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Esperteza acadêmica


Por José Renato Nalini
José Renato Nalini. Foto: IARA MORSELLI/ESTADÃO

O estudante de direito sempre foi considerado um sujeito perspicaz, ladino, até espertalhão. A tradição coimbrã se manteve no Brasil, como característica acadêmica herdada com a criação dos cursos jurídicos em 1827. O anedotário dos primeiros anos das Arcadas é prenhe de episódios comprobatórios dessa marca.

Um deles envolve um estudante pouco afeiçoado ao estudo. Permanecia durante anos como aluno do Curso Preparatório e não ingressava na Faculdade. Ameaçado pelo pai de recâmbio à sua origem, tomou tento e resolveu deixar o "Curral dos Bichos" e matricular-se no curso superior. Só que deveria ser aprovado nos exames de admissão e um dos examinadores mais austeros era Diogo de Mendonça Pinto, famoso por sua severidade.

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Muniu-se Guedes de coragem e foi à procura do mestre. Pediu a ele que o professor o reprovasse. Diante da surpresa do examinador, explicou que não queria estudar, mas estava sendo forçado por seu pai. O Professor Diogo indagou se ele sabia alguma coisa de História e Geografia. Aqui entrou a esperteza do vestibulando: - "Sei, sim senhor; tanto assim, que explico essas disciplinas aos meus companheiros e dou aulas particulares...". O Professor Diogo de Mendonça Pinto ainda tentou argumentar com Guedes, mas este resistiu.

No dia seguinte, seu exame foi péssimo. Só que o Professor Diogo estava convencido de que o aluno sabia, mas insistia na reprovação, para poder voltar para casa, em outra Província. Por causa disso, convenceu os colegas de Banca: - "Este maroto sabe tudo. Está fingindo de propósito, para ser reprovado. Conheço-o bem, ele até leciona. Acabemos com isso e aprovemo-lo. Grandíssimo traste!".

Foi assim que, lépido e contente, Guedes matriculou-se na Academia. Pretexto para pedir ainda maior mesada ao pai, feliz com a aprovação do rebento. E conseguiu enganar o grande Mestre Diogo de Mendonça Pinto, paulista que nascera a 12 de dezembro de 1818, filho do Tenente-Coronel Caetano Pinto Homem, pessoa ilustre daquela época.

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Diogo foi Juiz Municipal em Areias e, em seguida, em São Sebastião. Mas também teve assento na Assembleia Provincial de São Paulo entre 1844 e 1857, integrando o Partido Conservador.

Era aficionado por educação. Foi, entre 1851 e 1873, Inspetor Geral da Instrução Pública, uma espécie de Corregedor para a educação da Província de São Paulo. Durante esse período, produziu relatórios que formaram uma biblioteca de vinte e dois volumes.

Além da desenvoltura como docente, era figura da alta sociedade paulistana. Sua casa estava sempre repleta de pessoas de suas relações. Ali se reuniam os jovens para entretidas festas. Para isso, bastante adequada a confortável vivenda campestre nas imediações do Gasômetro, posteriormente alugada ao Governo para a instalação do Instituto de Menores Artífices.

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Nos últimos anos, Diogo de Mendonça foi residir em Campos do Jordão, na invernada do Embery, depois Vila Jaguaribe. Sua residência continuou a ser o refúgio de amigos e de moradores convalescente e excursionistas não só de São Paulo, como de todo o interior. Era um lar peculiar, onde todas as noites se tocava piano, se dançava, ouviam-se cantos e recitativos. Durante o dia, passeios pelo campo, excursões a pé, de trole ou a cavalo, piqueniques, esportes e muito mais.

Conservou-se amigo da educação e da cultura, foi um dos autores da Lei 26, de 18 de abril de 1855, que propunha a construção do Monumento comemorativo da Independência do Brasil.

Outras estórias se contam a seu respeito como lente da São Francisco. Implicava com aqueles que tentavam soprar a resposta a um examinando. Formulava uma pergunta tão difícil, que nem o aluno, nem aquele que o auxiliava sabia responder. Então dizia: - "Desta vez, nem o Espírito Santo soube responder?...".

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Corrigia o vernáculo dos alunos e tinha questões capciosas. Uma delas era sobre o mar Cáspio: era mar ou lago? Se o aluno respondesse que era mar, ele definia lago e dizia ser adequada à configuração real daquela porção d'água. Se, ao contrário, o examinando optasse pelo lago, ele retrucava que todos os geógrafos o denominavam mar e, por não termos autoridade para corrigi-los, essa a posição correta.

O mesmo acontecia em relação ao Mar Morto, ao Mar da Galileia, também chamados Lago Asfaltite e Lago de Genezaré. O Dr. Diogo de Mendonça Pinto faleceu em São Paulo, em 1º de maio de 1892, deixando uma porção de boas lembranças e muitos causos interessantes.

