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'Chamaram minha filha de escrava', diz mãe de aluna que denunciou grupo de apologia ao nazismo em escola de Valinhos


Em nota, o colégio afirma 'repúdio veemente a toda e qualquer forma de discriminação e preconceito' e que puniu com o desligamento os alunos autores das mensagens

Por Isabella Alonso Panho
De acordo com a advogada Thais Cremasco, o grupo foi criado logo após o segundo turno das eleições (Reprodução: Instagram)  

Na última sexta-feira, 4, oito alunos do Colégio Visconde de Porto Seguro, em Valinhos (cidade da região metropolitana de Campinas e a 90km da capital paulista) foram expulsos por veicularem mensagem racistas e de teor nazista em um grupo de Whatsapp. Segundo a mãe de um dos alunos que foi colocado no grupo, a advogada Thaís Cremasco, que levou o caso para a direção da escola, outras situações de racismo já aconteceram na unidade. "Minha filha foi chamada de 'escrava' esse ano", relata.

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No colégio, cujas mensalidades custam em torno de R$ 4.600, Thaís possui dois filhos matriculados: um adolescente de 15 e uma menina de 13. Os dois são negros.

A advogada publicou os prints do grupo na sua conta do Instagram (Reprodução: Instagram)  
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O caso ganhou repercussão e teve o apoio da presidente da OAB de São Paulo, Patricia Vanzolini, durante uma sessão do órgão na manhã desta segunda, 7.

De acordo com Thaís, o grupo de Whatsapp mudou de nome e continuou enviando mensagens ofensivas até a última quarta, 2. "Eu enxergo que simplesmente estou na defesa da democracia e da liberdade", diz a advogada.

Confira a íntegra da entrevista:

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ESTADÃO: Como você ficou sabendo do grupo de Whatsapp?

THAÍS CREMASCO: Nós estávamos assistindo ao resultado das eleições (no domingo, 30) e, enquanto meu filho recebia as mensagens e foi incluído no grupo do antipetismo, eu estava ao lado dele. Então eu vi tudo em tempo real.

 
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Até a última quarta-feira, 2, o grupo teria continuado enviando mensagens, compartilhando dados de professores que seriam 'petistas' (Reprodução: Whatsapp)  

ESTADÃO: Como a escola recebeu a situação?

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THAÍS CREMASCO: Já haviam acontecido outras situações de racismo. Quando o diretor da Escola diz que eu não denunciei, não é verdade. Eu tenho e-mails e gravação das minhas reuniões denunciando, por exemplo, o fato de minha filha ter passado meses almoçando e lanchando sozinha, porque nenhuma criança queria sentar com ela, porque o cabelo dela era 'feio'. Quando eu levei isso para a escola, eles não entenderam como racismo. A minha discussão foi justamente para fazê-los entender que ações como essas são racistas, que isso é uma violência contra ela. Como minha filha não quis que eu levasse isso adiante, por medo de perder as amigas, eu encerrei a denúncia. Mas a escola colocou panos quentes, 'ah, isso é bullying, isso acontece'. A minha filha foi chamada de 'escrava' esse ano na escola. O meu filho defendeu uma menina que estava sendo chamada de 'macaca' e a escola tentou demonstrar que ele estava exagerando na reação, colocando-o como errado, sendo que estava defendendo uma vítima. A escola precisa trabalhar um protocolo de antirracismo, para educar as crianças a não reproduzirem esse discurso, que é estrutural.

ESTADÃO: Quantos alunos estavam naquele grupo de Whatsapp?

THAÍS CREMASCO: São 32 participantes. Esse grupo depois virou um outro, que chamava 'sempre Bolsonaro'. Nesse grupo, ele passaram o telefone, CPF de professores e fizeram violência contra eles, no sentido de falar da condição social deles. Fizeram piadas gordofóbicas e homofóbicas, fizeram apologia à violência contra esses professores, porque entenderam que eles eram petistas. Isso ainda não está no boletim, mas eu tenho todas as provas.

