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Opinião|Euclides, o rebelde


Por José Renato Nalini
Atualização:

A vida atormentada de Euclides da Cunha tem rendido muitas páginas. Biografias, análises, sem falar na multiplicidade das críticas sobre sua obra. Uma dessas manifestações, notável pela oportunidade em que proferida, foi o discurso de Afrânio Peixoto ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em 15.8.1911. Era, exatamente, a sucessão na vaga aberta por morte do autor de “Os Sertões”.

Estátua de Euclides da Cunha em Euclidelândia, no interior do Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Àquela época, a ABL ainda era jovem. Não havia a série de ocupantes sucessores em cada uma das quarenta cadeiras, pois todos os fundadores ainda viviam. Por isso, o neófito permaneceu no antecessor. Estendeu-se e dissertou em minúcias, com abordagem de inúmeros aspectos da exuberante personalidade do sucedido. Eram tempos dos longos discursos, de várias horas de duração.

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Um dos tópicos dessa oração foi o famoso gesto de Euclides na Escola Militar. Ainda adolescente, fora admitido à Escola da Praia Vermelha, que formava o corpo funcional do Exército. Já ocorrera a Questão Militar e, em 1988, era evidente o desapreço das forças armadas à Monarquia.

Respirava-se um ar propenso a novidades. E a novidade, para o Brasil Imperial, era a República. Pensava-se que, com a importação do modelo norte-americano, o Brasil se tornaria tão moderno e poderoso como o irmão do norte. Já àquela época existiam as “fake News”. Disseminava-se a notícia de que o Governo Imperial queria transferir a Escola Militar para Angra dos Reis, exatamente para arrefecer os ânimos exaltados dos jovens destinados a engrossar as fileiras do Exército.

A mocidade não queria o exílio. Queria ficar na capital. Explodiu em reações prenhes de ira. Os mais ousados queriam reagir de forma vistosa e manifesta. Para culminar, anuncia-se a visita do Ministro da Guerra à Escola. Os rebeldes viram o ensejo como oportunidade ímpar de evidenciar descontentamento e combinaram expor sua indisciplina. Souberam que a visita, prevista anteriormente para o sábado, fora transferida para o domingo, pois os organizadores contavam com o natural esvaziamento da instituição. Os alunos teriam preferido estar com suas famílias, em lugar de permanecer alojados no colégio.

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No domingo, chega o ministro acompanhado de um senador cujo filho era aluno do Colégio Militar. Com essa companhia, pretendia cooptar as boas graças dos demais alunos. No pai do colega, eles poderiam enxergar uma visita simbólica de seus próprios pais.

No pátio central, os alunos se dispuseram em pelotões e marcharam em evolução, diante das autoridades. A primeira companhia desfilou sem incidentes, na ordem perfeita de uma parada de acordo com o esperado. Só que na segunda companhia, um dos alunos saiu de forma e deu alguns passos à frente. Tirou do sabre e quis quebrá-lo, forcejando sobre o joelho. Não conseguiu, mas obteve a imprestabilidade da arma que entortou.

Jogou-o, raivosamente, ao chão. E gritou: - “Infames! A mocidade livre cortejando um ministro da monarquia!”.

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Não se conformava com a deserção à causa, a passividade inerte com que a juventude se submetia na disciplina aduladora da autoridade.

Ninguém mais o acompanhou. Exerceu a hombridade isolada da revolta desacompanhada, da rebeldia solitária. Diz Afrânio, em sua oração, que “não era dos que só lutam para vencer: sacrificou-se”.

E sabia o que o esperava: foi arrastado pelo regimento e atirado à masmorra. Salvou-o a bondade de um de seus mestres, o Dr. Lino de Andrade. Assim que arrefecidos os ânimos, chamou os cumpridores da ordem de prisão e ordenou que recolhessem Euclides à enfermaria. Seu gesto traduzia uma só conclusão: devia estar doente.

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Esta atitude, que provocou surpresa, depois foi considerada uma habilidade política, acrescida do que trazia como sensibilidade humana. O diagnóstico foi super-excitação nervosa por excesso de trabalho mental.

Havia de repercutir essa reação insólita de Euclides, praticamente às vésperas do golpe de 15 de novembro de 1889. No Parlamento, Silveira Martins a cunhou de “histeria”. A mídia espontânea, à época, tachou a rebeldia do jovem que viria depois a glorificar, como insensatez de um “pobre moço”. Os julgamentos variam conforme as circunstâncias. Todos sabemos disso.

