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General imprimiu no Planalto plano de execução de Lula, Alckmin e Moraes, com Bolsonaro no Palácio


Ex-secretário-geral da Presidência Mário Fernandes, autor da Operação ‘Punhal Verde Amarelo’, fez cópia, em novembro em 2022, de plano de assassinato do então presidente eleito, enquanto Jair Bolsonaro estava na sede do Executivo; ‘Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento’, afirmou o oficial em áudio para Mauro Cid, hoje delator; Estadão busca contato com a defesa

Por Pepita Ortega e Fausto Macedo
Atualização:

O general reformado Mário Fernandes, ex-secretário-geral da Presidência, é a peça-chave da Operação Contragolpe - investigação sobre o plano de assassinato do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal - fechando ainda mais o cerco à cúpula do governo Jair Bolsonaro nas apurações sobre uma tentativa de golpe de Estado.

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A Polícia Federal descobriu que Mário Fernandes é o autor do arquivo que detalhava a possibilidade de envenenar Lula, matar Alckmin e explodir Moraes. Também identificou que o documento foi impresso no Palácio do Planalto no dia 9 de novembro - semanas depois da derrota de Bolsonaro nas urnas - e posteriormente levado até o Palácio do Alvorada, residência do chefe do Executivo.

A impressora usada pelo general foi a do gabinete da Secretaria-geral. O nome do arquivo impresso era ‘planejamento’, exatamente a primeira palavra que aparece no título do documento: ‘Planejamento - Punhal Verde Amarelo’. Quarenta minutos após a impressão, o general registrou entrada no Alvorada.

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O documento trazia detalhes sobre a Operação ‘Punhal Verde Amarelo’, com o audacioso plano de assassinato Lula, Alckmin e Moraes. O arquivo se referia ao petista como ‘Jeca’. O presidente seria morto por envenenamento, previam os militares. Eles pretendiam eliminar Moraes por meio da explosão de uma bomba.

Nesta terça, 19, a Polícia Federal prendeu o grupo por ordem de Mores.

Áudio do general Mário Fernandes, alvo principal da Operação Contragolpe Foto: Polícia Federal
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Mário imprimiu o planejamento da Operação ‘Punhal Verde Amarelo’, na mesma impressora, no dia 6 de dezembro de 2022, às 18h09. Segundo a PF, enquanto o general imprimia o arquivo, os aparelhos do ‘kid preto’ Rafael Martins de Oliveira, lotado no Batalhão de Ações e Comando, e do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, estavam conectados na rede de internet do Palácio do Planalto.

Ainda de acordo com os investigadores, nesse mesmo horário, Bolsonaro também estava no Planalto. A PF chegou a tal informação por meio da análise de um grupo que Cid mantinha em seu celular, chamado ‘Acompanhamento’, sobre a rotina do então presidente. Naquele diz, Bolsonaro acompanhou a posse de Ministros no Superior Tribunal de Justiça e, às 17h56, foi para o Planalto. Lá o chefe do Executivo ficou por 35 minutos e então se dirigiu para a residência presidencial.

Kid Preto integrava a ‘Copa 2022′

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A PF destaca que Rafael de Oliveira, o ‘kid preto’ que estava no Planalto quando foi impressa a segunda via do plano ‘Punhal Verde Amarelo’, foi um dos integrantes da operação ‘Copa 2022′, que efetuaria a prisão/execução do ministro Alexandre de Moraes no dia 15 de dezembro daquele ano. Como mostrou o Estadão, os oficiais chegaram a colocar o plano em execução, usando até carros do Exército para monitorar o ministro. A ação dos ‘kids pretos’ foi inclusive aprovada em uma reunião na casa do ex-ministro da Defesa general Braga Netto, diz a PF.

Segundo a Polícia Federal, Mário Fernandes, General de Brigada na reserva, seria integrante do “Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência e Apoio de Outros Núcleos” descrito na investigação sobre a trama golpista gestada no governo Bolsonaro. Os membros de tal núcleo “utilizando-se da alta patente militar que detinham, agiram para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para a consumação do Golpe de Estado”, diz a corporação.

Os investigadores dizem que Mário é um dos militares mais radicais do referido núcleo militar, conforme relatado pelo próprio Cid em sua delação. O inquérito aponta que o general “promoveu ações de planejamento, coordenação e execução de atos antidemocráticos, inclusive com registros de frequência ao acampamento montado nas adjacências do QGEx, e, até mesmo, de relação direta com manifestantes radicais que atuaram no período pós-eleições de 2022″.

