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Chocolates, eletrônicos, higiene pessoal; PF diz como antiga cúpula da Americanas simulava créditos


Operação Disclosure, investigação sobre fraudes de R$ 25,3 bilhões na varejista, indica que ex-executivos elaboravam documentos falsos em nome de fornecedoras de peso para alterar balanço

Por Pepita Ortega e Fausto Macedo
Operação Disclosure Foto: Polícia Federal

Ao dissecar como a antiga cúpula das Lojas Americanas teria operado fraudes contábeis de R$ 25,3 bilhões, a Polícia Federal descobriu que ex-executivos da varejista elaboraram documentos falsos em nome de fornecedoras de chocolates, equipamentos eletrônicos e produtos de higiene pessoal para simular créditos no balanço da empresa.

As cartas fraudulentas eram emitidas em nome de grandes marcas, como Nestlé, Multilaser e Colgate, visando maquiar dados perante auditorias externas. Essas empresas e seus executivos não são alvo de investigação.

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Os envolvidos na operacionalização da fraude se preocupavam até com a posição das assinaturas nas cartas fictícias, aponta o inquérito da Operação Disclosure.

Os achados constam da representação de quase 200 páginas em que a Polícia Federal pediu aval para cumprir uma série de diligências contra ex-executivos das Americanas.

Com aval da Justiça Federal do Rio de Janeiro, a PF foi às ruas na quinta, 27, para executar as medidas, incluindo a prisão do ex-CEO Miguel Gutierrez e da ex-diretora Anna Saicali. O ex-CEO foi preso em Madri, mas solto em seguida. Ele nega ligação com desvios. Anna entregou-se em Lisboa e retornou ao Brasil, mas também não ficou detida. O Estadão busca manifestação de sua defesa.

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Segundo os investigadores, uma das formas de a antiga diretoria da Americanas operar as fraudes contábeis era por meio do registro de cartas de VPC fictícias. A sigla se refere a Verbas de Propaganda Cooperada e trata da prática de um fornecedor conceder créditos ao varejista por razões variadas, como a inclusão de produtos em materiais promocionais.

Nesses casos, o fornecedor concede ao comerciante um crédito e então esse valor pode ser usado para abater dívidas ou pode até ser recebido por meio de depósito bancário, resultando em melhora no resultado financeiro da empresa.

No caso da Americanas, os delatores indicam que eram criadas cartas falsas para justificar os lançamentos contábeis fraudulentos. Como se os créditos fossem inventados. Os documentos forjados eram produzidos apenas para apresentação a uma eventual auditoria externa.

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Os investigadores apontam que, com o passar do tempo, a manipulação de valores via as cartas VPC foi se tornando mais sofisticada e passou a incluir detalhamentos por fornecedor e por documentos individuais, para “dispersar ainda mais os registros fraudulentos”.

De acordo com a PF, e-mails indicam que o expediente fraudulento das cartas foi usado ao menos ao longo de dez anos, entre 2013 e 2022.

Os investigados se referiam às cartas falsas como cartas “B”, diz a PF. Ainda de acordo com os investigadores, a antiga cúpula da Americanas usava a expressão “arrecadação complementar” para se referir à fraude de usar cartas falsas para “chegar nos resultados almejados pelos diretores, que, por sua vez, buscavam atingir as expectativas do mercado”.

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O delator Marcelo Nunes também confirmou a emissão das cartas falsas. Segundo ele, os fornecedores não tinham noção que os e-mails das cartas de VPC eram alterados. O ex-executivo narrou ainda como as alterações se davam: pegava-se uma carta verdadeira e então eram modificadas as datas e os valores, mantendo os dados cadastrais.

A confecção dos documentos era realizada pela área de Suporte Comercial das Lojas Americanas, diz a PF. A corporação diz que a ex-gestora do núcleo, Christina Nascimento, tinha conhecimento da existência dos documentos fictícios e supervisionava as tarefas de sua subordinada Paula Farias.

