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Efeito Toffoli: anulação de provas gera corrida de delatores da Lava Jato para derrubar multas


Um ano após invalidar provas do acordo de leniência da Odebrecht, antigos delatores buscam tanto diretamente com o ministro do STF, quanto em outros tribunais pelo País suspensão das colaborações feitas e a devolução do dinheiro pago quando os acordos foram firmados

Por Pepita Ortega
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Um ano após anular todas as provas do acordo de leniência da Odebrecht, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, acumula em seu gabinete dezenas de processos derivados de sua decisão que abriu um ciclo de desconstrução de medidas tomadas no âmbito da Operação Lava Jato. Das 46 petições em tramitação no gabinete de Toffoli em Brasília, 24 estão ligadas ao processo que dinamitou a mais famosa e polêmica investigação de combate à corrupção do País. O efeito Toffoli se espalha em varas de primeira instância e tribunais que foram base da operação.

Na lista de petições relacionadas à implosão da Lava Jato, está por exemplo, o processo no qual Toffoli anulou todos os procedimentos e investigações envolvendo um dos principais delatores da Operação: Marcelo Odebrecht.

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Conforme decisão da Segunda Turma do STF, caberá ao juiz responsável por cada procedimento analisar as provas do caso e avaliar se as ações ficam de pé mesmo com a exclusão das provas entregues pela empreiteira à Justiça.

A decisão que aniquilou as informações entregues pela empreiteira à Justiça ainda não tem data para passar pelo crivo da Segunda Turma do Supremo. Em fevereiro, o grupo suspendeu o julgamento de três recursos contra a decisão de Toffoli até a finalização da conciliação sobre os acordos de leniência da Operação Lava Jato. No final do mês passado, foi estendido prazo por mais 30 dias para que as autoridades e empresas cheguem a um consenso.

Decisão de ministro cria ramificações

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Enquanto isso, a decisão de Toffoli cria ramificações: se Marcelo Odebrecht usou um caminho pavimentado por Lula para conseguir se livrar das ações da Lava Jato, alvos da Operação usam a decisão que beneficiou o ‘príncipe das empreiteiras’ em seu favor.

O mesmo acontece com o despacho sobre outro alvo emblemático da Lava Jato, o ex-governador do Paraná Beto Richa. Toffoli anulou todos os atos praticados pela antiga força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e pelo ex-juiz Sérgio Moro envolvendo Richa nas Operações Rádio Patrulha, Piloto, Integração e Quadro Negro.

O mais poderoso dos empreiteiros, preso na Lava Jato, detalhou à Procuradoria-Geral da República como operava o setor de propinas e pagamentos de caixa 2 aos mais importantes políticos do País Foto: STF
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Parte das 24 petições que tramitam no gabinete de Toffoli apresenta um denominador comum: foram impetradas por delatores da Lava Jato, muitos deles da lista dos 77 ex-executivos da Odebrecht, e alguns pedindo inclusive a suspensão das colaborações e a devolução de multas (veja abaixo a lista completa).

Entre eles está o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, preso no mês passado para cumprir uma pena “definitiva” de 39 anos de prisão. Toffoli ainda não decidiu sobre a petição, que foi impetrada logo após o mandado de prisão ser expedido.

Antes da prisão de Duque ser decretada, a defesa chegou a pedir que a medida não fosse determinada até que a Justiça Federal resolvesse “questões apuradas no âmbito da Operação Spoofing” - investigação sobre hackers que invadiram comunicações de procuradores e de Moro. Segundo os advogados do ex-chefe da Petrobras, tais questões poderiam “redundar na anulação de condenações” proferidas pela 13ª Vara Federal de Curitiba, base da Lava Jato.

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Enquanto os alvos da operação usam Lula, Richa e Odebrecht como ímãs para direcionar pedidos a Toffoli e tentar anular seus processos na Operação já no STF, as respostas para os pedidos têm sido a mesma: o ministro destaca o efeito erga omnes da decisão que derrubou as provas da leniência da Odebrecht - a expressão tem relação com o caráter do despacho do ministro, ou seja, vale para todos.