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Em uma das fatídicas reuniões de cúpula do governo Jair Bolsonaro - ocorrida em 5 de julho - foi Mário quem bradou: “Daqui a pouco nós estamos nas vésperas do primeiro turno, e aí, com a própria pressão internacional, a liberdade de ação do senhor e do governo vai ser bem menor. A população vai começar a acreditar que ‘não, então tá tranquilo, o governo não tomou a medida mais radical, tá tranquilo’... então acho que realmente, nós precisamos ter um prazo para que isso aconteça e não, para que eles raciocinem que é importante avaliar essa possibilidade, mas principalmente, para que uma alternativa seja tomada, como o senhor mesmo disse, antes que aconteça. Porque no momento que acontecer, é 64 de novo? É uma junta de governo? É um governo militar? É um atraso de tudo o que se avançou no país? Porque isso vai acontecer. O país vai ser todo desarticulado”.

A PF acessou as mensagens de Mário. Identificou mensagens com tom antidemocrático trocadas com outros militares, “relacionados aos ideários golpistas”. Debateu inclusive como alegar fraudes nas eleições.

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Segundo a Polícia Federal, o general inclusive sabia da reunião, junto dos chefes do Exército e da Marinha, em que foi apresentada a Bolsonaro a minuta do golpe de Estado. Naquele dia, Mário enviou a Cid o seguinte áudio: “Força, Cid. Cid, acho que você está tendo uma reunião importante aí agora no Alvorada. Pô, mostra esse vídeo pro comandante, cara. Se possível, transmite durante a reunião, porra. Isso é história. E a história é marcada por momentos como esse que nós estamos vivendo agora. Força.”

Uma das gravações que mais chamou atenção da Polícia Federal foi a que Mário enviou a Cid em 9 de dezembro, “comemorando que o então presidente Jair Bolsonaro aceitou o “nosso assessoramento”.

“”Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso pra ele. E vou te colocar aqui abaixo um texto que eu recebi do Lucão, que é o Duílio, que é um caminhoneiro famoso aí pra caramba, que tá lá no QG já há mais de 30 dias. E aí, porra, ele se emocionou, tava com a família aí, e assistiu hoje lá in loco, presencialmente, as palavras do presidente, cara. Olha aqui o texto abaixo que ele mandou. Se tu avaliar que é coerente, mostra pro presidente também, cara. Força!”, disse.

Áudio do general Mário Fernandes, alvo principal da Operação Contragolpe Foto: Polícia F

No dia 15 de dezembro, data em que estava prevista uma operação para prender/executar Moraes, Mário Fernandes pede ao então ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, o general Ramos, que “blinde presidente contra qualquer desestímulo, qualquer assessoramento diferente”.

“É agora, comandante. Tem que tomar iniciativa, tem que fazer as coisas agora, comandante. O que eles estão aprontando não tá escrito. O Supremo não tá escrito. Ainda bem que o Senado barrou lá um pouco. Ainda bem que o Senado barrou. Olha o que que eles tavam aprontando. Não é possível. Será que tem cabimento, vocês vão engolir seco isso aí? Não conta, comandante. O senhor é outra estirpe. Eu confio no senhor, comandante.”

No entanto, em dezembro, Mário Fernandes começou a ficar frustrado com as Forças Armadas, “que estariam aguardando uma decisão política para atuar”. Ele afirmou a um coronel: “”Cara, porra, o presidente tem que decidir e assinar esta merda, porra”.

Áudio do general Mário Fernandes, alvo principal da Operação Contragolpe Foto: Polícia F

‘Ponto focal’ do governo Bolsonaro com golpistas

Segundo a Polícia Federal, Mário era a quem pessoas acampadas em frente ao QG do Exército recorriam em busca de ajuda. Pediram por exemplo, que ele ajudasse a viabilizar a entrada de uma tenda no acampamento.

Também solicitaram ao general orientações sobre como os bolsonaristas deveriam proceder durante manifestações. A PF quer investigar se a solicitação inclusive tem relação com atos de 12 de dezembro de 2022, data em que houve a tentativa de invasão à sede da PF em Brasília.