Era Paula quem elaborava as cartas falsas, afirmam os investigadores. Em seguida, os documentos eram revisados pelos times de suporte comercial, liderados por Christina, e de contabilidade, liberados pela delatora Flávia Carneiro.

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Operação Disclosure Foto: Polícia Federal

De acordo com a PF, a partir de uma seleção da auditoria, as cartas de VPC falsas eram geradas a partir de arquivos de cartas originais. As assinaturas eram recortadas e inseridas nos documentos forjados, os quais eram transformados em arquivos PDF para que os recortes não ficassem aparentes, aponta a corporação.

A Polícia Federal diz ter encontrado diálogos entre Christina e Paula que comprovariam as fraudes. Nas mensagens, são citadas fornecedoras como a Colgate, Multilaser, Loreal, Nestlé e Mondelez - a PF não investiga essas empresas nem seus executivos.

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Em um diálogo é discutido que as cartas supostamente ligadas à Colgate e à Multilaser têm “assinaturas idênticas”, na “mesmíssima posição na linha e no mesmo enquadramento”.

Segundo o print, Christina diz a Paula, neste caso: “Embora seja a mesma pessoa (que assina a carta) ele não posicionaria a assinatura exatamente igual na linha destinada à assinatura. Me ajuda! Preciso sanar isso hoje”.

Operação Disclosure Foto: Polícia Federal
Operação Disclosure Foto: Polícia Federal

‘Gol de placa’

Os ex-chefes da companhia sabiam da prática, diz a PF, inclusive o ex-CEO Miguel Gutierrez. A corporação dá ênfase a conversas entre um ex-executivo sob suspeita, o ex-diretor José Timotheo Barros, e a delatora Flávia. Nos diálogos, Timotheo diz que o então CEO Miguel “estava muito interessado em ver o retorno das despesas no resultado”.

Em outro momento, Timotheo fala especificamente das cartas VPC ao repassar à delatora uma dúvida de Miguel Gutierrez. Em meio à discussão sobre a emissão das cartas falsas, Timotheo questiona se, para o trimestre seguinte, eles “conseguiriam um pouco mais”. Ele obteve uma resposta positiva da delatora e respondeu: “Seria ótimo. Gol de placa”.

Operação Disclosure Foto: Polícia Federal
Operação Disclosure Foto: Polícia Federal

Ao dissecar como a antiga cúpula das Lojas Americanas teria operado fraudes contábeis de R$ 25,3 bilhões, a Polícia Federal descobriu que ex-executivos da varejista elaboraram documentos falsos em nome de fornecedoras de chocolates, equipamentos eletrônicos e produtos de higiene pessoal para simular créditos no balanço da empresa.

As cartas fraudulentas eram emitidas em nome de grandes marcas, como Nestlé, Multilaser e Colgate, visando maquiar dados perante auditorias externas. Essas empresas e seus executivos não são alvo de investigação.

Os envolvidos na operacionalização da fraude se preocupavam até com a posição das assinaturas nas cartas fictícias, aponta o inquérito da Operação Disclosure.

Os achados constam da representação de quase 200 páginas em que a Polícia Federal pediu aval para cumprir uma série de diligências contra ex-executivos das Americanas.

Com aval da Justiça Federal do Rio de Janeiro, a PF foi às ruas na quinta, 27, para executar as medidas, incluindo a prisão do ex-CEO Miguel Gutierrez e da ex-diretora Anna Saicali. O ex-CEO foi preso em Madri, mas solto em seguida. Ele nega ligação com desvios. Anna entregou-se em Lisboa e retornou ao Brasil, mas também não ficou detida. O Estadão busca manifestação de sua defesa.

Segundo os investigadores, uma das formas de a antiga diretoria da Americanas operar as fraudes contábeis era por meio do registro de cartas de VPC fictícias. A sigla se refere a Verbas de Propaganda Cooperada e trata da prática de um fornecedor conceder créditos ao varejista por razões variadas, como a inclusão de produtos em materiais promocionais.

