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Opinião|Chances de cura do câncer de mama chegam a 95% com diagnóstico e tratamento precoces


No mês de conscientização sobre esse tumor, é preciso enfatizar a necessidade de identificação da doença na fase inicial para que os pacientes tenham um bom prognóstico, podendo viver mais e melhor

Por Antonio Carlos Buzaid*
Antonio Carlos Buzaid Foto: Divulgação

Uma massa saliente no peito – assim Imhotep, cirugião médico egípcio que viveu em torno de 2624 a.C, teria descrito o câncer, e, particularmente o de mama, como uma doença distinta pela primeira vez na história, de acordo com o médico indiano Siddarhtha Mukherjee, autor do livro O Imperador de Todos os Males, Uma Biografia do Câncer (Companhia das Letras). Na seção intitulada terapia, ainda segundo Mukherjee, haveria apenas uma frase: “Não existe”. Com essa admissão de impotência, nas palavras do escritor, o câncer praticamente desapareceu da história da medicina antiga por um longo tempo. Milênios depois, a realidade é outra.

Os avanços têm sido imensuráveis nas últimas décadas em termos de tratamento, seja cirúrgico ou medicamentoso, sobretudo quando o diagnóstico é precoce e são adotadas as estratégias terapêuticas mais indicadas para cada caso específico. Para ter uma ideia, quando identificado na fase inicial, as chances de cura do câncer de mama chegam a 95%. Além disso, as opções terapêuticas tendem a ser menos agressivas. Algo sem dúvida a ser celebrado no Outubro Rosa, o mês de conscientização sobre a doença.

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Mas os tumores mamários ainda representam um desafio para a saúde, sobretudo das brasileiras. O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no país, excluindo-se os tumores de pele não melanoma. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram estimados 73.610 novos casos para o triênio de 2023 a 2025. Além disso, ainda segundo o INCA, é a primeira causa de morte por câncer na população feminina em todas as regiões do Brasil, exceto na região Norte.

Para efeitos práticos, há três tipos de câncer de mama: o luminal, que tem receptores hormonais presentes e não tem a proteína HER-2 em excesso; o HER-2 positivo, que tem a proteína HER-2 em excesso; e o triplo negativo, que não tem receptor de estrógeno, progesterona e a proteína HER-2 presentes (por isso o nome triplo negativo). O subtipo luminal é o mais comum de câncer de mama, chegando a 70% dos diagnósticos. O tratamento padrão para esses casos é a chamada terapia endócrina ou hormonal.

A boa notícia é que, mais recentemente, com o maior entendimento acerca da biologia dos tumores de mama luminais, outras opções de tratamento foram sendo descobertas e aprovadas, o que tem aumentado o arsenal disponível para nós médicos fazermos a indicação mais adequada para cada paciente. Neste cenário, a aprovação da classe de medicamentos chamada de inibidores de ciclina quinase (iCDK) 4/6 para o tratamento de câncer de mama metastático em 2015 e inicial em 2021 mudou o manejo destes tumores para a grande maioria das pacientes. Utilizados de forma oral, os iCDK 4/6 têm ajudado os pacientes a viverem mais, com menos recaídas e com um perfil de efeitos colaterais aceitável.

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Dentre os iCDK4/6 aprovados hoje no Brasil, o abemaciclibe é o primeiro e único da classe aprovado para o câncer de mama luminal precoce linfonodo positivo com alto risco de recorrência. Abemaciclibe também está aprovado para o tratamento do câncer de mama luminal metastático. O estudo clínico monarchE vem avaliando de perto mais de 5 mil pacientes com câncer de mama luminal inicial linfonodo positivo de alto risco de recorrência. Neste estudo, o abemaciclibe foi administrado durante 2 anos, e os dados atualizados após 4 anos têm demonstrado que a medicação, em associação com a terapia hormonal, foi capaz de diminuir o risco de recorrência em 34%. Levando em consideração que 100% das pacientes já finalizaram o período de tratamento de 2 anos, podemos concluir que abemaciclibe tem diminuído significativamente a chance da doença retornar, mesmo depois do fim da terapia.