Para os investigadores, Mário Fernandes era o “ponto focal” do governo Bolsonaro com os manifestantes golpistas. “Além de receber informações, também servia como provedor material, financeiro e orientador dos manifestantes antidemocráticos instalados nas adjacências do QG-Ex em Brasília/DF, que teve papel fundamental na tentativa de golpe de Estado perpetrada no dia 08/01/2023″, ressaltou a PF.

O general reformado Mário Fernandes, ex-secretário-geral da Presidência, é a peça-chave da Operação Contragolpe - investigação sobre o plano de assassinato do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal - fechando ainda mais o cerco à cúpula do governo Jair Bolsonaro nas apurações sobre uma tentativa de golpe de Estado.

A Polícia Federal descobriu que Mário Fernandes é o autor do arquivo que detalhava a possibilidade de envenenar Lula, matar Alckmin e explodir Moraes. Também identificou que o documento foi impresso no Palácio do Planalto no dia 9 de novembro - semanas depois da derrota de Bolsonaro nas urnas - e posteriormente levado até o Palácio do Alvorada, residência do chefe do Executivo.

A impressora usada pelo general foi a do gabinete da Secretaria-geral. O nome do arquivo impresso era ‘planejamento’, exatamente a primeira palavra que aparece no título do documento: ‘Planejamento - Punhal Verde Amarelo’. Quarenta minutos após a impressão, o general registrou entrada no Alvorada.

O documento trazia detalhes sobre a Operação ‘Punhal Verde Amarelo’, com o audacioso plano de assassinato Lula, Alckmin e Moraes. O arquivo se referia ao petista como ‘Jeca’. O presidente seria morto por envenenamento, previam os militares. Eles pretendiam eliminar Moraes por meio da explosão de uma bomba.

Nesta terça, 19, a Polícia Federal prendeu o grupo por ordem de Mores.

Áudio do general Mário Fernandes, alvo principal da Operação Contragolpe Foto: Polícia Federal

Mário imprimiu o planejamento da Operação ‘Punhal Verde Amarelo’, na mesma impressora, no dia 6 de dezembro de 2022, às 18h09. Segundo a PF, enquanto o general imprimia o arquivo, os aparelhos do ‘kid preto’ Rafael Martins de Oliveira, lotado no Batalhão de Ações e Comando, e do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, estavam conectados na rede de internet do Palácio do Planalto.

Ainda de acordo com os investigadores, nesse mesmo horário, Bolsonaro também estava no Planalto. A PF chegou a tal informação por meio da análise de um grupo que Cid mantinha em seu celular, chamado ‘Acompanhamento’, sobre a rotina do então presidente. Naquele diz, Bolsonaro acompanhou a posse de Ministros no Superior Tribunal de Justiça e, às 17h56, foi para o Planalto. Lá o chefe do Executivo ficou por 35 minutos e então se dirigiu para a residência presidencial.

Kid Preto integrava a ‘Copa 2022′

A PF destaca que Rafael de Oliveira, o ‘kid preto’ que estava no Planalto quando foi impressa a segunda via do plano ‘Punhal Verde Amarelo’, foi um dos integrantes da operação ‘Copa 2022′, que efetuaria a prisão/execução do ministro Alexandre de Moraes no dia 15 de dezembro daquele ano. Como mostrou o Estadão, os oficiais chegaram a colocar o plano em execução, usando até carros do Exército para monitorar o ministro. A ação dos ‘kids pretos’ foi inclusive aprovada em uma reunião na casa do ex-ministro da Defesa general Braga Netto, diz a PF.

Segundo a Polícia Federal, Mário Fernandes, General de Brigada na reserva, seria integrante do “Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência e Apoio de Outros Núcleos” descrito na investigação sobre a trama golpista gestada no governo Bolsonaro. Os membros de tal núcleo “utilizando-se da alta patente militar que detinham, agiram para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para a consumação do Golpe de Estado”, diz a corporação.

Os investigadores dizem que Mário é um dos militares mais radicais do referido núcleo militar, conforme relatado pelo próprio Cid em sua delação. O inquérito aponta que o general “promoveu ações de planejamento, coordenação e execução de atos antidemocráticos, inclusive com registros de frequência ao acampamento montado nas adjacências do QGEx, e, até mesmo, de relação direta com manifestantes radicais que atuaram no período pós-eleições de 2022″.

