O Duque de Caxias, único Duque brasileiro, tem sua vida celebrada em inúmeros textos. Pouca gente sabe, contudo, que houve tempos em que militares brasileiros serviam em Montevidéu. Em 1826, ali estava a serviço o Capitão Luiz Alves de Lima e Silva, depois Senador do Império, Marechal do Exército e Duque de Caxias. Era uma bela estampa de oficial, jovem e ardente.
Durante sua permanência no Uruguai, frequentava a casa do regedor da cidade, D. Miguel Furriol, casado com Magdalena Gonçalez Luna e Zayas, Marquesa de Montes Claros. Era uma casa abastada e senhorial. Nela funcionava o salão social da época e ali os brasileiros eram bem recebidos.
O casal possuía uma filha, Angela, que era considerada de rara formosura. O futuro Duque foi tomado de amores pela Marquesinha. Começaram a namorar e iam ficar noivos quando irrompeu a guerra com a Argentina, cuja causa era a Banda Oriental e o Capitão Lima e Silva teve de partir de Montevidéu.
Logo em seguida, insurreições no Norte do Brasil fizeram com que Caxias tivesse de se entreter na luta e não conseguisse voltar ao Uruguai. Foi assim que o idílio feneceu.
Muitos anos depois, Caxias volta à capital da agora República Oriental do Uruguai. Retorna na condição de General, Conde de Caxias e Chefe das forças brasileiras nas operações contra a ditadura de Rosas. Era o ano de 1852. A Marquesa Angela se casara com o General Garzón, que falecera em 1851.
Tivera vários filhos, dentre os quais sobressaía Paulita, jovem de vinte anos, cuja beleza lhe fizera recordar a de sua amada Angela, ao tempo em que a conhecera e amara. Caxias voltou a frequentar a casa da Família Furriol e, solicitado a deixar no álbum de recordações de Paulita um texto-mensagem, escreveu, em 22 de março de 1852, toda uma poesia.
Eram tempos em que as moças possuíam álbuns. Neles colhiam poesias, elogios e recados afetivos de amigas e de pessoas que frequentavam suas casas. Vale a pena reproduzir uma poesia escrita pelo Duque de Caxias, então apenas Conde, onde está muito explicitada a afeição que devotou à mãe da moça que lhe pediu para escrever no álbum:
Lindo botão, bem conheço
A rosa de onde procedes:
Olha... e verás que inda hoje
Em beleza não n’a excedes.
No Pantanoso eu a vi
Inda tão bela e viçosa
Hoje o Pampeiro da vida
Dobra-lhe a fronte formosa
Não importa, inda eu a vejo
Com toda a nobreza e graça.
Que só o sepulcro extingue
Beldades que são de raça.
Lindo botão, deves ter
Justo desvanecimento
Por nasceres de uma rosa
De tanto merecimento.
Saberás que as flores têm
Sucessiva dinastia
E pertenceu sempre a rosa
À mais nobre hierarquia
Os espinhos que te cercam
Não são para te ferir
Simbolizam as virtudes
Que deves sempre seguir.
Servem para defender
Tua angélica beleza
Da ímpia mão, que pretenda
Manchar a tua pureza.
É óbvio que este poema apenas serviu de pretexto para um madrigal retrospectivo à sua mãe. Quem diria que o Duque de Caxias, eternizado em belo bronze de Rodolfo Bernardelli, teria um coração de jovem apaixonado, vinte anos depois de um romance frustrado?