Nesses casos, o fornecedor concede ao comerciante um crédito e então esse valor pode ser usado para abater dívidas ou pode até ser recebido por meio de depósito bancário, resultando em melhora no resultado financeiro da empresa.

No caso da Americanas, os delatores indicam que eram criadas cartas falsas para justificar os lançamentos contábeis fraudulentos. Como se os créditos fossem inventados. Os documentos forjados eram produzidos apenas para apresentação a uma eventual auditoria externa.

Os investigadores apontam que, com o passar do tempo, a manipulação de valores via as cartas VPC foi se tornando mais sofisticada e passou a incluir detalhamentos por fornecedor e por documentos individuais, para “dispersar ainda mais os registros fraudulentos”.

De acordo com a PF, e-mails indicam que o expediente fraudulento das cartas foi usado ao menos ao longo de dez anos, entre 2013 e 2022.

Os investigados se referiam às cartas falsas como cartas “B”, diz a PF. Ainda de acordo com os investigadores, a antiga cúpula da Americanas usava a expressão “arrecadação complementar” para se referir à fraude de usar cartas falsas para “chegar nos resultados almejados pelos diretores, que, por sua vez, buscavam atingir as expectativas do mercado”.

O delator Marcelo Nunes também confirmou a emissão das cartas falsas. Segundo ele, os fornecedores não tinham noção que os e-mails das cartas de VPC eram alterados. O ex-executivo narrou ainda como as alterações se davam: pegava-se uma carta verdadeira e então eram modificadas as datas e os valores, mantendo os dados cadastrais.

A confecção dos documentos era realizada pela área de Suporte Comercial das Lojas Americanas, diz a PF. A corporação diz que a ex-gestora do núcleo, Christina Nascimento, tinha conhecimento da existência dos documentos fictícios e supervisionava as tarefas de sua subordinada Paula Farias.

Era Paula quem elaborava as cartas falsas, afirmam os investigadores. Em seguida, os documentos eram revisados pelos times de suporte comercial, liderados por Christina, e de contabilidade, liberados pela delatora Flávia Carneiro.

Operação Disclosure Foto: Polícia Federal

De acordo com a PF, a partir de uma seleção da auditoria, as cartas de VPC falsas eram geradas a partir de arquivos de cartas originais. As assinaturas eram recortadas e inseridas nos documentos forjados, os quais eram transformados em arquivos PDF para que os recortes não ficassem aparentes, aponta a corporação.

A Polícia Federal diz ter encontrado diálogos entre Christina e Paula que comprovariam as fraudes. Nas mensagens, são citadas fornecedoras como a Colgate, Multilaser, Loreal, Nestlé e Mondelez - a PF não investiga essas empresas nem seus executivos.

Em um diálogo é discutido que as cartas supostamente ligadas à Colgate e à Multilaser têm “assinaturas idênticas”, na “mesmíssima posição na linha e no mesmo enquadramento”.

Segundo o print, Christina diz a Paula, neste caso: “Embora seja a mesma pessoa (que assina a carta) ele não posicionaria a assinatura exatamente igual na linha destinada à assinatura. Me ajuda! Preciso sanar isso hoje”.

Operação Disclosure Foto: Polícia Federal
Operação Disclosure Foto: Polícia Federal

‘Gol de placa’

Os ex-chefes da companhia sabiam da prática, diz a PF, inclusive o ex-CEO Miguel Gutierrez. A corporação dá ênfase a conversas entre um ex-executivo sob suspeita, o ex-diretor José Timotheo Barros, e a delatora Flávia. Nos diálogos, Timotheo diz que o então CEO Miguel “estava muito interessado em ver o retorno das despesas no resultado”.

Em outro momento, Timotheo fala especificamente das cartas VPC ao repassar à delatora uma dúvida de Miguel Gutierrez. Em meio à discussão sobre a emissão das cartas falsas, Timotheo questiona se, para o trimestre seguinte, eles “conseguiriam um pouco mais”. Ele obteve uma resposta positiva da delatora e respondeu: “Seria ótimo. Gol de placa”.