*José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

José Renato Nalini. Foto: IARA MORSELLI/ESTADÃO

O estudante de direito sempre foi considerado um sujeito perspicaz, ladino, até espertalhão. A tradição coimbrã se manteve no Brasil, como característica acadêmica herdada com a criação dos cursos jurídicos em 1827. O anedotário dos primeiros anos das Arcadas é prenhe de episódios comprobatórios dessa marca.

Um deles envolve um estudante pouco afeiçoado ao estudo. Permanecia durante anos como aluno do Curso Preparatório e não ingressava na Faculdade. Ameaçado pelo pai de recâmbio à sua origem, tomou tento e resolveu deixar o "Curral dos Bichos" e matricular-se no curso superior. Só que deveria ser aprovado nos exames de admissão e um dos examinadores mais austeros era Diogo de Mendonça Pinto, famoso por sua severidade.

Muniu-se Guedes de coragem e foi à procura do mestre. Pediu a ele que o professor o reprovasse. Diante da surpresa do examinador, explicou que não queria estudar, mas estava sendo forçado por seu pai. O Professor Diogo indagou se ele sabia alguma coisa de História e Geografia. Aqui entrou a esperteza do vestibulando: - "Sei, sim senhor; tanto assim, que explico essas disciplinas aos meus companheiros e dou aulas particulares...". O Professor Diogo de Mendonça Pinto ainda tentou argumentar com Guedes, mas este resistiu.

No dia seguinte, seu exame foi péssimo. Só que o Professor Diogo estava convencido de que o aluno sabia, mas insistia na reprovação, para poder voltar para casa, em outra Província. Por causa disso, convenceu os colegas de Banca: - "Este maroto sabe tudo. Está fingindo de propósito, para ser reprovado. Conheço-o bem, ele até leciona. Acabemos com isso e aprovemo-lo. Grandíssimo traste!".

Foi assim que, lépido e contente, Guedes matriculou-se na Academia. Pretexto para pedir ainda maior mesada ao pai, feliz com a aprovação do rebento. E conseguiu enganar o grande Mestre Diogo de Mendonça Pinto, paulista que nascera a 12 de dezembro de 1818, filho do Tenente-Coronel Caetano Pinto Homem, pessoa ilustre daquela época.

Diogo foi Juiz Municipal em Areias e, em seguida, em São Sebastião. Mas também teve assento na Assembleia Provincial de São Paulo entre 1844 e 1857, integrando o Partido Conservador.

Era aficionado por educação. Foi, entre 1851 e 1873, Inspetor Geral da Instrução Pública, uma espécie de Corregedor para a educação da Província de São Paulo. Durante esse período, produziu relatórios que formaram uma biblioteca de vinte e dois volumes.

Além da desenvoltura como docente, era figura da alta sociedade paulistana. Sua casa estava sempre repleta de pessoas de suas relações. Ali se reuniam os jovens para entretidas festas. Para isso, bastante adequada a confortável vivenda campestre nas imediações do Gasômetro, posteriormente alugada ao Governo para a instalação do Instituto de Menores Artífices.

Nos últimos anos, Diogo de Mendonça foi residir em Campos do Jordão, na invernada do Embery, depois Vila Jaguaribe. Sua residência continuou a ser o refúgio de amigos e de moradores convalescente e excursionistas não só de São Paulo, como de todo o interior. Era um lar peculiar, onde todas as noites se tocava piano, se dançava, ouviam-se cantos e recitativos. Durante o dia, passeios pelo campo, excursões a pé, de trole ou a cavalo, piqueniques, esportes e muito mais.

Conservou-se amigo da educação e da cultura, foi um dos autores da Lei 26, de 18 de abril de 1855, que propunha a construção do Monumento comemorativo da Independência do Brasil.

Outras estórias se contam a seu respeito como lente da São Francisco. Implicava com aqueles que tentavam soprar a resposta a um examinando. Formulava uma pergunta tão difícil, que nem o aluno, nem aquele que o auxiliava sabia responder. Então dizia: - "Desta vez, nem o Espírito Santo soube responder?...".

Corrigia o vernáculo dos alunos e tinha questões capciosas. Uma delas era sobre o mar Cáspio: era mar ou lago? Se o aluno respondesse que era mar, ele definia lago e dizia ser adequada à configuração real daquela porção d'água. Se, ao contrário, o examinando optasse pelo lago, ele retrucava que todos os geógrafos o denominavam mar e, por não termos autoridade para corrigi-los, essa a posição correta.

O mesmo acontecia em relação ao Mar Morto, ao Mar da Galileia, também chamados Lago Asfaltite e Lago de Genezaré. O Dr. Diogo de Mendonça Pinto faleceu em São Paulo, em 1º de maio de 1892, deixando uma porção de boas lembranças e muitos causos interessantes.

