O deputado federal Aliel Machado (PSB-PR) apresentou requerimento nesta quarta, para instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre as declarações do ex-ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) sobre tentativa de interferência do presidente Jair Bolsonaro no comando e autonomia da Polícia Federal.
Em anúncio de demissão, Moro afirmou que deixava o cargo após o presidente dizer que iria intervir no comando da instituição. O ex-juiz da Lava Jato disse que Bolsonaro buscava um nome para lhe passar informações sigilosas de investigações da PF, como relatórios de inteligência.
"Embaraçar investigação criminal e, além disso, toda a instituição investigativa, como é o Polícia Federal, pode constituir crime", afirma Machado. "A CPI deverá investigar os motivos que levaram o Presidente da República usar da prerrogativa de seu cargo para finalidade pessoal, que é a proteção a investigações criminais".
A Associação Juízes para a Democracia (AJD) emitiu nota em que 'exorta o presidente da Câmara Rodrigo Maia a dar andamento aos inúmeros pedidos de impeachment' movidos contra Bolsonaro.
"Sergio Moro denunciou em cadeia nacional a prática de interferência em inquérito, falsificação de assinatura em decreto e interferência política na gestão da polícia federal. Razões para o impedimento não faltam", afirmou a organização.
Ao sair do cargo, Moro disse que Bolsonaro não o queria mais no cargo de ministro de Justiça e Segurança Pública - posto que assumiu em janeiro de 2019, após 22 anos de magistratura e a cadeira da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela Operação Lava Jato.
"O presidente me disse que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência, seja diretor, superintendente, e realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. As investigações têm de ser preservadas", disse Moro, que comparou a ação sobre os receios de interferência na instituição durante o governo petista. "Imagina se na Lava Jato, um ministro ou então a presidente Dilma ou o ex-presidente (Lula) ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações".
De acordo com Moro, a partir do segundo semestre do ano passado, "passou a haver uma insistência do presidente com a troca do comando da Polícia Federal".
"O presidente passou a insistir também na troca do diretor-geral. Eu disse 'Não tenho nenhum problema em trocar o diretor-geral, mas eu preciso de uma causa'. Estaria claro que haveria interferência política na PF", afirmou.