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ESTADÃO: E esses alunos têm em média quantos anos?

THAÍS CREMASCO: Meu filho falou que entre 14 e 15 anos, sendo de várias salas.

 
De acordo com Thaís, o grupo mudou de nome e continuou disseminando mensagens com discurso de ódio (Reprodução: Whatsapp)  

ESTADÃO: Qual é a situação das denúncias?

THAÍS CREMASCO: Já existe uma denúncia no Ministério Público, que vai fazer uma investigação, há uma denúncia na Secretaria de Saúde, os órgãos alemães também foram notificados. Eu até dei uma entrevista para um jornal alemão ontem. Na Alemanha essa situação é levada muito mais a sério. Existe na escola um movimento entendendo os meus atos como odiosos. Como se eu estivesse 'polarizando'. Na verdade, eu enxergo que simplesmente estou na defesa da democracia e da liberdade.

'O CÓDIGO PENAL VALE PARA TODOS'

Alguns braços da Ordem dos Advogados do Brasil - a seccional de Valinhos e a de São Paulo - manifestaram repúdio às mensagens enviadas por alunos do Colégio Visconde de Porto Seguro.

A seccional afirmou que o conteúdo das mensagens é 'incompatível com os princípios constitucionais basilares' e prestou solidariedade aos adolescentes e à mãe.

Leia a íntegra da nota da OAB Valinhos:

Na sessão extraordinária do Conselho Pleno da OAB que ocorreu na manhã desta segunda-feira (7), a presidente a OAB São Paulo, Patricia Vanzolini, também se manifestou sobre o caso.

Durante sua fala, a presidente afirmou que 'as palavras doem, ferem e matam, e não podem ser proferidas com irresponsabilidade' e 'o Código Penal vale para todos. Ricos, pobres, negros e brancos'.

COM A PALAVRA, O COLÉGIO VISCONDE DE PORTO SEGURO

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Colégio Visconde de Porto Seguro indagando a respeito das alegações da advogada Thais Cremasco. Em resposta aos questionamentos da reportagem, a instituição reiterou a manifestação já publicada na última sexta-feira (4):

"O Colégio Visconde de Porto Seguro preceitua a todos os seus alunos, há mais de 140 anos, valores éticos e de respeito ao próximo, praticados e reforçados continuamente, da Educação Infantil ao Ensino Médio e Abitur, de forma a fortalecer o reconhecimento e valorização da diversidade.

Prosseguindo com a apuração das manifestações de alunos de nosso Colégio em redes sociais no início desta semana, reiteramos nossa consternação e indignação com o conteúdo de caráter racista, nazista e misógino de algumas dessas mensagens.

Reforçamos nosso repúdio veemente a toda e qualquer forma de discriminação e preconceito, os quais afetam diretamente nossos valores fundamentais. Nesse sentido, o Colégio aplicou aos alunos envolvidos as sanções disciplinares cabíveis nos termos do Regimento Escolar, inclusive a penalidade máxima prevista, que implica seu desligamento imediato desta instituição.

Considerando o atual contexto de intolerância e violência verificado em nossa sociedade, o qual se reflete nas famílias e grupos de amigos, em vista dos fatos recentes, o Colégio reforçará suas práticas antirracistas, de conscientização e respeito à diversidade, em todos os câmpus, abordando o assunto de forma ainda mais contundente em suas pautas cotidianas, com iniciativas envolvendo a comunidade escolar, inclusive com apoio de consultoria especializada, para procurar evitar a reincidência de uma situação gravíssima e inadmissível como essa.

Reiteramos nossa solidariedade e apreço a todos que foram ofendidos e continuaremos prestando o devido acolhimento aos alunos e famílias.

Seguiremos cumprindo a nossa missão de promover a educação e a cidadania, auxiliando nossos alunos no desenvolvimento da empatia e respeito ao outro, para a promoção de uma cultura de paz e tolerância mútua.