Em uma das fatídicas reuniões de cúpula do governo Jair Bolsonaro - ocorrida em 5 de julho - foi Mário quem bradou: “Daqui a pouco nós estamos nas vésperas do primeiro turno, e aí, com a própria pressão internacional, a liberdade de ação do senhor e do governo vai ser bem menor. A população vai começar a acreditar que ‘não, então tá tranquilo, o governo não tomou a medida mais radical, tá tranquilo’... então acho que realmente, nós precisamos ter um prazo para que isso aconteça e não, para que eles raciocinem que é importante avaliar essa possibilidade, mas principalmente, para que uma alternativa seja tomada, como o senhor mesmo disse, antes que aconteça. Porque no momento que acontecer, é 64 de novo? É uma junta de governo? É um governo militar? É um atraso de tudo o que se avançou no país? Porque isso vai acontecer. O país vai ser todo desarticulado”.

A PF acessou as mensagens de Mário. Identificou mensagens com tom antidemocrático trocadas com outros militares, “relacionados aos ideários golpistas”. Debateu inclusive como alegar fraudes nas eleições.

Segundo a Polícia Federal, o general inclusive sabia da reunião, junto dos chefes do Exército e da Marinha, em que foi apresentada a Bolsonaro a minuta do golpe de Estado. Naquele dia, Mário enviou a Cid o seguinte áudio: “Força, Cid. Cid, acho que você está tendo uma reunião importante aí agora no Alvorada. Pô, mostra esse vídeo pro comandante, cara. Se possível, transmite durante a reunião, porra. Isso é história. E a história é marcada por momentos como esse que nós estamos vivendo agora. Força.”

Uma das gravações que mais chamou atenção da Polícia Federal foi a que Mário enviou a Cid em 9 de dezembro, “comemorando que o então presidente Jair Bolsonaro aceitou o “nosso assessoramento”.

“”Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso pra ele. E vou te colocar aqui abaixo um texto que eu recebi do Lucão, que é o Duílio, que é um caminhoneiro famoso aí pra caramba, que tá lá no QG já há mais de 30 dias. E aí, porra, ele se emocionou, tava com a família aí, e assistiu hoje lá in loco, presencialmente, as palavras do presidente, cara. Olha aqui o texto abaixo que ele mandou. Se tu avaliar que é coerente, mostra pro presidente também, cara. Força!”, disse.

Áudio do general Mário Fernandes, alvo principal da Operação Contragolpe Foto: Polícia F

No dia 15 de dezembro, data em que estava prevista uma operação para prender/executar Moraes, Mário Fernandes pede ao então ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, o general Ramos, que “blinde presidente contra qualquer desestímulo, qualquer assessoramento diferente”.

“É agora, comandante. Tem que tomar iniciativa, tem que fazer as coisas agora, comandante. O que eles estão aprontando não tá escrito. O Supremo não tá escrito. Ainda bem que o Senado barrou lá um pouco. Ainda bem que o Senado barrou. Olha o que que eles tavam aprontando. Não é possível. Será que tem cabimento, vocês vão engolir seco isso aí? Não conta, comandante. O senhor é outra estirpe. Eu confio no senhor, comandante.”

No entanto, em dezembro, Mário Fernandes começou a ficar frustrado com as Forças Armadas, “que estariam aguardando uma decisão política para atuar”. Ele afirmou a um coronel: “”Cara, porra, o presidente tem que decidir e assinar esta merda, porra”.

Áudio do general Mário Fernandes, alvo principal da Operação Contragolpe Foto: Polícia F

‘Ponto focal’ do governo Bolsonaro com golpistas

Segundo a Polícia Federal, Mário era a quem pessoas acampadas em frente ao QG do Exército recorriam em busca de ajuda. Pediram por exemplo, que ele ajudasse a viabilizar a entrada de uma tenda no acampamento.

Também solicitaram ao general orientações sobre como os bolsonaristas deveriam proceder durante manifestações. A PF quer investigar se a solicitação inclusive tem relação com atos de 12 de dezembro de 2022, data em que houve a tentativa de invasão à sede da PF em Brasília.

Para os investigadores, Mário Fernandes era o “ponto focal” do governo Bolsonaro com os manifestantes golpistas. “Além de receber informações, também servia como provedor material, financeiro e orientador dos manifestantes antidemocráticos instalados nas adjacências do QG-Ex em Brasília/DF, que teve papel fundamental na tentativa de golpe de Estado perpetrada no dia 08/01/2023″, ressaltou a PF.