Operação Disclosure Foto: Polícia Federal
Operação Disclosure Foto: Polícia Federal

Ao dissecar como a antiga cúpula das Lojas Americanas teria operado fraudes contábeis de R$ 25,3 bilhões, a Polícia Federal descobriu que ex-executivos da varejista elaboraram documentos falsos em nome de fornecedoras de chocolates, equipamentos eletrônicos e produtos de higiene pessoal para simular créditos no balanço da empresa.

As cartas fraudulentas eram emitidas em nome de grandes marcas, como Nestlé, Multilaser e Colgate, visando maquiar dados perante auditorias externas. Essas empresas e seus executivos não são alvo de investigação.

Os envolvidos na operacionalização da fraude se preocupavam até com a posição das assinaturas nas cartas fictícias, aponta o inquérito da Operação Disclosure.

Os achados constam da representação de quase 200 páginas em que a Polícia Federal pediu aval para cumprir uma série de diligências contra ex-executivos das Americanas.

Com aval da Justiça Federal do Rio de Janeiro, a PF foi às ruas na quinta, 27, para executar as medidas, incluindo a prisão do ex-CEO Miguel Gutierrez e da ex-diretora Anna Saicali. O ex-CEO foi preso em Madri, mas solto em seguida. Ele nega ligação com desvios. Anna entregou-se em Lisboa e retornou ao Brasil, mas também não ficou detida. O Estadão busca manifestação de sua defesa.

Segundo os investigadores, uma das formas de a antiga diretoria da Americanas operar as fraudes contábeis era por meio do registro de cartas de VPC fictícias. A sigla se refere a Verbas de Propaganda Cooperada e trata da prática de um fornecedor conceder créditos ao varejista por razões variadas, como a inclusão de produtos em materiais promocionais.

Nesses casos, o fornecedor concede ao comerciante um crédito e então esse valor pode ser usado para abater dívidas ou pode até ser recebido por meio de depósito bancário, resultando em melhora no resultado financeiro da empresa.

No caso da Americanas, os delatores indicam que eram criadas cartas falsas para justificar os lançamentos contábeis fraudulentos. Como se os créditos fossem inventados. Os documentos forjados eram produzidos apenas para apresentação a uma eventual auditoria externa.

Os investigadores apontam que, com o passar do tempo, a manipulação de valores via as cartas VPC foi se tornando mais sofisticada e passou a incluir detalhamentos por fornecedor e por documentos individuais, para “dispersar ainda mais os registros fraudulentos”.

De acordo com a PF, e-mails indicam que o expediente fraudulento das cartas foi usado ao menos ao longo de dez anos, entre 2013 e 2022.

Os investigados se referiam às cartas falsas como cartas “B”, diz a PF. Ainda de acordo com os investigadores, a antiga cúpula da Americanas usava a expressão “arrecadação complementar” para se referir à fraude de usar cartas falsas para “chegar nos resultados almejados pelos diretores, que, por sua vez, buscavam atingir as expectativas do mercado”.

O delator Marcelo Nunes também confirmou a emissão das cartas falsas. Segundo ele, os fornecedores não tinham noção que os e-mails das cartas de VPC eram alterados. O ex-executivo narrou ainda como as alterações se davam: pegava-se uma carta verdadeira e então eram modificadas as datas e os valores, mantendo os dados cadastrais.

A confecção dos documentos era realizada pela área de Suporte Comercial das Lojas Americanas, diz a PF. A corporação diz que a ex-gestora do núcleo, Christina Nascimento, tinha conhecimento da existência dos documentos fictícios e supervisionava as tarefas de sua subordinada Paula Farias.

Era Paula quem elaborava as cartas falsas, afirmam os investigadores. Em seguida, os documentos eram revisados pelos times de suporte comercial, liderados por Christina, e de contabilidade, liberados pela delatora Flávia Carneiro.