Com isso, Toffoli sinaliza aos investigados que recorrem a seu gabinete que procurem os juízos competentes - os que cuidam de seus respectivos casos - para fazer as mais diversas solicitações: trancamento de processos, suspensão de investigações e até anulação de delações.

Em seus despachos, Toffoli repete: “Como tenho feito desde que assumi a relatoria da Reclamação 43.007, advirto que nos feitos, seja de que natureza for, em que houve a utilização de elementos de prova declarados imprestáveis, o exame a respeito do contágio de outras provas, bem como sobre a necessidade de se arquivar inquéritos ou ações judiciais deverá ser realizado pelo juízo natural do feito, consideradas as balizas fixadas naquela reclamação e as peculiaridades do caso concreto.”

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Esse foi o caminho indicado, por exemplo, para o lobista Adir Assad, que pediu a suspensão da multa do acordo de R$ 50 milhões que fechou em 2017. Toffoli sinalizou à defesa que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, seria o foro adequado para analisar o pedido.

Indicação semelhante ocorreu com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro. O ministro disse que a solicitação de suspensão da multa deveria ser apresentada a seu colega Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo.

Nessa linha, os efeitos colaterais da decisão sobre a leniência da Odebrecht vão aportando em juízos de primeiro grau, tribunais federais e até no Superior Tribunal de Justiça.

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Efeitos internacionais

Também há implicações sobre as cooperações internacionais - os elementos não podem ser enviados a outros países para abastecer apurações estrangeiras. E, então, as consequências práticas do despacho de Toffoli são sentidas.

É o caso da anulação dos acordos de colaboração premiada e de não persecução penal de Jorge Luiz Brusa, a quem a força-tarefa da Lava Jato atribuiu suposta lavagem de dinheiro. Os pactos foram derrubados com base na decisão de Toffoli, o que levou à ordem de devolução de multas de R$ 25 milhões.

Brusa chegou a acionar Toffoli antes de recorrer à 13. Vara Criminal Federal de Curitiba. Em março, o ministro negou o pedido e sinalizou que a defesa deveria acionar o “juízo natural do feito” - a vara que homologou os acordos -, e que ela teria condições para analisar o caso “com a cautela e a verticalidade necessárias”.

Cronologia

As 24 petições que tramitam no gabinete de Toffoli estão ligadas à reclamação que presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajuizou em 2020 em busca da íntegra do acordo de leniência da Odebrecht.

O processo se agigantou, passou a abarcar os diálogos apreendidos na Operação Spoofing e culminou na decisão que anulou as provas da empreiteira nas ações contra o chefe do Executivo. Desde então, outros réus da Lava Jato passaram a pedir extensão da decisão que beneficiou Lula.

Toffoli herdou o processo do antigo relator, o ministro Ricardo Lewandowski - hoje ministro da Justiça - nessas condições com pedidos de uma série de personagens da Lava Jato, que já conseguiram decisões benéficas - os empresários Walter Faria e Paulo Skaf, o ex-ministro Paulo Bernardo Silva, o prefeito do Rio Eduardo Paes, o ex-presidente da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, e o ex-ministro Edison Lobão.

Incomodado com o ‘tumulto do processo’, Toffoli assinou, no dia 6 de setembro do ano passado, o despacho que anulou as provas da leniência da Odebrecht. Se antes o ministro aplicava a decisão do STF sobre Lula a cada um dos réus que pediam a extensão do entendimento, agora a anulação valeria para todos os réus.

Assim, estes poderiam usar a decisão de Toffoli para dirigir os pedidos de anulação e trancamento de processos judiciais a juízos de primeiro grau. Um movimento semelhante aconteceu quando o Supremo Tribunal Federal declarou a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar Lula e declarou Moro suspeito: coube aos juízos que cuidavam das ações do petista a avaliação e interpretação do impacto da decisão e a consequente anulação das ações.