A vida atormentada de Euclides da Cunha tem rendido muitas páginas. Biografias, análises, sem falar na multiplicidade das críticas sobre sua obra. Uma dessas manifestações, notável pela oportunidade em que proferida, foi o discurso de Afrânio Peixoto ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em 15.8.1911. Era, exatamente, a sucessão na vaga aberta por morte do autor de “Os Sertões”.

Estátua de Euclides da Cunha em Euclidelândia, no interior do Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Àquela época, a ABL ainda era jovem. Não havia a série de ocupantes sucessores em cada uma das quarenta cadeiras, pois todos os fundadores ainda viviam. Por isso, o neófito permaneceu no antecessor. Estendeu-se e dissertou em minúcias, com abordagem de inúmeros aspectos da exuberante personalidade do sucedido. Eram tempos dos longos discursos, de várias horas de duração.

Um dos tópicos dessa oração foi o famoso gesto de Euclides na Escola Militar. Ainda adolescente, fora admitido à Escola da Praia Vermelha, que formava o corpo funcional do Exército. Já ocorrera a Questão Militar e, em 1988, era evidente o desapreço das forças armadas à Monarquia.

Respirava-se um ar propenso a novidades. E a novidade, para o Brasil Imperial, era a República. Pensava-se que, com a importação do modelo norte-americano, o Brasil se tornaria tão moderno e poderoso como o irmão do norte. Já àquela época existiam as “fake News”. Disseminava-se a notícia de que o Governo Imperial queria transferir a Escola Militar para Angra dos Reis, exatamente para arrefecer os ânimos exaltados dos jovens destinados a engrossar as fileiras do Exército.

A mocidade não queria o exílio. Queria ficar na capital. Explodiu em reações prenhes de ira. Os mais ousados queriam reagir de forma vistosa e manifesta. Para culminar, anuncia-se a visita do Ministro da Guerra à Escola. Os rebeldes viram o ensejo como oportunidade ímpar de evidenciar descontentamento e combinaram expor sua indisciplina. Souberam que a visita, prevista anteriormente para o sábado, fora transferida para o domingo, pois os organizadores contavam com o natural esvaziamento da instituição. Os alunos teriam preferido estar com suas famílias, em lugar de permanecer alojados no colégio.

No domingo, chega o ministro acompanhado de um senador cujo filho era aluno do Colégio Militar. Com essa companhia, pretendia cooptar as boas graças dos demais alunos. No pai do colega, eles poderiam enxergar uma visita simbólica de seus próprios pais.

No pátio central, os alunos se dispuseram em pelotões e marcharam em evolução, diante das autoridades. A primeira companhia desfilou sem incidentes, na ordem perfeita de uma parada de acordo com o esperado. Só que na segunda companhia, um dos alunos saiu de forma e deu alguns passos à frente. Tirou do sabre e quis quebrá-lo, forcejando sobre o joelho. Não conseguiu, mas obteve a imprestabilidade da arma que entortou.

Jogou-o, raivosamente, ao chão. E gritou: - “Infames! A mocidade livre cortejando um ministro da monarquia!”.

Não se conformava com a deserção à causa, a passividade inerte com que a juventude se submetia na disciplina aduladora da autoridade.

Ninguém mais o acompanhou. Exerceu a hombridade isolada da revolta desacompanhada, da rebeldia solitária. Diz Afrânio, em sua oração, que “não era dos que só lutam para vencer: sacrificou-se”.

E sabia o que o esperava: foi arrastado pelo regimento e atirado à masmorra. Salvou-o a bondade de um de seus mestres, o Dr. Lino de Andrade. Assim que arrefecidos os ânimos, chamou os cumpridores da ordem de prisão e ordenou que recolhessem Euclides à enfermaria. Seu gesto traduzia uma só conclusão: devia estar doente.

Esta atitude, que provocou surpresa, depois foi considerada uma habilidade política, acrescida do que trazia como sensibilidade humana. O diagnóstico foi super-excitação nervosa por excesso de trabalho mental.

Havia de repercutir essa reação insólita de Euclides, praticamente às vésperas do golpe de 15 de novembro de 1889. No Parlamento, Silveira Martins a cunhou de “histeria”. A mídia espontânea, à época, tachou a rebeldia do jovem que viria depois a glorificar, como insensatez de um “pobre moço”. Os julgamentos variam conforme as circunstâncias. Todos sabemos disso.