*José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

José Renato Nalini. Foto: IARA MORSELLI/ESTADÃO

O estudante de direito sempre foi considerado um sujeito perspicaz, ladino, até espertalhão. A tradição coimbrã se manteve no Brasil, como característica acadêmica herdada com a criação dos cursos jurídicos em 1827. O anedotário dos primeiros anos das Arcadas é prenhe de episódios comprobatórios dessa marca.

Um deles envolve um estudante pouco afeiçoado ao estudo. Permanecia durante anos como aluno do Curso Preparatório e não ingressava na Faculdade. Ameaçado pelo pai de recâmbio à sua origem, tomou tento e resolveu deixar o "Curral dos Bichos" e matricular-se no curso superior. Só que deveria ser aprovado nos exames de admissão e um dos examinadores mais austeros era Diogo de Mendonça Pinto, famoso por sua severidade.

Muniu-se Guedes de coragem e foi à procura do mestre. Pediu a ele que o professor o reprovasse. Diante da surpresa do examinador, explicou que não queria estudar, mas estava sendo forçado por seu pai. O Professor Diogo indagou se ele sabia alguma coisa de História e Geografia. Aqui entrou a esperteza do vestibulando: - "Sei, sim senhor; tanto assim, que explico essas disciplinas aos meus companheiros e dou aulas particulares...". O Professor Diogo de Mendonça Pinto ainda tentou argumentar com Guedes, mas este resistiu.

No dia seguinte, seu exame foi péssimo. Só que o Professor Diogo estava convencido de que o aluno sabia, mas insistia na reprovação, para poder voltar para casa, em outra Província. Por causa disso, convenceu os colegas de Banca: - "Este maroto sabe tudo. Está fingindo de propósito, para ser reprovado. Conheço-o bem, ele até leciona. Acabemos com isso e aprovemo-lo. Grandíssimo traste!".

Foi assim que, lépido e contente, Guedes matriculou-se na Academia. Pretexto para pedir ainda maior mesada ao pai, feliz com a aprovação do rebento. E conseguiu enganar o grande Mestre Diogo de Mendonça Pinto, paulista que nascera a 12 de dezembro de 1818, filho do Tenente-Coronel Caetano Pinto Homem, pessoa ilustre daquela época.

Diogo foi Juiz Municipal em Areias e, em seguida, em São Sebastião. Mas também teve assento na Assembleia Provincial de São Paulo entre 1844 e 1857, integrando o Partido Conservador.

Era aficionado por educação. Foi, entre 1851 e 1873, Inspetor Geral da Instrução Pública, uma espécie de Corregedor para a educação da Província de São Paulo. Durante esse período, produziu relatórios que formaram uma biblioteca de vinte e dois volumes.

Além da desenvoltura como docente, era figura da alta sociedade paulistana. Sua casa estava sempre repleta de pessoas de suas relações. Ali se reuniam os jovens para entretidas festas. Para isso, bastante adequada a confortável vivenda campestre nas imediações do Gasômetro, posteriormente alugada ao Governo para a instalação do Instituto de Menores Artífices.

Nos últimos anos, Diogo de Mendonça foi residir em Campos do Jordão, na invernada do Embery, depois Vila Jaguaribe. Sua residência continuou a ser o refúgio de amigos e de moradores convalescente e excursionistas não só de São Paulo, como de todo o interior. Era um lar peculiar, onde todas as noites se tocava piano, se dançava, ouviam-se cantos e recitativos. Durante o dia, passeios pelo campo, excursões a pé, de trole ou a cavalo, piqueniques, esportes e muito mais.

Conservou-se amigo da educação e da cultura, foi um dos autores da Lei 26, de 18 de abril de 1855, que propunha a construção do Monumento comemorativo da Independência do Brasil.

Outras estórias se contam a seu respeito como lente da São Francisco. Implicava com aqueles que tentavam soprar a resposta a um examinando. Formulava uma pergunta tão difícil, que nem o aluno, nem aquele que o auxiliava sabia responder. Então dizia: - "Desta vez, nem o Espírito Santo soube responder?...".

Corrigia o vernáculo dos alunos e tinha questões capciosas. Uma delas era sobre o mar Cáspio: era mar ou lago? Se o aluno respondesse que era mar, ele definia lago e dizia ser adequada à configuração real daquela porção d'água. Se, ao contrário, o examinando optasse pelo lago, ele retrucava que todos os geógrafos o denominavam mar e, por não termos autoridade para corrigi-los, essa a posição correta.

O mesmo acontecia em relação ao Mar Morto, ao Mar da Galileia, também chamados Lago Asfaltite e Lago de Genezaré. O Dr. Diogo de Mendonça Pinto faleceu em São Paulo, em 1º de maio de 1892, deixando uma porção de boas lembranças e muitos causos interessantes.

*José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

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