O ministro tentou organizar a Reclamação. Começou a separar os novos pedidos de extensão em petições à parte, como ocorre até hoje. Antes disso todas as solicitações eram encaminhadas e decididas com o cabeçalho da Reclamação. As petições eram encaminhadas para Toffoli em razão da conexão com o processo principal. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o caso do empresário Marcelo Odebrecht, o “príncipe das empreiteiras”

Processos

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Um ano após anular todas as provas do acordo de leniência da Odebrecht, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, acumula em seu gabinete dezenas de processos derivados de sua decisão que abriu um ciclo de desconstrução de medidas tomadas no âmbito da Operação Lava Jato. Das 46 petições em tramitação no gabinete de Toffoli em Brasília, 24 estão ligadas ao processo que dinamitou a mais famosa e polêmica investigação de combate à corrupção do País. O efeito Toffoli se espalha em varas de primeira instância e tribunais que foram base da operação.

Na lista de petições relacionadas à implosão da Lava Jato, está por exemplo, o processo no qual Toffoli anulou todos os procedimentos e investigações envolvendo um dos principais delatores da Operação: Marcelo Odebrecht.

Conforme decisão da Segunda Turma do STF, caberá ao juiz responsável por cada procedimento analisar as provas do caso e avaliar se as ações ficam de pé mesmo com a exclusão das provas entregues pela empreiteira à Justiça.

A decisão que aniquilou as informações entregues pela empreiteira à Justiça ainda não tem data para passar pelo crivo da Segunda Turma do Supremo. Em fevereiro, o grupo suspendeu o julgamento de três recursos contra a decisão de Toffoli até a finalização da conciliação sobre os acordos de leniência da Operação Lava Jato. No final do mês passado, foi estendido prazo por mais 30 dias para que as autoridades e empresas cheguem a um consenso.

Decisão de ministro cria ramificações

Enquanto isso, a decisão de Toffoli cria ramificações: se Marcelo Odebrecht usou um caminho pavimentado por Lula para conseguir se livrar das ações da Lava Jato, alvos da Operação usam a decisão que beneficiou o ‘príncipe das empreiteiras’ em seu favor.

O mesmo acontece com o despacho sobre outro alvo emblemático da Lava Jato, o ex-governador do Paraná Beto Richa. Toffoli anulou todos os atos praticados pela antiga força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e pelo ex-juiz Sérgio Moro envolvendo Richa nas Operações Rádio Patrulha, Piloto, Integração e Quadro Negro.

O mais poderoso dos empreiteiros, preso na Lava Jato, detalhou à Procuradoria-Geral da República como operava o setor de propinas e pagamentos de caixa 2 aos mais importantes políticos do País Foto: STF

Parte das 24 petições que tramitam no gabinete de Toffoli apresenta um denominador comum: foram impetradas por delatores da Lava Jato, muitos deles da lista dos 77 ex-executivos da Odebrecht, e alguns pedindo inclusive a suspensão das colaborações e a devolução de multas (veja abaixo a lista completa).

Entre eles está o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, preso no mês passado para cumprir uma pena “definitiva” de 39 anos de prisão. Toffoli ainda não decidiu sobre a petição, que foi impetrada logo após o mandado de prisão ser expedido.

Antes da prisão de Duque ser decretada, a defesa chegou a pedir que a medida não fosse determinada até que a Justiça Federal resolvesse “questões apuradas no âmbito da Operação Spoofing” - investigação sobre hackers que invadiram comunicações de procuradores e de Moro. Segundo os advogados do ex-chefe da Petrobras, tais questões poderiam “redundar na anulação de condenações” proferidas pela 13ª Vara Federal de Curitiba, base da Lava Jato.

Enquanto os alvos da operação usam Lula, Richa e Odebrecht como ímãs para direcionar pedidos a Toffoli e tentar anular seus processos na Operação já no STF, as respostas para os pedidos têm sido a mesma: o ministro destaca o efeito erga omnes da decisão que derrubou as provas da leniência da Odebrecht - a expressão tem relação com o caráter do despacho do ministro, ou seja, vale para todos.