Contamos com o apoio muito próximo das famílias e dos alunos nessa caminhada, inclusive com o uso consciente das mídias sociais.

Colégio Visconde de Porto Seguro"

De acordo com a advogada Thais Cremasco, o grupo foi criado logo após o segundo turno das eleições (Reprodução: Instagram)  

Na última sexta-feira, 4, oito alunos do Colégio Visconde de Porto Seguro, em Valinhos (cidade da região metropolitana de Campinas e a 90km da capital paulista) foram expulsos por veicularem mensagem racistas e de teor nazista em um grupo de Whatsapp. Segundo a mãe de um dos alunos que foi colocado no grupo, a advogada Thaís Cremasco, que levou o caso para a direção da escola, outras situações de racismo já aconteceram na unidade. "Minha filha foi chamada de 'escrava' esse ano", relata.

No colégio, cujas mensalidades custam em torno de R$ 4.600, Thaís possui dois filhos matriculados: um adolescente de 15 e uma menina de 13. Os dois são negros.

A advogada publicou os prints do grupo na sua conta do Instagram (Reprodução: Instagram)  

O caso ganhou repercussão e teve o apoio da presidente da OAB de São Paulo, Patricia Vanzolini, durante uma sessão do órgão na manhã desta segunda, 7.

De acordo com Thaís, o grupo de Whatsapp mudou de nome e continuou enviando mensagens ofensivas até a última quarta, 2. "Eu enxergo que simplesmente estou na defesa da democracia e da liberdade", diz a advogada.

Confira a íntegra da entrevista:

ESTADÃO: Como você ficou sabendo do grupo de Whatsapp?

THAÍS CREMASCO: Nós estávamos assistindo ao resultado das eleições (no domingo, 30) e, enquanto meu filho recebia as mensagens e foi incluído no grupo do antipetismo, eu estava ao lado dele. Então eu vi tudo em tempo real.

 
Até a última quarta-feira, 2, o grupo teria continuado enviando mensagens, compartilhando dados de professores que seriam 'petistas' (Reprodução: Whatsapp)  

ESTADÃO: Como a escola recebeu a situação?

THAÍS CREMASCO: Já haviam acontecido outras situações de racismo. Quando o diretor da Escola diz que eu não denunciei, não é verdade. Eu tenho e-mails e gravação das minhas reuniões denunciando, por exemplo, o fato de minha filha ter passado meses almoçando e lanchando sozinha, porque nenhuma criança queria sentar com ela, porque o cabelo dela era 'feio'. Quando eu levei isso para a escola, eles não entenderam como racismo. A minha discussão foi justamente para fazê-los entender que ações como essas são racistas, que isso é uma violência contra ela. Como minha filha não quis que eu levasse isso adiante, por medo de perder as amigas, eu encerrei a denúncia. Mas a escola colocou panos quentes, 'ah, isso é bullying, isso acontece'. A minha filha foi chamada de 'escrava' esse ano na escola. O meu filho defendeu uma menina que estava sendo chamada de 'macaca' e a escola tentou demonstrar que ele estava exagerando na reação, colocando-o como errado, sendo que estava defendendo uma vítima. A escola precisa trabalhar um protocolo de antirracismo, para educar as crianças a não reproduzirem esse discurso, que é estrutural.

ESTADÃO: Quantos alunos estavam naquele grupo de Whatsapp?

THAÍS CREMASCO: São 32 participantes. Esse grupo depois virou um outro, que chamava 'sempre Bolsonaro'. Nesse grupo, ele passaram o telefone, CPF de professores e fizeram violência contra eles, no sentido de falar da condição social deles. Fizeram piadas gordofóbicas e homofóbicas, fizeram apologia à violência contra esses professores, porque entenderam que eles eram petistas. Isso ainda não está no boletim, mas eu tenho todas as provas.

ESTADÃO: E esses alunos têm em média quantos anos?