O general reformado Mário Fernandes, ex-secretário-geral da Presidência, é a peça-chave da Operação Contragolpe - investigação sobre o plano de assassinato do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal - fechando ainda mais o cerco à cúpula do governo Jair Bolsonaro nas apurações sobre uma tentativa de golpe de Estado.

A Polícia Federal descobriu que Mário Fernandes é o autor do arquivo que detalhava a possibilidade de envenenar Lula, matar Alckmin e explodir Moraes. Também identificou que o documento foi impresso no Palácio do Planalto no dia 9 de novembro - semanas depois da derrota de Bolsonaro nas urnas - e posteriormente levado até o Palácio do Alvorada, residência do chefe do Executivo.

A impressora usada pelo general foi a do gabinete da Secretaria-geral. O nome do arquivo impresso era ‘planejamento’, exatamente a primeira palavra que aparece no título do documento: ‘Planejamento - Punhal Verde Amarelo’. Quarenta minutos após a impressão, o general registrou entrada no Alvorada.

O documento trazia detalhes sobre a Operação ‘Punhal Verde Amarelo’, com o audacioso plano de assassinato Lula, Alckmin e Moraes. O arquivo se referia ao petista como ‘Jeca’. O presidente seria morto por envenenamento, previam os militares. Eles pretendiam eliminar Moraes por meio da explosão de uma bomba.

Nesta terça, 19, a Polícia Federal prendeu o grupo por ordem de Mores.

Áudio do general Mário Fernandes, alvo principal da Operação Contragolpe Foto: Polícia Federal

Mário imprimiu o planejamento da Operação ‘Punhal Verde Amarelo’, na mesma impressora, no dia 6 de dezembro de 2022, às 18h09. Segundo a PF, enquanto o general imprimia o arquivo, os aparelhos do ‘kid preto’ Rafael Martins de Oliveira, lotado no Batalhão de Ações e Comando, e do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, estavam conectados na rede de internet do Palácio do Planalto.

Ainda de acordo com os investigadores, nesse mesmo horário, Bolsonaro também estava no Planalto. A PF chegou a tal informação por meio da análise de um grupo que Cid mantinha em seu celular, chamado ‘Acompanhamento’, sobre a rotina do então presidente. Naquele diz, Bolsonaro acompanhou a posse de Ministros no Superior Tribunal de Justiça e, às 17h56, foi para o Planalto. Lá o chefe do Executivo ficou por 35 minutos e então se dirigiu para a residência presidencial.

Kid Preto integrava a ‘Copa 2022′

A PF destaca que Rafael de Oliveira, o ‘kid preto’ que estava no Planalto quando foi impressa a segunda via do plano ‘Punhal Verde Amarelo’, foi um dos integrantes da operação ‘Copa 2022′, que efetuaria a prisão/execução do ministro Alexandre de Moraes no dia 15 de dezembro daquele ano. Como mostrou o Estadão, os oficiais chegaram a colocar o plano em execução, usando até carros do Exército para monitorar o ministro. A ação dos ‘kids pretos’ foi inclusive aprovada em uma reunião na casa do ex-ministro da Defesa general Braga Netto, diz a PF.

Segundo a Polícia Federal, Mário Fernandes, General de Brigada na reserva, seria integrante do “Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência e Apoio de Outros Núcleos” descrito na investigação sobre a trama golpista gestada no governo Bolsonaro. Os membros de tal núcleo “utilizando-se da alta patente militar que detinham, agiram para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para a consumação do Golpe de Estado”, diz a corporação.

Os investigadores dizem que Mário é um dos militares mais radicais do referido núcleo militar, conforme relatado pelo próprio Cid em sua delação. O inquérito aponta que o general “promoveu ações de planejamento, coordenação e execução de atos antidemocráticos, inclusive com registros de frequência ao acampamento montado nas adjacências do QGEx, e, até mesmo, de relação direta com manifestantes radicais que atuaram no período pós-eleições de 2022″.