A vida atormentada de Euclides da Cunha tem rendido muitas páginas. Biografias, análises, sem falar na multiplicidade das críticas sobre sua obra. Uma dessas manifestações, notável pela oportunidade em que proferida, foi o discurso de Afrânio Peixoto ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em 15.8.1911. Era, exatamente, a sucessão na vaga aberta por morte do autor de “Os Sertões”.

Estátua de Euclides da Cunha em Euclidelândia, no interior do Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Àquela época, a ABL ainda era jovem. Não havia a série de ocupantes sucessores em cada uma das quarenta cadeiras, pois todos os fundadores ainda viviam. Por isso, o neófito permaneceu no antecessor. Estendeu-se e dissertou em minúcias, com abordagem de inúmeros aspectos da exuberante personalidade do sucedido. Eram tempos dos longos discursos, de várias horas de duração.

Um dos tópicos dessa oração foi o famoso gesto de Euclides na Escola Militar. Ainda adolescente, fora admitido à Escola da Praia Vermelha, que formava o corpo funcional do Exército. Já ocorrera a Questão Militar e, em 1988, era evidente o desapreço das forças armadas à Monarquia.

Respirava-se um ar propenso a novidades. E a novidade, para o Brasil Imperial, era a República. Pensava-se que, com a importação do modelo norte-americano, o Brasil se tornaria tão moderno e poderoso como o irmão do norte. Já àquela época existiam as “fake News”. Disseminava-se a notícia de que o Governo Imperial queria transferir a Escola Militar para Angra dos Reis, exatamente para arrefecer os ânimos exaltados dos jovens destinados a engrossar as fileiras do Exército.

A mocidade não queria o exílio. Queria ficar na capital. Explodiu em reações prenhes de ira. Os mais ousados queriam reagir de forma vistosa e manifesta. Para culminar, anuncia-se a visita do Ministro da Guerra à Escola. Os rebeldes viram o ensejo como oportunidade ímpar de evidenciar descontentamento e combinaram expor sua indisciplina. Souberam que a visita, prevista anteriormente para o sábado, fora transferida para o domingo, pois os organizadores contavam com o natural esvaziamento da instituição. Os alunos teriam preferido estar com suas famílias, em lugar de permanecer alojados no colégio.

No domingo, chega o ministro acompanhado de um senador cujo filho era aluno do Colégio Militar. Com essa companhia, pretendia cooptar as boas graças dos demais alunos. No pai do colega, eles poderiam enxergar uma visita simbólica de seus próprios pais.

No pátio central, os alunos se dispuseram em pelotões e marcharam em evolução, diante das autoridades. A primeira companhia desfilou sem incidentes, na ordem perfeita de uma parada de acordo com o esperado. Só que na segunda companhia, um dos alunos saiu de forma e deu alguns passos à frente. Tirou do sabre e quis quebrá-lo, forcejando sobre o joelho. Não conseguiu, mas obteve a imprestabilidade da arma que entortou.

Jogou-o, raivosamente, ao chão. E gritou: - “Infames! A mocidade livre cortejando um ministro da monarquia!”.

Não se conformava com a deserção à causa, a passividade inerte com que a juventude se submetia na disciplina aduladora da autoridade.

Ninguém mais o acompanhou. Exerceu a hombridade isolada da revolta desacompanhada, da rebeldia solitária. Diz Afrânio, em sua oração, que “não era dos que só lutam para vencer: sacrificou-se”.

E sabia o que o esperava: foi arrastado pelo regimento e atirado à masmorra. Salvou-o a bondade de um de seus mestres, o Dr. Lino de Andrade. Assim que arrefecidos os ânimos, chamou os cumpridores da ordem de prisão e ordenou que recolhessem Euclides à enfermaria. Seu gesto traduzia uma só conclusão: devia estar doente.

Esta atitude, que provocou surpresa, depois foi considerada uma habilidade política, acrescida do que trazia como sensibilidade humana. O diagnóstico foi super-excitação nervosa por excesso de trabalho mental.

Havia de repercutir essa reação insólita de Euclides, praticamente às vésperas do golpe de 15 de novembro de 1889. No Parlamento, Silveira Martins a cunhou de “histeria”. A mídia espontânea, à época, tachou a rebeldia do jovem que viria depois a glorificar, como insensatez de um “pobre moço”. Os julgamentos variam conforme as circunstâncias. Todos sabemos disso.

