O presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, prestou depoimento à Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira, 2, e negou ter participado da elaboração da minuta golpista apreendida na casa do ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro Anderson Torres. Ele também concordou em entregar o celular para perícia.
Documento
Leia todo o depoimentoO político afirmou que não tem conhecimento das 'circunstâncias' da elaboração do documento e não soube dizer se houve uma reunião para tratar da proposta de intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para anular o resultado da eleição.
Ele também negou ter uma relação próxima com Anderson Torres, que está preso preventivamente. O presidente do PL disse que, durante o governo Bolsonaro, só esteve uma vez no Ministério da Justiça, mas não chegou a se reunir com o titular da pasta.
Valdemar foi intimado pela PF após tentar minimizar a apreensão da minuta ao declarar em entrevistas que recebeu e descartou propostas de golpe. Em depoimento, ele justificou que usou uma 'metáfora' e uma 'força de expressão' ao dizer que 'todo mundo' tinha minutas golpistas em casa.
O presidente do PL disse que esses documentos chegavam até ele sem identificação e pareciam 'mal elaborados', produzidos por pessoas sem 'conhecimento' ou 'experiência'.
O termo de depoimento cita 'três ou quatro' propostas com conteúdos diferentes. Duas delas teriam sido recebidas em 'eventos políticos' e uma entregue em um aeroporto por uma mulher que teria se identificado como advogada.
Ao delegado Jacob Guilherme da Silveira Farias de Melo, Valdemar disse ainda que nunca levou essas propostas a sério e que triturou todas elas para não dar margem a narrativas de que seria a favor de ideias golpistas. Ele também alegou que não se sentia 'à vontade' em manter essas cópias em casa para que ninguém, inclusive familiares, pensassem que ele 'estava tramando alguma coisa'. O político admitiu que não chegou a alertar nenhuma autoridade ou membros do PL sobre o teor das propostas.
Valdemar afirmou ainda que era abordado com frequência por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que pediam 'providências' sobre a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PL). Ele disse que os bolsonaristas 'radicais' não tem contato com o PL e não participam dos eventos do partido.
O presidente do PL também afirmou que 'nunca duvidou' da segurança das urnas eletrônicas e que só contratou uma empresa para fiscalizar o resultado das eleições por 'insistência' do governo Bolsonaro. O TSE chegou a multar o partido em R$ 22,9 milhões depois que a legenda pediu a anulação dos votos de 279,3 mil urnas eletrônicas alegando que houve 'mau funcionamento' do sistema.
Questionado sobre os atos golpistas do dia 8 de janeiro, Valdemar chamou os manifestantes de 'animais' e defendeu que eles sejam responsabilizados. "O problema foi a falta de policiamento", afirmou.
O delegado também perguntou se o político chegou a conversar com Bolsonaro ou com membros do PL sobre o uso artigo 142 da Constituição de 1988 para justificar uma intervenção das Forças Armadas, tese que foi encampada pelo ex-presidente e por seus apoiadores ao longo do governo, o que Valdemar também negou.
O depoimento foi prestado no inquérito que se debruça sobre o papel de autoridades nos protestos extremistas na Praça dos Três Poderes. Bolsonaro também está sendo investigado, sob suspeita de incitar os radiciais.