Em uma das fatídicas reuniões de cúpula do governo Jair Bolsonaro - ocorrida em 5 de julho - foi Mário quem bradou: “Daqui a pouco nós estamos nas vésperas do primeiro turno, e aí, com a própria pressão internacional, a liberdade de ação do senhor e do governo vai ser bem menor. A população vai começar a acreditar que ‘não, então tá tranquilo, o governo não tomou a medida mais radical, tá tranquilo’... então acho que realmente, nós precisamos ter um prazo para que isso aconteça e não, para que eles raciocinem que é importante avaliar essa possibilidade, mas principalmente, para que uma alternativa seja tomada, como o senhor mesmo disse, antes que aconteça. Porque no momento que acontecer, é 64 de novo? É uma junta de governo? É um governo militar? É um atraso de tudo o que se avançou no país? Porque isso vai acontecer. O país vai ser todo desarticulado”.

A PF acessou as mensagens de Mário. Identificou mensagens com tom antidemocrático trocadas com outros militares, “relacionados aos ideários golpistas”. Debateu inclusive como alegar fraudes nas eleições.

Segundo a Polícia Federal, o general inclusive sabia da reunião, junto dos chefes do Exército e da Marinha, em que foi apresentada a Bolsonaro a minuta do golpe de Estado. Naquele dia, Mário enviou a Cid o seguinte áudio: “Força, Cid. Cid, acho que você está tendo uma reunião importante aí agora no Alvorada. Pô, mostra esse vídeo pro comandante, cara. Se possível, transmite durante a reunião, porra. Isso é história. E a história é marcada por momentos como esse que nós estamos vivendo agora. Força.”

Uma das gravações que mais chamou atenção da Polícia Federal foi a que Mário enviou a Cid em 9 de dezembro, “comemorando que o então presidente Jair Bolsonaro aceitou o “nosso assessoramento”.

“”Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso pra ele. E vou te colocar aqui abaixo um texto que eu recebi do Lucão, que é o Duílio, que é um caminhoneiro famoso aí pra caramba, que tá lá no QG já há mais de 30 dias. E aí, porra, ele se emocionou, tava com a família aí, e assistiu hoje lá in loco, presencialmente, as palavras do presidente, cara. Olha aqui o texto abaixo que ele mandou. Se tu avaliar que é coerente, mostra pro presidente também, cara. Força!”, disse.

Áudio do general Mário Fernandes, alvo principal da Operação Contragolpe Foto: Polícia F

No dia 15 de dezembro, data em que estava prevista uma operação para prender/executar Moraes, Mário Fernandes pede ao então ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, o general Ramos, que “blinde presidente contra qualquer desestímulo, qualquer assessoramento diferente”.

“É agora, comandante. Tem que tomar iniciativa, tem que fazer as coisas agora, comandante. O que eles estão aprontando não tá escrito. O Supremo não tá escrito. Ainda bem que o Senado barrou lá um pouco. Ainda bem que o Senado barrou. Olha o que que eles tavam aprontando. Não é possível. Será que tem cabimento, vocês vão engolir seco isso aí? Não conta, comandante. O senhor é outra estirpe. Eu confio no senhor, comandante.”

No entanto, em dezembro, Mário Fernandes começou a ficar frustrado com as Forças Armadas, “que estariam aguardando uma decisão política para atuar”. Ele afirmou a um coronel: “”Cara, porra, o presidente tem que decidir e assinar esta merda, porra”.

Áudio do general Mário Fernandes, alvo principal da Operação Contragolpe Foto: Polícia F

‘Ponto focal’ do governo Bolsonaro com golpistas

Segundo a Polícia Federal, Mário era a quem pessoas acampadas em frente ao QG do Exército recorriam em busca de ajuda. Pediram por exemplo, que ele ajudasse a viabilizar a entrada de uma tenda no acampamento.

Também solicitaram ao general orientações sobre como os bolsonaristas deveriam proceder durante manifestações. A PF quer investigar se a solicitação inclusive tem relação com atos de 12 de dezembro de 2022, data em que houve a tentativa de invasão à sede da PF em Brasília.

Para os investigadores, Mário Fernandes era o “ponto focal” do governo Bolsonaro com os manifestantes golpistas. “Além de receber informações, também servia como provedor material, financeiro e orientador dos manifestantes antidemocráticos instalados nas adjacências do QG-Ex em Brasília/DF, que teve papel fundamental na tentativa de golpe de Estado perpetrada no dia 08/01/2023″, ressaltou a PF.

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