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Opinião|Capturar letárgicos


Façamos valer a pena esta dádiva que só fica melhor se levarmos a sério outro princípio constitucional: a fraternidade. O constituinte de 1988 teve a coragem de erigi-la à categoria jurídica. Isso merece consequências. Elas dependem de cada um de nós

Por José Renato Nalini

Assisti a uma apresentação de Denise Fraga, durante o 30º Conarci, Congresso Brasileiro de Registro Civil, realizado em Costão do Santinho, Santa Catarina. Ela foi convidada a falar sobre a urgência na disseminação de uma cultura da gentileza, tão em falta numa era em que a tecnologia permite tanta comunicação digital e tanta carência de polidez.

Ela é uma atriz talentosa e sua vivência propicia natural e simpática facilidade no entendimento criado com sua plateia. Fixou-se na profunda mutação do convívio provocada pelas tecnologias da comunicação e da informação. As telinhas nos comandam, nos manipulam e nos embrutecem. O fenômeno é tão avassalador e abrangente, que não merece a devida consideração.

Temos acesso à sabedoria universal, abrigada no potente acervo de informações que nunca foi tão completo e tão acessível, mas isso não tem servido para nos tornar mais humanos, mais humildes, mais compreensivos. Denise lembrou que as empresas contratam pelo capital cognitivo e despedem pela ausência de habilidades socioemocionais. De que adianta pós-doutorado se as pessoas não conseguem se relacionar com o semelhante, são insensíveis, cruéis e egoístas?

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Fez narrativas interessantes de experiência pessoal, no seio da família, propondo estratégias para a retomada de um relacionamento mais cordial e delicado. Ela chama de “captura de letárgicos” o processo de acordar alguém totalmente inebriado pela internet a se interessar pelo contato visual, físico, que se possa chamar de “pessoal” com o próximo.

É uma realidade o estrago que o mundo web trouxe para a convivência, sem excluir as vantagens hauridas quanto à possibilidade de comunicação a vencer longas distâncias e a trazer para perto, ao menos na telinha, pessoas que estão longe.

Denise é culta. Lê bastante. Durante os minutos em que entreteve centenas de registradores civis do Brasil todo, citou Brecht, de quem interpretou uma peça que permaneceu em cartaz durante quase três anos. Foi um treino para a constatação de que é preciso acordar grande parcela dos humanos, verdadeiramente absorvidos pelas redes sociais e incapazes de demonstrar sua afeição ou interesse por outros exemplares de sua espécie.

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Inconcebível que o instrumento favorecedor de multiplicação de contatos, seja também aquele que isola seu usuário, tornando-o o ser solitário a viver num arquipélago de solitários. O mundo da solidão digital, cada vez mais frio, egoísta e perdido.

Foi um passeio instigante pela literatura de Simone de Beauvoir, Clarice Lispector, Chico Buarque, além de obras recentes que ensinam a lidar com a ansiedade. Leitura obrigatória para todos, principalmente para os pais, já que o Brasil é a nação que mais padece de crises de ansiedade.

Olhar com bondade para o próximo, é obrigação de quem se considera civilizado. Já para quem escolheu uma carreira jurídica - e estas proliferam no país que possui mais faculdades de direito do que a soma de todas as outras existentes no restante do planeta - é um dever legal. Sim. A Constituição da República de 5.10.1988 adotou o princípio da dignidade da pessoa humana como o norteador de toda a vida pública e privada. Recusar-se a extrair desse supraprincípio consequências tão triviais como ser cordial, amistoso, fraterno com outros humanos, é descumprir o pacto fundante e trair o espírito da Constituição Cidadã.

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Denise Fraga ainda fez alusão interessante sobre o dístico “Ordem e Progresso”, insculpido em nosso pendão nacional. Extraído do pensamento positivista de Augusto Comte, foi amputado exatamente na parte que mais está fazendo falta aos brasileiros. Pois a frase correta era “Amor por princípio, ordem por base, progresso por resultado”. Ordem e Progresso pressupõem o amor escondido.

Tão escondido hoje, que é preciso contar com muitas outras atuações de Denise Fraga para despertar a letargia e mostrar aos humanos que sua permanência neste planeta é muito efêmera: algumas décadas, não mais. Façamos valer a pena esta dádiva que só fica melhor se levarmos a sério outro princípio constitucional: a fraternidade. O constituinte de 1988 teve a coragem de erigi-la à categoria jurídica. Isso merece consequências. Elas dependem de cada um de nós.