A vida atormentada de Euclides da Cunha tem rendido muitas páginas. Biografias, análises, sem falar na multiplicidade das críticas sobre sua obra. Uma dessas manifestações, notável pela oportunidade em que proferida, foi o discurso de Afrânio Peixoto ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em 15.8.1911. Era, exatamente, a sucessão na vaga aberta por morte do autor de “Os Sertões”.

Estátua de Euclides da Cunha em Euclidelândia, no interior do Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Àquela época, a ABL ainda era jovem. Não havia a série de ocupantes sucessores em cada uma das quarenta cadeiras, pois todos os fundadores ainda viviam. Por isso, o neófito permaneceu no antecessor. Estendeu-se e dissertou em minúcias, com abordagem de inúmeros aspectos da exuberante personalidade do sucedido. Eram tempos dos longos discursos, de várias horas de duração.

Um dos tópicos dessa oração foi o famoso gesto de Euclides na Escola Militar. Ainda adolescente, fora admitido à Escola da Praia Vermelha, que formava o corpo funcional do Exército. Já ocorrera a Questão Militar e, em 1988, era evidente o desapreço das forças armadas à Monarquia.

Respirava-se um ar propenso a novidades. E a novidade, para o Brasil Imperial, era a República. Pensava-se que, com a importação do modelo norte-americano, o Brasil se tornaria tão moderno e poderoso como o irmão do norte. Já àquela época existiam as “fake News”. Disseminava-se a notícia de que o Governo Imperial queria transferir a Escola Militar para Angra dos Reis, exatamente para arrefecer os ânimos exaltados dos jovens destinados a engrossar as fileiras do Exército.

A mocidade não queria o exílio. Queria ficar na capital. Explodiu em reações prenhes de ira. Os mais ousados queriam reagir de forma vistosa e manifesta. Para culminar, anuncia-se a visita do Ministro da Guerra à Escola. Os rebeldes viram o ensejo como oportunidade ímpar de evidenciar descontentamento e combinaram expor sua indisciplina. Souberam que a visita, prevista anteriormente para o sábado, fora transferida para o domingo, pois os organizadores contavam com o natural esvaziamento da instituição. Os alunos teriam preferido estar com suas famílias, em lugar de permanecer alojados no colégio.

No domingo, chega o ministro acompanhado de um senador cujo filho era aluno do Colégio Militar. Com essa companhia, pretendia cooptar as boas graças dos demais alunos. No pai do colega, eles poderiam enxergar uma visita simbólica de seus próprios pais.

No pátio central, os alunos se dispuseram em pelotões e marcharam em evolução, diante das autoridades. A primeira companhia desfilou sem incidentes, na ordem perfeita de uma parada de acordo com o esperado. Só que na segunda companhia, um dos alunos saiu de forma e deu alguns passos à frente. Tirou do sabre e quis quebrá-lo, forcejando sobre o joelho. Não conseguiu, mas obteve a imprestabilidade da arma que entortou.

Jogou-o, raivosamente, ao chão. E gritou: - “Infames! A mocidade livre cortejando um ministro da monarquia!”.

Não se conformava com a deserção à causa, a passividade inerte com que a juventude se submetia na disciplina aduladora da autoridade.

Ninguém mais o acompanhou. Exerceu a hombridade isolada da revolta desacompanhada, da rebeldia solitária. Diz Afrânio, em sua oração, que “não era dos que só lutam para vencer: sacrificou-se”.

E sabia o que o esperava: foi arrastado pelo regimento e atirado à masmorra. Salvou-o a bondade de um de seus mestres, o Dr. Lino de Andrade. Assim que arrefecidos os ânimos, chamou os cumpridores da ordem de prisão e ordenou que recolhessem Euclides à enfermaria. Seu gesto traduzia uma só conclusão: devia estar doente.

Esta atitude, que provocou surpresa, depois foi considerada uma habilidade política, acrescida do que trazia como sensibilidade humana. O diagnóstico foi super-excitação nervosa por excesso de trabalho mental.

Havia de repercutir essa reação insólita de Euclides, praticamente às vésperas do golpe de 15 de novembro de 1889. No Parlamento, Silveira Martins a cunhou de “histeria”. A mídia espontânea, à época, tachou a rebeldia do jovem que viria depois a glorificar, como insensatez de um “pobre moço”. Os julgamentos variam conforme as circunstâncias. Todos sabemos disso.