Com isso, Toffoli sinaliza aos investigados que recorrem a seu gabinete que procurem os juízos competentes - os que cuidam de seus respectivos casos - para fazer as mais diversas solicitações: trancamento de processos, suspensão de investigações e até anulação de delações.

Em seus despachos, Toffoli repete: “Como tenho feito desde que assumi a relatoria da Reclamação 43.007, advirto que nos feitos, seja de que natureza for, em que houve a utilização de elementos de prova declarados imprestáveis, o exame a respeito do contágio de outras provas, bem como sobre a necessidade de se arquivar inquéritos ou ações judiciais deverá ser realizado pelo juízo natural do feito, consideradas as balizas fixadas naquela reclamação e as peculiaridades do caso concreto.”

Esse foi o caminho indicado, por exemplo, para o lobista Adir Assad, que pediu a suspensão da multa do acordo de R$ 50 milhões que fechou em 2017. Toffoli sinalizou à defesa que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, seria o foro adequado para analisar o pedido.

Indicação semelhante ocorreu com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro. O ministro disse que a solicitação de suspensão da multa deveria ser apresentada a seu colega Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo.

Nessa linha, os efeitos colaterais da decisão sobre a leniência da Odebrecht vão aportando em juízos de primeiro grau, tribunais federais e até no Superior Tribunal de Justiça.

Efeitos internacionais

Também há implicações sobre as cooperações internacionais - os elementos não podem ser enviados a outros países para abastecer apurações estrangeiras. E, então, as consequências práticas do despacho de Toffoli são sentidas.

É o caso da anulação dos acordos de colaboração premiada e de não persecução penal de Jorge Luiz Brusa, a quem a força-tarefa da Lava Jato atribuiu suposta lavagem de dinheiro. Os pactos foram derrubados com base na decisão de Toffoli, o que levou à ordem de devolução de multas de R$ 25 milhões.

Brusa chegou a acionar Toffoli antes de recorrer à 13. Vara Criminal Federal de Curitiba. Em março, o ministro negou o pedido e sinalizou que a defesa deveria acionar o “juízo natural do feito” - a vara que homologou os acordos -, e que ela teria condições para analisar o caso “com a cautela e a verticalidade necessárias”.

Cronologia

As 24 petições que tramitam no gabinete de Toffoli estão ligadas à reclamação que presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajuizou em 2020 em busca da íntegra do acordo de leniência da Odebrecht.

O processo se agigantou, passou a abarcar os diálogos apreendidos na Operação Spoofing e culminou na decisão que anulou as provas da empreiteira nas ações contra o chefe do Executivo. Desde então, outros réus da Lava Jato passaram a pedir extensão da decisão que beneficiou Lula.

Toffoli herdou o processo do antigo relator, o ministro Ricardo Lewandowski - hoje ministro da Justiça - nessas condições com pedidos de uma série de personagens da Lava Jato, que já conseguiram decisões benéficas - os empresários Walter Faria e Paulo Skaf, o ex-ministro Paulo Bernardo Silva, o prefeito do Rio Eduardo Paes, o ex-presidente da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, e o ex-ministro Edison Lobão.

Incomodado com o ‘tumulto do processo’, Toffoli assinou, no dia 6 de setembro do ano passado, o despacho que anulou as provas da leniência da Odebrecht. Se antes o ministro aplicava a decisão do STF sobre Lula a cada um dos réus que pediam a extensão do entendimento, agora a anulação valeria para todos os réus.

Assim, estes poderiam usar a decisão de Toffoli para dirigir os pedidos de anulação e trancamento de processos judiciais a juízos de primeiro grau. Um movimento semelhante aconteceu quando o Supremo Tribunal Federal declarou a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar Lula e declarou Moro suspeito: coube aos juízos que cuidavam das ações do petista a avaliação e interpretação do impacto da decisão e a consequente anulação das ações.