THAÍS CREMASCO: Meu filho falou que entre 14 e 15 anos, sendo de várias salas.

 
De acordo com Thaís, o grupo mudou de nome e continuou disseminando mensagens com discurso de ódio (Reprodução: Whatsapp)  

ESTADÃO: Qual é a situação das denúncias?

THAÍS CREMASCO: Já existe uma denúncia no Ministério Público, que vai fazer uma investigação, há uma denúncia na Secretaria de Saúde, os órgãos alemães também foram notificados. Eu até dei uma entrevista para um jornal alemão ontem. Na Alemanha essa situação é levada muito mais a sério. Existe na escola um movimento entendendo os meus atos como odiosos. Como se eu estivesse 'polarizando'. Na verdade, eu enxergo que simplesmente estou na defesa da democracia e da liberdade.

'O CÓDIGO PENAL VALE PARA TODOS'

Alguns braços da Ordem dos Advogados do Brasil - a seccional de Valinhos e a de São Paulo - manifestaram repúdio às mensagens enviadas por alunos do Colégio Visconde de Porto Seguro.

A seccional afirmou que o conteúdo das mensagens é 'incompatível com os princípios constitucionais basilares' e prestou solidariedade aos adolescentes e à mãe.

Leia a íntegra da nota da OAB Valinhos:

Na sessão extraordinária do Conselho Pleno da OAB que ocorreu na manhã desta segunda-feira (7), a presidente a OAB São Paulo, Patricia Vanzolini, também se manifestou sobre o caso.

Durante sua fala, a presidente afirmou que 'as palavras doem, ferem e matam, e não podem ser proferidas com irresponsabilidade' e 'o Código Penal vale para todos. Ricos, pobres, negros e brancos'.

COM A PALAVRA, O COLÉGIO VISCONDE DE PORTO SEGURO

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Colégio Visconde de Porto Seguro indagando a respeito das alegações da advogada Thais Cremasco. Em resposta aos questionamentos da reportagem, a instituição reiterou a manifestação já publicada na última sexta-feira (4):

"O Colégio Visconde de Porto Seguro preceitua a todos os seus alunos, há mais de 140 anos, valores éticos e de respeito ao próximo, praticados e reforçados continuamente, da Educação Infantil ao Ensino Médio e Abitur, de forma a fortalecer o reconhecimento e valorização da diversidade.

Prosseguindo com a apuração das manifestações de alunos de nosso Colégio em redes sociais no início desta semana, reiteramos nossa consternação e indignação com o conteúdo de caráter racista, nazista e misógino de algumas dessas mensagens.

Reforçamos nosso repúdio veemente a toda e qualquer forma de discriminação e preconceito, os quais afetam diretamente nossos valores fundamentais. Nesse sentido, o Colégio aplicou aos alunos envolvidos as sanções disciplinares cabíveis nos termos do Regimento Escolar, inclusive a penalidade máxima prevista, que implica seu desligamento imediato desta instituição.

Considerando o atual contexto de intolerância e violência verificado em nossa sociedade, o qual se reflete nas famílias e grupos de amigos, em vista dos fatos recentes, o Colégio reforçará suas práticas antirracistas, de conscientização e respeito à diversidade, em todos os câmpus, abordando o assunto de forma ainda mais contundente em suas pautas cotidianas, com iniciativas envolvendo a comunidade escolar, inclusive com apoio de consultoria especializada, para procurar evitar a reincidência de uma situação gravíssima e inadmissível como essa.

Reiteramos nossa solidariedade e apreço a todos que foram ofendidos e continuaremos prestando o devido acolhimento aos alunos e famílias.

Seguiremos cumprindo a nossa missão de promover a educação e a cidadania, auxiliando nossos alunos no desenvolvimento da empatia e respeito ao outro, para a promoção de uma cultura de paz e tolerância mútua.

