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Como Nassim Taleb previu o sucesso de Round 6


Por Luiz Guilherme Priolli
Luiz Guilherme Priolli. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Quem diria que a resposta para o sucesso internacional da nova série coreana Round 6 estaria em um livro publicado em 2018? Com um título quase autoexplicativo, o livro Arriscando a própria pele, de Nassim Taleb, providenciou a base teórica para entendermos melhor algo que fazemos todos os dias: arriscar nossas próprias vidas.

A resposta é "sim". Mesmo sentado no sofá assistindo a um seriado você está participando de diversos "jogos", com exposições diferentes ao que Taleb chama de "risco de ruína" ou - como diriam os coreanos - jogador eliminado. Muitas vezes, por não estar atento, você acaba exposto a riscos que nem sabe conscientemente. Não é à toa que o subtítulo da obra é "Assimetrias ocultas no cotidiano".

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Por isso, quando temos a "pele em jogo", ficamos até mais inteligentes, já que sofremos os efeitos positivos e negativos de nossas ações. Em casos práticos, como na escolha de nossa casa, de nosso meio de transporte, do que comemos - ou, até mesmo, de qual jogo de vida ou morte participamos - o conceito se torna evidente, praticamente óbvio.

No entanto, em meio a complexidade que vivemos, existe o problema que o autor chama de "transferência de risco". Esse fenômeno ocorre, por exemplo, quando burocratas e políticos tomam decisões das quais só se beneficiam, enquanto transferem as consequências negativas e seus custos para o resto da sociedade.

Quando observamos o jogo dos participantes da Round 6, vemos que eles pagam diretamente o preço por suas decisões. Imagine só como a trama seria muito mais fraca se os vitoriosos fossem escolhidos por pessoas que não participam dos jogos. A consequência de não transferir o risco é a maior identificação e respeito dos telespectadores pelos dilemas enfrentados pelas personagens.

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Mas o interessante é que esse respeito pelos jogadores não se baseia na dicotomia clássica de desigualdade financeira, "ricos versus pobres". Percebe-se que, quando o vencedor do jogo enriquece, ele continua com o respeito da audiência, enquanto os organizadores e VIPs são rapidamente desprezados. Esse fenômeno é facilmente explicado por Taleb como "tolerância de desigualdade": quando o indivíduo tolera o sucesso de pessoas que se arriscaram, enquanto ressente o sucesso de outras que tomaram atalhos, foram covardes ou transfeririam o risco.

Logo, apesar de os protagonistas estarem expostos a um tremendo risco de ruína em um jogo que Taleb jamais recomendaria por sua irreversibilidade - e, provavelmente, por razões morais -, ele aprofunda em suas obras dois grandes fatores que contribuíram para o sucesso global da série.

*Luiz Guilherme Priolli é graduado em economia pela Bentley University e especializado em liderança pela Georgetown University. Associado do IFL-SP, é Head de Marketing na Matrix

Luiz Guilherme Priolli. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Quem diria que a resposta para o sucesso internacional da nova série coreana Round 6 estaria em um livro publicado em 2018? Com um título quase autoexplicativo, o livro Arriscando a própria pele, de Nassim Taleb, providenciou a base teórica para entendermos melhor algo que fazemos todos os dias: arriscar nossas próprias vidas.

A resposta é "sim". Mesmo sentado no sofá assistindo a um seriado você está participando de diversos "jogos", com exposições diferentes ao que Taleb chama de "risco de ruína" ou - como diriam os coreanos - jogador eliminado. Muitas vezes, por não estar atento, você acaba exposto a riscos que nem sabe conscientemente. Não é à toa que o subtítulo da obra é "Assimetrias ocultas no cotidiano".

Por isso, quando temos a "pele em jogo", ficamos até mais inteligentes, já que sofremos os efeitos positivos e negativos de nossas ações. Em casos práticos, como na escolha de nossa casa, de nosso meio de transporte, do que comemos - ou, até mesmo, de qual jogo de vida ou morte participamos - o conceito se torna evidente, praticamente óbvio.

No entanto, em meio a complexidade que vivemos, existe o problema que o autor chama de "transferência de risco". Esse fenômeno ocorre, por exemplo, quando burocratas e políticos tomam decisões das quais só se beneficiam, enquanto transferem as consequências negativas e seus custos para o resto da sociedade.