Assisti a uma apresentação de Denise Fraga, durante o 30º Conarci, Congresso Brasileiro de Registro Civil, realizado em Costão do Santinho, Santa Catarina. Ela foi convidada a falar sobre a urgência na disseminação de uma cultura da gentileza, tão em falta numa era em que a tecnologia permite tanta comunicação digital e tanta carência de polidez.

Ela é uma atriz talentosa e sua vivência propicia natural e simpática facilidade no entendimento criado com sua plateia. Fixou-se na profunda mutação do convívio provocada pelas tecnologias da comunicação e da informação. As telinhas nos comandam, nos manipulam e nos embrutecem. O fenômeno é tão avassalador e abrangente, que não merece a devida consideração.

Temos acesso à sabedoria universal, abrigada no potente acervo de informações que nunca foi tão completo e tão acessível, mas isso não tem servido para nos tornar mais humanos, mais humildes, mais compreensivos. Denise lembrou que as empresas contratam pelo capital cognitivo e despedem pela ausência de habilidades socioemocionais. De que adianta pós-doutorado se as pessoas não conseguem se relacionar com o semelhante, são insensíveis, cruéis e egoístas?

Fez narrativas interessantes de experiência pessoal, no seio da família, propondo estratégias para a retomada de um relacionamento mais cordial e delicado. Ela chama de “captura de letárgicos” o processo de acordar alguém totalmente inebriado pela internet a se interessar pelo contato visual, físico, que se possa chamar de “pessoal” com o próximo.

É uma realidade o estrago que o mundo web trouxe para a convivência, sem excluir as vantagens hauridas quanto à possibilidade de comunicação a vencer longas distâncias e a trazer para perto, ao menos na telinha, pessoas que estão longe.

Denise é culta. Lê bastante. Durante os minutos em que entreteve centenas de registradores civis do Brasil todo, citou Brecht, de quem interpretou uma peça que permaneceu em cartaz durante quase três anos. Foi um treino para a constatação de que é preciso acordar grande parcela dos humanos, verdadeiramente absorvidos pelas redes sociais e incapazes de demonstrar sua afeição ou interesse por outros exemplares de sua espécie.

Inconcebível que o instrumento favorecedor de multiplicação de contatos, seja também aquele que isola seu usuário, tornando-o o ser solitário a viver num arquipélago de solitários. O mundo da solidão digital, cada vez mais frio, egoísta e perdido.

Foi um passeio instigante pela literatura de Simone de Beauvoir, Clarice Lispector, Chico Buarque, além de obras recentes que ensinam a lidar com a ansiedade. Leitura obrigatória para todos, principalmente para os pais, já que o Brasil é a nação que mais padece de crises de ansiedade.

Olhar com bondade para o próximo, é obrigação de quem se considera civilizado. Já para quem escolheu uma carreira jurídica - e estas proliferam no país que possui mais faculdades de direito do que a soma de todas as outras existentes no restante do planeta - é um dever legal. Sim. A Constituição da República de 5.10.1988 adotou o princípio da dignidade da pessoa humana como o norteador de toda a vida pública e privada. Recusar-se a extrair desse supraprincípio consequências tão triviais como ser cordial, amistoso, fraterno com outros humanos, é descumprir o pacto fundante e trair o espírito da Constituição Cidadã.

Denise Fraga ainda fez alusão interessante sobre o dístico “Ordem e Progresso”, insculpido em nosso pendão nacional. Extraído do pensamento positivista de Augusto Comte, foi amputado exatamente na parte que mais está fazendo falta aos brasileiros. Pois a frase correta era “Amor por princípio, ordem por base, progresso por resultado”. Ordem e Progresso pressupõem o amor escondido.

Tão escondido hoje, que é preciso contar com muitas outras atuações de Denise Fraga para despertar a letargia e mostrar aos humanos que sua permanência neste planeta é muito efêmera: algumas décadas, não mais. Façamos valer a pena esta dádiva que só fica melhor se levarmos a sério outro princípio constitucional: a fraternidade. O constituinte de 1988 teve a coragem de erigi-la à categoria jurídica. Isso merece consequências. Elas dependem de cada um de nós.