Este estudo também avaliou a qualidade de vida dos pacientes aos 3, 6, 12, 18 e 24 meses do tratamento. Nesse quesito, os dados foram semelhantes para pacientes que receberam abemaciclibe e terapia hormonal e o grupo restrito à terapia hormonal, mostrando que o uso de abemaciclibe não piorou a qualidade de vida das pacientes em relação àquelas apenas em uso de terapia hormonal. Vale ressaltar que os benefícios deste medicamento foram mantidos independentemente das pacientes terem mais ou menos de 65 anos.

O abemaciclibe ainda não é coberto pelos planos de saúde para câncer de mama inicial. Neste Outubro Rosa, em uma daquelas boas coincidências da vida, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) abriu a consulta pública de n° 118, que avalia a cobertura obrigatória do medicamento como opção de tratamento para esse tipo de tumor pelos convênios. A recomendação preliminar da ANS foi pela não incorporação de abemaciclibe ao rol. A consulta pública ficará aberta até o dia 24/10, e é importante que todos, familiares de pacientes, profissionais de saúde e a população em geral, participem para ampliar o acesso a terapias inovadoras. Afinal, 25% da população brasileira tem plano de saúde. Por isso, sua opinião na consulta pública é imprescindível para que os pacientes de câncer de mama possam viver mais e melhor.

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*Antonio Carlos Buzaid, diretor médico do Centro de Oncologia da BP

Antonio Carlos Buzaid Foto: Divulgação

Uma massa saliente no peito – assim Imhotep, cirugião médico egípcio que viveu em torno de 2624 a.C, teria descrito o câncer, e, particularmente o de mama, como uma doença distinta pela primeira vez na história, de acordo com o médico indiano Siddarhtha Mukherjee, autor do livro O Imperador de Todos os Males, Uma Biografia do Câncer (Companhia das Letras). Na seção intitulada terapia, ainda segundo Mukherjee, haveria apenas uma frase: “Não existe”. Com essa admissão de impotência, nas palavras do escritor, o câncer praticamente desapareceu da história da medicina antiga por um longo tempo. Milênios depois, a realidade é outra.

Os avanços têm sido imensuráveis nas últimas décadas em termos de tratamento, seja cirúrgico ou medicamentoso, sobretudo quando o diagnóstico é precoce e são adotadas as estratégias terapêuticas mais indicadas para cada caso específico. Para ter uma ideia, quando identificado na fase inicial, as chances de cura do câncer de mama chegam a 95%. Além disso, as opções terapêuticas tendem a ser menos agressivas. Algo sem dúvida a ser celebrado no Outubro Rosa, o mês de conscientização sobre a doença.

Mas os tumores mamários ainda representam um desafio para a saúde, sobretudo das brasileiras. O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no país, excluindo-se os tumores de pele não melanoma. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram estimados 73.610 novos casos para o triênio de 2023 a 2025. Além disso, ainda segundo o INCA, é a primeira causa de morte por câncer na população feminina em todas as regiões do Brasil, exceto na região Norte.

Para efeitos práticos, há três tipos de câncer de mama: o luminal, que tem receptores hormonais presentes e não tem a proteína HER-2 em excesso; o HER-2 positivo, que tem a proteína HER-2 em excesso; e o triplo negativo, que não tem receptor de estrógeno, progesterona e a proteína HER-2 presentes (por isso o nome triplo negativo). O subtipo luminal é o mais comum de câncer de mama, chegando a 70% dos diagnósticos. O tratamento padrão para esses casos é a chamada terapia endócrina ou hormonal.

