Por Julia Affonso, Fausto Macedo e Mateus Coutinho
O empresário Augusto Ribeiro Mendonça, do grupo Setal, voltou a afirmar nesta quinta-feira, 10, à Justiça Federal, em Curitiba, que fez doações oficiais ao PT que serviram para ocultar propina. Delator da Operação Lava Jato, ele foi ouvido na ação penal em que são réus o presidente da Andrade Gutierrez e executivos do grupo.
"Foram feitas doações oficiais ao PT a pedido do Renato Duque", afirmou Mendonça. Duque era o diretor de Serviços da Petrobrás sustentado no cargo pelo PT, em especial pelo ex-ministro José Dirceu.
Ele confirmou cartel e combinação de divisão de contratos entre empreiteiras.
Na semana passada, o empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC, confirmou em depoimento ao juiz Sérgio Moro também ter feito doações ao partido que ocultaram propina. O empresário fechou acordo de delação premiada, no mês passado, com a Procuradoria-Geral da República.
Mendonça, ouvido nesta quinta-feira na Justiça Federal, havia entregue os recibos de doações partidárias e eleitorais feitas por suas empresas para o PT entre 2008 e 2012, que ocultaram valore desviados da Petrobrás.
O tesoureiro petista João Vaccari Neto, e o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque - presos pela Lava Jato - teriam sido as peças centrais da lavagem de dinheiro, que transformava recursos ilegais em legais dentro do sistema oficial de repasses para partidos e campanhas.
Mendonça, Vaccari e Duque são réus em outro processo criminal da Lava Jato, em fase final, que envolve o suposto pagamento dos R$ 4 milhões ao PT. No material estão quatro recibos emitidos pelo PT de doações para o Diretório Nacional do partido de R$ 500 mil, em 2010. O valor repassado em 7 de abril, quando era dada a largada para a campanha da presidente Dilma Rousseff, foi o mais alto doado dentro de uma lista de 24 repasses partidários e de campanha listados pelo delator.
Doações. São quatro recibos, com números sequenciais, datados de 7 de abril de 2010. Três com valores de R$ 150 mil e um de R$ 50 mil.
Os valores teriam sido desviados de duas obras de refinarias (Repar, no Paraná, e Replan, em Paulínia). Foram beneficiados: o Diretório Nacional, o Diretório da Bahia, o Diretório Municipal de Porto Alegre e o Diretório Municipal de São Paulo.
Por meio de quatro empresas de Mendonça foram feitas 24 doações eleitorais para o PT. Primeiro executivo a fazer delação com a Lava Jato, em 2014, Mendonça confessou que pagou propinas "acertadas com Renato Duque" em forma de doações.
O empresário e operador de propinas Augusto Mendonça afirmou à Lava Jato que fez "supostas 'doações', que eram pagamentos de propina, a pedido de Renato Duque e com o auxílio de João Vaccari".
"Cada pagamento era deduzido do montante de propina devido. O momento das propinas e os valores eram indicados por Renato Duque, enquanto as contas e Diretórios do PT que recebiam os pagamentos eram indicados por João Vaccari".