Contamos com o apoio muito próximo das famílias e dos alunos nessa caminhada, inclusive com o uso consciente das mídias sociais.

Colégio Visconde de Porto Seguro"

De acordo com a advogada Thais Cremasco, o grupo foi criado logo após o segundo turno das eleições (Reprodução: Instagram)  

Na última sexta-feira, 4, oito alunos do Colégio Visconde de Porto Seguro, em Valinhos (cidade da região metropolitana de Campinas e a 90km da capital paulista) foram expulsos por veicularem mensagem racistas e de teor nazista em um grupo de Whatsapp. Segundo a mãe de um dos alunos que foi colocado no grupo, a advogada Thaís Cremasco, que levou o caso para a direção da escola, outras situações de racismo já aconteceram na unidade. "Minha filha foi chamada de 'escrava' esse ano", relata.

No colégio, cujas mensalidades custam em torno de R$ 4.600, Thaís possui dois filhos matriculados: um adolescente de 15 e uma menina de 13. Os dois são negros.

A advogada publicou os prints do grupo na sua conta do Instagram (Reprodução: Instagram)  

O caso ganhou repercussão e teve o apoio da presidente da OAB de São Paulo, Patricia Vanzolini, durante uma sessão do órgão na manhã desta segunda, 7.

De acordo com Thaís, o grupo de Whatsapp mudou de nome e continuou enviando mensagens ofensivas até a última quarta, 2. "Eu enxergo que simplesmente estou na defesa da democracia e da liberdade", diz a advogada.

Confira a íntegra da entrevista:

ESTADÃO: Como você ficou sabendo do grupo de Whatsapp?

THAÍS CREMASCO: Nós estávamos assistindo ao resultado das eleições (no domingo, 30) e, enquanto meu filho recebia as mensagens e foi incluído no grupo do antipetismo, eu estava ao lado dele. Então eu vi tudo em tempo real.

 
Até a última quarta-feira, 2, o grupo teria continuado enviando mensagens, compartilhando dados de professores que seriam 'petistas' (Reprodução: Whatsapp)  

ESTADÃO: Como a escola recebeu a situação?

THAÍS CREMASCO: Já haviam acontecido outras situações de racismo. Quando o diretor da Escola diz que eu não denunciei, não é verdade. Eu tenho e-mails e gravação das minhas reuniões denunciando, por exemplo, o fato de minha filha ter passado meses almoçando e lanchando sozinha, porque nenhuma criança queria sentar com ela, porque o cabelo dela era 'feio'. Quando eu levei isso para a escola, eles não entenderam como racismo. A minha discussão foi justamente para fazê-los entender que ações como essas são racistas, que isso é uma violência contra ela. Como minha filha não quis que eu levasse isso adiante, por medo de perder as amigas, eu encerrei a denúncia. Mas a escola colocou panos quentes, 'ah, isso é bullying, isso acontece'. A minha filha foi chamada de 'escrava' esse ano na escola. O meu filho defendeu uma menina que estava sendo chamada de 'macaca' e a escola tentou demonstrar que ele estava exagerando na reação, colocando-o como errado, sendo que estava defendendo uma vítima. A escola precisa trabalhar um protocolo de antirracismo, para educar as crianças a não reproduzirem esse discurso, que é estrutural.

ESTADÃO: Quantos alunos estavam naquele grupo de Whatsapp?

THAÍS CREMASCO: São 32 participantes. Esse grupo depois virou um outro, que chamava 'sempre Bolsonaro'. Nesse grupo, ele passaram o telefone, CPF de professores e fizeram violência contra eles, no sentido de falar da condição social deles. Fizeram piadas gordofóbicas e homofóbicas, fizeram apologia à violência contra esses professores, porque entenderam que eles eram petistas. Isso ainda não está no boletim, mas eu tenho todas as provas.

ESTADÃO: E esses alunos têm em média quantos anos?

THAÍS CREMASCO: Meu filho falou que entre 14 e 15 anos, sendo de várias salas.