A boa notícia é que, mais recentemente, com o maior entendimento acerca da biologia dos tumores de mama luminais, outras opções de tratamento foram sendo descobertas e aprovadas, o que tem aumentado o arsenal disponível para nós médicos fazermos a indicação mais adequada para cada paciente. Neste cenário, a aprovação da classe de medicamentos chamada de inibidores de ciclina quinase (iCDK) 4/6 para o tratamento de câncer de mama metastático em 2015 e inicial em 2021 mudou o manejo destes tumores para a grande maioria das pacientes. Utilizados de forma oral, os iCDK 4/6 têm ajudado os pacientes a viverem mais, com menos recaídas e com um perfil de efeitos colaterais aceitável.

Dentre os iCDK4/6 aprovados hoje no Brasil, o abemaciclibe é o primeiro e único da classe aprovado para o câncer de mama luminal precoce linfonodo positivo com alto risco de recorrência. Abemaciclibe também está aprovado para o tratamento do câncer de mama luminal metastático. O estudo clínico monarchE vem avaliando de perto mais de 5 mil pacientes com câncer de mama luminal inicial linfonodo positivo de alto risco de recorrência. Neste estudo, o abemaciclibe foi administrado durante 2 anos, e os dados atualizados após 4 anos têm demonstrado que a medicação, em associação com a terapia hormonal, foi capaz de diminuir o risco de recorrência em 34%. Levando em consideração que 100% das pacientes já finalizaram o período de tratamento de 2 anos, podemos concluir que abemaciclibe tem diminuído significativamente a chance da doença retornar, mesmo depois do fim da terapia.

Este estudo também avaliou a qualidade de vida dos pacientes aos 3, 6, 12, 18 e 24 meses do tratamento. Nesse quesito, os dados foram semelhantes para pacientes que receberam abemaciclibe e terapia hormonal e o grupo restrito à terapia hormonal, mostrando que o uso de abemaciclibe não piorou a qualidade de vida das pacientes em relação àquelas apenas em uso de terapia hormonal. Vale ressaltar que os benefícios deste medicamento foram mantidos independentemente das pacientes terem mais ou menos de 65 anos.

O abemaciclibe ainda não é coberto pelos planos de saúde para câncer de mama inicial. Neste Outubro Rosa, em uma daquelas boas coincidências da vida, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) abriu a consulta pública de n° 118, que avalia a cobertura obrigatória do medicamento como opção de tratamento para esse tipo de tumor pelos convênios. A recomendação preliminar da ANS foi pela não incorporação de abemaciclibe ao rol. A consulta pública ficará aberta até o dia 24/10, e é importante que todos, familiares de pacientes, profissionais de saúde e a população em geral, participem para ampliar o acesso a terapias inovadoras. Afinal, 25% da população brasileira tem plano de saúde. Por isso, sua opinião na consulta pública é imprescindível para que os pacientes de câncer de mama possam viver mais e melhor.

*Antonio Carlos Buzaid, diretor médico do Centro de Oncologia da BP

Antonio Carlos Buzaid Foto: Divulgação

Uma massa saliente no peito – assim Imhotep, cirugião médico egípcio que viveu em torno de 2624 a.C, teria descrito o câncer, e, particularmente o de mama, como uma doença distinta pela primeira vez na história, de acordo com o médico indiano Siddarhtha Mukherjee, autor do livro O Imperador de Todos os Males, Uma Biografia do Câncer (Companhia das Letras). Na seção intitulada terapia, ainda segundo Mukherjee, haveria apenas uma frase: “Não existe”. Com essa admissão de impotência, nas palavras do escritor, o câncer praticamente desapareceu da história da medicina antiga por um longo tempo. Milênios depois, a realidade é outra.

Os avanços têm sido imensuráveis nas últimas décadas em termos de tratamento, seja cirúrgico ou medicamentoso, sobretudo quando o diagnóstico é precoce e são adotadas as estratégias terapêuticas mais indicadas para cada caso específico. Para ter uma ideia, quando identificado na fase inicial, as chances de cura do câncer de mama chegam a 95%. Além disso, as opções terapêuticas tendem a ser menos agressivas. Algo sem dúvida a ser celebrado no Outubro Rosa, o mês de conscientização sobre a doença.

