de Brabant, morto em 1355. Ambrósio Caldeira, filho de Cônsul flamengo, viera em 1700 para a América e em São Paulo se casara com Josefa de Souza e Silva. Seu primeiro filho, Felisberto, casou-se em 1730 com Branca de Almeida Lara, descendente de uma das mais ilustres famílias paulistas, bisneta de Lourenço Castanho Tacques, o velho.

De gênio aventureiro e empreendedor, Felisberto foi sertanista e fez diversas entradas com seu irmão Joaquim. Envolvendo-se em desavença com o Ouvidor Geral da Comarca de Rio das Mortes, Antonio da Cunha e Silveira, em 23 de julho de 1731 o Conselho Ultramarino expediu ordem Régia ao Governador da Capitania, para que os irmãos fossem presos. Não foram e prosperaram.

Diz Rodrigo Octávio, no livro “Felisberto Caldeira – Crônica dos Tempos Coloniais”, publicado no Rio em 1900, que, “alegre e liberal, Felisberto deixava sempre atrás de sua passagem um rastro de reconhecimento que criou para seu nome extensa e duradoura popularidade”. Residia em São Paulo e aqui chegavam as mais convidativas notícias sobre a enorme riqueza das minas de Goiás, cujo caminho fora descoberto pelo destemido “Anhanguera”, o afamado Bartolomeu Bueno da Silva, descobridor das minas de ouro das terras habitadas pelos índios goiá, de que se originou a capitania de Goiás.

Narra a crônica que, numa de suas entradas pelo sertão, Felisberto conheceu um velho jesuíta que voltava para São Paulo, disposto a terminar seus dias no antigo Colégio de Piratininga. O sacerdote entregou a Felisberto um mapa com roteiro em que se assinalava um lugar onde havia minas de incalculável riqueza.

Felisberto resolveu, não de imediato, mas após algum tempo, tomar o rumo indicado. Com seu irmão Joaquim e com grande número de familiares e agregados, mais africanos e índios, depois de muitos perigos e contratempos, alcança um córrego em que havia muito ouro. Os veios auríferos eram de fertilidade assombrosa.

Dividiu com seus irmãos os trabalhos da mineração e, com isso, deu origem ao povoado que se tornaria célebre. Como havia muito peixe também, o local passou a se chamar Pyracatu e, depois, Paracatu.

Não havia moradores nas imediações. Por isso tardou a chegar ao governo de El Rey a notícia das novas minas. Felisberto não era egoísta. Era um tipo singular de homem: aliava a ambição com o desprendimento. Embora reunisse para si e para sua família, grossos cabedais, não embaraçava que outros também enriquecessem. Ao contrário, auxiliava e oferecia elementos para que recém-chegados tivessem condição de iniciar vida e fortuna. Procedendo assim, era enorme a sua popularidade.

Durante um tempo, deixou de pagar o quinto, a quinta parte de todo o ouro extraído das lavras e a captação, o pagamento semestral de duas oitavas e doze vinténs de ouro por escravo a trabalhar nas minas. O “quinto” foi estabelecido no Brasil por Alvará de 8 de agosto de 1681 e adotado em Minas em 1700, quando o governador do Rio de Janeiro criou os funcionários encarregados de sua arrecadação e nomeou os guarda-mores para a repartição das terras minerais.

Era o fisco, implacável e ganancioso, a trazer seu elenco de nefastas consequências e a perturbar o paulista que, por sua iniciativa, sem depender do governo, arrostou sacrifícios, levou sua gente a desbravar Goiás e garantia o sustento para inúmeras famílias. O “café com leite” começou a existir já no século XVIII e prosseguiu, airoso, na Primeira República.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

Opinião por José Renato Nalini*

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