O tema da sustentabilidade empresarial não é algo novo. Ao contrário, vem sendo estudado no âmbito acadêmico por décadas. No passado recente, contudo, o tema parece ter virado "mainstream", ocupando a agenda de executivos, conselheiros, credores, investidores e do mercado em geral.
A pandemia do COVID-19, aliada à eleição do presidente Joe Biden nos Estados Unidos - que possui uma clara "Agenda Verde" - parece ter sido o propulsor do fenômeno da sustentabilidade empresarial no âmbito global, algo que ficou conhecido recentemente no mercado financeiro como ESG (Environmental, Social and Governance) ou ASG (Ambiental, Social e Governança) na tradução portuguesa.
Temas relacionados à sustentabilidade empresarial já se encontravam na agenda de credores e investidores da União Europeia. Recentemente, além dos Estados Unidos, foi a China quem passou a se preocupar com o tema, dada a necessidade de investimentos em energia limpa no próprio país em razão do alto nível de poluição local; além, é claro, das oportunidades de negócios com outros países.
No cenário brasileiro, o tema ganhou relevância com os casos de rompimento de barragens de Mariana e Brumadinho no estado de Minas Gerais e igualmente com os escândalos envolvendo maltrato a funcionários e clientes por parte de determinadas empresas.
Estes eventos - e igualmente àqueles relacionados a fraudes e corrupções em empresas públicas e privadas no âmbito da Operação Lava-Jato, os quais evidenciaram graves falhas nos processos de governança corporativa destas companhias - suscitaram discussões sobre a avaliação dos impactos financeiros e não financeiros das organizações na sociedade.
Engana-se quem acha que ESG é sobre a empresa ser "boazinha", fazer doações e plantar árvores em canteiros. Ao contrário, o objetivo das empresas privadas continua sendo o de gerar riqueza para seus acionistas - aquele que provê capital de risco para a organização.
Contudo, não há nada de excludente em adotar práticas sustentáveis perante o meio ambiente, funcionários, clientes em geral e "ganhar dinheiro". Ao contrário, a grande "sacada" é justamente incorporar as práticas de sustentabilidade no modelo de negócios da empresa: agir corretamente perante todos os stakeholders e ser recompensada financeiramente por isso.
E o mercado financeiro, anteriormente cético sobre o tema, já percebeu a tendência e tem recompensado empresas por isso. Diversas companhias brasileiras conseguiram captar recursos de forma mais barata - menor custo de capital de terceiros - por meio da emissão dos chamados "Green Bonds". Grandes gestores e fundos internacionais, como a BlackRock, já vem alertando executivos das empresas investidas sobre a necessidade de incorporar o tema ESG na matriz de risco das organizações. Fundos soberanos, como o da Noruega, tem excluído empresas Non-ESG de seus investimentos.
Como se costuma dizer no mercado, ESG está "batendo no bolso". Deixou de ser um assunto de acadêmicos e ambientalistas e agora faz parte da agenda da Diretoria Financeira da empresa. Afinal, o mercado é soberano.
A tendência é secular, e o tema veio para ficar. Resta acompanhar as empresas que genuinamente adotarão práticas mais sustentáveis e aquelas que apenas querem pegar carona no "label". As primeiras seguramente serão premiadas pelos provedores de capital com custo mais barato e "valuations" melhores, enquanto que para as últimas o "marketing socioambiental" (green washing) tenderá a produzir efeitos negativos já que os stakeholders perceberão a falta de consistência entre o discurso e a prática.
*Fernando Dal-Ri Murcia é professor do Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA/USP e diretor de pesquisas da FIPECAFI. É membro de Comitês de Auditoria e Conselhos Fiscais de companhias abertas e fundos de pensão. Administrador, contador e advogado