O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, arrastou o ex-presidente Jair Bolsonaro para o centro de mais uma investigação criminal. A Polícia Federal (PF) investiga se presentes oficiais recebidos por Bolsonaro na qualidade de chefe de Estado, que deveriam ser incorporados ao acervo da União, foram omitidos e negociados para enriquecer o ex-presidente.
Os investigadores detalham o modus operandi do suposto esquema em um relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que deu origem à Operação Lucas 12:2.
Até o momento, a PF identificou a negociação de dois kits de joias da marca suíça Chopard, duas esculturas douradas e um relógio da marca Patek Philippe, mas não descarta que mais itens tenham sido apropriados indevidamente. Isso porque auxiliares do ex-presidente disseram que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro “sumiu” com joias. Ela deve ser intimada a prestar depoimento.
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A investigação aponta que os presentes teriam sido levados aos Estados Unidos em aviões oficiais, da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Presidência da República.
Mensagens recuperadas pela Polícia Federal indicam que Mauro Cid teria contado com a ajuda do pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, para negociar as peças e repassar o dinheiro das vendas.
“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente. (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?”, afirma Mauro Cid em uma das conversas obtidas pela PF.
O pai do ex-ajudante de ordens aparece no reflexo da caixa de uma das esculturas enquanto fazia foto para anunciar o objeto. Certificados de autenticidade também foram digitalizados para viabilizar a venda. Ele teria visitado pessoalmente lojas especializadas no comércio e leilão de artigos em luxo em Miami, indicadas por Mauro Cid.
Veja mais sobre a Operação Lucas 12:2
Quando o Estadão revelou que uma comitiva do Ministério das Minas e Energia foi barrada pela Receita Federal no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ao tentar entrar no Brasil com presentes doados pelo regime da Arábia Saudita sem declará-los, Mauro Cid teria começado o que a PF chama de uma “verdadeira operação resgate”.
Antevendo que a imprensa e os órgãos de investigação poderiam rastrear outros presentes negociados ilegalmente, os investigados teriam se movimentado para recuperar as joias vendidas e penhoradas. O Tribunal de Contas da União (TCU) efetivamente requisitou a entrega dos primeiros itens descobertos.
O advogado Frederick Wassef teria sido escalado para viajar aos Estados Unidos e recomprar um relógio da marca Rolex. O próprio Mauro Cid teria pedido de volta um kit de joias que havia deixado com uma empresa de leilões e já estava anunciado na internet por U$S 120 mil. O conjunto masculino retornou pelo correio. “Ufa”, escreveu o ex-ajudante de ordens quando recebeu a confirmação de que as joias haviam chegado intactas.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE BOLSONARO
“A defesa do presidente Jair Bolsonaro voluntariamente e sem que houvesse sido instada, peticionou junto ao TCU — ainda em meados de março, p.p. —, requerendo o depósito dos itens naquela Corte, até final decisão sobre seu tratamento, o que de fato foi feito. O Presidente Bolsonaro reitera que jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos, colocando à disposição do Poder Judiciário sua movimentação bancária.”
Paulo Amador da Cunha Bueno, Daniel Bettamio Tesser e Fábio Wajngarten
COM A PALAVRA, OS CITADOS
A reportagem busca contato com os demais citados na reportagem. O espaço está aberto para manifestação.