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Opinião|Desacelerar ou perecer


Por José Renato Nalini*

A ideia equivocada de desenvolvimento é crescer infinitamente e ganhar quanto mais dinheiro for possível. Isso está entranhado na consciência ocidental e é inviável pensar-se em inversão de rota. Com base nesse objetivo, desmata-se, polui-se, estimula-se o capitalismo selvagem que deixa poucos satisfeitos e milhões à míngua.

José Renato Nalini Foto: Iara Morselli/Estadão

Contra essa irreversível tendência, o economista e ecologista francês Timothée Parrique, um jovem de trinta e três anos, combate a primazia do PIB e prega a redução de crescimento dos países ricos. Os que mais produzem, consomem e poluem e não se importam com o planeta em plena turbulência climática.

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Escreveu “Desacelerar ou perecer: a economia do decrescimento”e sustenta que a economia verde, na qual as potências econômicas globais investem bilhões, é uma falácia. Isso porque o “crescimento verde” tem demonstrado ser incapaz de dissociar a produção e o consumo de bens e serviços de impactos ambientais importantes em um planeta já muito desgastado. Para ele, “é como uma dieta macro-econômica para estabilizar o metabolismo das economias de alta renda em uma escala que possa ser sustentável. Isso porque, da mesma forma que o motor de um carro não pode ser maior do que o próprio carro, uma economia não pode ter um tamanho maior do que seus ecossistemas de apoio”.

Essa tese dá a Parrique a fama de ingênuo, visionário e utopista. Ele continua a pregar, fazendo palestras e conferências em todos os lugares da França e o que acontece, ele resume numa frase: “O colapso ecológico não é uma crise, é uma surra”.

Falando sério, é verdade que a busca pelo crescimento econômico sem limites coloca a humanidade numa rota suicida. Isso é sentido pelos mais vulneráveis. Não adianta “vender” a ideia de sustentabilidade, porque ela apenas disfarça a atuação ecocida de governos e de empresas, todos ávidos por obter mais lucro e pouco sensíveis ao sofrimento dos excluídos.

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O ideal seria que todos os governos do mundo tivessem juízo. Ou então, que a cidadania obrigasse os seus governantes a tê-lo. Nem uma coisa nem outra é suscetível de ocorrer. Governos estão mais empenhados em perpetuar-se no poder, em distribuir benesses, em se valer do prestígio e do mando para bons tempos, conquistando fama e a adesão dos áulicos. A cidadania, em países de desenvolvimento retardado, é iletrada. Ilude-se com o consumismo, estimulado por mídia sem ética.

Decrescer é algo que não passa pela cabeça nem de governo, nem da população. O colapso está cada vez mais próximo. Ondas de calor, intempéries, inundações, crescimento de mortes por insolação, falta de hidratação, queda de colheitas, nada disso parece impressionar o consumidor.

Nada se consegue produzir sem energia e materiais. Para que o crescimento econômico fosse efetivamente sustentável, seria preciso obter algo impossível: dissociar a produção e o consumo de todas as pressões ambientais. Isso não se conseguiu e nunca se conseguirá. Por isso a “economia verde” é outra forma de “greenwashing”. Redução insignificante de um único indicador ambiental e chamá-la “crescimento verde” não corresponde à realidade.

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Um dos empecilhos a que se possa falar em decrescimento é que isso equivaleria à recessão. Mas são coisas diferentes. Decrescer com planejamento e cautela é uma coisa. Recessão é uma queda da economia e da qualidade de vida sem intervenção consciente do homem. O que, na verdade, se proporia, seria o retorno a um princípio grego: “Nada em excesso”. Uma espécie de ascese, de consumo responsável, de contenção, de economia nos gastos pessoais.

Parrique é um crítico da filosofia do PIB. Para ele, “a maior ameaça de uma economia obcecada pelo crescimento é que ela caba sacrificando a sustentabilidade ecológica e a saúde no altar do Produto Interno Bruto, um indicador abstrato mal adaptado para medir a prosperidade”.

Em lugar do PIB, dever-se-ia adotar outro indicador. O Produto Interno de Bem Estar ou de Felicidade. Ou até aquilo que já existe na Nova Zelândia, o Wellbeing Budgets. É um painel com 65 indicadores de atividadeeconômica, bem-estar social e sustentabilidade ecológica, divididos em duas categorias amplas de bem-estar presente e futuro. PIB não define tudo. A expectativa de vida deve ser medida em anos, a disponibilidade de alimentos em calorias, a eletricidade em quilowatts, o número de ciclovias em quilômetros, o aquecimento global em graus, a água doce em litros, a biodiversidade em número de espécies, etc.