Quando observamos o jogo dos participantes da Round 6, vemos que eles pagam diretamente o preço por suas decisões. Imagine só como a trama seria muito mais fraca se os vitoriosos fossem escolhidos por pessoas que não participam dos jogos. A consequência de não transferir o risco é a maior identificação e respeito dos telespectadores pelos dilemas enfrentados pelas personagens.

Mas o interessante é que esse respeito pelos jogadores não se baseia na dicotomia clássica de desigualdade financeira, "ricos versus pobres". Percebe-se que, quando o vencedor do jogo enriquece, ele continua com o respeito da audiência, enquanto os organizadores e VIPs são rapidamente desprezados. Esse fenômeno é facilmente explicado por Taleb como "tolerância de desigualdade": quando o indivíduo tolera o sucesso de pessoas que se arriscaram, enquanto ressente o sucesso de outras que tomaram atalhos, foram covardes ou transfeririam o risco.

Logo, apesar de os protagonistas estarem expostos a um tremendo risco de ruína em um jogo que Taleb jamais recomendaria por sua irreversibilidade - e, provavelmente, por razões morais -, ele aprofunda em suas obras dois grandes fatores que contribuíram para o sucesso global da série.

*Luiz Guilherme Priolli é graduado em economia pela Bentley University e especializado em liderança pela Georgetown University. Associado do IFL-SP, é Head de Marketing na Matrix

Luiz Guilherme Priolli. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Quem diria que a resposta para o sucesso internacional da nova série coreana Round 6 estaria em um livro publicado em 2018? Com um título quase autoexplicativo, o livro Arriscando a própria pele, de Nassim Taleb, providenciou a base teórica para entendermos melhor algo que fazemos todos os dias: arriscar nossas próprias vidas.

A resposta é "sim". Mesmo sentado no sofá assistindo a um seriado você está participando de diversos "jogos", com exposições diferentes ao que Taleb chama de "risco de ruína" ou - como diriam os coreanos - jogador eliminado. Muitas vezes, por não estar atento, você acaba exposto a riscos que nem sabe conscientemente. Não é à toa que o subtítulo da obra é "Assimetrias ocultas no cotidiano".

Por isso, quando temos a "pele em jogo", ficamos até mais inteligentes, já que sofremos os efeitos positivos e negativos de nossas ações. Em casos práticos, como na escolha de nossa casa, de nosso meio de transporte, do que comemos - ou, até mesmo, de qual jogo de vida ou morte participamos - o conceito se torna evidente, praticamente óbvio.

No entanto, em meio a complexidade que vivemos, existe o problema que o autor chama de "transferência de risco". Esse fenômeno ocorre, por exemplo, quando burocratas e políticos tomam decisões das quais só se beneficiam, enquanto transferem as consequências negativas e seus custos para o resto da sociedade.

Quando observamos o jogo dos participantes da Round 6, vemos que eles pagam diretamente o preço por suas decisões. Imagine só como a trama seria muito mais fraca se os vitoriosos fossem escolhidos por pessoas que não participam dos jogos. A consequência de não transferir o risco é a maior identificação e respeito dos telespectadores pelos dilemas enfrentados pelas personagens.

Mas o interessante é que esse respeito pelos jogadores não se baseia na dicotomia clássica de desigualdade financeira, "ricos versus pobres". Percebe-se que, quando o vencedor do jogo enriquece, ele continua com o respeito da audiência, enquanto os organizadores e VIPs são rapidamente desprezados. Esse fenômeno é facilmente explicado por Taleb como "tolerância de desigualdade": quando o indivíduo tolera o sucesso de pessoas que se arriscaram, enquanto ressente o sucesso de outras que tomaram atalhos, foram covardes ou transfeririam o risco.

Logo, apesar de os protagonistas estarem expostos a um tremendo risco de ruína em um jogo que Taleb jamais recomendaria por sua irreversibilidade - e, provavelmente, por razões morais -, ele aprofunda em suas obras dois grandes fatores que contribuíram para o sucesso global da série.

*Luiz Guilherme Priolli é graduado em economia pela Bentley University e especializado em liderança pela Georgetown University. Associado do IFL-SP, é Head de Marketing na Matrix

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