O ministro tentou organizar a Reclamação. Começou a separar os novos pedidos de extensão em petições à parte, como ocorre até hoje. Antes disso todas as solicitações eram encaminhadas e decididas com o cabeçalho da Reclamação. As petições eram encaminhadas para Toffoli em razão da conexão com o processo principal. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o caso do empresário Marcelo Odebrecht, o “príncipe das empreiteiras”

Processos

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Um ano após anular todas as provas do acordo de leniência da Odebrecht, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, acumula em seu gabinete dezenas de processos derivados de sua decisão que abriu um ciclo de desconstrução de medidas tomadas no âmbito da Operação Lava Jato. Das 46 petições em tramitação no gabinete de Toffoli em Brasília, 24 estão ligadas ao processo que dinamitou a mais famosa e polêmica investigação de combate à corrupção do País. O efeito Toffoli se espalha em varas de primeira instância e tribunais que foram base da operação.

Na lista de petições relacionadas à implosão da Lava Jato, está por exemplo, o processo no qual Toffoli anulou todos os procedimentos e investigações envolvendo um dos principais delatores da Operação: Marcelo Odebrecht.

Conforme decisão da Segunda Turma do STF, caberá ao juiz responsável por cada procedimento analisar as provas do caso e avaliar se as ações ficam de pé mesmo com a exclusão das provas entregues pela empreiteira à Justiça.

A decisão que aniquilou as informações entregues pela empreiteira à Justiça ainda não tem data para passar pelo crivo da Segunda Turma do Supremo. Em fevereiro, o grupo suspendeu o julgamento de três recursos contra a decisão de Toffoli até a finalização da conciliação sobre os acordos de leniência da Operação Lava Jato. No final do mês passado, foi estendido prazo por mais 30 dias para que as autoridades e empresas cheguem a um consenso.

Decisão de ministro cria ramificações

Enquanto isso, a decisão de Toffoli cria ramificações: se Marcelo Odebrecht usou um caminho pavimentado por Lula para conseguir se livrar das ações da Lava Jato, alvos da Operação usam a decisão que beneficiou o ‘príncipe das empreiteiras’ em seu favor.

O mesmo acontece com o despacho sobre outro alvo emblemático da Lava Jato, o ex-governador do Paraná Beto Richa. Toffoli anulou todos os atos praticados pela antiga força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e pelo ex-juiz Sérgio Moro envolvendo Richa nas Operações Rádio Patrulha, Piloto, Integração e Quadro Negro.

O mais poderoso dos empreiteiros, preso na Lava Jato, detalhou à Procuradoria-Geral da República como operava o setor de propinas e pagamentos de caixa 2 aos mais importantes políticos do País Foto: STF

Parte das 24 petições que tramitam no gabinete de Toffoli apresenta um denominador comum: foram impetradas por delatores da Lava Jato, muitos deles da lista dos 77 ex-executivos da Odebrecht, e alguns pedindo inclusive a suspensão das colaborações e a devolução de multas (veja abaixo a lista completa).

Entre eles está o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, preso no mês passado para cumprir uma pena “definitiva” de 39 anos de prisão. Toffoli ainda não decidiu sobre a petição, que foi impetrada logo após o mandado de prisão ser expedido.

Antes da prisão de Duque ser decretada, a defesa chegou a pedir que a medida não fosse determinada até que a Justiça Federal resolvesse “questões apuradas no âmbito da Operação Spoofing” - investigação sobre hackers que invadiram comunicações de procuradores e de Moro. Segundo os advogados do ex-chefe da Petrobras, tais questões poderiam “redundar na anulação de condenações” proferidas pela 13ª Vara Federal de Curitiba, base da Lava Jato.

Enquanto os alvos da operação usam Lula, Richa e Odebrecht como ímãs para direcionar pedidos a Toffoli e tentar anular seus processos na Operação já no STF, as respostas para os pedidos têm sido a mesma: o ministro destaca o efeito erga omnes da decisão que derrubou as provas da leniência da Odebrecht - a expressão tem relação com o caráter do despacho do ministro, ou seja, vale para todos.

Com isso, Toffoli sinaliza aos investigados que recorrem a seu gabinete que procurem os juízos competentes - os que cuidam de seus respectivos casos - para fazer as mais diversas solicitações: trancamento de processos, suspensão de investigações e até anulação de delações.