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Lendo o livro de Timothée Parrique, não se considera exagero a sua afirmação de que a economia se tornou uma arma de destruição em massa.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

A ideia equivocada de desenvolvimento é crescer infinitamente e ganhar quanto mais dinheiro for possível. Isso está entranhado na consciência ocidental e é inviável pensar-se em inversão de rota. Com base nesse objetivo, desmata-se, polui-se, estimula-se o capitalismo selvagem que deixa poucos satisfeitos e milhões à míngua.

José Renato Nalini Foto: Iara Morselli/Estadão

Contra essa irreversível tendência, o economista e ecologista francês Timothée Parrique, um jovem de trinta e três anos, combate a primazia do PIB e prega a redução de crescimento dos países ricos. Os que mais produzem, consomem e poluem e não se importam com o planeta em plena turbulência climática.

Escreveu “Desacelerar ou perecer: a economia do decrescimento”e sustenta que a economia verde, na qual as potências econômicas globais investem bilhões, é uma falácia. Isso porque o “crescimento verde” tem demonstrado ser incapaz de dissociar a produção e o consumo de bens e serviços de impactos ambientais importantes em um planeta já muito desgastado. Para ele, “é como uma dieta macro-econômica para estabilizar o metabolismo das economias de alta renda em uma escala que possa ser sustentável. Isso porque, da mesma forma que o motor de um carro não pode ser maior do que o próprio carro, uma economia não pode ter um tamanho maior do que seus ecossistemas de apoio”.

Essa tese dá a Parrique a fama de ingênuo, visionário e utopista. Ele continua a pregar, fazendo palestras e conferências em todos os lugares da França e o que acontece, ele resume numa frase: “O colapso ecológico não é uma crise, é uma surra”.

Falando sério, é verdade que a busca pelo crescimento econômico sem limites coloca a humanidade numa rota suicida. Isso é sentido pelos mais vulneráveis. Não adianta “vender” a ideia de sustentabilidade, porque ela apenas disfarça a atuação ecocida de governos e de empresas, todos ávidos por obter mais lucro e pouco sensíveis ao sofrimento dos excluídos.

O ideal seria que todos os governos do mundo tivessem juízo. Ou então, que a cidadania obrigasse os seus governantes a tê-lo. Nem uma coisa nem outra é suscetível de ocorrer. Governos estão mais empenhados em perpetuar-se no poder, em distribuir benesses, em se valer do prestígio e do mando para bons tempos, conquistando fama e a adesão dos áulicos. A cidadania, em países de desenvolvimento retardado, é iletrada. Ilude-se com o consumismo, estimulado por mídia sem ética.

Decrescer é algo que não passa pela cabeça nem de governo, nem da população. O colapso está cada vez mais próximo. Ondas de calor, intempéries, inundações, crescimento de mortes por insolação, falta de hidratação, queda de colheitas, nada disso parece impressionar o consumidor.

Nada se consegue produzir sem energia e materiais. Para que o crescimento econômico fosse efetivamente sustentável, seria preciso obter algo impossível: dissociar a produção e o consumo de todas as pressões ambientais. Isso não se conseguiu e nunca se conseguirá. Por isso a “economia verde” é outra forma de “greenwashing”. Redução insignificante de um único indicador ambiental e chamá-la “crescimento verde” não corresponde à realidade.

Um dos empecilhos a que se possa falar em decrescimento é que isso equivaleria à recessão. Mas são coisas diferentes. Decrescer com planejamento e cautela é uma coisa. Recessão é uma queda da economia e da qualidade de vida sem intervenção consciente do homem. O que, na verdade, se proporia, seria o retorno a um princípio grego: “Nada em excesso”. Uma espécie de ascese, de consumo responsável, de contenção, de economia nos gastos pessoais.

Parrique é um crítico da filosofia do PIB. Para ele, “a maior ameaça de uma economia obcecada pelo crescimento é que ela caba sacrificando a sustentabilidade ecológica e a saúde no altar do Produto Interno Bruto, um indicador abstrato mal adaptado para medir a prosperidade”.

Em lugar do PIB, dever-se-ia adotar outro indicador. O Produto Interno de Bem Estar ou de Felicidade. Ou até aquilo que já existe na Nova Zelândia, o Wellbeing Budgets. É um painel com 65 indicadores de atividadeeconômica, bem-estar social e sustentabilidade ecológica, divididos em duas categorias amplas de bem-estar presente e futuro. PIB não define tudo. A expectativa de vida deve ser medida em anos, a disponibilidade de alimentos em calorias, a eletricidade em quilowatts, o número de ciclovias em quilômetros, o aquecimento global em graus, a água doce em litros, a biodiversidade em número de espécies, etc.