 
De acordo com Thaís, o grupo mudou de nome e continuou disseminando mensagens com discurso de ódio (Reprodução: Whatsapp)  

ESTADÃO: Qual é a situação das denúncias?

THAÍS CREMASCO: Já existe uma denúncia no Ministério Público, que vai fazer uma investigação, há uma denúncia na Secretaria de Saúde, os órgãos alemães também foram notificados. Eu até dei uma entrevista para um jornal alemão ontem. Na Alemanha essa situação é levada muito mais a sério. Existe na escola um movimento entendendo os meus atos como odiosos. Como se eu estivesse 'polarizando'. Na verdade, eu enxergo que simplesmente estou na defesa da democracia e da liberdade.

'O CÓDIGO PENAL VALE PARA TODOS'

Alguns braços da Ordem dos Advogados do Brasil - a seccional de Valinhos e a de São Paulo - manifestaram repúdio às mensagens enviadas por alunos do Colégio Visconde de Porto Seguro.

A seccional afirmou que o conteúdo das mensagens é 'incompatível com os princípios constitucionais basilares' e prestou solidariedade aos adolescentes e à mãe.

Leia a íntegra da nota da OAB Valinhos:

Na sessão extraordinária do Conselho Pleno da OAB que ocorreu na manhã desta segunda-feira (7), a presidente a OAB São Paulo, Patricia Vanzolini, também se manifestou sobre o caso.

Durante sua fala, a presidente afirmou que 'as palavras doem, ferem e matam, e não podem ser proferidas com irresponsabilidade' e 'o Código Penal vale para todos. Ricos, pobres, negros e brancos'.

COM A PALAVRA, O COLÉGIO VISCONDE DE PORTO SEGURO

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Colégio Visconde de Porto Seguro indagando a respeito das alegações da advogada Thais Cremasco. Em resposta aos questionamentos da reportagem, a instituição reiterou a manifestação já publicada na última sexta-feira (4):

"O Colégio Visconde de Porto Seguro preceitua a todos os seus alunos, há mais de 140 anos, valores éticos e de respeito ao próximo, praticados e reforçados continuamente, da Educação Infantil ao Ensino Médio e Abitur, de forma a fortalecer o reconhecimento e valorização da diversidade.

Prosseguindo com a apuração das manifestações de alunos de nosso Colégio em redes sociais no início desta semana, reiteramos nossa consternação e indignação com o conteúdo de caráter racista, nazista e misógino de algumas dessas mensagens.

Reforçamos nosso repúdio veemente a toda e qualquer forma de discriminação e preconceito, os quais afetam diretamente nossos valores fundamentais. Nesse sentido, o Colégio aplicou aos alunos envolvidos as sanções disciplinares cabíveis nos termos do Regimento Escolar, inclusive a penalidade máxima prevista, que implica seu desligamento imediato desta instituição.

Considerando o atual contexto de intolerância e violência verificado em nossa sociedade, o qual se reflete nas famílias e grupos de amigos, em vista dos fatos recentes, o Colégio reforçará suas práticas antirracistas, de conscientização e respeito à diversidade, em todos os câmpus, abordando o assunto de forma ainda mais contundente em suas pautas cotidianas, com iniciativas envolvendo a comunidade escolar, inclusive com apoio de consultoria especializada, para procurar evitar a reincidência de uma situação gravíssima e inadmissível como essa.

Reiteramos nossa solidariedade e apreço a todos que foram ofendidos e continuaremos prestando o devido acolhimento aos alunos e famílias.

Seguiremos cumprindo a nossa missão de promover a educação e a cidadania, auxiliando nossos alunos no desenvolvimento da empatia e respeito ao outro, para a promoção de uma cultura de paz e tolerância mútua.

Contamos com o apoio muito próximo das famílias e dos alunos nessa caminhada, inclusive com o uso consciente das mídias sociais.

Colégio Visconde de Porto Seguro"

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