Em seus despachos, Toffoli repete: “Como tenho feito desde que assumi a relatoria da Reclamação 43.007, advirto que nos feitos, seja de que natureza for, em que houve a utilização de elementos de prova declarados imprestáveis, o exame a respeito do contágio de outras provas, bem como sobre a necessidade de se arquivar inquéritos ou ações judiciais deverá ser realizado pelo juízo natural do feito, consideradas as balizas fixadas naquela reclamação e as peculiaridades do caso concreto.”

Esse foi o caminho indicado, por exemplo, para o lobista Adir Assad, que pediu a suspensão da multa do acordo de R$ 50 milhões que fechou em 2017. Toffoli sinalizou à defesa que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, seria o foro adequado para analisar o pedido.

Indicação semelhante ocorreu com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro. O ministro disse que a solicitação de suspensão da multa deveria ser apresentada a seu colega Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo.

Nessa linha, os efeitos colaterais da decisão sobre a leniência da Odebrecht vão aportando em juízos de primeiro grau, tribunais federais e até no Superior Tribunal de Justiça.

Efeitos internacionais

Também há implicações sobre as cooperações internacionais - os elementos não podem ser enviados a outros países para abastecer apurações estrangeiras. E, então, as consequências práticas do despacho de Toffoli são sentidas.

É o caso da anulação dos acordos de colaboração premiada e de não persecução penal de Jorge Luiz Brusa, a quem a força-tarefa da Lava Jato atribuiu suposta lavagem de dinheiro. Os pactos foram derrubados com base na decisão de Toffoli, o que levou à ordem de devolução de multas de R$ 25 milhões.

Brusa chegou a acionar Toffoli antes de recorrer à 13. Vara Criminal Federal de Curitiba. Em março, o ministro negou o pedido e sinalizou que a defesa deveria acionar o “juízo natural do feito” - a vara que homologou os acordos -, e que ela teria condições para analisar o caso “com a cautela e a verticalidade necessárias”.

Cronologia

As 24 petições que tramitam no gabinete de Toffoli estão ligadas à reclamação que presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajuizou em 2020 em busca da íntegra do acordo de leniência da Odebrecht.

O processo se agigantou, passou a abarcar os diálogos apreendidos na Operação Spoofing e culminou na decisão que anulou as provas da empreiteira nas ações contra o chefe do Executivo. Desde então, outros réus da Lava Jato passaram a pedir extensão da decisão que beneficiou Lula.

Toffoli herdou o processo do antigo relator, o ministro Ricardo Lewandowski - hoje ministro da Justiça - nessas condições com pedidos de uma série de personagens da Lava Jato, que já conseguiram decisões benéficas - os empresários Walter Faria e Paulo Skaf, o ex-ministro Paulo Bernardo Silva, o prefeito do Rio Eduardo Paes, o ex-presidente da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, e o ex-ministro Edison Lobão.

Incomodado com o ‘tumulto do processo’, Toffoli assinou, no dia 6 de setembro do ano passado, o despacho que anulou as provas da leniência da Odebrecht. Se antes o ministro aplicava a decisão do STF sobre Lula a cada um dos réus que pediam a extensão do entendimento, agora a anulação valeria para todos os réus.

Assim, estes poderiam usar a decisão de Toffoli para dirigir os pedidos de anulação e trancamento de processos judiciais a juízos de primeiro grau. Um movimento semelhante aconteceu quando o Supremo Tribunal Federal declarou a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar Lula e declarou Moro suspeito: coube aos juízos que cuidavam das ações do petista a avaliação e interpretação do impacto da decisão e a consequente anulação das ações.