Mas os tumores mamários ainda representam um desafio para a saúde, sobretudo das brasileiras. O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no país, excluindo-se os tumores de pele não melanoma. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram estimados 73.610 novos casos para o triênio de 2023 a 2025. Além disso, ainda segundo o INCA, é a primeira causa de morte por câncer na população feminina em todas as regiões do Brasil, exceto na região Norte.

Para efeitos práticos, há três tipos de câncer de mama: o luminal, que tem receptores hormonais presentes e não tem a proteína HER-2 em excesso; o HER-2 positivo, que tem a proteína HER-2 em excesso; e o triplo negativo, que não tem receptor de estrógeno, progesterona e a proteína HER-2 presentes (por isso o nome triplo negativo). O subtipo luminal é o mais comum de câncer de mama, chegando a 70% dos diagnósticos. O tratamento padrão para esses casos é a chamada terapia endócrina ou hormonal.

A boa notícia é que, mais recentemente, com o maior entendimento acerca da biologia dos tumores de mama luminais, outras opções de tratamento foram sendo descobertas e aprovadas, o que tem aumentado o arsenal disponível para nós médicos fazermos a indicação mais adequada para cada paciente. Neste cenário, a aprovação da classe de medicamentos chamada de inibidores de ciclina quinase (iCDK) 4/6 para o tratamento de câncer de mama metastático em 2015 e inicial em 2021 mudou o manejo destes tumores para a grande maioria das pacientes. Utilizados de forma oral, os iCDK 4/6 têm ajudado os pacientes a viverem mais, com menos recaídas e com um perfil de efeitos colaterais aceitável.

Dentre os iCDK4/6 aprovados hoje no Brasil, o abemaciclibe é o primeiro e único da classe aprovado para o câncer de mama luminal precoce linfonodo positivo com alto risco de recorrência. Abemaciclibe também está aprovado para o tratamento do câncer de mama luminal metastático. O estudo clínico monarchE vem avaliando de perto mais de 5 mil pacientes com câncer de mama luminal inicial linfonodo positivo de alto risco de recorrência. Neste estudo, o abemaciclibe foi administrado durante 2 anos, e os dados atualizados após 4 anos têm demonstrado que a medicação, em associação com a terapia hormonal, foi capaz de diminuir o risco de recorrência em 34%. Levando em consideração que 100% das pacientes já finalizaram o período de tratamento de 2 anos, podemos concluir que abemaciclibe tem diminuído significativamente a chance da doença retornar, mesmo depois do fim da terapia.

Este estudo também avaliou a qualidade de vida dos pacientes aos 3, 6, 12, 18 e 24 meses do tratamento. Nesse quesito, os dados foram semelhantes para pacientes que receberam abemaciclibe e terapia hormonal e o grupo restrito à terapia hormonal, mostrando que o uso de abemaciclibe não piorou a qualidade de vida das pacientes em relação àquelas apenas em uso de terapia hormonal. Vale ressaltar que os benefícios deste medicamento foram mantidos independentemente das pacientes terem mais ou menos de 65 anos.

O abemaciclibe ainda não é coberto pelos planos de saúde para câncer de mama inicial. Neste Outubro Rosa, em uma daquelas boas coincidências da vida, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) abriu a consulta pública de n° 118, que avalia a cobertura obrigatória do medicamento como opção de tratamento para esse tipo de tumor pelos convênios. A recomendação preliminar da ANS foi pela não incorporação de abemaciclibe ao rol. A consulta pública ficará aberta até o dia 24/10, e é importante que todos, familiares de pacientes, profissionais de saúde e a população em geral, participem para ampliar o acesso a terapias inovadoras. Afinal, 25% da população brasileira tem plano de saúde. Por isso, sua opinião na consulta pública é imprescindível para que os pacientes de câncer de mama possam viver mais e melhor.

*Antonio Carlos Buzaid, diretor médico do Centro de Oncologia da BP

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