A vida atormentada de Euclides da Cunha tem rendido muitas páginas. Biografias, análises, sem falar na multiplicidade das críticas sobre sua obra. Uma dessas manifestações, notável pela oportunidade em que proferida, foi o discurso de Afrânio Peixoto ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em 15.8.1911. Era, exatamente, a sucessão na vaga aberta por morte do autor de “Os Sertões”.

Estátua de Euclides da Cunha em Euclidelândia, no interior do Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Àquela época, a ABL ainda era jovem. Não havia a série de ocupantes sucessores em cada uma das quarenta cadeiras, pois todos os fundadores ainda viviam. Por isso, o neófito permaneceu no antecessor. Estendeu-se e dissertou em minúcias, com abordagem de inúmeros aspectos da exuberante personalidade do sucedido. Eram tempos dos longos discursos, de várias horas de duração.

Um dos tópicos dessa oração foi o famoso gesto de Euclides na Escola Militar. Ainda adolescente, fora admitido à Escola da Praia Vermelha, que formava o corpo funcional do Exército. Já ocorrera a Questão Militar e, em 1988, era evidente o desapreço das forças armadas à Monarquia.

Respirava-se um ar propenso a novidades. E a novidade, para o Brasil Imperial, era a República. Pensava-se que, com a importação do modelo norte-americano, o Brasil se tornaria tão moderno e poderoso como o irmão do norte. Já àquela época existiam as “fake News”. Disseminava-se a notícia de que o Governo Imperial queria transferir a Escola Militar para Angra dos Reis, exatamente para arrefecer os ânimos exaltados dos jovens destinados a engrossar as fileiras do Exército.

A mocidade não queria o exílio. Queria ficar na capital. Explodiu em reações prenhes de ira. Os mais ousados queriam reagir de forma vistosa e manifesta. Para culminar, anuncia-se a visita do Ministro da Guerra à Escola. Os rebeldes viram o ensejo como oportunidade ímpar de evidenciar descontentamento e combinaram expor sua indisciplina. Souberam que a visita, prevista anteriormente para o sábado, fora transferida para o domingo, pois os organizadores contavam com o natural esvaziamento da instituição. Os alunos teriam preferido estar com suas famílias, em lugar de permanecer alojados no colégio.

No domingo, chega o ministro acompanhado de um senador cujo filho era aluno do Colégio Militar. Com essa companhia, pretendia cooptar as boas graças dos demais alunos. No pai do colega, eles poderiam enxergar uma visita simbólica de seus próprios pais.

No pátio central, os alunos se dispuseram em pelotões e marcharam em evolução, diante das autoridades. A primeira companhia desfilou sem incidentes, na ordem perfeita de uma parada de acordo com o esperado. Só que na segunda companhia, um dos alunos saiu de forma e deu alguns passos à frente. Tirou do sabre e quis quebrá-lo, forcejando sobre o joelho. Não conseguiu, mas obteve a imprestabilidade da arma que entortou.

Jogou-o, raivosamente, ao chão. E gritou: - “Infames! A mocidade livre cortejando um ministro da monarquia!”.

Não se conformava com a deserção à causa, a passividade inerte com que a juventude se submetia na disciplina aduladora da autoridade.

Ninguém mais o acompanhou. Exerceu a hombridade isolada da revolta desacompanhada, da rebeldia solitária. Diz Afrânio, em sua oração, que “não era dos que só lutam para vencer: sacrificou-se”.

E sabia o que o esperava: foi arrastado pelo regimento e atirado à masmorra. Salvou-o a bondade de um de seus mestres, o Dr. Lino de Andrade. Assim que arrefecidos os ânimos, chamou os cumpridores da ordem de prisão e ordenou que recolhessem Euclides à enfermaria. Seu gesto traduzia uma só conclusão: devia estar doente.

Esta atitude, que provocou surpresa, depois foi considerada uma habilidade política, acrescida do que trazia como sensibilidade humana. O diagnóstico foi super-excitação nervosa por excesso de trabalho mental.

Havia de repercutir essa reação insólita de Euclides, praticamente às vésperas do golpe de 15 de novembro de 1889. No Parlamento, Silveira Martins a cunhou de “histeria”. A mídia espontânea, à época, tachou a rebeldia do jovem que viria depois a glorificar, como insensatez de um “pobre moço”. Os julgamentos variam conforme as circunstâncias. Todos sabemos disso.

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