Assisti a uma apresentação de Denise Fraga, durante o 30º Conarci, Congresso Brasileiro de Registro Civil, realizado em Costão do Santinho, Santa Catarina. Ela foi convidada a falar sobre a urgência na disseminação de uma cultura da gentileza, tão em falta numa era em que a tecnologia permite tanta comunicação digital e tanta carência de polidez.

Ela é uma atriz talentosa e sua vivência propicia natural e simpática facilidade no entendimento criado com sua plateia. Fixou-se na profunda mutação do convívio provocada pelas tecnologias da comunicação e da informação. As telinhas nos comandam, nos manipulam e nos embrutecem. O fenômeno é tão avassalador e abrangente, que não merece a devida consideração.

Temos acesso à sabedoria universal, abrigada no potente acervo de informações que nunca foi tão completo e tão acessível, mas isso não tem servido para nos tornar mais humanos, mais humildes, mais compreensivos. Denise lembrou que as empresas contratam pelo capital cognitivo e despedem pela ausência de habilidades socioemocionais. De que adianta pós-doutorado se as pessoas não conseguem se relacionar com o semelhante, são insensíveis, cruéis e egoístas?

Fez narrativas interessantes de experiência pessoal, no seio da família, propondo estratégias para a retomada de um relacionamento mais cordial e delicado. Ela chama de “captura de letárgicos” o processo de acordar alguém totalmente inebriado pela internet a se interessar pelo contato visual, físico, que se possa chamar de “pessoal” com o próximo.

É uma realidade o estrago que o mundo web trouxe para a convivência, sem excluir as vantagens hauridas quanto à possibilidade de comunicação a vencer longas distâncias e a trazer para perto, ao menos na telinha, pessoas que estão longe.

Denise é culta. Lê bastante. Durante os minutos em que entreteve centenas de registradores civis do Brasil todo, citou Brecht, de quem interpretou uma peça que permaneceu em cartaz durante quase três anos. Foi um treino para a constatação de que é preciso acordar grande parcela dos humanos, verdadeiramente absorvidos pelas redes sociais e incapazes de demonstrar sua afeição ou interesse por outros exemplares de sua espécie.

Inconcebível que o instrumento favorecedor de multiplicação de contatos, seja também aquele que isola seu usuário, tornando-o o ser solitário a viver num arquipélago de solitários. O mundo da solidão digital, cada vez mais frio, egoísta e perdido.

Foi um passeio instigante pela literatura de Simone de Beauvoir, Clarice Lispector, Chico Buarque, além de obras recentes que ensinam a lidar com a ansiedade. Leitura obrigatória para todos, principalmente para os pais, já que o Brasil é a nação que mais padece de crises de ansiedade.

Olhar com bondade para o próximo, é obrigação de quem se considera civilizado. Já para quem escolheu uma carreira jurídica - e estas proliferam no país que possui mais faculdades de direito do que a soma de todas as outras existentes no restante do planeta - é um dever legal. Sim. A Constituição da República de 5.10.1988 adotou o princípio da dignidade da pessoa humana como o norteador de toda a vida pública e privada. Recusar-se a extrair desse supraprincípio consequências tão triviais como ser cordial, amistoso, fraterno com outros humanos, é descumprir o pacto fundante e trair o espírito da Constituição Cidadã.

Denise Fraga ainda fez alusão interessante sobre o dístico “Ordem e Progresso”, insculpido em nosso pendão nacional. Extraído do pensamento positivista de Augusto Comte, foi amputado exatamente na parte que mais está fazendo falta aos brasileiros. Pois a frase correta era “Amor por princípio, ordem por base, progresso por resultado”. Ordem e Progresso pressupõem o amor escondido.

Tão escondido hoje, que é preciso contar com muitas outras atuações de Denise Fraga para despertar a letargia e mostrar aos humanos que sua permanência neste planeta é muito efêmera: algumas décadas, não mais. Façamos valer a pena esta dádiva que só fica melhor se levarmos a sério outro princípio constitucional: a fraternidade. O constituinte de 1988 teve a coragem de erigi-la à categoria jurídica. Isso merece consequências. Elas dependem de cada um de nós.

Opinião por José Renato Nalini

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