Lendo o livro de Timothée Parrique, não se considera exagero a sua afirmação de que a economia se tornou uma arma de destruição em massa.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

A ideia equivocada de desenvolvimento é crescer infinitamente e ganhar quanto mais dinheiro for possível. Isso está entranhado na consciência ocidental e é inviável pensar-se em inversão de rota. Com base nesse objetivo, desmata-se, polui-se, estimula-se o capitalismo selvagem que deixa poucos satisfeitos e milhões à míngua.

José Renato Nalini Foto: Iara Morselli/Estadão

Contra essa irreversível tendência, o economista e ecologista francês Timothée Parrique, um jovem de trinta e três anos, combate a primazia do PIB e prega a redução de crescimento dos países ricos. Os que mais produzem, consomem e poluem e não se importam com o planeta em plena turbulência climática.

Escreveu “Desacelerar ou perecer: a economia do decrescimento”e sustenta que a economia verde, na qual as potências econômicas globais investem bilhões, é uma falácia. Isso porque o “crescimento verde” tem demonstrado ser incapaz de dissociar a produção e o consumo de bens e serviços de impactos ambientais importantes em um planeta já muito desgastado. Para ele, “é como uma dieta macro-econômica para estabilizar o metabolismo das economias de alta renda em uma escala que possa ser sustentável. Isso porque, da mesma forma que o motor de um carro não pode ser maior do que o próprio carro, uma economia não pode ter um tamanho maior do que seus ecossistemas de apoio”.

Essa tese dá a Parrique a fama de ingênuo, visionário e utopista. Ele continua a pregar, fazendo palestras e conferências em todos os lugares da França e o que acontece, ele resume numa frase: “O colapso ecológico não é uma crise, é uma surra”.

Falando sério, é verdade que a busca pelo crescimento econômico sem limites coloca a humanidade numa rota suicida. Isso é sentido pelos mais vulneráveis. Não adianta “vender” a ideia de sustentabilidade, porque ela apenas disfarça a atuação ecocida de governos e de empresas, todos ávidos por obter mais lucro e pouco sensíveis ao sofrimento dos excluídos.

O ideal seria que todos os governos do mundo tivessem juízo. Ou então, que a cidadania obrigasse os seus governantes a tê-lo. Nem uma coisa nem outra é suscetível de ocorrer. Governos estão mais empenhados em perpetuar-se no poder, em distribuir benesses, em se valer do prestígio e do mando para bons tempos, conquistando fama e a adesão dos áulicos. A cidadania, em países de desenvolvimento retardado, é iletrada. Ilude-se com o consumismo, estimulado por mídia sem ética.

Decrescer é algo que não passa pela cabeça nem de governo, nem da população. O colapso está cada vez mais próximo. Ondas de calor, intempéries, inundações, crescimento de mortes por insolação, falta de hidratação, queda de colheitas, nada disso parece impressionar o consumidor.

Nada se consegue produzir sem energia e materiais. Para que o crescimento econômico fosse efetivamente sustentável, seria preciso obter algo impossível: dissociar a produção e o consumo de todas as pressões ambientais. Isso não se conseguiu e nunca se conseguirá. Por isso a “economia verde” é outra forma de “greenwashing”. Redução insignificante de um único indicador ambiental e chamá-la “crescimento verde” não corresponde à realidade.

Um dos empecilhos a que se possa falar em decrescimento é que isso equivaleria à recessão. Mas são coisas diferentes. Decrescer com planejamento e cautela é uma coisa. Recessão é uma queda da economia e da qualidade de vida sem intervenção consciente do homem. O que, na verdade, se proporia, seria o retorno a um princípio grego: “Nada em excesso”. Uma espécie de ascese, de consumo responsável, de contenção, de economia nos gastos pessoais.

Parrique é um crítico da filosofia do PIB. Para ele, “a maior ameaça de uma economia obcecada pelo crescimento é que ela caba sacrificando a sustentabilidade ecológica e a saúde no altar do Produto Interno Bruto, um indicador abstrato mal adaptado para medir a prosperidade”.

Em lugar do PIB, dever-se-ia adotar outro indicador. O Produto Interno de Bem Estar ou de Felicidade. Ou até aquilo que já existe na Nova Zelândia, o Wellbeing Budgets. É um painel com 65 indicadores de atividadeeconômica, bem-estar social e sustentabilidade ecológica, divididos em duas categorias amplas de bem-estar presente e futuro. PIB não define tudo. A expectativa de vida deve ser medida em anos, a disponibilidade de alimentos em calorias, a eletricidade em quilowatts, o número de ciclovias em quilômetros, o aquecimento global em graus, a água doce em litros, a biodiversidade em número de espécies, etc.

Lendo o livro de Timothée Parrique, não se considera exagero a sua afirmação de que a economia se tornou uma arma de destruição em massa.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

Opinião por José Renato Nalini*

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