O ministro tentou organizar a Reclamação. Começou a separar os novos pedidos de extensão em petições à parte, como ocorre até hoje. Antes disso todas as solicitações eram encaminhadas e decididas com o cabeçalho da Reclamação. As petições eram encaminhadas para Toffoli em razão da conexão com o processo principal. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o caso do empresário Marcelo Odebrecht, o “príncipe das empreiteiras”

Processos

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Um ano após anular todas as provas do acordo de leniência da Odebrecht, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, acumula em seu gabinete dezenas de processos derivados de sua decisão que abriu um ciclo de desconstrução de medidas tomadas no âmbito da Operação Lava Jato. Das 46 petições em tramitação no gabinete de Toffoli em Brasília, 24 estão ligadas ao processo que dinamitou a mais famosa e polêmica investigação de combate à corrupção do País. O efeito Toffoli se espalha em varas de primeira instância e tribunais que foram base da operação.

Na lista de petições relacionadas à implosão da Lava Jato, está por exemplo, o processo no qual Toffoli anulou todos os procedimentos e investigações envolvendo um dos principais delatores da Operação: Marcelo Odebrecht.

Conforme decisão da Segunda Turma do STF, caberá ao juiz responsável por cada procedimento analisar as provas do caso e avaliar se as ações ficam de pé mesmo com a exclusão das provas entregues pela empreiteira à Justiça.

A decisão que aniquilou as informações entregues pela empreiteira à Justiça ainda não tem data para passar pelo crivo da Segunda Turma do Supremo. Em fevereiro, o grupo suspendeu o julgamento de três recursos contra a decisão de Toffoli até a finalização da conciliação sobre os acordos de leniência da Operação Lava Jato. No final do mês passado, foi estendido prazo por mais 30 dias para que as autoridades e empresas cheguem a um consenso.

Decisão de ministro cria ramificações

Enquanto isso, a decisão de Toffoli cria ramificações: se Marcelo Odebrecht usou um caminho pavimentado por Lula para conseguir se livrar das ações da Lava Jato, alvos da Operação usam a decisão que beneficiou o ‘príncipe das empreiteiras’ em seu favor.

O mesmo acontece com o despacho sobre outro alvo emblemático da Lava Jato, o ex-governador do Paraná Beto Richa. Toffoli anulou todos os atos praticados pela antiga força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e pelo ex-juiz Sérgio Moro envolvendo Richa nas Operações Rádio Patrulha, Piloto, Integração e Quadro Negro.

O mais poderoso dos empreiteiros, preso na Lava Jato, detalhou à Procuradoria-Geral da República como operava o setor de propinas e pagamentos de caixa 2 aos mais importantes políticos do País Foto: STF

Parte das 24 petições que tramitam no gabinete de Toffoli apresenta um denominador comum: foram impetradas por delatores da Lava Jato, muitos deles da lista dos 77 ex-executivos da Odebrecht, e alguns pedindo inclusive a suspensão das colaborações e a devolução de multas (veja abaixo a lista completa).

Entre eles está o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, preso no mês passado para cumprir uma pena “definitiva” de 39 anos de prisão. Toffoli ainda não decidiu sobre a petição, que foi impetrada logo após o mandado de prisão ser expedido.

Antes da prisão de Duque ser decretada, a defesa chegou a pedir que a medida não fosse determinada até que a Justiça Federal resolvesse “questões apuradas no âmbito da Operação Spoofing” - investigação sobre hackers que invadiram comunicações de procuradores e de Moro. Segundo os advogados do ex-chefe da Petrobras, tais questões poderiam “redundar na anulação de condenações” proferidas pela 13ª Vara Federal de Curitiba, base da Lava Jato.

Enquanto os alvos da operação usam Lula, Richa e Odebrecht como ímãs para direcionar pedidos a Toffoli e tentar anular seus processos na Operação já no STF, as respostas para os pedidos têm sido a mesma: o ministro destaca o efeito erga omnes da decisão que derrubou as provas da leniência da Odebrecht - a expressão tem relação com o caráter do despacho do ministro, ou seja, vale para todos.

Com isso, Toffoli sinaliza aos investigados que recorrem a seu gabinete que procurem os juízos competentes - os que cuidam de seus respectivos casos - para fazer as mais diversas solicitações: trancamento de processos, suspensão de investigações e até anulação de delações.