Operação Disclosure Foto: Polícia Federal

De acordo com a PF, a partir de uma seleção da auditoria, as cartas de VPC falsas eram geradas a partir de arquivos de cartas originais. As assinaturas eram recortadas e inseridas nos documentos forjados, os quais eram transformados em arquivos PDF para que os recortes não ficassem aparentes, aponta a corporação.

A Polícia Federal diz ter encontrado diálogos entre Christina e Paula que comprovariam as fraudes. Nas mensagens, são citadas fornecedoras como a Colgate, Multilaser, Loreal, Nestlé e Mondelez - a PF não investiga essas empresas nem seus executivos.

Em um diálogo é discutido que as cartas supostamente ligadas à Colgate e à Multilaser têm “assinaturas idênticas”, na “mesmíssima posição na linha e no mesmo enquadramento”.

Segundo o print, Christina diz a Paula, neste caso: “Embora seja a mesma pessoa (que assina a carta) ele não posicionaria a assinatura exatamente igual na linha destinada à assinatura. Me ajuda! Preciso sanar isso hoje”.

Operação Disclosure Foto: Polícia Federal
Operação Disclosure Foto: Polícia Federal

‘Gol de placa’

Os ex-chefes da companhia sabiam da prática, diz a PF, inclusive o ex-CEO Miguel Gutierrez. A corporação dá ênfase a conversas entre um ex-executivo sob suspeita, o ex-diretor José Timotheo Barros, e a delatora Flávia. Nos diálogos, Timotheo diz que o então CEO Miguel “estava muito interessado em ver o retorno das despesas no resultado”.

Em outro momento, Timotheo fala especificamente das cartas VPC ao repassar à delatora uma dúvida de Miguel Gutierrez. Em meio à discussão sobre a emissão das cartas falsas, Timotheo questiona se, para o trimestre seguinte, eles “conseguiriam um pouco mais”. Ele obteve uma resposta positiva da delatora e respondeu: “Seria ótimo. Gol de placa”.

Operação Disclosure Foto: Polícia Federal
Operação Disclosure Foto: Polícia Federal

Ao dissecar como a antiga cúpula das Lojas Americanas teria operado fraudes contábeis de R$ 25,3 bilhões, a Polícia Federal descobriu que ex-executivos da varejista elaboraram documentos falsos em nome de fornecedoras de chocolates, equipamentos eletrônicos e produtos de higiene pessoal para simular créditos no balanço da empresa.

As cartas fraudulentas eram emitidas em nome de grandes marcas, como Nestlé, Multilaser e Colgate, visando maquiar dados perante auditorias externas. Essas empresas e seus executivos não são alvo de investigação.

Os envolvidos na operacionalização da fraude se preocupavam até com a posição das assinaturas nas cartas fictícias, aponta o inquérito da Operação Disclosure.

Os achados constam da representação de quase 200 páginas em que a Polícia Federal pediu aval para cumprir uma série de diligências contra ex-executivos das Americanas.

Com aval da Justiça Federal do Rio de Janeiro, a PF foi às ruas na quinta, 27, para executar as medidas, incluindo a prisão do ex-CEO Miguel Gutierrez e da ex-diretora Anna Saicali. O ex-CEO foi preso em Madri, mas solto em seguida. Ele nega ligação com desvios. Anna entregou-se em Lisboa e retornou ao Brasil, mas também não ficou detida. O Estadão busca manifestação de sua defesa.

Segundo os investigadores, uma das formas de a antiga diretoria da Americanas operar as fraudes contábeis era por meio do registro de cartas de VPC fictícias. A sigla se refere a Verbas de Propaganda Cooperada e trata da prática de um fornecedor conceder créditos ao varejista por razões variadas, como a inclusão de produtos em materiais promocionais.

Nesses casos, o fornecedor concede ao comerciante um crédito e então esse valor pode ser usado para abater dívidas ou pode até ser recebido por meio de depósito bancário, resultando em melhora no resultado financeiro da empresa.

No caso da Americanas, os delatores indicam que eram criadas cartas falsas para justificar os lançamentos contábeis fraudulentos. Como se os créditos fossem inventados. Os documentos forjados eram produzidos apenas para apresentação a uma eventual auditoria externa.

Os investigadores apontam que, com o passar do tempo, a manipulação de valores via as cartas VPC foi se tornando mais sofisticada e passou a incluir detalhamentos por fornecedor e por documentos individuais, para “dispersar ainda mais os registros fraudulentos”.

De acordo com a PF, e-mails indicam que o expediente fraudulento das cartas foi usado ao menos ao longo de dez anos, entre 2013 e 2022.

Os investigados se referiam às cartas falsas como cartas “B”, diz a PF. Ainda de acordo com os investigadores, a antiga cúpula da Americanas usava a expressão “arrecadação complementar” para se referir à fraude de usar cartas falsas para “chegar nos resultados almejados pelos diretores, que, por sua vez, buscavam atingir as expectativas do mercado”.

O delator Marcelo Nunes também confirmou a emissão das cartas falsas. Segundo ele, os fornecedores não tinham noção que os e-mails das cartas de VPC eram alterados. O ex-executivo narrou ainda como as alterações se davam: pegava-se uma carta verdadeira e então eram modificadas as datas e os valores, mantendo os dados cadastrais.

A confecção dos documentos era realizada pela área de Suporte Comercial das Lojas Americanas, diz a PF. A corporação diz que a ex-gestora do núcleo, Christina Nascimento, tinha conhecimento da existência dos documentos fictícios e supervisionava as tarefas de sua subordinada Paula Farias.

Era Paula quem elaborava as cartas falsas, afirmam os investigadores. Em seguida, os documentos eram revisados pelos times de suporte comercial, liderados por Christina, e de contabilidade, liberados pela delatora Flávia Carneiro.

Operação Disclosure Foto: Polícia Federal

De acordo com a PF, a partir de uma seleção da auditoria, as cartas de VPC falsas eram geradas a partir de arquivos de cartas originais. As assinaturas eram recortadas e inseridas nos documentos forjados, os quais eram transformados em arquivos PDF para que os recortes não ficassem aparentes, aponta a corporação.

A Polícia Federal diz ter encontrado diálogos entre Christina e Paula que comprovariam as fraudes. Nas mensagens, são citadas fornecedoras como a Colgate, Multilaser, Loreal, Nestlé e Mondelez - a PF não investiga essas empresas nem seus executivos.

Em um diálogo é discutido que as cartas supostamente ligadas à Colgate e à Multilaser têm “assinaturas idênticas”, na “mesmíssima posição na linha e no mesmo enquadramento”.

Segundo o print, Christina diz a Paula, neste caso: “Embora seja a mesma pessoa (que assina a carta) ele não posicionaria a assinatura exatamente igual na linha destinada à assinatura. Me ajuda! Preciso sanar isso hoje”.

Operação Disclosure Foto: Polícia Federal
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‘Gol de placa’

Os ex-chefes da companhia sabiam da prática, diz a PF, inclusive o ex-CEO Miguel Gutierrez. A corporação dá ênfase a conversas entre um ex-executivo sob suspeita, o ex-diretor José Timotheo Barros, e a delatora Flávia. Nos diálogos, Timotheo diz que o então CEO Miguel “estava muito interessado em ver o retorno das despesas no resultado”.

Em outro momento, Timotheo fala especificamente das cartas VPC ao repassar à delatora uma dúvida de Miguel Gutierrez. Em meio à discussão sobre a emissão das cartas falsas, Timotheo questiona se, para o trimestre seguinte, eles “conseguiriam um pouco mais”. Ele obteve uma resposta positiva da delatora e respondeu: “Seria ótimo. Gol de placa”.

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