Em seus despachos, Toffoli repete: “Como tenho feito desde que assumi a relatoria da Reclamação 43.007, advirto que nos feitos, seja de que natureza for, em que houve a utilização de elementos de prova declarados imprestáveis, o exame a respeito do contágio de outras provas, bem como sobre a necessidade de se arquivar inquéritos ou ações judiciais deverá ser realizado pelo juízo natural do feito, consideradas as balizas fixadas naquela reclamação e as peculiaridades do caso concreto.”

Esse foi o caminho indicado, por exemplo, para o lobista Adir Assad, que pediu a suspensão da multa do acordo de R$ 50 milhões que fechou em 2017. Toffoli sinalizou à defesa que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, seria o foro adequado para analisar o pedido.

Indicação semelhante ocorreu com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro. O ministro disse que a solicitação de suspensão da multa deveria ser apresentada a seu colega Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo.

Nessa linha, os efeitos colaterais da decisão sobre a leniência da Odebrecht vão aportando em juízos de primeiro grau, tribunais federais e até no Superior Tribunal de Justiça.

Efeitos internacionais

Também há implicações sobre as cooperações internacionais - os elementos não podem ser enviados a outros países para abastecer apurações estrangeiras. E, então, as consequências práticas do despacho de Toffoli são sentidas.

É o caso da anulação dos acordos de colaboração premiada e de não persecução penal de Jorge Luiz Brusa, a quem a força-tarefa da Lava Jato atribuiu suposta lavagem de dinheiro. Os pactos foram derrubados com base na decisão de Toffoli, o que levou à ordem de devolução de multas de R$ 25 milhões.

Brusa chegou a acionar Toffoli antes de recorrer à 13. Vara Criminal Federal de Curitiba. Em março, o ministro negou o pedido e sinalizou que a defesa deveria acionar o “juízo natural do feito” - a vara que homologou os acordos -, e que ela teria condições para analisar o caso “com a cautela e a verticalidade necessárias”.

Cronologia

As 24 petições que tramitam no gabinete de Toffoli estão ligadas à reclamação que presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajuizou em 2020 em busca da íntegra do acordo de leniência da Odebrecht.

O processo se agigantou, passou a abarcar os diálogos apreendidos na Operação Spoofing e culminou na decisão que anulou as provas da empreiteira nas ações contra o chefe do Executivo. Desde então, outros réus da Lava Jato passaram a pedir extensão da decisão que beneficiou Lula.

Toffoli herdou o processo do antigo relator, o ministro Ricardo Lewandowski - hoje ministro da Justiça - nessas condições com pedidos de uma série de personagens da Lava Jato, que já conseguiram decisões benéficas - os empresários Walter Faria e Paulo Skaf, o ex-ministro Paulo Bernardo Silva, o prefeito do Rio Eduardo Paes, o ex-presidente da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, e o ex-ministro Edison Lobão.

Incomodado com o ‘tumulto do processo’, Toffoli assinou, no dia 6 de setembro do ano passado, o despacho que anulou as provas da leniência da Odebrecht. Se antes o ministro aplicava a decisão do STF sobre Lula a cada um dos réus que pediam a extensão do entendimento, agora a anulação valeria para todos os réus.

Assim, estes poderiam usar a decisão de Toffoli para dirigir os pedidos de anulação e trancamento de processos judiciais a juízos de primeiro grau. Um movimento semelhante aconteceu quando o Supremo Tribunal Federal declarou a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar Lula e declarou Moro suspeito: coube aos juízos que cuidavam das ações do petista a avaliação e interpretação do impacto da decisão e a consequente anulação das ações.

O ministro tentou organizar a Reclamação. Começou a separar os novos pedidos de extensão em petições à parte, como ocorre até hoje. Antes disso todas as solicitações eram encaminhadas e decididas com o cabeçalho da Reclamação. As petições eram encaminhadas para Toffoli em razão da conexão com o processo principal. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o caso do empresário Marcelo Odebrecht, o “príncipe das empreiteiras”

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